Capítulo 37 — Um momento
Ao abrir os olhos, Eriel notou a presença do lobo negro e do tigre branco retornando para a sombra de Charlotte. Um suspiro de alívio escapou da guerreira, que a observava em silêncio, como se sua mente estivesse fervilhando de pensamentos. O silêncio entre as duas tornou-se desconfortável, mas Eriel sabia que aquele não era o momento para hesitar. Havia um objetivo claro diante dela, e concluir rapidamente era sua melhor alternativa.
“Poderia me levar até o Azrael?” perguntou Eriel, a voz carregada de determinação.
Um leve sorriso surgiu no rosto de Charlotte. “Claro… Enviarei uma carta para os anciões. Poderia me esperar na sala de teleporte?”
Eriel assentiu. “Ok.”
Com passos firmes, dirigiu-se à sala de teleporte da facção. Durante o curto trajeto de pouco mais de dez minutos, encontrou duas figuras familiares aguardando sua chegada: Charlotte e Ethan. Este último parecia hesitante, mantendo distância, como se uma sombra de culpa pairasse sobre ele. Apesar disso, Eriel não o culpava por suas escolhas e decisões passadas.
Quando Charlotte finalmente se aproximou, ativaram o círculo de teleporte. O poder mágico fluiu pelo espaço ao redor, preenchendo a área com um brilho efêmero. Antes de partirem, Eriel lançou um olhar para Ethan, que parecia inquieto. Com um leve sorriso, tentou transmitir que ele não precisava se preocupar. Então, a magia se completou, transportando-os para o destino.
Ao chegarem, encontraram-se em uma ampla sala que lembrava a sala de teleporte da facção. Dois guardas se aproximaram rapidamente, cautelosos a princípio, mas logo relaxaram ao reconhecerem Charlotte.
“Senhorita, é bom vê-la novamente”, disse um deles com reverência.
“Certamente. O palácio parece sombrio sem sua presença”, completou o outro.
Charlotte sorriu, embora sua expressão demonstrasse um cansaço velado. “Vejo que meu pai anda causando problemas.”
“Na verdade, é o rei quem parece sombrio…” comentou o primeiro guarda, com um tom preocupado.
Ao ouvir isso, o sorriso de Charlotte desapareceu por completo. Era evidente que a menção ao rei demoníaco não lhe trazia boas recordações. Ainda assim, manteve a compostura, escondendo seus pensamentos.
“Poderiam nos acompanhar até a sala do trono?” perguntou Charlotte.
“Claro. O conselheiro-chefe já informou o motivo de sua visita. O rei está à sua espera.”
Um dos guardas então dirigiu o olhar para Eriel. Seus olhos se arregalaram, e ele deu dois passos para trás, surpreso. “Princesa Eisheth?”
O outro guarda também olhou para Eriel e compartilhou a mesma expressão de choque.
“Ela não é a Eisheth… Na verdade, não façam essa comparação perto do rei.”, pediu Charlotte.
“Me desculpem por isso”, disse o primeiro guarda, constrangido.
Eriel ergueu as mãos em um gesto conciliador e sorriu gentilmente. “Não se preocupem.”
A comparação com Eisheth não lhe parecia ofensiva. Pelo contrário, sentia-se honrada em ser confundida com o usuário do tempo anterior.
“Vamos?” disse Charlotte, retomando a caminhada.
Os guardas os conduziram pelos corredores do castelo, permitindo que Eriel observasse a grandiosidade da arquitetura. As paredes eram adornadas com símbolos antigos e tapeçarias que contavam histórias esquecidas pelo tempo. Tudo exalava poder e mistério.
“O rei está na sala do trono? Há algum evento importante acontecendo?” perguntou Charlotte, curiosa.
“O rei visitou o quarto da princesa Mana, mas foi interrompido por uma notificação dos anciões. Parece que os duques estão agindo de maneira imprudente em seus territórios”, explicou um dos guardas.
“Entendo…” murmurou Charlotte.
Finalmente, pararam diante de uma imensa porta de ouro. Os símbolos nela esculpidos estavam em um idioma demoníaco, incompreensível para Eriel, mas emanavam uma aura de importância.
“Devemos nos retirar agora. Desejamos boa sorte, senhorita”, disse um dos guardas, fazendo uma reverência antes de se afastar.
“Obrigada”, respondeu Charlotte, com um aceno educado.
Quando os guardas se retiraram, a grande porta começou a se abrir, revelando um salão majestoso. Sem hesitar, as duas avançaram para o interior, onde três figuras estavam sentadas em tronos, imponentes e silenciosas. O ar parecia mais denso, carregado com a autoridade daqueles que governavam o reino demoníaco.
Eriel percebeu a presença de vários guardas no local e figuras que pareciam cautelosas com sua chegada. Os anciões do conselho estavam em uma área elevada, semelhante a uma galeria de teatro. Seus rostos expressavam discórdia e confusão, como se sua aparição não fosse esperada.
Ignorando tudo à sua volta, ela parou diante do trono, onde estavam Alice e Azrael. Ao lado de Alice, uma mulher de aparência imponente parecia ser a prometida de Azrael, provavelmente a futura rainha.
Um pouco distante, os quatro cavaleiros permaneciam imóveis. Era estranho ver o cavaleiro negro — um título que tradicionalmente pertencia a Azrael — mas talvez, devido às suas responsabilidades como rei, ele tivesse confiado o posto a outra pessoa. Ainda assim, Eriel achava difícil imaginar Naara servindo alguém além de Azrael.
Ela lançou um olhar para Charlotte, buscando orientação sobre como proceder. Por serem de raças diferentes, os costumes podiam variar. Charlotte, sem hesitar, ajoelhou-se diante de Azrael.
Por que algo parece tão errado?
Sim, algo estava fora do lugar, mas Eriel não conseguia definir exatamente o quê. Mesmo sabendo que isso poderia ter consequências, ela permaneceu de pé diante do trono.
“Eriel, você deve se ajoelhar na presença do rei”, murmurou Charlotte, com um tom que misturava firmeza e urgência.
Eriel continuou imóvel, sua mente trabalhando rapidamente. A mana dele, sua aparência, até suas características… tudo parece perfeito demais. É quase como se fosse… falso.
“Tem algo errado, Eriel?” A voz de Azrael ecoou pelo salão, calma, mas firme.
Ela respirou fundo, buscando confiança em sua hipótese. “Isso não é desrespeito. Tenho assuntos a tratar com o rei, não com um impostor.”
Os guardas reagiram imediatamente, preparando-se para atacar, mas Alice ergueu a mão, ordenando que parassem.
“Então, onde está o verdadeiro rei?”, questionou Alice com um leve sorriso.
Eriel fechou os olhos por um momento, concentrando-se. Onde você está, Azrael? Até os mais habilidosos deixam pistas…
Ela abriu os olhos e começou a caminhar em direção aos cavaleiros. O cavaleiro negro avançou, posicionando-se no meio de seu caminho, mas ela o ignorou. Seus passos firmes tinham outro alvo: um homem que parecia um simples empregado, ocupado limpando o chão.
Ele aparentava ter pouco mais de trinta anos na idade humana, mas algo não fazia sentido. Alguém de nível tão baixo não deveria estar naquela sala, ainda mais em meio a figuras tão importantes. Além disso, sua mana… não era demoníaca. Era luz, algo pouco provável para um demônio.
Eriel parou diante do homem, seus olhos fixos nele. “Faz muito tempo, Azrael.”
O homem levantou o olhar, e embora não demonstrasse surpresa, um pequeno sorriso brincou em seus lábios. Sem dizer uma palavra, ele começou a caminhar em direção ao trono.
Conforme se movia, sua aparência se transformava. As roupas simples foram substituídas por um imponente sobretudo negro com uma balança bordada nas costas. Seus cabelos escuros se tornaram brancos como a neve, e ao sentar-se no trono, uma aura majestosa tomou conta da sala.
Azrael repousou o queixo sobre a mão e lançou um olhar para o salão. Sua presença, agora revelada, era avassaladora. Todos na sala se ajoelharam automaticamente, incapazes de resistir à força de sua autoridade.
Eriel, mesmo relutante, seguiu Charlotte e curvou-se ao lado dela. Por um instante, evitou o olhar de Azrael, mas logo ergueu os olhos. Quando seus olhares se cruzaram, ela percebeu algo familiar e, ao mesmo tempo, inquietante.
Sua expressão era complexa, mas vazia de emoção, como se sentimentos fossem um fardo desnecessário para ele.
Após ouvir as saudações de seu povo, Azrael fez um gesto breve, indicando que todos poderiam se levantar. Ele então olhou diretamente para os anciões do conselho e falou com um tom cortante:
“Estão satisfeitos? Parece que a princesa humana conseguiu passar no maldito teste de vocês.”
Um dos anciões levantou-se de seu assento. Ele tinha cabelos vermelhos e olhos azul-escuro. Sua postura era altiva, digna de alguém com grande autoridade.
“Os anciões estão satisfeitos. Não há motivos para recusar o pedido de Charlotte.”
Azrael se levantou de seu trono, seus passos cautelosos ecoando pelo salão silencioso enquanto ele se aproximava de Charlotte. Quando estava perto o suficiente, ergueu suavemente a camisa dela, revelando uma pequena cicatriz no estômago da jovem demônio.
“… Me desculpe por isso…”, murmurou ele, enquanto seus dedos tocavam levemente o local da cicatriz.
Charlotte o encarou, surpresa. “Azrael não pede desculpas, esqueceu?”
“Não, não peço. Essa regra vale para pessoas insignificantes, mas meus…”
“Com seus amigos é diferente?” ela completou, levantando uma sobrancelha.
“Exatamente.”
Sem hesitar, Charlotte deu um passo à frente e o abraçou, ignorando os olhares curiosos ao redor. Seus braços envolveram Azrael com força, como se o tempo e a distância nunca tivessem existido entre eles. “Também senti sua falta.”
Quando ela finalmente o soltou, olhou para a mulher ao lado de Alice, mas permaneceu em silêncio.
Azrael voltou para o trono e, com um gesto de mão, ordenou que todos os guardas e anciões deixassem o local. Em questão de momentos, apenas um grupo seleto permaneceu na sala.
O líder dos anciões, que até então estava em sua posição elevada, desceu com elegância para se juntar a Charlotte. Enquanto isso, os cavaleiros retiraram suas máscaras, revelando suas verdadeiras identidades.
Eriel observou atentamente enquanto a figura do cavaleiro negro se dissolvia no ar. Foi quando entendeu que tanto o cavaleiro quanto o sósia que ocupava o trono anteriormente eram ilusões criadas por Azrael. A habilidade dele em manipular sua própria presença é realmente impressionante, pensou Eriel, intrigada.
“Minha querida, senti tanto a sua falta”, disse o homem de cabelos vermelhos enquanto se aproximava de Charlotte, puxando-a para um abraço apertado. Lágrimas discretas brilhavam em seus olhos.
“Estou bem”, respondeu Charlotte com um tom suave.
“Seu pai estava preocupado.”
Pai? Eriel arregalou os olhos, surpreendida ao compreender a cena à sua frente. O homem que abraçava Charlotte era ninguém menos que Asmodeus, o conselheiro real e um dos sete caídos que carregavam os pecados.
“Asmodeus, pode esperar um pouco?” A voz de Azrael era firme, mas não severa. “Sei que um reencontro entre pai e filha é um momento especial, mas temos assuntos a tratar primeiro.”
“Como desejar, meu rei”, respondeu Asmodeus, afastando-se de Charlotte e assumindo sua posição ao lado de Azrael como conselheiro.
Azrael dirigiu-se novamente a Charlotte, seus olhos refletindo a gravidade da situação. “Charlotte, seu pai tem atuado como meu conselheiro por enquanto, mas você sabe… nunca foi meu desejo tê-lo nesse cargo. Esse posto sempre foi seu. Por isso, quero perguntar: deseja ser minha conselheira?”
O silêncio de Charlotte pairou no ar, criando uma tensão incômoda. Azrael, embora paciente, deixou escapar um suspiro de alívio quando viu o sorriso que se formou no rosto dela.
“Claro, Az.” Charlotte finalmente respondeu. “Esperei toda a minha vida por esse momento. Desde nosso primeiro encontro, fiquei extremamente feliz quando você me pediu para ser sua conselheira quando se tornasse rei.”
“É um alívio escutar isso…”
Antes que Azrael pudesse dizer algo mais, Naara se aproximou e envolveu Charlotte em um abraço por trás, seus olhos brilhando de alegria. “Estou tão feliz por você, Charlotte”, murmurou ela, sua voz carregada de emoção.
O ambiente, antes tenso, agora parecia mais leve, quase acolhedor. Eriel permaneceu em silêncio, mas sua mente continuava absorvendo cada detalhe da cena, tentando compreender como as peças daquele mundo complexo se encaixavam.
“Isso é bom. Além do mestre Azrael, você é a pessoa mais confiável no mundo demoníaco”, disse Naara, sorrindo enquanto Azrael acariciava sua cabeça. O gesto carinhoso parecia iluminar seu semblante.
Mas então, Azrael desviou sua atenção. “E… Eriel.”
Os olhos de todos se voltaram para ela.
“Sei o motivo de sua visita”, ele continuou, com a voz firme. “Mas não tenho a intenção de voltar para a Terra.”
Eriel o encarou. Por mais que já esperasse essa resposta, ouvi-la diretamente de Azrael fazia o peso da situação parecer ainda maior. Como rei, era evidente que ele não poderia simplesmente abandonar suas responsabilidades no mundo demoníaco.
“Entendo”, respondeu ela, com a voz controlada. “Mas antes de dar sua resposta definitiva, posso te contar algo?”
Azrael assentiu. “Prossiga.”
Eriel respirou fundo, escolhendo cuidadosamente suas palavras. Um erro agora seria fatal para sua causa. Preciso que ele entenda.
“Júlia está viva.”
O impacto foi imediato. Mesmo alguém tão controlado quanto Azrael não conseguiu esconder sua surpresa. Ele rapidamente tentou recuperar sua compostura, mas a expressão momentânea de incredulidade não passou despercebida.
“Quase acreditei em suas palavras…” Azrael respondeu, sua voz contendo uma ponta de ceticismo.
“É verdade!” insistiu Eriel. “Quando voltei ao passado, consegui observar o que aconteceu naquele dia. Ela foi levada, e um clone foi criado para enganar seus olhos.”
O semblante de Azrael se tornou sombrio, e o silêncio que se seguiu foi carregado de emoção.
“Mestre…” Naara tentou intervir, mas se conteve, percebendo que o momento não permitia sua participação.
“Mesmo se existisse, um clone não poderia replicar mana idêntica”, murmurou Azrael, pensativo. “Se fosse realmente um clone, teria notado, já que a mana seria diferente…”
Então, algo pareceu se acender em sua mente. Ele ergueu o olhar abruptamente. “Claro, só ativei meus olhos após a morte de Júlia. A divindade poderia identificar a diferença na mana, mas ela já estava morta quando fiz isso.”
Eriel percebeu que ele estava conectando as peças do quebra-cabeça. A ausência de mana no corpo após a morte tinha sido suficiente para ocultar a verdade de Azrael na época.
“Azrael”, interveio Nain, “agora que penso nisso, o indivíduo que derrotou os líderes da facção utilizou várias magias diferentes…”
Azrael franziu a testa, sua atenção voltando ao campo de batalha.
“Não imaginei que alguém tão poderoso poderia aparecer ali”, admitiu Nain. “Mas, como todos sabem, os cavaleiros e os demais foram derrotados.”
O tom sério de Nain fez o peso da ameaça parecer palpável. Um inimigo com força suficiente para sobrepujar os cavaleiros era um problema real para qualquer um.
“Nain, você se lembra da mana dessa pessoa?” perguntou Azrael.
“Conturbada”, respondeu ele, levando a mão ao queixo, pensativo. “Não sei ao certo o que passava pela mente do ser misterioso, mas pude sentir a instabilidade. O estado mental dele parecia em colapso o tempo todo.”
Nain sorriu de forma enigmática. “Na verdade, a mente do indivíduo não estava tão caótica no início. Tudo mudou quando Naara entrou na luta e ativou seu ‘Mundo Congelado’. Foi nesse momento que a mente dele colapsou. Era como se estivesse enfrentando algo dentro de si.”
Azrael suspirou profundamente. “Quanto tempo até a reunião dos Dez?”
Alice, que permanecera em silêncio, levantou-se de sua cadeira e se aproximou, parando ao lado de Eriel. “O mensageiro informou que o último membro foi escolhido”, respondeu ela. “Então… pouco mais de cinco dias.”
“Então… devo ir até o Deus Supremo para retirar o selo”, declarou Azrael, sua voz carregada de decisão.
Alice o encarou, surpresa. “Azrael, tem certeza?”
“Claro que sim… Atualmente, os cavaleiros estão enfraquecidos por conta do meu selo. Se o retirarmos, voltaremos ao nosso pleno poder.”
O silêncio tomou conta da sala. Todos absorveram calmamente o peso das palavras de Azrael.
“Eriel, poderia me acompanhar?”
“Claro.”
Os dois saíram do local, deixando os outros para trás. Azrael seguiu em direção a uma área guardada por um contingente específico de sentinelas.
“Meu rei, quem é essa pessoa?” Disse um dos guardas, visivelmente surpreso ao notar a presença de Eriel.
Azrael manteve-se calmo e impassível. “Ela é uma convidada importante. Eu mesmo autorizo a presença dela.”
“Perdoe-me, senhor.”
Sem dar atenção aos murmúrios, Azrael continuou caminhando até uma imponente porta de madeira ao final do corredor. O espaço estava rodeado por guardas, mas, ao notar a presença do rei, eles se dispersaram rapidamente.
Quando Azrael abriu a porta, Eriel foi invadido por uma sensação estranha. O ambiente parecia familiar, como um eco de um lugar que já visitou antes.
O quarto era espaçoso, lembrando os aposentos luxuosos de uma mansão, mas minimalista. Havia apenas uma cama cercada por cortinas longas, que ocultavam quem estava deitado ali, e uma cadeira posicionada ao lado.
Esse lugar…
De repente, uma memória veio à tona. Este era o quarto que Azrael visitou no passado.
“Mana, estou de volta. Me desculpe por sair tão de repente.”
Não houve resposta. Azrael parecia estar falando sozinho.
Ele se moveu até a cama e retirou as cortinas, revelando a figura de uma mulher de beleza etérea. Seus cabelos negros como a noite caíam suavemente, ultrapassando sua estatura. Vestia roupas leves e sua expressão parecia tranquila, como se estivesse em um sono profundo. Sua pele pálida contrastava com a mana que fluía incessantemente de seu corpo, quase como se infinita fosse.
“Eriel, esta é Mana. Minha amiga, irmã, família… e a pessoa em quem mais confio neste universo.”
Azrael sentou-se na beira da cama, observando a mulher com um olhar melancólico.
“Ela foi envenenada há muito tempo. Já deveria ter morrido, mas minha mestra encontrou uma forma de mantê-la viva até agora.”
A tristeza em sua voz era palpável. Lembrar o estado de Mana parecia um fardo pesado para ele.
“É por isso que não posso voltar para a Terra. Tenho que cuidar de Mana.”
Eriel compreendeu finalmente a profundidade de sua decisão.
“Entendo. Não precisa se preocupar. Fiz minha parte ao tentar te convencer, mas não vou forçá-lo.”
Azrael direcionou o olhar para ela, sua determinação intacta. “Não posso retornar, mas ajudarei a encontrar Júlia.”
Ele havia trazido Eriel até ali para mostrar a razão de sua escolha. Apesar da tristeza de não ter conseguido convencê-lo, Eriel sentiu-se grato por sua confiança.
“Vou informar ao líder que você participará com os demônios na busca por ela.”
Enquanto os demônios vasculhavam algumas áreas, os humanos focavam em outras. A busca por Júlia, na prática, levaria direto para a Aliança.
“De qualquer forma, acho que está na hora de eu voltar”, disse Eriel. “Não posso obrigá-lo a me acompanhar. Agora, você é um rei.”
“Não imaginava me ver como rei quando começamos o treinamento, não é?” Azrael riu levemente, quebrando um pouco a tensão.
“Com certeza não”, respondeu Eriel, com um sorriso tênue. “Você nunca pareceu ter… Bom, de qualquer forma. Espero que continuemos amigos, Az.”
“Com certeza. Não esquecerei os habitantes da Terra. Foi lá que vivi os melhores anos da minha vida. Se algo ameaçar o planeta, não hesite em me chamar. Os cavaleiros não mostrarão misericórdia para quem ousar desafiar o seu mundo.”
Embora soubesse que Azrael não iria simplesmente retornar à Terra, Eriel mantinha uma ponta de esperança de que ele ao menos visitasse o planeta ocasionalmente.
“Então… Isso é um adeus”, disse ela.
“Sim, é um adeus.”
Azrael, como sempre, ocultava suas emoções com maestria. Eriel, por sua vez, sentiu um aperto no coração.
Um adeus… Será mesmo?
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