Capítulo 43 — Planeta Mortal
Assim que emergiram do vácuo deixado pelo segundo universo destruído pelo Big Bang, Jofiel cumpriu sua promessa e levou Azrael até Hidekon. A visão do planeta mortal imediatamente capturou sua atenção. De longe, o orbe verdejante parecia tranquilo, com uma beleza selvagem que mascarava a verdadeira natureza daquele lugar.
A atmosfera de Hidekon pulsava com uma energia opressora e ameaçadora. Sua mana não era apenas poderosa, mas também corrosiva, impregnando tudo ao seu redor com uma força insidiosa. Não era uma mana comum; era algo vivo, consciente, como se o planeta rejeitasse intrusos e tentasse destruí-los de dentro para fora.
“Preciso retornar ao reino celeste…” disse Jofiel, hesitante, mas antes de partir, sua curiosidade a deteve.
“Azrael, como é controlar a mana universal?”
Ele voltou seu olhar para ela, ponderando a pergunta. Era algo raro, até mesmo para um anjo, ter a chance de compreender essa habilidade única.
“É difícil descrever,” respondeu, após um momento de reflexão.
Azrael ergueu a mão e concentrou-se. Mesmo com seu poder selado em 50%, a mana ao redor respondeu imediatamente aos seus pensamentos. Visualizou um pequeno pássaro branco e, como se moldada por uma força invisível, a mana tomou a forma exata de sua imaginação. A criatura etérea bateu as asas com suavidade e voou em círculos ao redor de Jofiel antes de pousar em frente a ela.
Jofiel parecia fascinada. Seus olhos brilhavam ao observar os movimentos delicados do pássaro de mana, que não tinha mais de dez centímetros de altura.
“Incrível…” murmurou ela, como se estivesse hipnotizada.
Azrael continuou, explicando com serenidade: “Não é exatamente ‘controlar’. A mana simplesmente responde aos meus pensamentos.”
Apesar de sua explicação, ele sabia que nem mesmo os anjos, abençoados pela própria essência divina da mana, eram capazes de entender completamente o que significava manipular o ambiente em tamanha escala.
“Foi interessante, mas agora preciso reportar o resultado da missão ao Deus Supremo.” Jofiel então ergueu as mãos, sua expressão voltando à seriedade. “Quer que eu coloque uma proteção contra os efeitos mentais de Hidekon?”
Azrael negou com um gesto firme. “Não será necessário. Esse é um trabalho que devo fazer sozinho.”
“Seu orgulho um dia vai te matar,” respondeu ela com uma mistura de preocupação e resignação.
Assim que Jofiel partiu, deixando-o sozinho, Azrael voltou sua atenção ao planeta. Ele pousou na superfície de Hidekon e, imediatamente, sentiu o peso opressor da mana do ambiente. A energia tóxica tentou infiltrar-se em seu corpo, pressionando sua mente com ilusões quase palpáveis. Não era apenas um lugar mortal; era um inferno em forma de mundo, onde até mesmo criaturas extraordinárias sucumbiam à loucura.
O ambiente ao seu redor era de uma hostilidade sufocante. As árvores imensas da floresta local, embora exuberantes, tinham um aspecto grotesco: seus troncos eram torcidos como se estivessem em agonia, e uma estranha luz verde emanava de suas folhas. O chão era coberto por raízes espessas e pulsantes, como se a própria terra estivesse viva e esperando para capturar aqueles que pisassem ali.
Azrael lembrou-se de sua primeira experiência naquele planeta. Anos atrás, Samael o enviara para Hidekon como parte de seu treinamento. Ele passou semanas lutando contra as ilusões criadas pela mana, vendo pesadelos ganharem forma e lutando para distinguir o real do imaginário. Aquele planeta testava não apenas o corpo, mas também a sanidade de quem ousasse permanecer ali.
Agora, com sua experiência e poder, o ambiente não o afetava tanto, mas ele sabia que Hidekon não era um lugar para ser subestimado. Estava atualmente em uma área relativamente segura, mas seu objetivo o levaria à parte mais profunda da floresta – o núcleo de mana.
Ali, as criaturas deixavam de ser animais e se tornavam monstros aterrorizantes, corrompidos pela mana densa do planeta. Cada passo em direção ao núcleo era um mergulho mais profundo no perigo. Mesmo para Azrael, um ser com poder imenso, o núcleo da floresta era um lugar que inspirava respeito e cautela.
“Noir, Sonne, estejam prontas,” murmurou ele, convocando suas armas espirituais para que estivessem preparadas.
{Entendido!}
Ele avançou lentamente, sentindo a mana ao seu redor crescer em densidade a cada passo. Era como se o próprio ar se tornasse mais pesado, cada partícula carregando uma intenção maliciosa. Com a magia de voo ativada, Azrael percorreu uma parte da floresta rapidamente, mas sabia que o caminho direto até o núcleo era imprudente.
Azrael continuou, atento aos mínimos detalhes ao redor. O ambiente estava envolto por uma aura densa de mana, tornando cada movimento pesado, como se o próprio ar quisesse restringi-lo. Foi então que ele sentiu uma presença – não apenas de um animal selvagem, mas de algo profundamente alterado pela energia corrupta de Hidekon.
Emergindo das sombras da floresta, uma criatura colossal se revelou. De início, parecia um javali, mas sua aparência era grotesca e desumana. Com quase cinco metros de altura e um corpo coberto por uma pele negra, endurecida como obsidiana, a criatura exalava um odor pútrido e quente, como enxofre misturado a carne em decomposição. Suas presas haviam crescido desproporcionalmente, retorcidas e afiadas como lâminas. Seus olhos brilhavam em um vermelho intenso, irradiando fúria e uma inteligência animalesca, mas perigosa.
Essa aberração era fruto da densa mana corrupta de Hidekon, que deformava qualquer criatura que vivesse por tempo suficiente em sua influência. Não era mais uma mera criatura, mas um predador alterado, um monstro que personificava a selvageria do planeta.
O monstro rugiu, o som reverberando pelo campo como um trovão. Azrael observou atentamente, mas um sorriso de satisfação surgiu em seus lábios ao reconhecer o inimigo.
“Você de novo, hein? Não importa o quanto tenha mudado. Desta vez, será diferente.”
O javali monstruoso não esperou por cerimônias. Em um piscar de olhos, avançou com uma velocidade impressionante, seu peso massivo fazendo o solo tremer a cada passo. O impacto do ataque era devastador, como se o mundo ao redor de Azrael estivesse prestes a desabar.
Azrael ergueu o braço para bloquear o ataque, mas a força da criatura foi muito maior do que ele esperava. O golpe o lançou a dezenas de metros de distância, atravessando a floresta e derrubando árvores ao longo do caminho. Ele só conseguiu se manter inteiro graças à mana, reforçando seu corpo.
“Esse monstro… está ainda mais forte do que antes,” murmurou, sentindo o impacto reverberar em seus ossos.
{Fufufu! Hahahaha! Isso foi como na primeira vez! Que nostálgico!} Noir, riu em sua mente.
“Sim, mas eu não sou mais o mesmo,” respondeu Azrael, seu sorriso retornando enquanto se levantava, sacudindo a poeira.
Ele sabia que força bruta não era o suficiente contra aquele javali. A criatura não era apenas forte; ela era astuta. No momento do impacto, havia ajustado sutilmente seu ângulo de ataque para quebrar o equilíbrio de Azrael, usando seu próprio peso como vantagem.
“Foi exatamente assim da primeira vez…” Azrael respirou fundo, tentando lembrar-se de sua estratégia antiga, mas foi novamente interrompido pelo monstro, que avançou com outra investida brutal.
O impacto o arremessou novamente, mas desta vez, ele se levantou mais rápido, limpando um filete de sangue no canto da boca.
“Droga, isso está começando a ficar irritante.”
{Pare de se prender ao passado, Azrael. Use o poder que você tem agora, não o que você tinha antes.} A voz de Sonne, sua outra arma, ecoou em sua mente, firme e autoritária.
Ela tinha razão. Anos de treinamento, batalhas e habilidades absorvidas estavam ao seu alcance. Ele não precisava mais depender de velhos métodos.
A criatura avançou novamente, sua bocarra grotesca aberta, revelando presas adicionais surgindo das laterais de sua mandíbula deformada. Desta vez, Azrael sorriu de forma confiante.
“Venha, seu maldito…”
No momento em que a criatura estava prestes a atingi-lo, Azrael ativou uma de suas habilidades: {Aceleração de Movimento}. O mundo ao seu redor pareceu desacelerar, e ele desviou do ataque com uma fluidez quase sobrenatural, deixando o monstro desorientado.
“Ei, atrás de você!” gritou Azrael, enquanto concentrava uma quantidade massiva de mana em sua mão.
Antes que a criatura pudesse reagir, Azrael girou no ar e desferiu um golpe vertical poderoso, a mana, em sua mão, cortando a criatura grotesca em duas metades perfeitas. O monstro soltou um grito final, que ecoou como um lamento pela floresta, antes de cair imóvel ao chão, seu corpo gigantesco liberando uma onda residual de mana tóxica.
“Parece que o jantar está quase pronto,” murmurou Azrael, sua voz carregada de satisfação e um toque de ironia.
Mas ele não perdeu tempo comemorando. Sabia que os verdadeiros terrores de Hidekon despertariam com a chegada da noite. Enquanto olhava para o horizonte, já buscando um local seguro para montar acampamento, murmurou para si mesmo:
“Venha com tudo, Hidekon. Estou pronto para encarar tudo o que tiver para oferecer.”
E com isso, ele seguiu em frente, cada passo mais firme em direção ao coração daquele mundo mortal e implacável.
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