Capítulo 49 — Punição
Enquanto todos se preparavam para receber os inimigos, foram surpreendidos pelas tropas aliadas que surgiram no horizonte, marchando para auxiliar na batalha. Contudo, as notícias trazidas por Belial não eram nada animadoras.
“A primeira geração participará da guerra,” informou ele, sua voz carregada de preocupação. “Isso significa que eu e Samael também seremos forçados a lutar.”
O ambiente, já tenso, ficou ainda mais pesado. A presença da primeira geração mudava completamente o panorama da batalha, ampliando a gravidade de cada decisão.
“Enviamos um pedido de ajuda para os Pecados,” continuou Belial, “e todos responderam rapidamente. Estão a caminho, mas foram interceptados pela Aliança.”
Samael franziu o cenho, sua expressão carregada de incredulidade. “A Aliança? Conseguiram interceptar até mesmo Azazel? Isso significa que existem inimigos inesperados entre eles.”
Belial assentiu, com um olhar sombrio. “Sim. Azazel mencionou enfrentar diretamente o líder da Aliança. Isso confirma que eles estão profundamente envolvidos nesses eventos. Além disso, parece que conseguiram recrutar indivíduos da primeira geração para o seu lado.”
A ideia era perturbadora. Se até mesmo o líder da Aliança estava se movendo, significava que eles estavam dispostos a arriscar tudo para vencer.
Antes que houvesse tempo para mais reflexões, Samael quebrou o silêncio, sua voz carregada de urgência: “Eles chegaram…”
Ao longe, as tropas inimigas começaram a surgir. Eram incontáveis, avançando como uma onda avassaladora que engolia o horizonte. O som ritmado das botas e o brilho das armas tornavam a cena ainda mais aterrorizante.
Eriel observava em silêncio. O número inimaginável de soldados fazia seu coração disparar, e ela sentia o chão tremer sob os pés. A mistura de medo e excitação crescia em seu peito, confusa e incontrolável.
“Deixo esta área com vocês,” disse Belial, olhando para Naara. “Samael, vamos nos afastar.”
“Sim. ‘Eles’ virão ao sentir nossas auras. A primeira geração focará na maior ameaça,” respondeu Samael, com convicção.
A estratégia era clara: com Belial e Samael atraindo os membros da primeira geração, as tropas aliadas teriam uma chance maior de resistir.
“Eriel, venha comigo,” ordenou Samael, com um tom firme.
Belial o olhou com surpresa. “Você quer levar a Eriel para o local mais perigoso?”
“Podemos mantê-la sob vigilância. Se algo acontecer, será mais fácil protegê-la,” explicou Samael.
Belial suspirou, claramente relutante. “… Me dói admitir, mas você está certa.”
Eriel, por sua vez, não pôde deixar de questionar internamente. Se o objetivo era mantê-la segura, por que não a deixar em algum lugar afastado? Mesmo incomodada, ela seguiu em silêncio, decidida a não protestar.
Com a magia de levitação, os três se afastaram da linha de frente, dirigindo-se para uma área isolada. O ar parecia mais denso a cada segundo, e Eriel sentia a pressão aumentar à medida que se aproximavam de seu destino.
“Este lugar está bom,” declarou Belial, interrompendo o voo.
Samael pousou suavemente, levantando uma barreira gigantesca ao redor da área com um único gesto. A luz prateada brilhou no campo, protegendo contra ataques externos e contendo qualquer destruição que pudesse ocorrer ali.
“Eriel,” disse Belial, preparando-se enquanto se alongava. “Vamos enfrentar caídos que, um dia, foram anjos. Observe com atenção.”
Samael deu um leve sorriso enquanto assumia uma posição de batalha.
Logo, Eriel sentiu a aproximação de inimigos. Dez figuras atravessaram a barreira com facilidade, irradiando uma energia sobrenatural que fazia o ambiente vibrar.
Cada um deles parecia transcender os limites humanos. Suas asas negras, semelhantes às de corvos, e a intensa sede de sangue que emanavam os tornavam aterrorizantes.
Um deles avançou, destacando-se dos demais. Ele parecia um jovem humano, com cabelos vermelhos flamejantes e olhos azul-escuro que exalavam uma malícia fria. Apesar da beleza quase hipnótica, havia algo profundamente ameaçador em sua presença.
“Então você veio, Samael…” disse o jovem, com um sorriso que não escondia sua provocação. “Vejo que escolheu o lado errado.”
Samael deu um passo à frente, enfrentando-o sem hesitação. “Malak-Tawus… Há um pouco de culpa na maneira como você foi criado. Meu dever como caído é corrigir seus erros.”
Malak-Tawus soltou uma risada leve, sem desviar o olhar. “Ainda há tempo, Samael. Você pode se juntar à Aliança. Juntos, podemos destruir tudo. Até mesmo os anjos podem cair. Quem sabe, talvez possamos encontrar uma maneira de derrotar o Deus Supremo. Esta é a nossa melhor chance.”
Enquanto os dois trocavam palavras carregadas de significados profundos, Eriel assistia a tudo em silêncio. A tensão era palpável. Não era apenas um confronto de forças físicas, mas uma colisão de ideais que decidiria o rumo daquela guerra.
Malak-Tawus deu um passo à frente, sua voz carregada de sarcasmo. “Samael, ainda há tempo para reconsiderar. Junte-se à Aliança. Pare de se prender ao passado.”
Samael não parecia impressionada. Seus olhos fixaram-se nele com desprezo. “Não consigo me imaginar trabalhando com traidores. Meu querido discípulo ficaria furioso até com a ideia.”
“Azrael, sempre Azrael…” Malak-Tawus estreitou os olhos, sua voz carregada de desgosto. “Você é patética, Samael. Continua priorizando o discípulo ingrato.”
Samael respondeu com firmeza, ignorando o insulto. “Um filho que trai sua própria família… É irônico ouvir isso de alguém que se parece tanto com Lúcifer.”
A tensão no ar ficou quase insuportável. O desapontamento na voz de Samael era evidente, mas Malak-Tawus não hesitou. Ele ergueu a mão, e seu comando foi definitivo: “Chega. Matem-na.”
As auras dos dez caídos explodiram como um maremoto. O ambiente foi tomado por uma energia densa e sufocante, que parecia dobrar o ar ao seu redor. Num instante, Samael e Belial desapareceram, engajando-se contra os nove caídos que avançaram em velocidade absurda.
Eriel tentou acompanhar a batalha, mas era impossível. Apenas flashes de luz, faíscas de metal e ondas de choque marcavam os impactos. O som das lâminas cortando o ar e da magia reverberava no campo, enquanto Samael e Belial claramente enfrentavam uma desvantagem brutal.
De repente, Samael surgiu ao lado de Eriel, respirando pesadamente. “Segure-os por um segundo.”
Antes que Belial pudesse responder, Samael invocou sua arma com um comando firme:
{Apareça, Matadora de Deuses, Linha da Morte!}
Uma espada longa de duas mãos se materializou em sua mão direita, enquanto um florete girou no ar em sua mão esquerda. Samael lançou o florete para Belial e desapareceu novamente, voltando à luta com um ataque feroz.
O impacto das lâminas reverberou pelo campo, criando fissuras no solo. Ondas de choque varriam o ambiente, dificultando até mesmo permanecer em pé.
Enquanto Eriel tentava se consentrava na luta à sua frente, um flash de luz surgiu em sua direção. Com reflexos rápidos, ela usou Paradoxo para cortar a magia mortal que a ameaçava.
Malak-Tawus sorriu enquanto observava de longe. “Samael, seu alvo deveria ser eu!”
Sem hesitar, Samael avançou novamente, sua lâmina mirando o pescoço de Malak-Tawus. No entanto, a espada parou a poucos centímetros de seu alvo, como se uma barreira invisível a impedisse.
Malak-Tawus riu, provocador. “Você não pode me atacar enquanto minha magia não for direcionada a você. Parece que estou seguro.”
Samael rangeu os dentes e gritou para Eriel: “Ative o Lorde do Tempo!”
Eriel obedeceu, ativando sua magia. O mundo ao seu redor desacelerou, permitindo que ela finalmente acompanhasse os movimentos rápidos de Malak-Tawus. Ele avançava como um borrão, sua espada cortando o ar com precisão assustadora.
As lâminas se encontraram, produzindo um som ensurdecedor. O impacto da troca de golpes forçou Eriel a recuar, sentindo o peso da batalha em seu corpo. O Lorde do Tempo sugava sua mana a uma velocidade alarmante, mas ela não podia se permitir hesitar.
Concentrando-se, Eriel canalizou a mana de Luz e lançou um flash cegante. Malak-Tawus recuou, cobrindo os olhos enquanto tentava recuperar a visão.
{Eriel, ele não está usando todo o seu poder. Use isso ao seu favor.}
As palavras de Paradoxo ressoaram em sua mente, renovando sua determinação. Ela aproveitou a abertura e avançou, desferindo um golpe vertical com Paradoxo, mirando o estômago de Malak-Tawus.
O caído reagiu instintivamente, desviando para o lado e evitando o ataque por uma margem mínima. Mesmo cego, ele parecia ouvir cada movimento de Eriel, antecipando seus passos.
“Lorde do Tempo!” gritou Eriel, ativando novamente a habilidade principal. O tempo ao seu redor desacelerou ainda mais, permitindo-lhe se mover com precisão absoluta.
Ela desferiu outro golpe, desta vez conseguindo cortar a carne de Malak-Tawus. Contudo, o ferimento foi superficial, e o sorriso irritante dele persistia.
“Finalmente conseguiu me acertar…” disse Malak-Tawus, colocando a mão no ferimento. Seus olhos brilharam enquanto concentrava sua mana.
Em um instante, seus ferimentos se regeneraram completamente. Ele deu um passo à frente, erguendo sua espada enquanto a energia ao seu redor tomava forma.
“Veja como se corta de verdade,” provocou ele, lançando uma lâmina de vento em direção a Eriel.
Eriel desviou por pouco, mas foi exatamente o que Malak-Tawus esperava. Usando a distração da lâmina de vento, ele avançou pelo ponto cego de Eriel e cravou sua espada no braço esquerdo dela.
A lâmina de Malak-Tawus passou pelo braço de Eriel com a precisão de um predador brincando com sua presa. A dor alucinante irradiou por seu corpo, e ela percebeu, em um instante que parecia durar uma eternidade, que havia sido atingida múltiplas vezes em apenas alguns segundos. Mesmo com o Lorde do Tempo ativo, os movimentos dele eram impossíveis de prever.
Eriel recuou, tentando conter o sangramento enquanto buscava uma brecha para reagir. Mas tudo que podia fazer era erguer Paradoxo em uma defesa desesperada, tentando evitar golpes fatais.
“Vamos,” provocou Malak-Tawus, com um sorriso cruel. “A brincadeira está só começando.”
Samael continuava concentrada em sua luta contra os outros caídos, incapaz de ajudar. E mesmo que quisesse, não poderia. A magia de Malak-Tawus ainda não havia sido direcionada a ela, protegendo-o de qualquer retaliação direta.
Eriel lutava para manter o ritmo, desviando por instinto. Porém, no momento em que um golpe mortal parecia inevitável, uma enorme esfera de energia cortou o ar, passando por eles como um meteoro.
Malak-Tawus saltou para trás, desviando por um triz, enquanto Eriel aproveitou para se afastar. A esfera explodiu ao atingir o chão, liberando uma onda de choque que ecoou pelo campo de batalha.
“O que estão fazendo?” Malak-Tawus gritou, irritado.
Apesar da explosão, o dano sobre ele foi mínimo.
“Desculpe…” disse um dos caídos, hesitante. “Belial desviou no último segundo.”
A verdade era clara: Belial, em um movimento calculado, tentou ajudar Eriel indiretamente.
“Tomem cuidado!” Malak-Tawus gritou, sua aura aumentando ainda mais em intensidade.
Antes que pudesse atacar novamente, Eriel sentiu algo. Uma presença poderosa aproximava-se do campo de batalha, acompanhada pelo som pesado de passos e o eco de armas se arrastando. O exército se movia, trazendo consigo a promessa de guerra total.
“Bons garotos…” murmurou Malak-Tawus com um sorriso sombrio. “Trouxeram a guerra com eles.”
Mas havia algo errado. Eriel sentiu um calafrio percorrer sua espinha ao erguer os olhos para o céu. Uma presença ainda mais imponente se manifestava acima deles, irradiando poder divino.
Lá estava ele. Um ser que Eriel reconheceu imediatamente.
As lutas cessaram quando todos, aliados e inimigos, pararam para observar.
Flutuando no céu, um anjo com seis asas brancas brilhava com intensidade deslumbrante. Cada movimento das asas parecia carregar a autoridade dos céus.
“Miguel…” sussurrou Eriel, seus olhos arregalados.
Os caídos que enfrentavam Samael demonstraram imediatamente descontentamento e apreensão. Miguel desceu lentamente, pousando no campo de batalha como um juiz implacável.
O anjo aproximou-se de um dos caídos, seu semblante carregado de um sorriso gélido.
“Há quanto tempo, meus queridos amigos…” disse ele, sua voz cortante como uma lâmina.
Com um movimento rápido e preciso, a mão de Miguel atravessou o pescoço de um dos caídos, decapitando-o.
“Ao quebrar uma regra, você teve o que mereceu,” disse ele friamente, deixando o corpo cair no chão.
Miguel então voltou sua atenção para Samael, e o desdém em seus olhos era quase palpável.
“Você parece péssima, Samael,” provocou ele. “O tempo não foi bom para você.”
Samael estreitou os olhos, mas manteve um sorriso desafiador. “Na verdade… Você parece estar se esforçando demais para sustentar essa pose divina.”
Miguel avançou lentamente, parando ao lado dela. “Saiba de uma coisa, Samael. O Deus Supremo não vai protegê-la para sempre. E quando esse dia chegar, serei seu juiz, júri e carrasco.”
“Oh? E você acha que dará conta de mim?” Samael respondeu, mordendo os lábios em provocação.
Miguel inclinou-se ligeiramente, sua voz um sussurro ameaçador. “Quando sua cabeça rolar, Samael, serei a primeira pessoa a comemorar.”
Com um aceno breve, Miguel ergueu o olhar para o céu. “Metatron, já terminei.”
E assim como apareceu, Miguel desapareceu em um feixe de luz, deixando uma tensão sufocante no ar.
Belial aproximou-se, cauteloso. “Você foi esperto, mas se ele soubesse que desviou aquela magia…”, disse Samael.
“Não se preocupe com os detalhes,” respondeu Belial, dando de ombros.
Eriel, ainda tentando se recuperar, sentiu algo diferente. Uma sensação pesada em seu peito, seguida por um clarão em sua mente.
Sua visão do futuro se ativou, revelando um campo de batalha devastado. No centro, Azrael estava lá, sua presença marcante, mas algo parecia errado, perturbador.
“Ele vai chegar a tempo…” murmurou Eriel, sua voz carregada de incerteza e esperança.
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