Índice de Capítulo

    Não demorou muito para chegarmos à casa de Luna. Ao adentrar sua sala de estar, observei que o ambiente estava preenchido por uma atmosfera acolhedora e aconchegante. A decoração era simples, porém repleta de elementos que refletiam o gosto peculiar de Luna. Estantes exibiam livros antigos e artefatos curiosos, enquanto algumas plantas espalhadas pelo cômodo traziam vida e frescor ao ambiente.

    Enquanto Luna parecia preparar uma bebida, fui atraído pela estante próxima a mim. Os objetos de pesquisa revelavam sua curiosidade incansável e dedicação ao conhecimento. Livros sobre magia, história dos reinos e tratados de sabedoria ancestral ocupavam as prateleiras, revelando seu amor pela aprendizagem e pelo mundo que a cercava. A presença desses itens familiares me trouxe um sentimento de familiaridade e me fazia lembrar dos tempos em que compartilhávamos aventuras juntos.

    Aproximei-me de Luna, que sorria enquanto colocava as bebidas nos copos. Seus movimentos eram graciosos e precisos, demonstrando uma elegância natural. Ao entregar-me um copo contendo uma bebida que emanava um aroma suave e adocicado, pude perceber o cuidado que ela tinha ao escolher cada detalhe.

    Enquanto saboreávamos nossas bebidas, pude sentir a energia vibrante e alegre que emanava de Luna. Seu sorriso iluminava o ambiente, criando uma atmosfera de camaradagem e cumplicidade entre nós.

    “Nuca imaginei que você fosse uma precisa.”

    “Não achei que fosse uma informação necessária. Normalmente, não saio, por aí usando uma coroa e anunciando a todos que sou uma princesa”, disse Luna, com um tom de leve ironia. Seu olhar divertido revelava o lado descontraído e despretensioso que sempre admirei nela.

    Percebendo a curiosidade em meus olhos, Luna se adiantou para questionar sobre minha própria história.

    “Mas você também não me contou muito sobre você, certo Az? Ou devo chamá-lo de Rei Azrael?”.

    Meu sorriso se aprofundou, revelando uma pontada de nostalgia.

    “Não era como se eu estivesse escondendo”, respondi, com um toque de brincadeira. Naquele momento, lembranças de nossas aventuras passadas vieram à tona, reforçando a ligação especial que compartilhávamos.

    Uma sensação de gratidão preencheu meu coração ao ouvir as palavras de Luna.

    “Bom, na verdade, eu já sabia de sua identidade, mas imaginei que você não fosse tão ruim quanto os rumores faziam parecer.”

    “Sinto-me honrado”, afirmei, com sinceridade. Era reconfortante saber que minha reputação não tinha me precedido completamente e que Luna era capaz de enxergar além das fofocas e especulações.

    Em meio a risos e trocas de olhares cúmplices, a atmosfera se tornou ainda mais acolhedora e amigável. A conversa fluiu naturalmente, como se o tempo não tivesse separado nossos caminhos.

    “De qualquer forma, você veio me buscar, certo? Existe algo que você possa fazer por este planeta?”

    Eu já imaginava que Luna compartilhasse desse pensamento, mas, por mais que a considerasse uma amiga e compreendesse sua expectativa, sabia que a missão de um cavaleiro era definida por um propósito maior.

    “Não posso fazer nada. Deve ser de seu conhecimento, mas os cavaleiros não agem por ganância ou apenas para destruir. Há propósitos nobres por trás de nossas ações.”

    Expliquei com serenidade, procurando transmitir minha convicção e a responsabilidade que sentia como cavaleiro.

    “Os cavaleiros só agem quando é absolutamente necessário. Mesmo que eu queira, não posso simplesmente parar após iniciar uma missão.”

    Luna suspirou, compreendendo o peso das minhas palavras. No entanto, sua determinação brilhou em seu olhar, demonstrando a coragem e a vontade de fazer a diferença em seu próprio caminho.

    “Não posso dizer que esperava uma resposta diferente, mas não há muito o que fazer… Posso pedir algo a você? Não como princesa, mas como amiga?”.

    Curioso e atento, me inclinei em sua direção, pronto para ouvir seus desejos e anseios mais profundos. A confiança entre nós era sólida.

    Acenei com a cabeça em confirmação, já sabendo o que ela desejava.

    “Quando chegar a vez do terceiro cavaleiro, por favor, faça os nobres sofrerem bastante por trazerem o fim aos habitantes deste planeta”, Luna expressou seu desejo com determinação.

    Dirigi meu olhar em direção a Eriel, que estava envolvida em uma conversa com Jofiel.

    “Acredite, eles sofrerão, mas não da maneira que você espera”, respondi, deixando transparecer a confiança em minhas palavras.

    “É realmente uma pena”, Luna suspirou, expressando uma leve melancolia.

    “Não diga isso. Eu não posso ser cruel, mas o próximo cavaleiro realizará seu pedido da forma mais brutal possível”, assegurei a ela.

    Um suspiro aliviado escapou dos lábios de Luna, e seu sorriso logo retornou ao rosto.

    “Então, quando partiremos?”, perguntei, ansioso pela resposta.

    “Pode ser amanhã? Ainda há um último item que preciso para minha pesquisa”, ela sugeriu, revelando sua determinação em cumprir seu objetivo.

    Sabendo que Luna não partiria sem completar sua pesquisa, não pude negar seu pedido.

    “Claro, então ajudarei você a encontrar o que precisa”, concordei, pronto para auxiliá-la em sua busca.

    “Isso me lembra. Há algo que gostaria de te mostrar”, Luna disse, empolgada. Ela correu em direção ao que parecia ser seu quarto e logo retornou, trazendo consigo um objeto que emanava uma poderosa energia mágica. O objeto estava envolto em uma pequena bolsa de couro negro, com símbolos rúnicos marcados para protegê-lo. Era evidente que possuía um valor inestimável.

    “Fico feliz em poder mostrar isso a você”, Luna falou com orgulho, erguendo levemente o nariz.

    Ela então desenrolou a bolsa, revelando um pequeno orbe em suas mãos. O orbe possuía um brilho azul intenso e parecia conter uma quantidade significativa de mana.

    “Oh, isso parece precioso”, comentei, reconhecendo a importância do objeto, mesmo sem conhecer sua funcionalidade.

    “Levei muitos anos para conseguir reunir todos os materiais. Pensei em trazê-lo para continuar meus estudos, mas não tive tempo suficiente”, explicou Luna. Sua paixão por descobrir coisas novas era evidente, e eu tinha certeza de que aquele objeto poderia revolucionar o conhecimento.

    “Bom, deixe-me guardá-lo por enquanto”, Luna o colocou cuidadosamente sobre uma mesa próxima.

    “Antes disso, deixe-me apresentar alguém”, sugeri, percebendo o olhar curioso de Eriel e Jofiel. Era o momento ideal para apresentar as duas.

    “Essa é Jofiel… Bem, tenho certeza de que você já tem uma ideia de quem ela é, certo?”, mencionei, olhando em direção a Jofiel.

    “Azrael, não acho que…” Jofiel começou a dizer, mas a interrompi.

    “Não se preocupe. Luna é muito sensível à mana. Mesmo que você esteja disfarçada, ela pode sentir sua presença, então ela já sabe sobre sua identidade”, expliquei, assegurando a Jofiel.

    Luna sorriu como se eu a tivesse elogiado.

    “Certamente. Nunca imaginei que encontraria um anjo de alto nível”, comentou Luna, colocando a mão no queixo e se aproximando de Jofiel. “Posso estudar seu corpo?”

    Para Luna, que era fascinada pelo conhecimento, o corpo de um ser transcendental era algo que ela não poderia deixar passar despercebido. Era uma oportunidade única de observação, já que Jofiel estava diante de seus olhos.

    “Luna, você está babando”, comentei brincando.

    Ignorando minhas palavras, Jofiel apenas sorriu enquanto observava Luna.

    “Com certeza posso dedicar um pouco do meu tempo, contanto que não seja uma ‘observação’ muito invasiva”, respondeu Jofiel, exibindo sua gentileza característica.

    “Bom, e esta aqui é Eriel. Ela é uma humana que está me acompanhando nesta viagem”, apresentei Eriel a Luna.

    “Humana? Isso não é possível. Ei, posso analisar o seu corpo também?” Luna pareceu ainda mais curiosa em relação a Eriel. Ela estava com um rosto pervertido e um olhar duvidoso, o que fez Eriel se afastar instintivamente.

    “Oh? Me desculpe. O conhecimento sobre os humanos é mais limitado do que sobre os anjos, por isso não consegui me controlar”, Luna se desculpou.

    “Não se preocupe com isso…”, Eriel respondeu hesitante.

    “Oh? Mais uma…”

    Luna, sem querer, esbarrou na mesa enquanto tentava se aproximar de Samael. Foi quando notei que o orbe que ela havia trazido mais cedo estava prestes a cair da mesa. Eriel também percebeu e se moveu rapidamente para impedir que o orbe caísse no chão.

    “Azrael, não a deixe tocar!”, Luna gritou apressadamente.

    Agindo rapidamente, me aproximei do orbe e Eriel parou instintivamente. A poucos centímetros do chão, consegui segurá-lo, evitando que o orbe se quebrasse e que Eriel o tocasse.

    “Droga!” exclamou Luna, frustrada.

    Ao olhar para o orbe, percebi que Eriel estava segurando a parte inferior da minha mão. Foi quando minha visão escureceu e senti meu corpo enfraquecer.

    “Samael, segure Azrael. Eu vou cuidar da garota”, disse Luna rapidamente, agindo com urgência.

    Com minha visão recuperada, levou apenas alguns segundos para eu retomar plenamente meus sentidos. Os braços delicados ao redor do meu corpo tremiam ligeiramente. Ao olhar para o rosto de Luna, pude perceber a profunda preocupação estampada em sua expressão.

    “Luna, o que está acontecendo?” indaguei, minha voz soando estranha, afinal, não era a minha própria voz que saía de meus lábios.

    “Eriel?”, questionei, surpreso com a mudança vocal.

    “Azrael, se acalme um pouco”, respondeu Luna, sua voz carregada de preocupação.

    Voltei o olhar para Samael, que segurava meu corpo em seus braços, seu rosto exibindo uma mistura de perplexidade e inquietação.

    “Mas que…?”

    Antes que pudesse concluir minha frase, um lampejo de entendimento passou pelo olhar perplexo de Samael, como se ela começasse a compreender o que havia ocorrido.

    “Espera, você chamou Eriel de Azrael?”, questionou Samael, sua voz carregada de apreensão.

    Reunindo minha lucidez, decidi analisar calmamente a situação, agora que minha consciência havia retornado.

    “Luna, poderia me explicar o que aconteceu?” solicitei, buscando entender a natureza dessa estranha troca.

    “Bem… a mana contida no orbe atravessou sua mão e passou por Eriel, resultando na troca de suas almas”, explicou Luna, tentando resumir a complexidade do evento.

    “Entendi. Mas pelo que percebo, o corpo de Eriel se adaptou ao meu poder, não é?” perguntei, compreendendo que, embora nossas almas tivessem sido trocadas, meu poder permanecia em seu corpo.

    “Não é exatamente assim. Apenas suas almas foram trocadas, mas seu poder continua em seu corpo, Azrael”, esclareceu Luna, revelando o funcionamento peculiar dessa troca inesperada.

    Um misto de surpresa e perplexidade invadiu meus pensamentos. Então, Eriel estava agora em posse do meu poder e corpo? Essa situação inusitada desencadeou uma enxurrada de pensamentos em minha mente.

    “O que é isso? Sinto uma intensificação avassaladora de poder… é uma sensação incrível… Então, esse é o poder de Azrael? Nunca imaginei que você fosse tão formidável… E também, consigo ver o mundo através de seus olhos”, revelou Eriel, aparentemente confortável em meu corpo, embora essa aparência pudesse enganar.

    Enquanto ponderava sobre as implicações dessa troca e como resolvê-la, Eriel repentinamente caiu ao chão, agarrando a cabeça e contorcendo-se de dor. A preocupação me tomou instantaneamente.

    “Eriel! O que está acontecendo? Você está bem?” exclamei, me ajoelhando ao seu lado, segurando-a com delicadeza enquanto suas feições eram tomadas pela angústia.

    De fato, meu corpo era a pior escolha possível para alguém como Eriel, que sempre viveu como humana e agora se via transformada em um demônio. Essa condição, por si só, era angustiante, mas havia algo ainda mais desesperador nessa situação.

    O meu poder…

    Eriel não possuía controle sobre ele e estava sofrendo com a liberação desenfreada da minha energia, em uma escala de poder com a qual ela não estava familiarizada. Era uma agonia intensa apenas por essa circunstância. Quando eu era mais jovem, lutava constantemente para manter meu poder sob controle, buscando mantê-lo o mais baixo possível para evitar exatamente esse tipo de desfecho.

    “Eriel, acalme-se!” gritei, com urgência em minha voz.

    Era crucial que ela se mantivesse calma, caso contrário, meu poder corromperia sua alma. A dor que ela estava sentindo tornava difícil para ela pensar claramente e raciocinar.

    “Então, isso é o verdadeiro terror de ser o ‘Azrael’?” comentou Jofiel, visivelmente preocupada com a situação.

    “Jofiel, preciso da sua ajuda. Samael, você também”, pedi, sabendo que contava com a colaboração de ambas.

    “Entendido”, responderam as duas em uníssono, prontas para agir.

    Eriel estava com todas as minhas habilidades ativadas simultaneamente, liberando toda a mana contida em meu corpo. Apenas o poder emanado de meus olhos era suficiente para sobrecarregar seu cérebro.

    “Eriel, me ouça. Não importa o que aconteça, não diga uma palavra”, aconselhei, consciente dos perigos iminentes.

    Lancei uma magia para acalmar sua mente, enquanto Samael concentrava-se na cura e Jofiel tentava estabilizar a liberação descontrolada de mana.

    “A dor é insuportável. Faça isso parar”, expressou Eriel, em agonia.

    “Eriel, acalme-se!” implorei, mas suas palavras soaram como um grito desesperado.

    “Pare!”, gritou Eriel.

    Maldição! Pensei.

    No mesmo instante, meu corpo parou de se mover. E não apenas eu, mas todos que estavam dentro do alcance de sua voz foram afetados por sua ordem.

    “É isso que eu temia”, murmurei, compreendendo a terrível situação em que nos encontrávamos.

    Até mesmo Samael foi afetada pela minha habilidade, sendo paralisada juntamente com os outros presentes. No entanto, ela conseguiu cancelar a habilidade a tempo, evitando maiores danos. Ainda assim, havia algo que eu precisava fazer para controlar a situação.

    “Eriel, me desculpe”, murmurei com sinceridade, reconhecendo a necessidade de agir decisivamente.

    Com toda a força que o corpo de Eriel possuía, desferi um soco certeiro em seu estômago, fazendo-a cair ao chão. Embora não fosse suficientemente forte para derrubar meu próprio corpo, foi o bastante para fazê-la se acalmar.

    “Droga, se eu pudesse… É isso! Como não pensei nessa alternativa antes?” Exclamei, um pensamento brilhante surgindo em minha mente.

    Se Eriel era capaz de utilizar o meu poder enquanto estava em meu corpo, isso significava que eu também poderia usar o poder dela.

    {Senhor do Tempo}, sussurrei, ativando sua habilidade característica.

    A percepção do tempo ao meu redor desacelerou drasticamente, permitindo que eu enxergasse cada instante como se estivesse em um mundo completamente branco.

    Dentro desse domínio temporal, explorei as profundezas da conexão entre nós dois. A essência de Eriel e seu poder fluíam dentro de mim, aguardando serem desencadeados.

    Concentrei-me, sentindo a energia de Eriel pulsando através de mim. Com um gesto determinado, liberei o poder dela, manifestando uma força avassaladora que permeava meu ser. O tempo ao meu redor voltou ao seu fluxo normal, mas agora eu tinha acesso ao poder de Eriel.

    Com o controle sobre sua habilidade, eu poderia ajudá-la a dominar o poder que agora possuía. Era uma oportunidade para nos fortalecermos mutuamente.

    {Mundo Interno.}

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