Capítulo 67 — Antes de Partir
O magma fervente bloqueava qualquer rota que decidíssemos tomar. Não parecia haver outra alternativa além de usar a mana para flutuar.
Concentrando a mana, consegui sobrevoar por alguns segundos até cair novamente no chão. O sorriso no rosto de Leviatã mostrou que ela estava por trás da minha falta de habilidade.
Era como se a única forma de sair fosse pelo chão. Deveria encontrar uma maneira de escapar do local sem depender da mana para flutuar.
“Luna, tive uma ideia.” Falei, buscando ajuda na minha companheira.
Enquanto estava no corpo de Eriel, não conseguia identificar o seu limite, por esse motivo não deveria ultrapassar sua força. Se em algum momento eu esquecesse desse pequeno fato e tentasse impor os mesmos limites que existem em meu corpo ao de Eriel, poderia ter problemas.
“Achou uma forma de sair?” Luna perguntou, curiosa.
Na verdade, foi fácil entender. Já comprovei que o magma era verdadeiro; o calor batendo em meu rosto ao me aproximar foi suficiente para comprovar.
“Você confia em mim?” Perguntei a Luna.
Com minha pergunta, Luna sorriu de forma estranha. “Acha que eu estaria aqui se não confiasse.”
“Então, suba em minhas costas”, pedi, enquanto me posicionava.
Luna não pensou muito no assunto e seguiu meu plano sem demora. Usando o Tempo, consegui tornar meu corpo mais leve, facilitando a nossa movimentação.
Com a espada em minha mão, realizei um corte na horizontal, acertando algumas árvores que estavam pelo caminho. Usando as árvores como ponte, atravessamos sem problemas o rio de lava criado por Leviatã.
Contudo, a situação se complicou quando grandes serpentes emergiram da lava e começaram a nos perseguir. Com Luna em minhas costas, meus movimentos se tornaram limitados, mas não havia o que eu pudesse fazer.
Ativando a habilidade de Tempo, consegui fazer meus pensamentos acelerarem enquanto me concentrava nas serpentes à minha frente. Com cortes rápidos e precisos, consegui diminuir o número de inimigos, usando a lâmina branca com maestria para minimizar meus movimentos.
Leviatã suspirou em desânimo.
Não demorou muito para sair daquela situação, mas foi bem mais tempo do que eu previa, devido às limitações do corpo de Eriel.
Quando finalmente tudo acabou, leviatã desceu do céu e me parabenizou por passar sem dificuldades. Estávamos próximos da vila, então ela não poderia continuar com sua brincadeira.
“Pensei que você teria mais dificuldades”, comentou Leviatã, fazendo biquinho.
Com Luna no chão, não pude deixar de sorrir com a situação que acabara de acontecer.
“Isso foi perigoso. Se por um momento eu perdesse a concentração, poderíamos cair”, alertei.
Porém, minhas palavras fizeram Leviatã sorrir.
“Não precisava se preocupar. Mesmo que o magma fervente parecesse perigoso, se caísse, iria sentir como se estivesse em um riacho calmo.”
Com o poder da Realidade, Leviatã podia alterar tudo, então não achei que era impossível do ponto de vista dela.
“Isso foi excitante de qualquer forma… Oh? Ainda não me apresentei?”, disse Luna, mas logo foi cortada por Leviatã.
“Não se preocupe. Eu estava na sombra do meu mestre o tempo todo. Então sei exatamente quem é você”, disse Leviatã.
***
Ao amanhecer, todos estavam se preparando para sair, e decidi visitar o quarto de Eriel. Ela tinha conseguido despertar na noite passada, mas achei melhor que ela descansasse um pouco mais, então a visitei apenas na manhã seguinte.
Enquanto estava sentada, Eriel notou meu olhar preocupado e sorriu suavemente. Seus olhos, mesmo após uma noite de descanso, ainda refletiam o cansaço das últimas batalhas mental que teve que suportar no Mundo Interno.
“Está preocupado?”, perguntou, percebendo minha apreensão.
Talvez por estar em seu corpo, Eriel conseguia me ler como um livro. Não era necessário dizer muitas palavras; nossas conexões se estendiam além do físico, permitindo que compartilhássemos pensamentos e emoções.
“Você conseguiu se acostumar com meu corpo?”, indagou ela, curiosa.
Alterando o tempo no Mundo Interno, Eriel passou um bom tempo treinando no local para controlar meu corpo, mas ainda sentia resquícios de mana vazando dele. Seu esforço era admirável, e eu sabia que com o tempo, ela dominaria o controle completo.
“Melhorei um pouco no controle de mana, mas não está perfeito”, comentou Eriel enquanto balançava o braço, demonstrando sua evolução.
“Veja pelo lado bom. Quando retornar ao seu corpo, terá um controle bem maior sobre a mana”, respondi com um sorriso, incentivando-a.
Por ter que controlar a mana constantemente, Eriel teria um controle superior ao que ela possuía atualmente. Enquanto se esforçava para não ativar minhas habilidades, ela devia manter o poder sob controle para não colapsar. Recordava-me dos dias em que precisei dominar minhas próprias habilidades; era uma jornada árdua, mas recompensadora.
“Bom, deixando o assunto sobre controle de mana de lado, poderia chamar Noir e Sonne? Elas devem estar preocupadas com a súbita mudança em minha mana, e o corte entre nossa conexão não ajuda muito”, sugeri, preocupada com minhas companheiras.
“Claro, mas como eu faço para chamá-las?”, perguntou Eriel, demonstrando insegurança.
Não existia uma maneira simples. Eu sempre pensava nelas, e elas apareciam, mas para Eriel, que nunca experimentou algo parecido, era uma situação complicada.
“Já sei… Retire as luvas de suas mãos”, pedi, lembrando de um detalhe importante.
Eriel retirou as luvas, revelando os símbolos de Lua e Sol em forma de tatuagem. Ela iria colocar as luvas em cima da mesa ao lado da cama quando a impedi apressadamente.
“Não!!”, gritei, chamando sua atenção para mim. “Essas luvas possuem uma magia de gravidade. Atualmente, elas são muito pesadas, ao ponto de destruir a mesa se colocadas em cima.”
Eriel colocou as luvas levemente no chão, para não destruir o piso.
Em meu treinamento, recebi essas luvas de Samael. A cada semana, seu peso aumentava em 10Kg, e após tantos anos, não faço ideia do peso atual.
“Elas são tão pesadas assim?”, perguntou ela, surpresa com o fato.
Com um leve suspiro, eu sorri. “Meu corpo já se acostumou com o peso, então é normal. Contudo…”, tentei pegar a luva no chão, mas elas nem mesmo se moveram. “Não é o mesmo para o seu corpo. Essas coisas são tão pesadas que não consigo movê-las.”
No tempo em que recebi as luvas, elas pesavam pouco mais de 50KG.
“Deixando o assunto das luvas de lado. Está vendo as tatuagens em suas mãos? Faça a sua mana chegar até elas lentamente enquanto se imagina chamando Noir e Sonne”, expliquei, buscando uma forma mais fácil para que Eriel pudesse convocar minhas companheiras.
“Mas não as chame por esses nomes. Para Noir, diga algo como: Apareça Tsukuyomi. Com Sonne, é: Apareça Amaterasu.”
Após explicar para Eriel a forma de chamá-las, observei-a tentando convocar minhas companheiras. Normalmente, eu não as chamaria dessa forma, mas poderia usar as runas para instruir a inexperiente Eriel.
Com um leve brilho, notei a presença de Noir aparecer e, em seguida,
Sonne, a garota com cabelos dourados que pareciam fios de ouro, possuía um sorriso radiante capaz de iluminar até mesmo os momentos mais sombrios. Seus olhos da mesma cor, brilhavam, refletindo sua personalidade calorosa. Sempre de bem com a vida, Sonne irradiava energia positiva ao seu redor, contagiando todos que a cercavam.
Além disso, ela era extremamente habilidosa com a magia da luz. Sua presença era como um farol de esperança, guiando aqueles que estivessem perdidos na escuridão para o caminho da luz.
Por outro lado. Noir, a garotinha de longos cabelos negros que alcançavam a cintura, possuía um ar de mistério e sabedoria além de sua aparência infantil. Seus olhos profundos e penetrantes carregavam uma sabedoria milenar, revelando a experiência de uma alma antiga que atravessou inúmeras eras.
Ela era uma mestra da magia das sombras, manipulando as trevas com maestria e habilidade. Sua capacidade de se mover pelas sombras era quase invisível, e sua destreza em criar ilusões podia enganar até os mais astutos adversários. Apesar da aparência frágil, Noir era uma força a ser temida no campo de batalha.
Embora fossem opostas em muitos aspectos, Sonne e Noir se complementavam perfeitamente. Suas personalidades e habilidades contrastantes formavam uma parceria poderosa e equilibrada. E, acima de tudo, a amizade e a lealdade que compartilhavam eram inquebrantáveis.
“Az!” Noir exclamou, preocupada. “Azrael, o que aconteceu?”
As duas pareciam surpresas, mas Noir pulou no colo de Eriel enquanto checava seu corpo procurando algum ferimento.
“Espera. Quem é você?”, perguntou Noir, olhando para o rosto de Eriel.
“Oh? Ela percebeu?”, pensei. “Como esperado de minha companheira.”
“Está tudo bem, Noir. Eu e Eriel trocamos de corpos, mas logo voltaremos ao normal”, expliquei, mas Noir parecia ter mais perguntas do que respostas.
“Vai ser bem complicado…”, comentou Sonne com um suspiro.
As duas estavam confusas, mas confiavam em mim o suficiente para aceitar a explicação. Afinal, não era a primeira vez que passávamos por situações incomuns e misteriosas. Com o tempo, tudo se esclareceria.
Eriel olhou para as minhas companheiras com um olhar de curiosidade, e eu podia sentir a conexão se fortalecendo entre elas. Era fascinante testemunhar esse momento de interação entre a alma de Eriel e minhas fiéis amigas.
Agora que Noir e Sonne estavam a par da situação, era hora de seguir em frente. O mundo estava cheio de desafios, mas sabia que, com Noir ao meu lado e o apoio de minhas companheiras, poderíamos superar qualquer obstáculo que cruzasse nosso caminho.
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