Capítulo 68 — Passado 3
Três dias se passaram desde que conseguimos fugir do centro de pesquisas. Durante a jornada em direção às ruínas, me perguntei várias vezes o que passava na cabeça de Mana. Ainda assim, ela se manteve determinada e corajosa, liderando o caminho sem hesitação.
Surpreendentemente, não encontramos nem uma criatura hostil em nosso caminho desde que começamos a jornada. Essa área era conhecida por sua enorme variedade de criaturas, muitas das quais eram hostis e perigosas. A estranha calmaria nos deixou intrigados, mas também aliviados por não termos que enfrentar ameaças imediatas.
Decidimos parar um pouco para descansar e nos preparar antes de seguir viagem. Mana cuidava da fogueira enquanto eu examinava a areá em busca de pistas sobre a localização exata das ruínas.
“Está pronto para partir?”, perguntou Mana, olhando para mim com um sorriso reconfortante.
“Sim, devemos continuar. Caminhamos por tanto tempo que provavelmente estamos perto das ruínas”, respondi com determinação, mesmo que não pudesse ter certeza sobre a distância exata.
O ambiente agradável da floresta me fez refletir sobre o motivo de ter permanecido preso no centro de pesquisas por tanto tempo. Mesmo com os perigos naturais da floresta, a liberdade e a natureza ao meu redor eram mais reconfortantes do que as paredes frias do laboratório.
“Az, o que você pretende fazer ao atravessar as ruínas?”, perguntou Mana, curiosa sobre nossos planos futuros.
Ainda não tinha parado para pensar no assunto. Mesmo que tenhamos sucesso em passar pelas ruínas, eu não tinha um objetivo claro em mente.
“Talvez encontrar um local para morar e viver pacificamente, com você ao meu lado”, admiti com um sorriso sincero.
Não queria nada mais do que isso. Desde que estivesse na presença de Mana, eu sabia que viveria feliz. Ela era extravagante e um pouco animada demais às vezes, mas sua companhia era a melhor que eu poderia desejar.
“Então é assim? Vamos realizar seu desejo, eu lhe garanto”, respondeu Mana com um brilho nos olhos e um belo sorriso em seu rosto.
Enquanto continuávamos nossa jornada, avistei grandes montanhas que surgiram em nosso campo de visão. Algo que não havia sido possível observar antes devido às densas árvores que ocupavam a maior parte do meu campo de visão.
“Aquilo é…”, falou Mana ao notar as montanhas.
“Parece que estamos perto”, respondi, sentindo a expectativa crescer em meu peito.
Mana então correu de forma animada até a montanha, e eu a segui de perto, ansioso para descobrir o que as ruínas guardavam e o que nosso futuro nos reservava. Demorou um pouco para chegarmos ao local, mas finalmente conseguimos observar a grande estrutura de pedra que adentrava a montanha, formando um único caminho que nos conduziria às misteriosas ruínas.
Mesmo sem adentrar o local, tinha certeza de que era perigoso. O ar dentro das ruínas era mais sombrio e, de alguma forma, eu conseguia sentir a presença das criaturas que lá habitavam.
“Vamos, Az. Estamos quase do outro lado”, insistiu Mana, empolgada para seguir em frente.
Entretanto, algo parecia estranho. As criaturas que normalmente estariam na floresta não apareceram. Desde que entramos na área das ruínas, não conseguimos encontrar nenhum sinal de vida, mas, mesmo agora, eu sentia a presença das criaturas escondidas nas sombras das ruínas. Elas pareciam evitar sair, como se temessem algo maior e mais assustador do que elas.
“Mana, espera!”, chamei, sentindo um calafrio percorrer minha espinha.
Enquanto Mana olhava em minha direção, o chão começou a tremer violentamente, e uma aura assustadora envolveu todo o ambiente.
Uma enorme rachadura se abriu no solo bem embaixo de Mana, revelando uma criatura gigantesca que estava enterrada e à espreita. A criatura se assemelhava a uma serpente de duas cabeças, com pouco mais de dez metros de comprimento. Uma das cabeças me encarava com olhos frios e sedentos, enquanto a outra investiu diretamente em direção a Mana, que ainda estava surpresa com a súbita aparição.
Contudo, Mana reagiu rapidamente, conseguindo evitar o pior, mas ainda assim a serpente a atingiu com uma mordida em seu braço direito. Ela se livrou do ataque num ágil movimento, mas a dor era visível em seu rosto.
A serpente continuou a nos encarar, esperando pacientemente por qualquer descuido para atacar novamente.
“Vá embora”, falei, concentrando mana em minha voz, tentando usar minha magia para afastar a serpente dali. No entanto, nada aconteceu.
Minha habilidade parecia ineficaz contra aquela criatura colossal. Eu estava confuso e preocupado. A serpente de duas cabeças, que deveria ser uma ameaça temível, continuava nos observando, mas algo parecia errado. Ela não atacava com toda a sua fúria, como se estivesse aguardando algo.
“Mana, você está bem?”, perguntei com preocupação.
“Sim, mas ela conseguiu me morder… Não foi um ferimento grave, mas a dor é bem incômoda”, respondeu Mana, lutando para manter-se acordada, apesar do ferimento.
Minha mente estava em turbilhão, procurando uma saída para aquela situação. Sabia que não poderíamos vencer aquela criatura, mesmo que juntássemos nossas forças.
A serpente continuava a nos observar, cada cabeça focando-se em uma presa, mas parecia hesitar em nos atacar diretamente.
“Az…”, chamou Mana, a voz trêmula.
Ela caiu de joelhos no chão, lutando para se manter consciente. Seus olhos mostravam medo, mas também confiança em mim.
“Mana, vai ficar tudo bem”, falei, mesmo sem muita convicção.
“Eu confio em suas palavras”, disse Mana, lutando bravamente para se manter acordada.
Eu não tinha ideia de como poderia sair daquela situação. A serpente de duas cabeças começou a se movimentar em círculos ao nosso redor, observando-nos cuidadosamente enquanto esperava o momento certo para atacar.
Minha mente estava inquieta, procurando uma solução, quando uma voz estranha e sombria ecoou em minha cabeça.
{No ponto de vista dela, vocês são presas fáceis.}
A voz me pegou de surpresa, fazendo-me perder momentaneamente o foco da serpente. Nesse momento, a criatura avançou em nossa direção, com suas bocas abertas e sedentas por sua presa.
Não conseguia encontrar uma maneira de escapar daquela situação. Fechei os olhos, esperando pelo fim iminente.
No entanto, após alguns segundos, nada aconteceu. A serpente não nos atacou. Lentamente, abri os olhos e percebi que o ambiente havia mudado. Eu estava agora em uma caverna escura, iluminada por tochas misteriosas. A única companhia que eu podia ver ao meu lado era um esqueleto segurando uma espada enferrujada.
Pânico tomou conta de mim quando procurei por Mana, mas ela não estava mais lá.
{Parece que você está em um grande problema lá fora… A besta divina acha que você é uma presa fácil.}
A voz sussurrou em minha mente novamente, mas eu não conseguia identificar a origem. Meus olhos procuravam freneticamente pela presença de Mana, mas parecia que eu estava sozinho nesse lugar sombrio e desconhecido.
A voz feminina parecia suave e etérea, como o cantar de um anjo, emanando divindade em cada palavra que chegava aos meus ouvidos. Confuso e curioso, questionei a misteriosa entidade.
“Quem é você? Onde estou?”, perguntei, tentando entender o que estava acontecendo.
{Ainda não é o momento, caro desafiante. Normalmente, não seria permitido a presença de alguém tão jovem neste espaço, mas decidi lhe dar uma chance}, respondeu à voz, fazendo uma breve pausa antes de prosseguir. {Deixe-me explicar de uma forma que você possa compreender… Você está em uma área além dos domínios de qualquer ser vivo. Um local criado pelo próprio Deus Supremo para testar seu valor}.
Ainda confuso, decidi ouvir atentamente a explicação.
{Normalmente, são escolhidos guerreiros habilidosos que possuem armas poderosas para serem testados. Entretanto, a situação desta vez era complicada, então decidi trazer você para o meu mundo. Aqui, o tempo flui de maneira diferente do mundo real. O Deus Supremo usou uma habilidade como referência para criar este lugar. De qualquer forma, não se preocupe com a garota por enquanto}.
As palavras me trouxeram certo alívio, mas a curiosidade só aumentava.
{Deixe-me ser bem clara. Nesta caverna, existe uma arma capaz de conceder um poder inimaginável a você. No entanto, antes de obtê-la, precisará passar por alguns testes}, explicou a voz.
“Poderia essa arma me ajudar a salvar Mana?”, perguntei com esperança.
{A garota?}, a voz questionou com preocupação. {Sinto informar, caro desafiante, mas… aquela garota está com os dias contados…}
As palavras me atingiram como um soco no estômago, e caí de joelhos sem esperanças. Queria me despedir de Mana e passar os últimos momentos de minha vida ao seu lado.
“Por favor, leve-me de volta. Deixe-me passar os últimos momentos com minha irmã”, implorei.
{Aguarde, desafiante. Embora não exista um antídoto, se levar rapidamente o veneno da criatura para o palácio demoníaco, imagino que talvez haja alguém que possa ajudá-los}.
Havia uma possibilidade, e isso já era motivo suficiente para continuar lutando.
“É verdade?”, indaguei esperançoso.
{É possível, mas não tenho certeza. Durante meu tempo aqui, meu conhecimento sobre o mundo foi limitado}.
Respirei fundo e coloquei meus pensamentos em ordem.
“Com a ajuda da arma lendária que está aqui, poderei derrotar a besta?”, perguntei determinado.
{Sim. O poder que obterá será quase divino, e enquanto seu corpo aguentar, você será capaz de derrotá-la sem dificuldades. Mas devo lhe alertar, diversos seres já passaram no teste, mas nenhum deles conseguiu vencer o último desafio… Mesmo assim, deseja continuar?}
“Sim”, respondi sem hesitação.
{Normalmente, os guerreiros entram com suas próprias armas, mas você é um caso especial. Recomendo que comece com uma arma, mas tudo bem começar apenas com as mãos?}
Aproximei-me respeitosamente do cadáver encostado na caverna e fiz uma breve reverência. Em seguida, peguei a espada enferrujada que estava ao seu lado.
“Mas eu tenho uma arma”, afirmei.
{…… Assim seja. Jovem desafiante, se seguir por esse caminho…}, a voz disse enquanto uma passagem se revelava em meu campo de visão. {Você poderá iniciar o teste. Desejo-lhe boa sorte em sua jornada}.
Com determinação renovada, adentrei a passagem que se abriu à minha frente, deixando para trás a caverna escura e sombria. Enquanto caminhava por um túnel escavado nas entranhas da montanha, sentia uma presença misteriosa me acompanhando, como se a própria voz estivesse ao meu lado. A voz continuava a sussurrar palavras em minha mente, chamando-me de “desafiante” em momentos aleatórios, o que só aumentava meu mistério sobre quem ou o que era essa entidade.
Após caminhar por algum tempo, finalmente alcancei a saída do túnel e me deparei com um cenário deslumbrante. Diante de mim se estendia uma vasta planície coberta por uma vegetação exuberante e desconhecida. Árvores gigantescas se erguiam em meio à paisagem, suas copas tocando as nuvens, enquanto criaturas estranhas e fascinantes se moviam entre elas.
As criaturas à minha frente eram tão diversas quanto impressionantes. Algumas lembravam grandes felinos com pelagens coloridas e olhos intensos, enquanto outras pareciam ser feitas de cristal, refletindo a luz do sol de forma magnífica. Havia também seres alados, cujas asas brilhavam com cores iridescentes enquanto voavam graciosamente pelo céu.
Antes que pudesse reagir, percebi que essas criaturas começaram a notar minha presença. Algumas se aproximaram curiosas, outras rosnavam, preparando-se para um possível ataque. Era um momento crítico, e eu sabia que não poderia enfrentá-las com minhas habilidades atuais.
Pensando rapidamente, concentrei mana em minha voz, utilizando-a para projetar uma ordem para as criaturas em minha mente. “Fiquem paradas!”, ecoou minha voz com um poder sobrenatural. Surpreendentemente, as criaturas pararam em suas ações, como se estivessem hipnotizadas, obedecendo à minha vontade.
Com esse momento de vantagem, parti para o ataque. Empunhando a espada enferrujada, avancei contra as criaturas mais próximas. Aproveitando-me de sua imobilidade temporária, desferi golpes precisos e letais, abatendo-as sem grandes dificuldades. Minha conexão com a mana me conferia uma destreza sobrenatural, e minhas habilidades de combate foram aprimoradas pelo poder da voz misteriosa que me acompanhava.
Enquanto avançava, continuei sendo chamado de “desafiante” pela voz, que se mantinha presente em minha mente. Ela me incentivava a prosseguir e acreditava em minha capacidade de superar os obstáculos que estavam por vir. A cada nova vitória contra as criaturas hostis, sentia-me mais confiante em meu potencial.
Contudo, mesmo com toda a destreza e poder a meu favor, sabia que o verdadeiro desafio ainda estava por vir. A arma lendária que estava buscando, capaz de me conceder poderes divinos, estava à minha espera em algum lugar daquela região. Minha jornada estava apenas começando, e o destino de Mana também estava em jogo.
Enquanto avançava pela planície, ouvia a voz misteriosa sussurrando em minha mente, orientando-me e incentivando-me em minha jornada.
{Desafiante, você está se saindo muito bem até agora. Continue assim e logo encontrará o que busca.}
A voz transmitia uma mistura de calma e confiança, o que me acalmava em meio à incerteza da situação.
“Obrigado por me guiar. Sem você, não sei se teria conseguido enfrentar essas criaturas”, respondi em pensamento.
{Você possui o potencial necessário para superar esses desafios. Acredite em si mesmo, e tudo ficará bem.}
Enquanto prosseguia, deparei-me com uma criatura diferente das outras. Era um ser majestoso com corpo de leão e asas de águia, com uma pelagem dourada que reluzia sob a luz do sol. Parecia ser uma das criaturas mais poderosas da região.
{Cuidado, desafiante. Essa criatura é conhecida como o Guardião do Sol. Sua força é formidável e não deve ser subestimada.}
Observando o imponente Guardião, senti um misto de admiração e receio, mas não recuei. Resolvi tentar uma abordagem diferente dessa vez.
“Fique parado!”, ordenei, usando minha voz amplificada pela mana.
Surpreendentemente, o Guardião pareceu hesitar por um momento, como se estivesse lutando contra a ordem que lhe foi dada. No entanto, sua resistência não durou muito, e ele parou em sua posição, olhando-me com um olhar questionador.
{Impressionante, desafiante. Controlar uma criatura tão poderosa não é tarefa fácil. Sua habilidade é notável.}
Sentindo-me encorajado pela voz, avancei cautelosamente em direção ao Guardião. Com a espada em mãos, desferi um golpe certeiro, atingindo um ponto vital. O Guardião soltou um rugido ensurdecedor antes de desmoronar no chão, derrotado.
{Você é verdadeiramente digno de ser chamado de desafiante.}
A voz misteriosa ecoou em minha mente novamente, preenchendo-me com um senso de propósito e determinação.
“Obrigado. Mas ainda não acabou. Tenho que encontrar a arma lendária que mencionou”, respondi, retribuindo as palavras de incentivo.
{Continue a seguir adiante, desafiante. A arma que busca está próxima.}
Guiado pelas palavras da voz e pela promessa de poder divino, continuei minha jornada através da planície repleta de mistérios e perigos. Cada passo me aproximava mais do meu objetivo final, e a voz misteriosa permanecia ao meu lado, me apoiando em cada desafio.
Após avançar ainda mais pela planície, cheguei a uma área fechada, uma espécie de coliseu cercado por imponentes paredes de pedra. O cenário me fez lembrar dos antigos campos de batalha onde gladiadores enfrentavam feras colossais. O coração acelerou ao perceber que esse seria o próximo desafio imposto pelo misterioso ser que me guiava.
{Desafiante, chegou a hora de enfrentar uma das criaturas mais poderosas deste mundo. Prepare-se para uma batalha difícil e implacável.}
As palavras da voz misteriosa ressoaram em minha mente, e uma sensação de urgência tomou conta de mim. A visão da arena vazia logo foi preenchida pela chegada de uma criatura colossal. Seus olhos carmim irradiavam fúria e sede de batalha, e sua pele escamosa refletia a luz em um tom sinistro.
{Este é o Devorador de Almas. Uma besta lendária que se alimenta da essência vital de seus oponentes.}
Ao observar o Devorador de Almas, fui tomado por uma sensação de insignificância diante de sua magnitude. Minha mão se apertou firmemente na empunhadura da espada enferrujada, ciente de que minha habilidade com a mana não seria eficaz nessa batalha.
A criatura avançou com fúria e, num movimento rápido, desferiu um golpe poderoso com suas garras afiadas. Com agilidade, rolei para o lado, escapando do ataque por pouco. O impacto das garras fez a terra tremer ao meu redor, demonstrando a força avassaladora do Devorador de Almas.
Minha mente trabalhava freneticamente em busca de uma estratégia. Sem poder usar minha magia, eu precisava confiar apenas em minha habilidade com a espada enferrujada. Era como se tivesse sido transportado para uma época em que a sobrevivência dependia apenas da habilidade com as armas.
Avancei para atacar o Devorador de Almas, mas ele rapidamente desviou e contra-atacou com sua cauda imensa, lançando-me pelos ares. Aterrissando com dificuldade, levantei-me rapidamente, sabendo que não tinha espaço para erros.
A criatura continuava investindo com golpes poderosos, e eu me esquivava com agilidade e precisão. A cada desvio, a sensação de que a luta se prolongaria indefinidamente crescia em minha mente. A espada enferrujada parecia uma extensão de meu corpo, e a cada golpe, a criatura retaliava com mais fúria.
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