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    Todos foram conduzidos em direção aos quartos. Enquanto Lethea liderava o grupo em direção às acomodações, coube a Elara a responsabilidade de me guiar. Enquanto caminhávamos pelos corredores imponentes do castelo, percebi que Elara me observava ocasionalmente, como se buscasse confirmar algo. Nesse momento, coloquei gentilmente a mão em sua cabeça e fiz um carinho reconfortante.

    “Você parece preocupada, Elara. Há algo que esteja lhe incomodando?”, perguntei, buscando entender a razão por trás de sua expressão.

    Minha pergunta a fez sorrir gentilmente. “Apenas achei um tanto peculiar vê-lo nessa forma. O grande Azrael, agora como um humano. Não acha isso interessante?”

    Como sempre, sua curiosidade era ingênua e cativante. “Elara, você duvida da força de um humano?”, questionei, desafiando-a a considerar a capacidade dos seres humanos.

    Entretanto, Elara pareceu um pouco confusa com minha pergunta. Decidi reformulá-la. “Ou melhor, você acredita que estou enfraquecido por estar no corpo de uma humana?”

    “Você sabe que eu acredito em você, mesmo que isso signifique arriscar minha própria vida. No entanto, tenho a impressão de que o corpo humano é frágil demais”, respondeu Elara, expressando suas dúvidas com sinceridade.

    Essa conversa me fez lembrar de nosso primeiro encontro, há muitos anos. Naquela época, Elara tinha apenas cinco anos, e a proximidade que compartilhamos a levou a acreditar que eu era seu pai. Apesar de tê-la protegido durante os tempos de guerra, recordar suas lágrimas e sua fé em mim me fez refletir sobre minhas ações.

    Uma onda de lembranças veio à mente. A cena da guerra, quando ela se agarrou a mim, dizendo que eu não podia morrer. Naquele momento, eu a encarei com um olhar gélido, liberando toda a minha aura carregada de fúria.

    No entanto, agora, enquanto caminhávamos pelos corredores do castelo, essa mesma garotinha estava ao meu lado, mais madura, mas ainda com um espírito forte e inquebrável. As lembranças daquela época tumultuaram minha mente, me fazendo lembrar das promessas que fiz e das razões pelas quais eu estava disposto a enfrentar qualquer desafio, não importando quão frágil meu corpo atual pudesse parecer.

    Enquanto nossas pegadas ecoavam nos corredores, eu sabia que estava determinado a provar a Elara, a mim mesmo e a qualquer um que duvidasse que a força reside na mente, na determinação e no coração, independentemente da forma que habitamos.

    “Você certamente não se parece com a criança que costumava me chamar de ‘Papa’ quando me via”, comentei de forma sarcástica, relembrando os momentos passados.

    Meu comentário provocou um rubor nas bochechas de Elara, que rapidamente tentou esconder seu rosto com a mão. “Eu era apenas uma criança naquela época. Por que você precisa lembrar de algo tão embaraçoso?”

    Realmente, talvez eu não devesse lembrar daquilo, mas a imagem dela ficou gravada em minha memória por muitos anos. “Bom, é verdade que você era uma criança na época”, concordei, “mas essas memórias sempre têm um jeito de persistir.”

    Elara olhou para mim, suas expressões de surpresa e constrangimento misturadas. “Ainda acho que é normal duvidar do meu poder. Na verdade, se estivesse em um corpo humano comum, provavelmente pensaria o mesmo. No entanto, essa humana em particular é alguém que nunca deve ser subestimada.”

    Minhas palavras não pareciam ser o suficiente para convencê-la, então uma ideia surgiu em minha mente. “Que tal lhe mostrar em vez de apenas dizer? Vamos até a sala de treinamento”, sugeri, sabendo que uma demonstração prática poderia ser mais persuasiva do que meras palavras.

    Decidimos seguir para a sala de treinamento, um espaço amplo e bem iluminado no coração do castelo. Ao adentrarmos o local, fui surpreendido pela grandiosidade do ambiente. Paredes de pedra cinza rodeavam uma área circular, com um teto alto que permitia a entrada da luz do sol, criando uma atmosfera vibrante e energizante.

    “É aqui que você treina?”, perguntei a Elara, admirando o lugar. “Impressionante.”

    Ela sorriu com orgulho. “Sim, este é o nosso local de treinamento. Não é tão moderno quanto outras instalações, mas tem sua beleza.”

    Preparando-nos, assumi uma postura defensiva, enquanto Elara adotou uma posição mais ofensiva. Nossos olhares se encontraram, e sem trocar uma palavra, começamos a dança de golpes e esquivas.

    Elara investiu com agilidade, seus movimentos fluidos e precisos. Sua velocidade era notável, e eu me esforçava para antecipar seus ataques. Bloqueei seus golpes iniciais, admirando a destreza de seus movimentos.

    “Não vou facilitar para você, Elara”, provoquei, meu sorriso malicioso sugerindo que estava aproveitando a luta.

    Ela respondeu com um olhar desafiador, desferindo uma sequência rápida de golpes. Cada movimento dela era calculado, e eu precisava usar minha agilidade e percepção para evitar seus ataques.

    “Nunca esperei que você fosse pegar leve”, ela retrucou, enquanto um de seus golpes quase me atingia.

    Com um giro rápido, consegui me esquivar e contra-atacar. Elara bloqueou meus golpes com destreza, nossos movimentos criando um ritmo sincronizado no campo de treinamento.

    Enquanto continuávamos nossa troca intensa de golpes, o ambiente ao nosso redor parecia vibrar com a energia da luta. O som dos passos ecoava pelas paredes de pedra, e a luz do sol entrava em feixes dourados, criando padrões hipnotizantes no chão.

    “Você melhorou bastante desde a última vez que treinamos”, comentei, observando seus movimentos ágeis.

    “Estive me dedicando, afinal”, ela respondeu, enquanto desviava de um golpe meu.

    Nossas palavras eram intercaladas pelos movimentos rápidos e ataques concentrados. A luta continuava, ambos testando os limites do outro e buscando vantagem.

    “Você não é o único com truques, Azrael”, Elara disse com um sorriso travesso, antes de realizar um movimento surpreendentemente acrobático.

    Nossa dança de combate prosseguia, cada momento parecendo se estender enquanto explorávamos nossas habilidades e estratégias. Os golpes se cruzavam, as esquivas eram precisas, e a sala de treinamento vibrava com a intensidade da luta.

    Com o passar do tempo, nossos movimentos se tornaram mais calculados e estratégicos. Nossos corpos suados e ofegantes demonstravam o esforço que estávamos colocando na luta.

    “Isso está sendo divertido, não acha?”, Elara provocou, enquanto bloqueava um de meus golpes.

    “Definitivamente”, respondi, meu sorriso mostrando que eu também estava aproveitando o desafio.

    A luta continuou, nosso ritmo não diminuía, e nossos corações batiam em uníssono com o som dos golpes e passos. O ambiente ao nosso redor parecia desaparecer enquanto nos concentramos apenas na luta e no desafio mútuo.

    A sala de treinamento era como uma arena de testes, onde nossas habilidades eram colocadas à prova, e cada movimento era uma oportunidade de aprendizado. O chão de pedra sob nossos pés, as paredes sólidas e o teto alto compunham o cenário perfeito para nossa batalha.

    Nossos movimentos se tornaram mais lentos, nossos olhares se fixaram um no outro. Fizemos uma pausa momentânea, nossos corações ainda acelerados pela adrenalina da luta.

    “Você me convenceu, Azrael”, Elara admitiu, com um sorriso sincero. “Não subestimarei mais a força de um humano.”

    Nossos olhares se encontraram em um instante de respeito e compreensão, nossos corpos exaustos, mas nossos espíritos revigorados. A luta que travamos tinha se transformado em algo mais do que uma mera demonstração de habilidades; era um lembrete poderoso de que a força podia se manifestar de diversas formas, e que a determinação era uma arma formidável.

    “Vamos, vou te levar até o teu quarto”, disse Elara, lançando-me uma toalha.

     Seguimos pelo corredor em direção ao quarto onde eu passaria a noite. 

    “Amanhã celebraremos tua chegada com bebidas, não esqueças de comparecer.”

    Elara parecia compreender meu receio. A fama de herói do planeta não era algo que eu acolhia calorosamente. “Lembrarei das tuas palavras”, assegurei, grato por sua consideração.

    À medida que nos aproximávamos da porta do quarto, senti os braços delicados de Elara envolvendo meu corpo por trás. A sensação da sua respiração suave contra meu pescoço era estranhamente reconfortante.

    “Posso ficar assim apenas por um momento?”, Elara perguntou, parecendo um tanto envergonhada.

    “Claro, não se preocupe”, respondi com um sorriso sincero. Alguma conexão especial entre nós permitia que eu compreendesse as emoções que ela enfrentava.

    “Para ti, deve ter sido difícil. Ter que viver separado de quem amas, enquanto tua vida estava em constante perigo”comentei com compreensão em meus olhos.

    Não havia necessidade de palavras. Nossos olhares bastavam para expressar as complexas emoções que partilhávamos. Elara era uma parte vital do meu mundo, um lembrete constante de que, mesmo nas sombras da batalha, ainda havia luz e conexão.

    No passado, o casamento entre Azrael, o rei demônio, e Elara, a princesa dos vampiros, foi orquestrado para a proteção dela. Enquanto ela estava ameaçada, Vlad, seu pai e monarca dos vampiros, solicitou que eu a protegesse ao meu lado. Embora o casamento tenha sido encerrado após Vlad resolver os assuntos que exigiam sua atenção, as ameaças ainda persistiam.

    O sangue de Elara era poderoso e altamente cobiçado, assim como o meu próprio. Aqueles que bebessem de seu sangue ganhavam uma força inigualável, tornando-a alvo de várias facções em busca desse poder, quer fosse capturada viva ou morta.

    “Não precisas se preocupar”, falei suavemente, virando-me para encará-la. Segurei seus braços trêmulos e olhei profundamente em seus olhos marejados. “Estou aqui. Mesmo que isso signifique sacrificar minha própria vida, vou te proteger.”

    Não havia uma realidade onde eu a abandonaria. Era uma promessa que eu tinha feito e estava disposto a cumprir, não importando o preço.

    “Eu sei…”, Elara murmurou, sua voz repleta de emoção.

    “Sim, e é por isso que não precisas te preocupar. Vou te proteger sempre, mesmo que isso exija o meu próprio sacrifício”, reiterei, enfatizando mais uma vez que a segurança dela estava acima de tudo para mim.

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