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    Azrael

    Após emergir do mundo interno, deparei-me com Levi, imersa em alguma forma de meditação. Parecia um método para acessar o mundo interno sem necessitar de permissão. Com um leve suspiro, virei-me na direção de Eriel, que respirava pesadamente. Atribuí inicialmente seu cansaço aos efeitos da intensa batalha no mundo interno, mas sua exaustão parecia anormal.

    Movimentei-me rapidamente para auxiliá-la, porém, ao tocar levemente em sua pele, uma sensação peculiar percorreu meu corpo, assemelhando-se a uma mana densa que envolvia minha essência, arrastando-me para algum lugar desconhecido. Envolto em uma mana densa e escura, minha consciência desapareceu momentaneamente, para ressurgir em um quarto antigo.

    Observando meu entorno, percebi a ausência de outras pessoas. “Que confusão”, murmurei, procurando por Eriel e Levi. “Onde estou?” Confuso e enjoado, como se tivesse recebido um golpe direto no estômago, meu olhar se fixou na energia crescente que fluía por meu corpo, emanando de uma mana condensada, tornando-me mais leve e poderoso.

    ‘Que merda está acontecendo?’ pensei, examinando minha mão direita. Ao ativar a habilidade de meus olhos, percebi a absorção de uma mana escura, ao invés da usual mana pura, emanando uma escuridão profunda, como olhar para um abismo.

    Minha atenção voltou-se para a presença que se aproximava. A porta do ambiente se abriu lentamente, revelando um rosto familiar do outro lado. A jovem de cabelos rosados irradiava fascínio em seus olhos carmesim. A suavidade de seus cabelos parecia comparável a uma pétala de flor, enquanto sua pele alabastro proporcionava um contraste perfeito com as bochechas rosadas, emanando doçura encantadora.

    Seus olhos de rubi exerciam um magnetismo hipnótico, irradiando uma intensidade inexplicável. Cada piscar conferia uma aura mágica e envolvente à sua expressão, que traduzia uma mistura única de curiosidade e serenidade.

    Vestida com elegância nobre, o vestido fluía graciosamente, como se costurado das próprias cores da natureza. Bordados minuciosos adicionavam sofisticação, emanando graciosidade e requinte.

    ‘Alice!’ meu alívio foi interrompido pela curiosidade em seu rosto, que se transformou em algo que eu nunca vira antes. 

    “Meu senhor, peço desculpas por não notar sua presnença em meu quarto.”, Alice se ajoelhou rapidamente, seus olhos pareciam furiosos, e sua voz tremula pediu desculpas pela presença inesperada.

    “Alice, o que aconteceu com seu braço?” perguntei cauteloso. Minha irmã querida havia perdido um braço durante a minha ausência. O responsável por tal afronta não sairia impune.

    No entanto, o sorriso sarcástico de Alice indicava uma verdade mais complexa. “Está perguntando isso, meu senhor? Não foi o senhor que arrancou meu braço e asas na batalha pelo trono?”

    “Eu?” perplexo, contestei. “Fui o mais cauteloso possível para não feri-la. Como eu, seu amado irmão, faria tal coisa?”

    “Amado irmão?” Alice questionou, confusa. “Meu senhor, você, que matou Ex e assumiu o trono após uma luta com nosso pai, acha mesmo que seria amado por mim? Ou melhor, por qualquer pessoa além dos seus, fieis cachorros?”

    A compreensão tardia me atingiu. Algo estava errado. Fui transportado para uma linha temporal diferente? “Eu matei o Ex? Não entendo, Alice. Ex está em Givek agora.”

    Alice, então, revelou a verdade, e minha mente deu um salto. “Não entendo suas brincadeiras, meu senhor. Você não deveria estar no meio de um ritua—”, ela conteve as palavras, surpresa, e fechou a porta. “Então, funcionou?” murmurou para si mesma, ainda confusa. “Tenho certeza de que conseguimos arruinar parte do Ritual.” Seus murmúrios soavam estranhos, sugerindo um mistério mais profundo.

    “Como você chegou aqui?” Alice perguntou, genuinamente curiosa.

    “Eh? Eu não sei… Lembro-me de observar uma energia estranha em Eriel e, quando a toquei, me vi nesse lugar.”

    “Seu corpo está estranho?”

    Alice se aproximou, iniciando uma avaliação minuciosa, procurando por qualquer problema.

    “Não, estou bem. De qualquer forma, o que está acontecendo?” Minha pergunta fez Alice suspirar.

    “Você conhece o conceito de Linha do Tempo Alternativa, certo?” Após minha confirmação, Alice continuou. “Então, você deve pensar que está em uma agora mesmo.”

    “Sim, uma linha do tempo em que fiz todas as atrocidades que você comentou.”

    “Não é a resposta correta. Certamente você está em um mundo onde a linha do tempo é a original. Nesse mundo, tudo o que você fez era para ter acontecido.” Não conseguia entender completamente o que ela queria dizer, mas ela continuou. “Azrael, você está em um universo paralelo onde o Deus supremo é o ***”, não consegui ouvir o nome que Alice mencionou, como se algo me impedisse de escutar.

    “Podemos chamar de Anti-Universo. Um universo diferente do seu. O Deus Supremo desse universo é o irmão do Deus Supremo do Seu universo.”

    “Espera, espera. Eu não consigo entender.”

    Suas palavras começaram a perder o sentido.

    “Claro, você não deve saber… Na criação…”

    Alice começou a explicar-me a intricada história do universo. Antes mesmo da existência do meu universo, o vazio absoluto prevalecia. Nesse vácuo, dois Deuses Absolutos travavam uma batalha interminável ao longo da eternidade. Em um momento crucial, ambos sofreram ferimentos fatais, e o Deus Supremo do meu universo conseguiu erguer uma barreira para conter o segundo deus.

    Com o selo estabelecido, a realidade se dividiu em duas partes, cada uma governada por entidades de poder antagônico. Meu universo ficou sob a égide do Deus da Criação, enquanto o universo de Alice era regido pelo Deus da Destruição. Como dois lados opostos de uma mesma moeda, os universos foram criados para serem contrários, de modo que a matéria de um universo seria instantaneamente aniquilada ao entrar em contato com o outro.

    A narrativa prenunciava que o selo, forjado pelo Deus da Criação, estava prestes a ser rompido. Quando esse inevitável evento ocorresse, o Deus da Criação e o Deus da Destruição entrariam em uma guerra que culminaria na destruição total, reduzindo tudo e todos ao absoluto nada.

    “Isso não faz sentido… Estou bem, como você pode ver.”

    Se fosse verdade, eu teria sido destruído no momento em que entrei em contato com esse universo, mas estou perfeitamente bem e cheio de energia.

    “Eu também não entendo, na verdade… Eu não sei o que está acontecendo. Seu corpo parece absorver anti-matéria como se fosse um ser do meu universo”, disse ela, enquanto parecia pensar em algo. “Então esse é o motivo do Azrael do meu universo querer usar o seu corpo?”

    Com as palavras de Alice, meu corpo começou a emanar um brilho violeta. A luz envolveu meu corpo enquanto sentia minha existência desaparecer aos poucos.

    “Então acabou o tempo? Bom, é normal, já que o ritual provavelmente falhou…”, Alice me olhou de forma séria, como se contivesse algumas verdades. “De qualquer forma, esteja ciente de que apenas o nosso Deus Supremo não pode ir ao seu universo. Contudo, algumas existências podem quebrar essa barreira. No momento em que meu Azrael conseguir atravessar a linha, você vai estar em perigo. Se algum dia ocorrer uma luta. Lembre-se de trazê-la para esse lado.”

    Sua voz se tornou distante no momento em que notei a presença que se aproximava. A batida na porta alertou Alice, que por um momento ficou preocupada.

    “Droga, acabou o tempo”, disse ela em um suspiro desanimado.

    “Alice, o Senhor Absoluto dos demônios lhe convocou. Você deve ir à sala do trono imediatamente.”

    “Zenith?” perguntei com uma voz baixa.

    “Eu sei o que você deve estar pensando, mas essa não é a Zenith que você conhece. Ela é apenas um cachorrinho fiel ao seu dono.”

    Foi quando o brilho em meu corpo ficou mais fraco.

    “Bom, quem sabe podemos nos ver em um futuro distante. Desejo que você tenha uma boa vida, mesmo tendo o mesmo rosto daquele desgraçado.”

    “Alice…” chamei enquanto meu corpo começava a desaparecer. “Não importa quanto tempo leve, eu vou te salvar.”

    Minhas palavras trouxeram um leve sorriso ao seu rosto apático. “Sério? Como eu queria ser a Alice do seu universo, vendo que você tem a disposição para falar algo assim… Bom, não precisa ter pressa, não vou a lugar nenhum.”

    “Alice, você está com alguém em seu quarto? Vossa Majestade deixou bem claro que você deve—”

    “Eu estou indo, maldita!”

    ***

    Voltando à realidade, me deparei com os rostos preocupados de Eriel e Levi. Elas pareciam surpresas quando me virei para observá-las.

    “Oh? Você voltou, mestre. Te chamamos por vários minutos, mas você continuou imóvel.”

    Pensei em contar a elas sobre o que aconteceu, mas parei de pensar sobre isso quando notei que não era relevante no momento, já que a pessoa que poderia responder minhas perguntas não era outra senão o próprio Deus da Criação.

    “Peço desculpas por preocupá-las. Estava concentrado em algo—” Foi quando notei que a magia que meu corpo absorveu ainda estava presente em meu ser, como se meu corpo recebesse a anti-magia como se fosse um membro. “De qualquer forma, Levi, você disse ter algo a resolver comigo?”

    “Ah! Verdade. Samael me pediu para lhe entregar uma carta.”

    Decidi encerrar o assunto que não poderia ser resolvido no momento. Ao receber a carta de Samael, comecei a ler o conteúdo enquanto analisava cada palavra. Um sorriso estranho se formou no meu rosto, preocupando Eriel.

    “Azrael, está tudo bem? Você não parece feliz.”

    Não pude deixar de suspirar em desânimo ao pensar no trabalho que teria quando retornasse ao mundo demoníaco.

    “Digamos que Lúcifer acaba de renunciar ao seu posto…”

    Minhas palavras pareciam não fazer sentido para Eriel, então decidi explicar.

    “Lúcifer é o imperador dos caídos e líder dos reis que carregam o pecado. Ao renunciar o seu posto, o sucessor de Lúcifer deveria assumir o império e o governo dos caídos.”

    “E quem é o sucessor de Lúcifer?” perguntou Eriel, curiosa.

    “Você não sabia, parceira do mestre? O sucessor de Lúcifer não é ninguém menos que o Rei dos Demônios, ou deveria dizer o Novo imperador dos demônios?”

    Sim. Lúcifer havia desistido de seu posto e jogado todas as responsabilidades em minhas costas.

    “Foi dito na carta que Samael iria me encontrar como embaixadora dos caídos e que discutiremos todos os assuntos relacionados à minha sucessão… Mais trabalho, é apenas isso que penso.”

    Assumir o lugar de Lúcifer e governar não apenas os demônios, mas os caídos era algo que não esperava.

    “Haha, todos saúdam o novo imperador dos anjos caídos e demônios. Me pergunto como aqueles seres orgulhosos vão reagir.”

    “Tenho que voltar ao mundo demoníaco o mais rápido possível, já que Samael provavelmente está me esperando para uma audiência formal…”

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