Antônio Ferrari

    Hoje era meu primeiro aniversário de namoro com Catherine Rossi, e eu estava determinado a tornar tudo perfeito. Como manda a tradição, decidi comprar um buquê de flores para acompanhar o presente que havia escolhido com tanto cuidado. Com o celular na mão, vasculhava o Google Maps em busca de uma floricultura por perto. Caminhava distraído pelas ruas, imerso nos meus próprios pensamentos, enquanto o som do trânsito e a pressa das pessoas ao meu redor pareciam um ruído distante. Foi então que o imprevisto aconteceu.

    Tropecei em algo peludo e, num piscar de olhos, me vi no chão, de bunda. O celular quase escapou da minha mão, mas consegui segurá-lo a tempo. Irritado, olhei para o lado e encontrei o responsável pela minha queda, um gato preto de olhos amarelos, me encarando com o que parecia ser puro desdém.

    — Sério, cara?

    Eu lutava contra tentação momentânea de chutar o bichano. Como uma resposta aos meus pensamentos, ele apenas miou, indiferente, antes de se afastar com um movimento gracioso, como se nada tivesse acontecido.

    Respira, Antônio, respira, pensei, enquanto me levantava e limpava a calça. E então, algo inesperado chamou minha atenção. Bem à minha vista, no beco onde havia tropeçado, estava uma loja com um letreiro que parecia saído de outra época: Lótus Azul.

    Nas vitrines lindos buquês decorados à mostra. Era uma coincidência curiosa. Ou talvez mais do que isso. Quem sabe o destino não estivesse me dando um empurrãozinho? Não que eu acreditasse nessas coisas, mas, por via das dúvidas, decidi não ignorar.

    Esperei uma brecha no trânsito e atravessei a rua. A porta da floricultura era de madeira envelhecida, com detalhes pintados à mão. Assim que a empurrei, fui recebido por um aroma intenso de flores, misturado a algo doce e levemente amadeirado. Lá dentro, o ambiente parecia um outro mundo. Flores de todas as cores, formatos e tamanhos preenchiam o espaço, criando um cenário vibrante e acolhedor, como um jardim encantado.

    — Uau! 

    Eu murmurei incapaz de esconder minha surpresa, ou sequer pensar em outras palavras para descrever o lugar. No fundo da loja, perto do balcão, uma mulher estava sentada em uma cadeira de balanço, imersa em um pequeno livro.

    Seu visual era excêntrico. Ela vestia uma blusa de alça com estampas florais e uma saia rodada marrom-escuro, que parecia vinda dos anos cinquenta. Um colar de pérolas obviamente falsas adornava seu pescoço, e suas mãos estavam cobertas por luvas curtas da mesma cor da saia. Nos pés, sapatilhas pretas.

    Havia um contraste intrigante entre a excentricidade de sua vestimenta e a delicadeza de seus traços. Ela segurava uma xícara de chá em uma das mãos e o livro na outra, completamente alheia à minha presença. Hesitei, sem saber como chamá-la. Limpei a garganta, tentando imitar uma tosse discreta, mas ela não levantou os olhos.

    Ok, Antônio, tenta de novo.

    — Bom dia… 

    Ela virou a página do livro, impassível. Meu tempo era curto, então fui direto ao ponto.

    — Eu gostaria de comprar umas flores.

    Sem sequer levantar o olhar, respondeu em um tom monótono:

    — As suas estão ali atrás. Já pego, assim que terminar essa página.

    Pisquei, surpreso. Era uma resposta, no mínimo, estranha. Ela sequer perguntou o que eu queria. Apenas voltou a ler, como se eu fosse um detalhe insignificante em seu dia. Aquilo me irritou.

    — O que você está lendo?

    — Contos.

    Perguntei mais para quebrar o gelo do que por real curiosidade. Contudo, a resposta veio seca, sem nenhum esforço para prolongar a conversa. Fiquei um pouco desconcertado, mas insisti:

    — Contos de fadas?

    Ela finalmente ergueu os olhos, me analisando com uma expressão indecifrável, como se estivesse avaliando se valia a pena continuar aquela conversa.

    — O que seria, para você, um conto de fadas?

    — Sei lá… — cocei a nuca, tentando formular uma resposta. Nunca tinha parado para pensar nisso — Aquelas histórias onde sempre tem uma princesa em perigo e um príncipe encantado que aparece para salvá-la no final.

    Um pequeno sorriso se formou no canto dos seus lábios. Mas não era de diversão. Era um sorriso carregado de algo mais profundo, quase irônico.

    — Então você não gosta.

    — Não é isso — dei de ombros. — Só acho meio bobo. Sempre os mesmos finais felizes. Sempre previsível.

    Ela fechou o livro com um movimento tranquilo, mas deliberado, como se estivesse se preparando para me ensinar algo. Colocou a xícara de volta no pires e inclinou levemente a cabeça, me estudando.

    — Talvez você esteja olhando para a coisa errada — sua voz era calma, mas carregava uma firmeza que me fez prender a respiração. — E se os contos não fossem sobre finais felizes, mas sobre recomeços?

    Fiquei em silêncio.

    — Todo conto tem uma lição — ela continuou, agora com um brilho nos olhos, como se estivesse lidando com uma criança que precisa entender o básico. — Mas a gente se acostumou com a versão mais confortável das histórias. Aquelas popularizadas pela empresa do rato.

    — Como assim?

    Ela se recostou na cadeira, cruzando as pernas com uma elegância quase inconsciente.

    — Nem sempre os contos terminam bem. Antes da empresa do ratinho popularizar suas versões açucaradas, muitas dessas histórias eram sombrias. O Pequeno Polegar foi abandonado para morrer de fome, a Pequena Sereia se dissolveu em espuma, a Cinderela teve seus sapatos cobertos de sangue — ela fez uma pausa, como se esperasse minha reação. — O final feliz é um luxo recente.

    Fiz uma careta. — Mas isso é meio mórbido.

    — É real — ela deu de ombros. — A vida não entrega finais felizes amarradinhos com laços de fita. Às vezes, as coisas simplesmente… terminam.

    Senti um arrepio subir pela espinha.

    — Qual conto você está lendo?

    Queria mudar de assunto, por algum motivo aquela conversa parecia não me levar a um bom final.

    — Narciso.

    — Ah, conheço esse! — minha animação pareceu deslocada diante do tom introspectivo dela. — Aquele que se apaixona pelo próprio reflexo, certo?

    Ela assentiu, mas não pareceu impressionada com meu conhecimento superficial.

    — Sim. A lenda se fortaleceu por causa das características da flor narciso ter seu caule inclinado para baixo, crescendo perto de rios ou lagoas, refletindo sua imagem na água, assim como o personagem.

    Fiquei calado, digerindo aquilo.

    — Profundo.

    Ela apenas sorriu, como se soubesse que, no fundo, eu ainda não tinha entendido nada. Após um momento de silêncio, finalmente falei:

    — Então… Eu queria comprar flores. São para minha namorada. Aniversário de namoro — enfatizei. — Mas não tenho ideia do que ela gosta. Alguma sugestão?

    Ela suspirou e se levantou.

    — Venha. Vamos encontrar o que você precisa.

    Caminhando até uma prateleira próxima ao caixa, pegou um par de rosas vermelhas e começou a embrulhá-las. Clichê! Mas Catherine provavelmente gostaria. Resolvi confiar na escolha da excêntrica vendedora. Seus movimentos eram graciosos, quase como uma dança.

    — O primeiro ano é sempre memorável. Espero que estas flores tornem o dia ainda mais especial — ela me entregou o buquê, decorado de forma simples, mas elegante.

    — Eu também espero — sorri, já pensando no presente que havia preparado.

    Antes que eu pudesse pagar, ela colocou uma única flor branca sobre o balcão. Observei-a com a testa franzida, confuso — ainda mais ao notar que me olhava com um sorriso… triste.

    — E essa? 

    — Entregue para ele.

    — Ele? De quem você está falando?

    — Você vai saber.

    Um arrepio novamente percorreu minha espinha.

    — Olha… eu agradeço, mas…

    — É por conta da casa — seus olhos se fixaram nos meus. — Acredite em mim, você vai precisar.

    Havia algo na forma como me olhava que me deixou desconfortável. Peguei o buquê junto da pequena flor sem dizer mais nada e saí apressado. Naquele momento, eu ainda não sabia, mas aquela flor branca mudaria tudo.

    ***

    Ao sair da loja com o buquê em mãos, uma sensação estranha se alojou em meu peito, como se eu tivesse acabado de testemunhar algo além da minha compreensão. O ar da noite parecia mais denso, carregado de um perfume residual de flores e um mistério intangível que ainda pairava sobre mim. Algo naquela mulher, naquela floricultura, me inquietava — um enigma que eu não conseguia desvendar.

    Talvez fosse apenas a magia dos recomeços, como ela insinuou.

    Segui pelas ruas iluminadas pelos postes, tentando afastar o incômodo que aquela breve interação havia plantado em minha mente. O buquê repousava seguro em minhas mãos, mas era a flor branca, enfiada no bolso da mochila, que insistia em ocupar meus pensamentos — um presente não solicitado. 

    Uma promessa velada.

    Balancei a cabeça e inspirei fundo, soltando o ar lentamente. Melhor não pensar nisso. Catherine estava me esperando, e aquele fim de semana era nosso.

    E, de fato, foi.

    Nunca me senti tão vivo quanto ao lado dela. Rimos até nossas barrigas doerem, dividimos confidências sobre a luz branda dos postes, exploramos a cidade como se fosse a primeira vez. Cada instante ao lado de Catherine parecia lapidado com um cuidado irreal, como se o tempo estivesse conspirando a nosso favor.

    ***

    A segunda-feira chegou, impiedosa, trazendo consigo a frieza da rotina. Enquanto guardava o material na mochila, meus dedos tocaram algo macio.

    A flor branca, ainda intacta.

    O simples toque naquelas pétalas fez um arrepio rastejar pela minha espinha, um frio repentino se instalando no fundo do meu estômago. Engoli em seco. Por algum motivo, o olhar daquela mulher veio à tona, assim como sua voz, carregada de uma certeza inabalável.

    Você vai saber.

    O que diabos aquilo significava? Por um momento, fiquei apenas olhando para a flor, sentindo uma inquietação silenciosa se espalhar por mim. E então, pela primeira vez desde que saí da Lótus Azul, senti um calafrio real, profundo. 

    Algo me dizia que aquela história estava longe de acabar.

    ***

    Normalmente, eu ia para a escola caminhando ao lado de Catherine. Ela sempre puxava assunto sobre qualquer coisa — a prova que estávamos adiando estudar, os professores chatos, o clima.  Mas hoje foi diferente. Ela disse que ia se atrasar. Que era melhor eu ir na frente. E eu preferi assim. O silêncio parecia… mais confortável.

    Caminhei sem pressa, absorvido em pensamentos dispersos. Mas assim que entrei na escola, uma sensação estranha me atingiu.

    Algo estava errado.

    Os olhares vieram primeiro. Depois, os cochichos. Pessoas que normalmente não me notavam agora pareciam incapazes de desviar os olhos. Alguns tentavam disfarçar, mas era óbvio. As conversas abafadas, os olhares rápidos e desviados.

    Um nó se formou no meu estômago.

    Ao passar por uma janela, parei por um instante para checar meu reflexo e procurar qualquer sinal fora do normal. Nada. Mas o burburinho persistia — rastejante, irritante, como um zunido incessante dentro da minha cabeça. Eu estava prestes a perder a paciência quando o sinal finalmente tocou.

    ***

    Então, veio a notícia. E eu entendi o motivo das fofocas.

    Mattias estava morto.

    As palavras me atingiram como um golpe no peito. Não, foi pior. Como se o chão tivesse se dissolvido sob meus pés. Isso só podia ser um erro. Um boato idiota, uma piada de extremo mau gosto. Eu tinha falado com ele na sexta-feira. Ou melhor, grunhido um “tanto faz” em resposta a algo que ele disse. Ele era o meu melhor amigo… Ou melhor, ex-melhor amigo.

    Mas ele estava lá. Vivo. Presente.

    A diretora anunciou que as aulas seriam suspensas naquela semana, para que todos possam comparecer ao funeral de forma adequada. Como se houvesse algo “adequado” sobre perder alguém tão jovem, tão… inesperado.

    ***

    O resto do dia passou como um borrão. Eu vagava pelos corredores, incapaz de absorver qualquer coisa além daquelas palavras ecoando em um loop cruel na minha mente.

    Mattias está morto.

    Não fazia ideia do que fazer com aquela informação. Fiquei à deriva, anestesiado, até decidir ir à casa dos avós dele. Eles sempre foram como uma segunda família para ele — talvez pudessem me ajudar a entender o que, afinal, estava acontecendo. Porque nada, absolutamente nada, fazia sentido.

    ***

    O cenário que encontrei ali me destruiu. Não foi um acidente. Não foi um carro desgovernado. Nem um problema cardíaco.

    Ele se matou.

    As palavras saíram da boca da avó dele. A mesma senhora doce que sempre nos recebia com biscoitos quentes e histórias engraçadas. Mas agora, sua voz tremia. Seus olhos estavam fundos, vermelhos de tanto chorar. A mão trêmula apertava um lenço encharcado.

    Ela contou, entre soluços, com uma dor que parecia rasgá-la por dentro, que foi ela quem encontrou o corpo. No banheiro. Os pulsos cortados. Minha mente rejeitava a informação. Não fazia sentido. Mattias era aquele cara que sempre tinha uma piada ruim na ponta da língua, que fazia qualquer um rir até nas piores situações. 

    Ele era como a própria luz. Então por que ninguém viu que ela estava se apagando?

    Por que eu não vi?

    O velório seria na sexta-feira. Disseram que precisavam esperar a mãe dele voltar da viagem, dar tempo para o pai chegar de outra cidade. Para mim, era apenas uma tortura prolongada. Como se cada dia apenas tornasse tudo mais pesado, mais sufocante.

    ***

    Desde segunda-feira, eu não saía do meu quarto. Não conseguia. O peso de tudo — de sua morte, de minhas ações, de minhas omissões — me esmagava. Meus pais tentavam me arrancar dali. Mandavam eu comer, tomar banho, agir como se a vida ainda fizesse sentido. E eu obedecia mecanicamente, sem realmente estar ali. 

    Tudo parecia vazio.

    ***

    Catherine também veio algumas vezes. Ela tentava preencher o vazio com sua energia, tentava me puxar de volta para a superfície. Mas eu estava afundando. E na última visita, fui cruel. Não sei se foi a raiva, a dor, ou o simples fato de não saber como lidar com aquilo. Mas mandei ela embora, de forma seca. Grosseira.

    Ela ficou parada na porta, os braços cruzados, os olhos úmidos. E então, sua voz cortou o ar como uma lâmina:

    — Você sabe que está sendo um idiota, né?

    Eu não respondi.

    — Quando parar de se lamentar, me procure. Até lá, boa sorte com sua autocomiseração.

    Depois disso, não ouvi mais nada. O único indício da sua saída foi o ruído surdo da porta batendo. Mas suas palavras ficaram. Ecoavam na minha mente, sufocando qualquer desculpa que eu tentasse me dar.

    Porque ela estava certa, eu era um hipócrita miserável. Passei o último ano sendo um escroto com Mattias. O que quer que tenha acontecido entre nós, eu não tinha o direito de tratá-lo daquela forma. E agora que ele se foi, eu me sentia sufocado por um misto de arrependimento e vergonha.

    E sabia que não tinha o direito de lamentar. Não depois de tudo o que fiz. Não depois de ter sido um dos motivos pelo qual ele se afastou. Mas, mesmo assim, eu lamentava. Lamentava em silêncio. 

    E era insuportável.

    ***

    A sexta-feira finalmente chegou. 

    Me vestia em silêncio, ajustando o terno preto que minha mãe disse cair bem em mim. Mas, ao encarar o reflexo no espelho, tudo o que vi foi uma casca vazia. Olhos fundos, expressão rígida. Não havia brilho ali, apenas remorso — como se meu próprio reflexo me acusasse silenciosamente.

    — Está pronto? — a voz da minha mãe ecoou do andar de baixo.

    Respirei fundo e me preparei para descer, mas algo me fez parar. Minha mochila, jogada ao lado da mesa de cabeceira, parecia esquecida ali há séculos. Quase a ignorei… mas então, a lembrança veio como um clarão. A última vez que usei aquela mochila foi no dia em que recebi a notícia que jamais esquecerei.

    Um nó se formou na minha garganta. Ajoelhei-me e, com os dedos trêmulos, deslizei o zíper. Lá dentro, repousava algo que eu sequer lembrava ter guardado, uma flor. A mesma que recebi da excêntrica florista. Segurei-a com cuidado, como se fosse feita de vidro. O tempo não a tocou — nenhuma pétala murcha, nenhuma descoloração. Impossível, mas a prova estava ali, diante dos meus olhos.

    As palavras da florista ecoaram na minha mente, agora carregadas de um peso diferente — como as peças de um quebra-cabeça começando a se encaixar. O ar escapou dos meus pulmões, e meu coração martelava contra as costelas

    Como ela poderia saber? Era absurdo! Ilógico!

    Foi então que notei algo mais. Atrás da flor, escondido no plástico que a envolvia, havia um cartão. Com dedos trêmulos, puxei-o. A mensagem escrita fez meu estômago despencar. O nó na garganta se desfez em lágrimas. Elas vieram em cascata, quentes, desesperadas, incontroláveis. Segurei aquele pequeno pedaço de papel como se fosse um punhal cravado no peito.

    — Me desculpe, Mattias.

    Minhas pernas fraquejaram, e eu me deixei cair no chão, sentado ao pé da cama. Abracei os joelhos e escondi o rosto no antebraço, tentando sufocar os soluços, mas era inútil. A dor transbordava. Vazava por cada lágrima, por cada respiração ofegante. Minutos — ou talvez horas — se arrastaram. O tempo perdeu o significado.

    O cartão e a flor escorregaram dos meus dedos, esquecidos no chão. O pequeno narciso parecia me encarar, delicado e silencioso. Logo abaixo dele, as palavras no cartão ainda estavam visíveis:

    “Narciso: quando sozinha, representa o infortúnio e o amor não correspondido

    Não percebi quando minha mãe subiu. Só notei sua presença quando ela se ajoelhou ao meu lado, chamando-me com suavidade — quase num sussurro.

    — Antônio? Filho… o que aconteceu?

    Mas eu não respondi. Não conseguia. Tudo o que pude fazer foi permanecer ali, encarando o vazio, sentindo o peso esmagador do que não foi dito, do que não poderia ser desfeito.

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