Índice de Capítulo

    — Sim, aí basicamente eu aplico força, porém, atribuindo isso a minha energia. Não literalmente eu toco nos inimigos, mas o que os toca seria algo como…

    — Um campo eletromagnético? — completou Theo.

    Desde que começaram a falar quando saíram do quarto, vários assuntos foram abordados. No momento, eles discutiam sobre o estilo de luta da general Nora.

    — Pratica e precisamente! É como se um campo eletromagnético aplicasse pressão sobre meu alvo e, então, morte! Eu não os toco, e isso faz com que eu desista de investir em força para aumentar minha velocidade e agilidade.

    “Estilo de luta: Mão leve. Criadora: Nora De Alsu…” Theo anotou em seu diário, enquanto caminhava e escutava a general explicar seu estilo de luta.

    — Tá anotando?

    — Estudando — retrucou. — Se importa de treinar comigo mais tarde e explicar como funciona, em prática?

    Nora abraçou Theo pelo ombro e aproximou-se do caderno, averiguando se as informações estavam corretas e, somente ao ter certeza, respondeu ao rapaz:

    — Claro! Um amigo obcecado por lutas sempre é bem-vindo.

    Não necessariamente ele era obcecado por lutas, Theo as via como desnecessárias. Porém, entender como as coisas interessantes funcionam, consequentemente, iria torná-lo interessante.

    — Minha deusa, eu tô simpatizando com ele.

    — Que bom — disse Jeanne. — Espero que se deem bem, de fato.

    Jeanne assentiu para dois guardas que, no mesmo instante, abriram a porta do forte militar para os três. Não custou muito para a fumaça tomar novamente o ambiente e incomodar imparcialmente o jovem Mestre Lawrence, que relevou a situação sabendo dos motivos.

    Quando saíram, Jeanne induziu Theo e Nora para a fogueira onde Malcolm continuava com seu grupo, aos quais gritavam como uma cerimônia grandiosa. Uma rodinha de soldados foi se formando, o que puxou totalmente a atenção de Theo.

    — A porrada tá comendo solta — comentou Nora. — Deve ser um treino básico.

    Se arrastando entre um soldado e outro, que permitiram a passagem dos três, Theo pôde finalmente ver o motivo da agitação; Artur estava duelando contra o tenente Carl.

    Inicialmente, pareceu injusto. 

    Carl estava com uma rapieira 1 enquanto Artur estava com as mãos limpas, se sustentando apenas com um bracelete que notoriamente lhe dava um impulso de força.

    O golpes de Artur se baseavam em rasteiras e chutes objetivos com o intuito de acertar a cabeça do oponente, enquanto suas esquivas utilizavam de passos de dança para evitar dano: um estilo originário do continente ao qual ele nasceu, no entanto, seria justo compará-lo a capoeira. 

    Embora semelhantes, ainda possuíam suas diferenças.

    Artur soltou uma rasteira no chão e buscou desequilibrar Carl que, no entanto, sorriu com a tentativa falha e saltou para cima, encolhendo suas pernas. Contra-atacando, sem brechas para ser atacado, Artur utilizou a perna de apoio para chuter o ar em direção a Carl — que ainda estava no ar — visando acertá-lo com o calcanhar. Porém, o tenente bloqueou com sua espada e aproveitou para efetuar um golpe de energia falho.

    — Entra lá — sugeriu Nora.

    — Quê? — retrucou Theo, sendo pego de surpresa. — É um contra um, eu não tenho o direito de…

    — Carl é exibido, ele gosta de lutar em desvantagem. O que cê acha, Sir Malcolm?

    — Se o Carl deixar — respondeu sorrindo, estando no lado oposto da rodinha. 

    Bloqueando um chute vertical de Artur, Carl esticou o pescoço para o lado e disse:

    — Cai dentro, loirinho!

    Artur saltou para longe de Carl e virou-se para Theo, esperando o jovem Lawrence se reunir.

    Nora o empurrou imediatamente.

    “Tá certo…” Theo suspirou e fechou os olhos. 

    No pouco que ele conseguiu traduzir de uma página aleatória do livro dos Vanir, utilizando um pouco de lógica e interpretação baseado em sua fluência quase inexistente em runa ancestral, Theo concluiu que era o momento perfeito para testar algo, tendo em vista que sua zweihänder estava no quarto de Jeanne.

    O fato de alinhar sua alma a um artefato é similar a invocação de seres doutra dimensão. Alinhar sua consciência a do artefato resultará em invocação subconsciente, onde o invocador terá plena noção da existência de ambos — tanto dele, quanto do invocado. Necessita, primordialmente, de uma condição mental, física e energética saudável e constante para ser executado com aproveitamento.

    Definitivamente, Theo não estava mentalmente saudável. Mas, após se unir com Liam, seu corpo e energia estavam no ápice que podiam chegar naquela idade. Não custava arriscar.

    “Preciso de um nome para ela, assim criarei uma consciência própria ao artefato e conseguirei me vincular a zweihänder…” ponderou enquanto caminhava até Artur. “Que tal…”

    [Intempérie do firmamento] 2

    Theo sentiu um peso sendo aplicado em sua mão. Quando desceu os olhos para entender, notou sua zweihänder, agora Intempérie do firmamento, se materializando em partículas de energia diretamente na mão esquerda.

    — Uau… — murmurou Jeanne, entendendo o truque que Theo realizou. Ela tratou aquilo como normal, afinal, vindo de outra dimensão, Jeanne esperava que os Vanir tivessem se juntado aos humanos.

    Aquilo não havia ocorrido nem em cem realidades paralelas.

    Em menos de dois segundos, a zweihänder havia sido completamente conjurada na mão do rapaz.

    “Bem-bom”, comentou mentalmente. “É um bom truque.”

    — Busque ser meu suporte… — disse Artur.

    — Não — interrompeu. — Me saio melhor como atacante.

    Artur suspirou. Três atacantes se atacando diretamente, o que poderia dar errado? 

    Tudo.

    Ajustando a base para o combate, Theo segurou o cabo de sua zweihänder com as duas mãos e equilibrou ela no ar, aplicando energia para poder balancear sua arma. Concentrando-se completamente em Carl, os olhos do rapaz vibraram pelo hiperfoco.

    Uma corrente de ar; um túnel na própria atmosfera surgira apenas para Theo, como o atalho numa pista capaz de encurtar o próprio espaço com apenas um passo. 

    E, com um simples passo, ele fez. Para Theo, havia  viajado pela mesma distância que o separava do tenente, porém, o caminho foi distorto eventualmente pelo vento.

    Contudo, para os espectadores, Theo aparentou ter saltado no espaço; a distância foi percorrida antes que os olhos pudessem piscar, tendo somente Malcolm, Carl, Nora e Jeanne acompanhando seu movimento.

    Por reflexo, Carl desviou habilmente do corte da zweihänder. Embora tivesse acompanhado, reagir foi difícil para o tenente.

    — Legal — comentou.

    Entretanto, seguido por seu comentário, Artur o atacou de frente com um chute sorrateiro. Theo se surpreendeu; ele não havia sentido o movimento do próprio companheiro, sequer o enxergou correr até Carl.

    “O Art tá usando a técnica dele!” Carl analisou feliz, quase saltando de alegria. “Loirinho, você fez meu dia!”

    Segurando a canela de Artur, Carl o desequilibrou e forçou uma queda, que logo foi sobreposta por Theo, impedindo que o tenente atacasse seu companheiro novamente. Carl desviou da zweihänder, porém, foi forçado a trocar alguns golpes diretamente com Theo, o que levou ao próprio entender sua desvantagem naquela luta.

    “Essa espada é igual a do Malcolm. É grande e pesada, serve de ataque e defesa… Se eu não for cauteloso, esse garoto vai me machucar de verdade.” ponderou o tenente.

    Carl saltou para trás, visando ficar longe do enorme alcance da zweihänder. 

    Todavia, Theo não permitiu que aquele espaço ficasse por tanto tempo. Arrancando contra o tenente, Theo enxergou novamente o túnel atmosférico e decidiu ativar sua ignição. 

    Ar escapou de seus pulmões e se misturou com o ambiente.

    “Estava uma bagunça… Portanto, que tal retornar à estaca zero?” pensou Theo, imbuindo sua lâmina com a própria luz.

    [Ignição; Festejo do Eclipse Calamitoso.]

    [Primeira configuração; Torre do Tormento]

    Ao saltar a distância entre si e o tenente, Theo aplicou sua ignição na realidade; dezenas de meias luas conjuradas por uma junção dos quatro elementos cobriram Carl por completo, suspendendo o tenente no ar e imitando uma verdadeira torre de luas.

    Encurralado no ar, sendo atacado por todas as direções — mas defendendo perfeitamente — Carl repeliu uma das luas conjuradas e usou da colisão entre os cortes para se lançar ao longe. Caindo no chão novamente, Artur quem não deu tempo para respirar desta vez.

    Jogando sua perna como um machado por cima de Carl, que, facilmente defendeu com o antebraço, Artur se jogou por cima do tenente e buscou equilíbrio do outro lado. 

    Girando no próprio eixo, ele se virou para Carl desferindo meia dúzia de chutes na altura da cabeça. Estendendo sua lâmina, Carl conseguiu bloquear a maioria dos chutes e saltar para cima, onde tentou atacar Artur com sua arma.

    Chutando o garoto de cima para baixo, no entanto, tendo todos seus chutes defendidos por mais chutes de Artur, Carl achou o momento perfeito para se distanciar e criar uma estratégia.

    “O loirinho é casca-grossa…”

    — Cuidado pra não me acertar com isso — disse Artur, insinuando a ignição.

    — Não cole em mim, que você ficará bem. Se eu o distrair, consegue nocautear?

    — Óbvio.

    — Beleza então.

    Repentinamente, Theo atacou Carl de novo.

    “Esse diabo não vai me deixar respirar?!” resmungou o tenente.

    — Entendi — disse Jeanne.

    — O quê? — indagou Nora, concentrada para não perder nenhum movimento de Theo e Artur.

    Jeanne deu um passo à frente, desmanchando a sincronia da roda de soldados.

    — Ele aprendeu… — comentou.

    — O quê? Poxa.

    — Quando eu abençoei ele, naquele instante que atirou a flecha, eu o vi admirado pela forma que a flecha rasgou a atmosfera e diminuiu o atrito do ar para que pudesse aumentar a velocidade. Ele ainda buscou entender como aquilo aconteceu, mas, quando entendeu que foi meu aperfeiçoamento, no instante passou de entender para aprender…

    — Peraê. A Senhorita tá insinuando que ele aprendeu aquele efeito, apenas de olhar?

    — Não só isso, óbvio. Creio que ele conseguiu ler os padrões da energia se moldando no ar e aplicou ao próprio corpo… Pode-se afirmar que ele está, literalmente, quebrando as direções e distâncias entre si e o alvo… Um literal salto pelo ambiente. Chegando a ignorar o próprio espaço.

    Theo deslizou pelo chão, se virando contra Carl enquanto empunhava sua zweihänder.

    — Pena que o tenente Carl entendeu como funciona, antes que eu explicasse.

    Dando uma coronhada na mão de Theo e o forçando a largar sua espada, o tenente fez questão de subjugar o garoto no chão e colocar o fio de sua lâmina na nuca de Theo, para ter certeza de que o próprio não iria tentar contra-atacar. 

    Em contrapartida, Artur ainda tentava atacar Carl, porém, foi impedido por este, que parou o rapaz apenas estendendo sua mão e ativando uma habilidade base.

    [Imponência]

    Uma habilidade capaz de jogar o peso da própria presença sobre seus inimigos e fazê-los ser sufocados pela energia do núcleo, essa é a capacidade da habilidade base imponência.

    Tendo neutralizado completamente os dois garotos, Carl sorriu para Theo, arregalando os olhos e afirmou:

    — Então, eu venci.

    1. espadas francesas[]
    2. significa literalmente “Tempestade do Céu”, só que com palavras bonitas[]

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