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    “Uma habilidade base de imponência… Porém, num grau estúpido. É… me prendi tanto ao vento que esqueci do mundo.” pensou Theo, vendo Artur preso no chão.

    Carl retirou sua espada da nuca de Theo e desativou a Imponência, liberando os dois garotos consequentemente.

    — Ei, Art! Vai ter que pagar tudo quando chegarmos na capital…

    — Tá, tá.

    — Não fique estressado, Artur. Você fez uma boa luta. Você também, Theo.

    Theo resmungou, levantando-se do chão e tentando entender como Malcolm sabia seu nome, sendo que não foram diretamente apresentados.

    — O general Nietsz comentou sobre você recentemente.

    — Ah tá… Cadê ele?

    — Não importa muito agora. Ele decidiu limpar as redondezas e preparar nossa viagem — anunciou Jeanne. — Aproveitando que a maioria está por aqui, espalhem a mensagem: partiremos amanhã às dez e seguiremos até a capital de Kiescrone.

    — Quanto a isso… Tenho algo para falar sobre — disse Malcolm, um pouco agitado. O que foi estranho para Nora e a princesa, afinal, não era do feitio do general agir daquela forma.

    — Certo. Conte-me na reunião de hoje a noite. Por ora, estão dispensados. E Theo, quero lutar com você também.

    — Hein?

    Theo a encarou sem entender. Com tudo que havia entendido de Jane, ele presumiu que ela seria apenas um suporte com capacidade de aumentar as propriedades alheias… Ou seja, abençoar.

    — Mais um que vai ficar com o olho roxo — zombou Nora.

    — Tá bom então… — disse levantando-se do chão.

    Recuperando sua zweihänder, a luta já havia se iniciado. Theo entendeu isso e avançou contra a pequena deusa que, com um único movimento, superou as expectativas impostas. 

    Não uma simples suporte; além disso, era uma deusa. Filha de um rei djinn especializado em combates, não apenas, também do clã Vanir; uma espécie de deuses fadados a lutar contra os Æsir.

    Theo não entendeu por que a subestimou, e ponderou isso apenas quando foi derrotado com um simples movimento de braço. Ele não a viu se mexer, nem compreendeu como foi derrotado, apenas viu o rosto de Jeanne — o local que ele mirava atacar — ser trocado pelo celeste do firmamento e a sensação do vento em suas costas ser substituída pelo chão firme abaixo de si.

    — Hã? — balbuciou, enquanto estava caído no chão. Olhando o céu ser interrompido por Jeanne, ele admitiu sua derrota com o corpo dolorido.

    A pequena deusa ajudou o rapaz a se erguer, o puxando para cima e agarrando a cintura dele, algo próximo a um abraço, porém, ainda mantendo uma distância física. Aproximando seus lábios da orelha de Theo, ela sussurrou:

    — Se você me desejar novamente, como se eu fosse uma vadia, eu arrancarei o que você acha que tem de precioso.

    — Eu… — Theo tentou argumentar, sabendo exatamente do contexto.

    Suas bochechas ficaram tão vermelhas quanto um tomate.

    — Eu sei, eu sei — interrompeu sorrindo.

    Fechando lentamente os olhos, ela balançou seu rosto e permitiu que encostasse lateralmente com o de Theo; bochecha com bochecha. Somente um leve toque que fora rapidamente dissolvido, tendo Jeanne se retirando e indo para o lado oposto.

    Theo desviou o olhar, evitando vê-la novamente. Pôde escutar Jeanne rindo dele ao fundo, enquanto o ódio tentava sobrepor sua vergonha.

    — Estou indo para a igreja, cuidar da equipe do Theo. Cuidem bem dele, por mim.

    — Até mais, loirinho — disse Nora, despedindo-se com uma saudação. Theo retrucou o gesto.

    — Belê! — exclamou Malcolm, abraçando Theo pelo ombro. — Cê caiu na tentação, né? — gargalhou.

    Não apenas ele, mas Carl escondeu sua risada por um rosto envergonhado.

    — Como assim?

    — Além de deusa da graciosidade, Jane é conhecida como a segunda deusa do amor da casa dos Vanir — disse Carl.

    — Ela tem tipo uma maldição ou benção, onde qualquer homem de sua idade, algumas vezes alguns velhos nojentos, que a vislumbrar, cairá na tentação de querer tê-la. Você caiu nessa tentação, pelo visto. Não se preocupe, o Artur também caiu de início.

    Artur pigarreou de fundo, tentando tirar o foco da conversa.

    — Mas, relaxa. Se você for um homem de verdade, logo, logo, irá se livrar dessa tentação — completou Carl.

    — Acho que ela quem caiu na tentação por você, hein, loirinho — comentou Malcolm.

    Theo olhou para cima, inclinando sua cabeça, de olhos cerrados.

    — Vou moer você na porrada — ameaçou o rapaz.

    — Cai dentro, pô. — Malcolm riu por um segundo e jogou Theo para a frente. — Tô zoando. Não quero lutar contra você após ter seus canais de chakra bloqueados pela Jane, deve estar sentindo seu corpo dolorido, né?

    “Canais… Bloqueados?” 

    Theo estendeu seus braços, preocupado e desesperado. Ele tentou fluir seu éter pelos canais de chakra, porém, não foi possível conduzi-lo por completo.

    — A deusa Jane trata isso como um pedido de amizade. Significa que ela quer se aproximar de você — explicou Artur.

    — Pedido de amizade é o caralho! Quanta pressão ela aplicou?!

    — Hum… Para nós, seis F. Caso não tenha mudado a unidade no seu mundo…

    “Seis F são cerca de trinta e quatro S… Eu vou ficar três horas sem poder usar minha energia!! Deusa desgraçada!”

    ☽✪☾

    Durante as últimas duas horas, Jeanne esteve ocupada buscando curar os agentes do grupo de Theo. Curar, não no sentido de regenerar, mas aliviar as dores e restabelecer o fluxo de energia como antes. Após utilizarem tanta mana, fosse para habilidades definitivas ou para ignição, as veias de chakra passam a desgastar graças a liberação contínua e poderosa de energia. Para alguns, como Jack e Aidna, esse não era o maior dos problemas, mas sim o desgaste excessivo de energia.

    Para se ter noção, eles chegaram próximo de utilizar uma de suas gerações da centelha de Fanes. 

    Naturalmente, um desviantes com o núcleo avançado — de cor vermelho ou roxo — possui uma geração de seis vezes. Após utilizarem essas seis gerações, o núcleo estará completamente desgastado e usará do prana que envolve o próprio para liberar energia. 

    Caso isso aconteça, o desviante sofre de dores em todo seu sistema nervoso, pois o núcleo está gradualmente corroendo sua energia vital para se sustentar. Ao fim do processo, o desviante morre em, praticamente, estado de decomposição.

    Por isso a Centelha de Fanes deve ser usada em casos extremos, para a nova geração, nunca deverá ser usada. Embora ainda seja uma forma de lidar com doenças no núcleo de energia; já que, assim como a Centelha gera energia do nada, ela também expulsa os resquícios da antiga energia — caso não esteja condensada, se for pura — e substitui por uma nova mais saudável e refinada.

    Aidna e Jack estava a par de realizar o pacto e ativar a terceira via da Centelha — ambos já haviam utilizado anteriormente, em eventos passados. Contudo, graças a Jeanne, eles puderam se recuperar e ignorar a ideia.

    A situação de Kris e Sara era um pouco mais complicada, porém, foi facilmente contornada com ajuda de alguns curadores treinados por Jeanne. 

    Por utilizarem de feitiços excessivos imbuídos por atributos elementares, as duas tiveram um desgaste não em seu núcleo principal, mas nos chakras secundários. Em uma pequena sessão de condução de energia, transferindo os valores de energia para atribuição, puderam revigorar o núcleo secundário.

    Jess, entre Selina e Bastien, foi a que menos se prejudicou graças ao pacto que formaram. Além do cansaço, ela não foi prejudicada gravemente.

    Ao contrário de Selina e Bastien que, por exibirem suas ignições sem atribuir um pacto previamente, tiveram graves consequências em seus músculos. Até o momento, estavam caminhando apenas com ajuda ou reforçando seu corpo com mana para poderem continuar. Quando não conseguiam manter o ritmo, eles paravam e descansavam.

    Seus músculos estavam exaustos, hipertrofiados e completamente dormentes. Talvez eles chegassem a Kiescrone e ainda não estivessem 100% ilesos das lesões.

    Por outro lado, Rod e Islan estavam parecendo zumbis. A energia de seus núcleos estava desaparecendo exponencialmente sem explicação, causando um efeito mórbido em suas peles resultante da drenagem de energia vital. Todavia, era um mistério até para os mais adeptos na medicina, como Jeanne e Aidna. 

    Sendo detentora dos conhecimentos medicinais druidas, Aidna decidiu se aliar aos médicos de Jeanne para descobrirem a causa daquela situação e, possivelmente, encontrar uma cura.

    Foram horas tensas, mas, para quem estava fora da igreja, a realidade era completamente outra. Do lado de fora, ainda que fosse uma manhã limpa, os soldados festejaram pela vitória no último conflito. A general Nora, cujo deixou Jeanne na igreja com os demais por achar que sua presença não era necessária, se uniu aos soldados em brincadeiras competitivas como a quebra de braço.

    Inevitavelmente, Nora jogou o braço de outro soldado contra uma mesa de madeira.

    — Próximo! — berrou.

    — Você usou o estilo de luta! — reclamou o derrotado.

    — Eu nunca coloquei regras. Próximo, caralho!

    O tenente Carl caminhou para uma árvore ao lado da fortaleza, onde Artur e Malcolm estavam sentados, carregando quatro copos em suas mãos.

    — Hidromel para os homens, suco de uva para as crianças — brincou o tenente, atingindo diretamente o ego de Artur. — Ele dormiu?

    Carl apontou para Theo com os olhos. O rapaz estava escorado na parede externa da fortaleza, com os olhos fechados e praticando seu mudra em um estado perfeito de meditação. Sua aura era presente no ambiente, causando uma breve pressão ao redor.

    — Ele falou algo sobre o plano espiritual dele — disse Artur, sentado sob uma pedra de pernas cruzadas. O garoto se esticou para pegar seu copo.

    — O maluco é um algum religioso ou praticante espiritual? — perguntou Carl.

    — Sei lá.

    — Não sei. Mas, o que ele for, que continue. Está indo pelo caminho certo — disse Malcolm, ao qual era um praticante e religioso seguidor de Zhi Zhang, o Deus criador de sua nação.

    Diretamente em seu plano espiritual, Theo caminhava em direção ao Horológio de Boreas. Um vento frio e abafado emanou pela porta principal.

    ‘Bem-vindo novamente, Portador do Vento.’ disse a pixie.

    — E aí. Onde paramos mesmo? Quinto andar?

    ‘Exatamente.’

    Pisando para dentro da torre, Theo foi rapidamente surpreendido: a escada que leva até o quinto andar surgiu em sua frente. Casualmente, ele pensou que deveria escalar a torre, todos os andares anteriores. Porém, ele chegou ali por querer ir ao quinto andar, ou por que, em tese, o quinto andar seria importante?

    — Tô nervoso? — sussurrou para si, apertando o próprio peito.

    ‘Deveria. Será o primeiro espírito que você enfrentará.’

    — Espírito? — perguntou subindo os degraus da escada.

    ‘Os espíritos do vento norte, a elite de Boreas. Você terá que os derrotar em seus domínios, para então, passar ao próximo. Eu serei seu auxiliar apenas aqui dentro, mas, eles estarão além do seu plano mental.’

    — Hm…

    Theo se tornou pensativo nos últimos degraus da escadaria, tentando se lembrar de algum mito de Boreas que citasse essa tal elite. Porém, ele falhou, não lembrou pois não existiam registros disso mundo afora.

    — Quem estou indo enfrentar? 

    O último degrau desapareceu de seus olhos, dando espaço ao piso do quinto andar. A mana do local explodiu para as quatro paredes, deformando o próprio vento e criando uma corrente de ar. Os cabelos de Theo voaram ao vento.

    ‘Seu próximo desafio será Khun, a Presa Celeste.’

    Um majestoso tigre branco surgiu diante dos olhos de Theo. Os velhos da criatura eram feitos do próprio vento materializado, tornando até suas patas irregulares como uma brisa. As listras nas costas eram tomadas pelo brilho da mana que escorria por dentro do corpo do espírito.

    Khun caminhou ao redor do andar, dando passos curtos e buscando rodear seu desafiante: Theo.

    — Que bom… — reclamou o rapaz, notando o olhar primitivo e bestial do espírito. — E eu aqui, sem nenhuma arma.

    ‘O desafio começou.’ anunciou a pixie.

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