Índice de Capítulo

    Andando em direção à fortaleza, Theo mexeu num anel de ouro em seu dedo anelar esquerdo, recordando-se das palavras de Nihaya.

    Aqui, pega isso para capturá-lo — disse Nihaya, entregando o anel de ouro para Theo.

    Theo analisou cautelosamente o artefato, analisando a emissão de energia: zero. 

    Jeanne mostrou, indiretamente, que era possível entender o tipo de encantamento em cada artefato apenas ao vê-lo com os olhos. Ele se lembrou do primeiro contato da pequena deusa com o manto de Araav.

    “Não tem nenhum encantamento…”

    — É aqui que me dispenso. Este anel é usado para capturar djinns, agora que você terá um diabo do vento, não precisa mais de mim lhe guiando.

    — Tá, beleza.

    Nihaya não demonstrou ódio pela desfeita, embora tenha agido com ingratidão com o único objetivo de desestabilizar o djinn.

    Eles se comportavam como crianças um com o outro.

    — Só aponte o cristal para a runa na testa dele. Assim, irá prendê-lo.

    — Filho da puta… Não se mexe! — exclamou Theo, chutando comicamente a cabeça do Shaytan al-Riyah.

    Vendo o anel enquanto caminhava por fora do muro, Theo encarou a energia do djinn vazar pelo seu dedo.

    “Interessante… Desde que capturei esse djinn, informações sobre a manipulação do elemento vento tomaram minha mente. Feitiços, técnicas de encantamento… São instruções bastante complexas.”

    — Para controlar o djinn completamente, vai ter que criar uma barreira mental — explicou Nihaya. — Você é forte, vai conseguir manter. Porém, conforme evoluir, o djinn também irá.

    — Tendo em vista que ele, naturalmente, já é mais poderoso do que eu, sua evolução vai alcançar outros níveis, né?

    — É. Prefiro que descanse aqui, na floresta…

    Theo riu de canto, coçando a nuca e segurando suas risadas.

    — Tá com medo de quê? Eu e a Jane só nos beijamos.

    Uma veia saltou da testa de Nihaya, que estava com a aparência do general Nietsz.

    — Vocês são adolescentes, estou torcendo que seja apenas um beijo de fato — comentou.

    — Se bem que… — Theo esfregou o queixo, reflexivo. — Os cabelos serão vermelhos ou loiros da cor de trigo? E quanto aos olhos?

    — Tá falando do quê?

    — Dos meus filhos com a Jeanne, ué.

    Nihaya travou no caminho e conjurou uma espada de energia em sua mão, arregalando os olhos para Theo.

    — Então é assim? Djinns realmente são bem humanos, né… Mas, relaxa. Não tenho o intuito de ir muito além, afinal, conheci ela hoje. Não existe nada além da atração momentânea.

    — Foi seu primeiro beijo?

    — Foi.

    — E você beijou uma mulher desconhecida?

    Theo cruzou os braços, enchendo as bochechas de ar.

    — Se eu fosse um moleque, poderia me gabar por beijar uma fodendo deusa! Sabe quantos homens morreram na antiguidade apenas para ver a calcinha de Afrodite?

    Nihaya desconjurou sua lâmina e, consequentemente, encarou Theo pasmo.

    “É… Afinal, sendo a reencarnação de um egoriano ou não, ele é um adolescente. Acho que é por isso que ele é tão descontrolado… Tantas expectativas nas costas de uma criança de quinze anos…”

    Os olhos de Nihaya se estreitaram em análise.

    “Se bem que… Com a Jeanne não é diferente. Você se sente assim, filha?”

    — Mas, e aí. Quer que eu fique aqui fora por quê?

    — Contato com seu elemento. Na floresta, onde a atribuição elemental é maior, sua ligação se aprimora rapidamente…

    — Tô ligado. Acha que vai me ajudar?

    — Tenho certeza.

    — Beleza então. Me acorde antes das 10.

    Desaparecendo rapidamente do campo de visão do djinn, Theo reapareceu subitamente caminhando para dentro da floresta, ficando apenas alguns metros para dentro. 

    Ao saírem da fortaleza, qualquer um poderia encontrá-lo rapidamente. Nihaya olhou para o céu, encarando a lua e tentando calcular quantas horas faltavam para o amanhecer.

    Kiescrone, Capital

    Território da família Dür, 2:00 AM

    À medida que a chuva banha as ruas de um reino iluminado, o tédio pela força afoga os Emissários.

    Sentado frente à mesa do rei Pendaculos, Metcroy descansava os pés na madeira do móvel enquanto o rei se frustrava. Pendaculos andava em círculos, de braços cruzados e notoriamente ansioso.

    O rei, embora tivesse uma estatura média, graças a sua definição muscular, aparentava ser muito alto. Os cabelos castanhos e lisos molhados pelo recente banho despencavam deliberadamente pela cabeça do rei, mas não cobriam os olhos castanhos escuros que possuía.

    — Pra que essa ansiedade, rei? — disse Metcroy, incomodado com a repetição de movimentos excessivos.

    — Estou perdido. A família Estreide se rendeu à Marelia e demonstrou a incapacidade da família colateral Dïr. Se outras famílias nobres ou militares fizerem este mesmo julgamento, eu perderei todos os meus aliados.

    Metcroy gargalhou do rei.

    — Você está com medo de perder famílias pequenas?

    — Pequenas?! A família Estreide possui habilidades…

    — Oculares, eu sei. Eles são um dos poucos que conseguiram sincronizar uma habilidade ocular com seus descendentes, isso os torna perigosos. Entretanto, trocar de lado no meio de uma possível guerra civil porque uma família secundária não teve capacidade financeira… Os tornam desesperados.

    — O problema é se isso se estender… Hum? Do que está falando?

    Pendaculos olhou para o lado, encarando o absoluto nada.

    “Ah, sim claro.” pensou Metcroy, rindo sozinho. “Ele não é um desviante, por isso recorreu a contratos com demônios. Então, o daemon dele está sugerindo alguma coisa?”

    Pendaculos levou o indicador ao lábio e correu os olhos pelo cômodo, indo das paredes até Metcroy, onde desviou rapidamente.

    — Uhum — afirmou. — Entendi.

    O rei andou até sua mesa, onde um mapa do próprio território estava exposto.

    — Sim, sim. Será isso.

    Metcroy tirou rapidamente os pés da mesa e se ajustou na cadeira, as placas de metal de sua armadura balançaram e ecoaram no local. Apoiando e se aproximando da mesa, o Emissário da Força esticou os olhos por cima e visualizou o mapa.

    A expressão de Pendaculos estava séria e tensa, ansiosa tanto quanto incrédula. A mão direita do rei descansava pelo mapa, justamente na fronteira com o território de Marelia.

    “Ah, então vai ser isso?” ponderou Metcroy, escondendo o sorriso sádico por uma expressão genuína.

    Olhando para o lado em uma enorme vidraça, Metcroy viu a chuva despencar nos telhados e ofuscar o brilho das lâmpadas. Ciente disso, o Emissário olhou para o limite de onde sua visão podia acompanhar: o Castelo Zal, que, embora estivesse no mesmo reino, estava há cerca de cinquenta quilômetros.

    Isso se dá ao fato de que o território da capital do reino de Kiescrone se estende por mais de 400 quilômetros quadrados. 

    Alinhadamente, a família Zal e Dür dividiam sessenta por cento do território da capital, enquanto os outros quarenta por cento estavam sob posse das famílias nobres.

    Caso uma família como Estreide fosse para o lado de Zal… O rei Pendaculos teria problemas em desvantagem numérica.

    Imaginando um mapa mental e esboçando um aumento de 10% para o território de Zal, Metcroy imaginou o quão desafiador seria para Pendaculos.

    Encarando mais a fundo o Castelo de Zal, o Emissário da Força esboçou surpresa e ficou boquiaberto com uma energia colossal esbanjada da fortaleza.

    Uma energia e presença digna de Titãs. 

    — Ei! Tá chovendo pra caralho, fecha a janela! — exclamou Mentraid, o braço direito de Marelia.

    Com um terno bem-vestido, os cabelos curtos e grisalhos do general se completavam por sua barba fechada. Os olhos, fechados por natureza, apenas expressavam a insatisfação.

    — Cê é feito de açúcar, por acaso? — zombou Javier, vendo o general gritar como uma mãe com medo de suas roupas no varal.

    — Como é?

    — Rainha, pede pra ele se acalmar… Por favor — pediu Kale.

    — Mentraid, acalma-te. Sir Ziziel, poderia, por favor, entrar para o cômodo?

    Gentilmente, a rainha cruzou as pernas. Seu vestido longo e claro cobria perfeitamente seu corpo esbelto e delineado por curvas perfeitas no quadril. Os cabelos, brancos naturais, estavam amarrados em um rabo de cavalo, permitindo que uma franja caísse à frente dos olhos.

    Moris permaneceu estático e em silêncio, olhando para o pátio e estrada principal da capital enquanto a chuva caia por suas costas. O Titã da Ira estava na varanda quando ouviu o pedido da rainha Marelia, cujo atendeu rapidamente. Voltando cabisbaixo, resmungou:

    — Não sinto a presença de nenhum deles…

    — Recebemos a notícia ontem, senhor… — disse Zypher. — Considerando que terão de passar por quase mil e quinhentos quilômetros até chegar no território de Kiescrone, vão demorar um mês para chegar aqui. Mas…

    — Eles estão com os Cairsus, que naturalmente, podem viajar duzentos quilômetros por hora — disse Kale.1

    — Levando em consideração a quantidade de carruagens que eles puxarão e o peso extra dos passageiros… — Zypher e Kyle calcularam mentalmente, disputando para ver quem acertaria primeiro.

    — Tendo em vista que os Cairsus vão segurar a velocidade para não acontecer acidentes e prevendo que irão ignorar atrasos… — disse Javier. — Além disso, que se moverão entre cento e trinta a cento e oitenta quilômetros… Entre dez a vinte horas, dependendo da casualidade.

    Zypher e Kale caíram após serem humilhados pelo titã: ambos haviam estimulado 36 horas.

    — Aquele general Needis poderia trazê-los imediatamente — reclamou Moris.

    — É Nietsz, senhor.

    Moris ignorou seu assistente e avançou adiante de Javier e Marelia.

    — Se eles não chegarem até o amanhecer, eu irei atrás deles a pé.

    — Por que está tão ansioso, Titã Ziziel? — indagou Marelia.

    O Titã da Ira cruzou os braços, posteriormente, o general Mentraid lançou uma toalha para Moris por molhar o cômodo. Consequentemente, fechou as janelas para evitar que a tempestade invadisse o cômodo.

    — Meu grupo está na capital de Alsuhindr, nós trouxemos apenas um de nossos soldados tenentes, então, estamos na desvantagem. Precisamos do grupo C conosco, primeiramente para saber se estão bem… — explicou Moris. — Segundo, para prepará-los.

    — São despreparados? — inquiriu Marelia, sentando-se numa poltrona. 

    A rainha demonstrou, através de seus olhos escarlates, interesse na preocupação do Titã enquanto arrumava os cabelos castanhos próximos do ruivo.

    — A maioria são agentes de Vagus, exploradores treinados para missões que possam sair do trilho. Mas, não estão preparados para uma guerra — retrucou Javier.

    — Entendi… 

    Estalando a língua, Moris jogou-se num sofá cor de vinho.

    — Ei! Não senta aí! — berrou Mentraid, frustrado ao ver o Titã molhar o móvel de couro.

    “São por volta de duas da manhã, então, faltam oito horas para que eles saiam do ponto de partida. Levando em consideração a possibilidade do Javier, eles estarão aqui em dezoito horas…”

    Olhando para a janela enquanto enxugava os cabelos, Moris observou atentamente a chuva se entorpecer pela fraqueza natural.

    “Venha logo, Jovem Mestre.” pensou, fechando os olhos e imaginando o rosto de Theo.

    1. Cairsus; uma espécie de cavalos bestiais, descendentes do cavalo mítico Pégasos.[]

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