Capítulo 116 — Erguendo-se da luz (1)
Os passos descuidados de Metcroy ecoaram sob o piso de madeira, selado pelas paredes de concreto da casa central da família Nerai; uma família respeitada em Kiescrone por suas habilidades e técnicas com espada.
Naturalmente, ele seria barrado pelos soldados Lovkei, no entanto, por estar na presença de Pendaculos Dür IV o Emissário foi liberado sem tumulto.
— Você tem um único objetivo… — disse Pendaculos, trocando olhares fervorosos com Metcroy que apenas escutou com atenção. — Quero que se livre da princesa Amira Nerai, levando-na para o mais distante possível. Não a mate, ela é amiga de minha filha e possui laços com a minha família. De resto, você sabe o que fazer com os traidores.
O Emissário da Força estalou a língua, resmungando das ordens alheias.
“Esse desgraçado acha que vai viver no fim de tudo… Mas, relaxa. Vou fazer o que pediu, não tratando isso como uma ordem, óbvio.”
Mal-humorado e entediado, Metcroy cruzou os braços à medida que perambulava sem rumo pelo corredor. As placas de metal da armadura casualmente se chocavam e roçavam uma nas outras, deixando uma pequena vibração para trás.
— Talvez… É, sim.
‘Metz?’ chamou mentalmente, sorrindo com alegria.
Metzerai, que estava sentando no limite de um morro, sentiu sua paz ser rasgada como papel. Sentindo o estresse se aproximar, respondeu o irmão:
‘O que foi?’
‘Onde você está?’ perguntou parando em frente a uma vidraça.
Metzerai hesitou em responder, mas cedeu.
‘No vilarejo Heinsbern, nos Pilares do Renascimento. Irei começar a pôr minha estratégia em prática hoje.’
‘Desista, não é mais necessário. Vai acontecer algo mais interessante aqui em Kiescrone.’
O Emissário do Céu ausentou-se de falar momentaneamente, abrindo espaço para seu irmão continuar.
‘Houve algumas reviravoltas interessantes, o rei Pendaculos está bem desesperado com a perda de território e está criando algumas estratégias de guerra. Acho que vai estourar um conflito armado por aqui…’
‘E daí? Não me interessa.’
‘Ah sim, interessa. O grupo que você está caçando, irmão… São aliados da rainha.’
A expressão de Metzerai não mudou, porém, sua intenção assassina foi sentida por todo o vilarejo Heinsbern, ao qual estava sendo destruído abaixo de seus pés.
As casas de cerâmica e pedra estavam caindo à medida que o fogo encantava os olhos, para o desespero dos moradores que tinham os gritos abafados pela morte invocada às mãos dos Nefilins. Àqueles que tentavam fugir eram brutalmente partidos ao meio e devorados na frente de seus entes queridos.
‘Parece estar um caos, né?’
‘Só um dia qualquer.’
‘Está dizendo… Os assassinos de Zethíer?’
‘Correto.’
Cerrando os punhos, Metzerai esbanjou sua aura pela colina.
‘Chegarei em duas horas.’
— Ei, bastardos! — chamou Metzerai, levantando-se e acenando aos Nefilins. — Vamos para Kiescrone, teve uma mudança de planos.
‘Ótimo, estou te esperando.’
Ajustando o bracelete esquerdo, Metcroy observou o futuro catastrófico que estava planejando em sua mente: todo o território da família Nerai banhado pelas chamas mais intensas.
☽✪☾
Durante as últimas horas, Theo esteve descansando abaixo de uma árvore enquanto adotava um padrão respiratório sincronizado à medida que descansava.
Fazendo isso, ele foi capaz de elevar seu ki e aplicar a mesma técnica no éter, sendo possível que o resultado de refinamento fosse quase dez vezes mais intenso que casualmente.
O Jovem Mestre Lawrence optou por seguir os passos do general Minghua, que aprendeu enquanto ajudava o império Xin a se reestabelecer.
Quando Liam Mason tentou utilizar uma certa técnica, não houve resultado algum pelo fato do weltna não ser uma energia exterior, mas, que depende do talento inato de cada Le Fay e de sua estabilidade sentimental para aprimorar.
Entretanto, quando utilizou éter após se assimilar com Liam… Theo percebeu ser similar ao Chixianeng.
— O Chixianeng é a energia do mundo, capaz de moldar almas, manipular os ventos, cosmo, a criação e forçar a destruição. — O general Minghua explicou a Liam, caminhando ao redor da estátua da mão do criador. — E claro, a forma que temos para nos tornar tão poderosos… É a compreensão com os planos superiores.
Para os praticantes de Chixianeng, a complexidade humana é composta por sete dimensões existenciais. O plano físico, mental, astral, búdico, espiritual, individual e divino.
Ao ponderar o conhecimento, Theo percebeu que já se encontrava no sexto plano; o individual. Não necessariamente ele dominara a si por completo, porém, ao manifestar sua aura, Theo criou uma identidade moldável que se alterou com o tempo.
Sua bela pintura dourada estava se adaptando a oscilação no plano astral, então, estes pontos eram as prioridades para ele.
Segundo Minghua, se um homem for capaz de alcançar o sétimo plano, ele será invencível para os mortais. Todavia, para Theo, era inviável naquele momento.
“Minghua classificou o Chixianeng em três poções de energia… O Chi era a energia vital, vendo de hoje, é equivalente ao ki. Xian era a energia espiritual presente na atmosfera, ou seja, a mana.” ponderou Theo.
Uma onda de energia começou a envolvê-lo gradualmente: translúcida, sendo notável apenas pela turbulência que causava no ar.
“Então, o Neng, que seria um aprimoramento do Xian numa forma mais densa e poderosa…” A energia se comprimiu ao redor do Jovem Mestre Lawrence. “Seria o tão glorioso éter!”
Tendo em mente as técnicas que Minghua tentou ensinar para Liam Mason, Theo visou aprimorá-las enquanto densificava o éter no núcleo.
Sentindo os vértices se conectarem, ultrapassando a visão casual sobre as três dimensões, Theo imaginou como seria a existência de uma quarta.
Um universo composto por três dimensões possui largura, altura e profundidade. No entanto, costumam dizer que a quarta dimensão seria o tempo, ao qual completa o espaço.
Dado isso, afirmam que os domínios são universos de três dimensões, já que seus criadores não possuem o controle absoluto da “Engrenagem do Cosmo”. Todavia, a quarta dimensão não é apenas o tempo jogado na equação do universo.
Se trata de como o espaço reage ao tempo e suas distorções, a relatividade causada pelo menor ponto de massa até o maior; como o espaço reage à massa de uma estrela e prende os planetas. Entender isso, embora pareça fácil, na realidade é algo além se experienciado.
Theo queria viver aquilo, nem que por um segundo. Saber por que, até para os anjos, é impossível chegar aos deuses.
O que o difere tanto dessa raça superior? O que torna um imortal, os seres que Minghua acreditava serem os deuses mitológicos, de fato imortais.
Mesmo que ele jamais pensasse em uma versão futura obcecada por poder, aquele pensamento estava começando a florescer. Além disso, uma imagem do tecido universal iluminou a mente dele por um instante. Como a energia vagava por aquele plano, a maneira do espaço reagir às casuais variáveis vetoriais, de como o mundo responde a tudo.
Theo viajou pelo mar do mundo.
“Se eu enxergar esse mundo da mesma forma que ele…” refletiu, tentando avançar enquanto esboçava o rosto de Nalleth Zala. “Enxergar o mundo como um gênio…”
As cordas que seguravam o tecido do espaço-tempo se romperam, quebrando a realidade e acordando Theo para o mundo verdadeiro.
Esse rompimento anunciou a falta de concentração do jovem ao manter o éter em sua proximidade. O éter se desfez e implodiu contra o núcleo do rapaz, que o acordou subitamente.
— Hm… — resmungou em desdém consigo. — Tenho que aprimorar minha concentração… Não. Eu tenho que parar de listar minhas prioridades. Apenas uma, somente uma prioridade…
Fechando os olhos, projetou novamente o rosto de Nalleth conforme estava escrito nos livros: um homem de cabelos negros e longos, com uma venda de duas faces sobrepondo-se aos gloriosos olhos de Nalleth.
— É isso!
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