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    Ainda estava no amanhecer quando Theo despertou e entrou novamente no território do forte militar. Andando entre os soldados já acordados, correndo para todos os cantos enquanto tomavam conta das últimas medidas até a viagem, Theo se redirecionou para a capela.

    Abrindo a porta de madeira que se arrastou pelo chão e emitiu um ruído de arrepiar a espinha, mas, por estarem acostumados com aquele som, os feridos e membros que estava na capela há um tempo não se importaram ou acordaram. 

    Theo entrou cautelosamente, atencioso para não acordar os feridos conforme avançava pela construção e cumprimentava cada agente acordado. 

    Por fim, ele foi até o altar onde o padre costumava realizar as reuniões aos agentes antes de saírem em luta. Lá estava seu grupo, acompanhados de um único médico e Zemynder.

    Notando a proximidade do Jovem Mestre Lawrence, o carrasco de Alsuhindr alertou aos agentes. 

    Vendo que Theo havia finalmente entrado na capela, Selina foi a primeira a se levantar e caminhar até seu protegido.

    — Vocês parecem ter melhorado depois de ontem… — comentou Theo.

    — Alguns sim — afirmou Selina, posteriormente abraçando Theo fortemente e o envolvendo de lamentações.

    “Selie?…”

    Foi a primeira vez que um toque dela foi tão amargo, embora sua personalidade fosse fria. Entretanto, sem que Theo questionasse o comportamento repentino, Selina levantou a mão e desferiu um tapa no rosto do Jovem Mestre.

    Theo deixou que a mão de Selina direcionasse sua cabeça para o fim do golpe, à medida que os olhos cor de âmbar se arregalaram sem entender o motivo. Que, segundos após, foi revelado.

    — Eu falhei na ordem que Lady Luanne me deu. Para ser sincera, eu sequer tentei de fato… Por isso você fez o que fez, e agora não consigo parar de pensar nas minhas falhas como mentora.

    — Do que você…

    Selina lhe deu outro tapa, desta vez, causando uma certa frustração em Theo.

    — Cale a boca. Você tem noção do perigo que é, né? Claro que sabe, você é a merda de um gênio. Eu não ordenei, apenas pedi, supliquei para que não usasse a porra da luz.

    A visão de Theo turvou ao entender do que se tratava.

    “A ignição… Como ela descobriu?”

    Um turbilhão de memórias afundou a mente de Theo durante segundos enquanto Selina continuava o sermão. Até que, após segundos, ele raciocinou completamente o como

    Provavelmente em sua luta contra Carl, alguém notou que Theo estava utilizando o elemento luz para concluir a ignição e, mediante a isso, os boatos chegaram aos ouvidos de Selina.

    — Selie… — chamou Bastien, tentando fazê-la parar de falar. Quanto às palavras da seguidora de Alunne, Theo sequer as ouviu.

    — Você sabe o que essa luz pode fazer com o seu núcleo, então, por que se desesperar tanto a esse nível?!

    — Por que não arriscar?! — retrucou Theo, respondendo ao mesmo tom de voz. — Vocês sempre agiram como se cobrassem a minha força, mostrando que eu dependia de vocês para tudo dentro desse domínio. Vocês tentaram me amadurecer, Selina, e adivinha? Eu floresci!

    Selina estreitou os olhos e esboçou raiva, ofuscando o brilho dos olhos azuis como os de uma boneca.

    — Afinal, não era você quem estava lutando contra um demônio e precisando se forçar, tentando se configurar e criar algo para vencer. Não sou um psicopata como vocês, que lutam por prazer! Eu luto para sobreviver, por mim e para quem eu puder manter vivo! É uma necessidade! Acha que estaria aqui se não tivesse passado por coisas que me jogaram no caminho sem volta? É uma necessidade minha ter que evoluir!

    — Não dessa forma!

    — Sim, dessa forma! Se não for, como quer que eu evolua?! Você coloca expectativas sobre meus talentos e depois reclama sobre como eu os uso? Sério, porra Selie. Você, assim como todos ali atrás, devem entender o motivo pelo qual não me importo de sacrificar meu núcleo para sobreviver!

    — E se você morrer, hein?

    Theo calou-se.

    — E se for imprudente, errar um cálculo sequer e fazer com que suas veias parem de fluir? — Selina tocou o plexo solar de Theo com o indicador. — Essa merda é um coração, Theo. Um coração espiritual! O que acontece se seu coração acelerar de mais? Advinha o que acontece!

    O Jovem Mestre olhou para os olhos de Serach banhados por um medo indescritível.

    — O garoto tem um par de razões. Lutar para vencer não define um bom lutador… Mas sim, sua sede para sobreviver — comentou Zemynder.

    — Essa visão é idiota — afirmou Selina. — Se é assim, se estava lutando pela sobrevivência, por que arriscou utilizar o maior câncer para o núcleo?!

    — Porque eu estava apostando com o futuro! E daí que a luz pode explodir meu núcleo? Todos os desviantes estão fadados a morrer para essa porcaria no fim, não é? 

    — Você podia ter recorrido a outras funções, principalmente a outros seres…

    — A quem? A sua deusa?! Ela só apareceu para me dar uma ordem, e depois para destacar o mesmo. Então, a quem você acha que irei confiar minha vida além de mim?!

    Após insultar Alunne casualmente, Selina permitiu que sua intenção protetora — algo além da intenção assassina — vazasse para todos. 

    A discussão que estava controlada nos tons de voz, graças a educação e respeito que ambos tinham, teve a calmaria interrompida por essa reação de Serach. 

    Entretanto, não permitindo ser oprimido, Theo revidou a intenção de Selina com sua intenção ofensiva — algo abaixo da assassina.1

    Em segundos, a vontade de Selina foi engolida pela de Theo que foi repentinamente interrompida por um pequeno cascudo desferido por Aidna; a druida surgiu ao vento e deu um leve soco na cabeça de Theo, acordando-o para a realidade. 

    Um silêncio constrangedor foi o que restou ao ambiente.

    Theo encarou a druida enquanto seu sangue, antes fervendo, esfriava gradualmente. Vendo a expressão irritada e ansiosa no rosto de Theo, Aidna não foi capaz de manter sua postura rígida quanto ao comportamento do rapaz.

    — Saudades do bebê… — disse despencando. — Agora ele sabe responder.

    Recompondo a postura e expressão serena, a druida continuou:

    — Sim, claro. Misturar os quatro elementos no núcleo principal para formar um quinto é perigoso… Afinal, além da energia predominante, outros quatro atributos estariam tentando compartilhar o mesmo espaço. Se não tivesse sido efetuado da forma correta, ele teria, de fato, ido a óbito. No entanto, Selie. Você não pode o julgar como se ele fosse errado por tentar sobreviver no desespero. Assim como você não pode julgar a ela por se preocupar com você — retrucou olhando para Theo.

    — Deixem isso para outra hora! — ordenou Zemynder, sentado de pernas cruzadas enquanto desviava o olhar dos três. — Vocês não são crianças para estarem assim. Quer dizer, eu pensava que o loirinho era maduro, mas era só um garoto birrento.

    — Vai se foder — xingou em sussurros.

    — Que fofo. Enfim, temos um assunto mais importante, ao menos para o grupo de vocês.

    Desviando o olhar de Selina, Theo andou até o altar onde estavam Bastien e Zemynder acompanhado por Aidna. Selina, no entanto, sentou-se nos degraus do altar e escutou a conversa.

    — E o que seria? — indagou Theo.

    — É que… O estado do Rod e Islan está precário — disse Bastien. — Aparentemente, quando o Zethíer usou a Dynamis dele, os esporos do fungo capaz de zumbificar cadáveres se alastrou para fora da barreira. Como nossos defensores, por uma boba ironia, não tinham defesas contra esse fungo, foram infectados pelo mesmo…

    — Pera. O tal Zethíer conseguia controlar os mortos?

    — Parcialmente. Ele infectava os cadáveres com uma espécie de fungo zumbi, e conseguia controlá-los ao bel-prazer. Enfim, Rod e Islan estão infectados por este fungo, e temo que não conseguiremos uma solução para os ajudar…

    Percebendo o rumo do anúncio que teria, Theo recuou um degrau, mas esbarrou nas costas de Selina que sequer se mexeu. Theo encarou Bastien aterrorizado, sem saber se aquilo era de fato a intenção do líder. — É desesperador, mas, a única solução que tivemos para isso foi… — disse Aidna. Todos no altar a encararam superficialmente, Theo, portanto, esperou a afirmação que ele não gostaria de escutar. — … a eutanásia.

    1. deve estar se perguntando: Hã? A intenção protetora é mais poderosa que a assassina, mas a ofensiva é inferior??? Resposta: Sim. Enquanto a intenção assassina traz a vontade de matar, a intenção ofensiva apenas causa o alerta de um ataque ou, no caso de Theo, por legítima defesa. Enquanto isso, a intenção protetora deve ser maior para demonstrar que, embora ataque com ou sem vontade de matar, seu usuário está disposto a proteger seu ideal a qualquer custo, no caso de Selina, disposta a iniciar um combate físico.[]

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