Índice de Capítulo

    Para debaterem apropriadamente sem que os soldados de Jeanne se envolvessem, o grupo de Theo se reuniu no andar subterrâneo da capela, onde estava o restante do grupo. 

    Era um pequeno cômodo reinvestido por madeira, com algumas velas inconsistentes iluminando o local à medida que o vento abafado percorria pela brecha da porta aberta. 

    Ao abrirem a porta, as chamas da vela se encontraram com o oxigênio exterior e iluminaram adequadamente o cômodo.

    Sara e Jess estavam sentadas próximas às camas dos defensores debilitados, aos quais expulsavam casualmente uma tosse seca. 

    Somente ao entrar em contato com a atmosfera ambiente, Theo sentiu uma energia positiva tentar sobressair pela negatividade, que pairava a fortaleza como um todo, falhando em se tornar soberana. 

    — Jack… — disse Theo, pousando o braço pelo ombro do agente de gelo.

    — E aí, cara.

    Jess lhe direcionou um olhar profundo, carregado de informações que, por si só, jaziam todos os sentimentos e comentários que ela soltaria se estivesse em bom estado. 

    Sara, por sua vez, sequer olhou para quem estava entrando pela porta; ela não teve tempo para conhecer Rod e Islan como Jess conheceu, então queria memorizar seus rostos e carregar o que ambos desejavam.

    — É… — suspirou o rapaz.

    Rod buscou se arrumar na cama, mesmo com o corpo dolorido e sentindo seu sistema nervoso falhar repentinamente, onde os músculos se negavam a reagir adequadamente. 

    Olhando para Theo e o comparando com Zemynder, notou um abismo entre ambos, então, não se contentou e indagou:

    — Vai ser você, Jovem Mestre? Ou o cara novo? — perguntou Rod, praticamente em sussurros com sua voz falha.

    — O que ele quis dizer? — perguntou Theo.

    Bastien hesitou e engoliu em seco, entretanto, não se conteve.

    — Eles concordaram com a eutanásia. É a única forma viável que encontramos para acabar com o sofrimento deles. No entanto, eles seguem fielmente os passos de Vürdir…

    As sobrancelhas de Theo saltaram em arcos.

    — Vocês querem ir para Valhalla?

    — Por quê? Nossa crença não faz sentido para o Senhor?

    — Perdoem-nos… — disse Islan, deitado de costas para todos. — Não queríamos tornar isso mais difícil do que já é, mas não podemos evitar que nossa vontade não seja cumprida.

    Theo se perdeu em pensamentos, tanto intrusivos quanto lógicos. 

    Não estavam jogando aquilo nas costas dele, apenas dando uma opção. Tendo em vista que Zemynder não os conhecia, seria fácil para o carrasco de Alsu executar os dois defensores em um combate. 

    Ainda assim, eles queriam se divertir numa última dança antes da morte, portanto, gostariam que fosse com alguém que eles lutaram ao lado.

    Porém, aquilo ia contra a conduta do próprio Theo. Embora fosse tratado como um combate da salvação, Theo enxergava que matar seus companheiros seria traição. 

    Este fato iria martelar em sua cabeça por toda a vida, isso é, até noutro mundo. 

    Ele não se perdoaria, no entanto, teria uma culpa maior se não participasse do festival da morte, e auxiliasse os guerreiros que ao seu lado lutaram a atravessar os portões para o saguão dos heróis.

    Liam, o que fazer se um soldado, mesmo que seja seu amigo, lhe convidar para um combate até a morte? — perguntou Hans, o pai de Liam.

    Eu estaria o desrespeitando se não o matasse — retrucou o jovem Liam.

    Qual a única coisa que você não iria fazer?

    Desfigurar seus corpos. Assim, seus entes queridos ainda poderiam se despedir olhando para o rosto.

    E o que fazer com os inimigos?

    Desfigurar o máximo que eu puder. Se possível, deixar num estado pior que a decomposição.

    Theo ficou nervoso, lembrando da forma que foi educado em outra vida.

    Queria que descobrisse antes, pois você os verá em campo de batalha.

    As palavras de Nihaya chegaram nas memórias atuais.

    “Irei enfrentá-los em campo de guerra de novo, é? Quem sabe como os soldados de Pendaculos agem?”

    — Só… Não se arrependa de nenhuma pedra quebrada, de nenhuma vida tirada por outros… Seja apenas você por você, pois o fim será esse. Ou, não me escute e continue sendo isso. Moleque medíocre.

    Theo vislumbrou novamente o encontro com uma figura arcana, refletindo sobre o que aquele homem estava falando.

    “Ser apenas eu, por mim. Ou, ignorar e continuar sendo isso.” 

    Ele buscou o significado daquelas palavras. Sinceramente, ele nunca mais havia pensado naquele homem após o encontro, mas, agora tudo fazia sentido. 

    Invés de assassinato, Theo viu aquele pedido de Islan e Rod como um teste para si. 

    Se não fosse capaz de executar aqueles dois, em campos de guerra, seria incapaz de fazer mais nada além de lutar pela própria vida. 

    As palavras que ele proferiu cedo contra Selina se voltaram a si, forçando um ponto de vista hipócrita da própria parte. Entretanto, a hipocrisia faz parte da evolução humana, senão, como evoluirão se não estiverem prontos para contrariar a própria índole?

    Sua mente fragmentou-se em contradições e afirmações, evoluindo cada pensamento anterior para um estado que fosse possível alterar.

    O lado escuro que habitava o ser de Theo intimidou a luz nos olhos do garoto. As sombras o agarraram como as mãos daqueles que foram prejudicados por Liam Mason.

    Não havia sentido…

    Por quanto tempo vai chorar para si?

    Por quanto tempo vai deixar sua fraqueza ser maior?

    A lua girou em torno de um campo dominado pelas trevas.

    Ao olhar para o chão, Theo sentiu o próprio mundo agarrá-lo e prendê-lo ao chão. Sussurros ecoantes tomaram sua mente…

    Se permanecer, tudo será tua culpa.

    Se continuar sendo assim, vai acabar tendo outra vida. E para um homem que detesta a ideia de algo após a morte, você não está correndo para se livrar dos pecados.

    “Você nunca se importou com quem vive ou morre, idiota… Esse peso não deve existir…”

    As sombras se juntaram como um ninho de serpentes cobrindo os pés de Theo. Gradualmente, alcançaram seu rosto sujo pela indecisão.

    — Eu posso assumir isso… — disse Zemynder, porém, foi interrompido por Theo que colocou o braço em seu peito.

    O brilho da lua iluminou as sombras, evaporadas subitamente como um meteoro caindo no mar.

    Só lhe restou luz.

    — Não, eu irei. Vocês querem se divertir, não é? Uma última dança.

    — Obrigado — agradeceu Rod, tentando forçar um sorriso genuíno.

    — Onde será o palco?

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