Capítulo 119 — Erguendo-se da luz (4)
Pilares do Renascimento
09:20 AM
Após perguntar onde seria o local de execução, Theo se arrependeu e ficou ansioso.
Os tão gloriosos Pilares do Renascimento seriam finalmente alcançados, no entanto, para chegarem até os Pilares a modo que não atrapalhasse a viagem de Jeanne até Kiescrone, a Trupe de Ataque — como ficaram conhecidos entre os soldados de Alsu — teve que viajar cinco horas antes do planejado.
Zemynder concordou em acompanhar e seguiu as ordens de Jeanne para que nada acontecesse. Priorizando, acima de tudo, limpar o caminho para que não tivesse empecilhos quando fossem viajar até os Pilares.
Portanto, enquanto a Trupe de Ataque se dirigia para as pradarias que antecedem os Pilares, Zemynder se perdeu no caminho derrotando as bestas que o próprio julgou serem perigosas.
Caminhando pela pradaria, um campo de guerra do passado, os dois defensores apreciaram a última bela vista que teriam em vida. No entanto, enquanto apreciavam a vista, Theo e Selina tomaram uma distância considerável.
Acompanhados por Jack e Bastien, os dois defensores ignoraram a tensão dos companheiros notoriamente incomodados pela decisão dos colegas. O arauto de Hades, portanto, era o mais afetado.
Talvez por ser o líder, Bastien assumiu que era sua obrigação dar um fim à vida de seus colegas. Todavia, sempre que utiliza a lâmina de Thanatos, o valor da vida mergulha em reflexões na cabeça dele.
Ele finda por questionar-se sobre o próprio valor, seus motivos e o direito que ele tem sobre a vida dos outros. Após ceifar o direito de Zethíer, não contente apenas em matá-lo, Bastien novamente se calou.
Embora Zethíer fosse um dos que mereciam perder o direito do descanso — para Bastien — o peso de ceifar alguém ainda caiu sobre suas costas.
Era como uma aprovação do deus da morte, Thanatos, para testar a mente do arauto de Hades e que funcionava majoritariamente. Recusar o uso da lâmina era uma tentação, entretanto, uma necessidade sempre que teve sua habilidade utilizada.
Bastien ponderou usar a lâmina em seus defensores, contudo, isso iria interferir na vontade deles: ir para o Valhalla após a morte.
Se fosse pela lâmina, Bastien assumiria a conduta de matá-los. Porém, em uma luta de verdade onde os três iriam se atacar com tudo enquanto dois estavam prontos para serem executados de fato, o arauto de Hades não iria conseguir matar os próprios companheiros.
Como líder, ele sentiu que falhou.
— Isso é justo? — murmurou Jess, com lábios trêmulos e olhares desconfortáveis.
— Claro que é — retrucou Islan. — Na verdade, depende do seu senso de justiça.
— Obviamente é justo — Sara afirmou ao encarar as costas de Theo, que tomava uma distância sucessiva. — Tanto eu quanto aquele filho do duque Lawrence somos gênios. Para os casuais, gênios não possuem sentimentos, são lógicos e estão acima do senso ético. Nós trabalhamos pela lógica, e a lógica nos responde.
— Isso é um desabafo? — indagou Jack, com sarcasmo.
Sara riu junto.
— Não, é a realidade. Arrisco dizer que o Jovem Mestre vai usar isso como escada para evoluir, tanto mental quanto fisicamente. Ele obviamente vai sentir a morte de vocês dois após acabar, mas, muito provavelmente, em uma ou duas horas ele vai ignorar que vocês morreram pelas mãos dele. Gênios descartam o que não nos convém, e nos preocupamos apenas com o que nos faz evoluir…
— Bela especulação, mas o Theo não é assim. — Aidna, que estava escutando tudo um pouco distante do grupo, respondeu à Sara com um tom de reprovação.
— Ele pode não agir conforme, mas a mente dele, lá no fundo do abismo, adota essa ideologia complicada. Todos os gênios, sem exceção, funcionam deste modo.
— Então, os gênios humanos são psicopatas? — indagou Aidna — Não sentem empatia de fato, apenas um sentimento momentâneo? É isso que está afirmando?
— Sim.
— E nós que somos monstros?
Islan e Rod despencaram os ombros, suspirando em desgosto.
— Sinceramente? Não nos importamos com isso. Ele não nos conhece direito, então é melhor que não sinta nada referente a nossa morte. Pelo menos assim não iremos virar espíritos vagantes — afirmou Rod.
— Ainda mais se ele concluir com o que prometeu, e nos der uma última dança digna… — comentou Islan, mas o outro defensor completou.
— Mesmo se não concluir, queremos que ele tenha uma vida plena. Já assumiu muita responsabilidade para uma criança, somos gratos de todas as maneiras.
Embora tivessem opiniões contrárias, toda a Trupe de Ataque decidiu se satisfazer com a mentalidade dos defensores, guardando os pensamentos vagos para si e adotando um silêncio entre o grupo.
— Se prenda ao menos à primeira configuração — pediu Selina. — Desenvolva cada uma gradualmente, busque ter proficiência em uma antes de configurar outra.
— Por que tanta preocupação?
— Porque uma engrenagem enferrujada prejudica uma máquina. A ignição é uma forma de memorizar padrões no nosso corpo e dar ordens para executar. Quando pensamos em uma configuração, pode parecer baboseira ter que gritar o nome do feitiço ou até conjurar mentalmente, mas isso faz com que nosso corpo atenda ao comando. Os padrões memorizados, movimentos combinados, mudras necessários…
— Disso eu sei.
— Sim, é óbvio. Mas, Theo… Seu corpo não está atribuído a um elemento tão específico quanto a luz. Você pode ter os quatro elementos, desde sempre é notório, porém, juntar o que você não tem controle e absorver é algo arriscado.
— E se eu não arriscar? Qual fim teria? Existe uma aposta que devemos realizar a cada instante; a certeza do passado e a incerteza do futuro. Eu já arrisquei, né? Mas vou adotar o seu cuidado materno.
— Faça como quiser — concordou Selina, tendo em mente que não mudaria a cabeça de Theo. Ela desistiu de tentar educar, e guiaria invés disso.
Parando para sentir o ambiente, Theo tentou encher os pulmões com o ar puro e natural, entretanto, seu sistema respiratório foi atacado brutalmente.
O ar que ele ingeriu estava longe de ser puro; era pesado e carregado de destruição; um sentimento amargo cuja sensação era descrita por caos.
Os Pilares do Renascimento escondiam aquele caos, a fonte do terror psicológico e físico, outrora campo de uma luta entre os mais fortes.
Theo e Selina pararam frente aos pilares, sendo engolidos por uma sensação de morte iminente. Pelas partículas saturadas na atmosfera, demonstrava-se a força dos lutadores que causaram aquela destruição, sufocando-os no processo.
— Você vai lutar nesse campo?… — murmurou Selina.
— Mal consigo respirar aqui fora, imagina ali dentro… É muito hostil.
Theo coçou a garganta e esfregou o nariz, tentando aliviar a tensão, mas não foi o suficiente. Um mal-estar lhe agarrou somente ao entrar em contato com a pressão simultânea, mas, reinvestindo o próprio corpo com éter ele conseguiu amenizar os efeitos.
— Que frágil princesa.
— Você também está sentindo a pressão!
— Mas, não passando mal. Tá precisando se fortalecer.
— Cala a boca.
De cócoras no chão e prestes a vomitar, Theo olhou ofegante para os Pilares; estruturas de terra e minerais derivados, ao qual se estendiam para alturas colossais e bloqueiam o sol.
Graças à energia poluída do ambiente, o campo de visão tornou-se turvado e de difícil visualização, onde, posicionados simetricamente, bloqueavam a linha do horizonte e impossibilitavam o vislumbre do fim.
Theo sentiu o restante do grupo se acomodar por perto, principalmente quando viu as sombras de Islan, Rod e Bastien se projetarem ao seu lado. Entretanto, o Jovem Mestre Lawrence optou por continuar encarando os Pilares.
— Esse será o nosso palco. — Islan afirmou, tomando o mesmo rumo que os olhos de Theo.
Para a agonia dos defensores, o fungo de Zethíer estava se demonstrando pior a cada segundo; os vasos sanguíneos dos agentes estavam, de maneira gradual, aderindo uma composição sólida, dando um aspecto similar ao de uma mangueira firme e grossa, a medida que transparecia por suas peles.
Marcas de cor verde nasciam das escleras e escorriam pelas bochechas de ambos, dando uma profundidade aos olhos e um aspecto tanto quanto moribundo. As unhas de Islan estavam ressecadas e adotando uma textura similar ao tronco de uma árvore, rachando-se assimetricamente.
— Se vocês quiserem, podemos esperar até o meio-dia… — sugeriu Rod.
— Não. Quanto mais tempo esperarmos, mais vocês sofrerão — retrucou Theo, convincentemente. Levantando-se e ajustando a postura, Theo conjurou sua [Intempérie do Firmamento] novamente. — Vamos resolver isso agora.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.