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    Pilares do Renascimento 

    09:20 AM

    Após perguntar onde seria o local de execução, Theo se arrependeu e ficou ansioso. 

    Os tão gloriosos Pilares do Renascimento seriam finalmente alcançados, no entanto, para chegarem até os Pilares a modo que não atrapalhasse a viagem de Jeanne até Kiescrone, a Trupe de Ataque — como ficaram conhecidos entre os soldados de Alsu — teve que viajar cinco horas antes do planejado.

    Zemynder concordou em acompanhar e seguiu as ordens de Jeanne para que nada acontecesse. Priorizando, acima de tudo, limpar o caminho para que não tivesse empecilhos quando fossem viajar até os Pilares. 

    Portanto, enquanto a Trupe de Ataque se dirigia para as pradarias que antecedem os Pilares, Zemynder se perdeu no caminho derrotando as bestas que o próprio julgou serem perigosas.

    Caminhando pela pradaria, um campo de guerra do passado, os dois defensores apreciaram a última bela vista que teriam em vida. No entanto, enquanto apreciavam a vista, Theo e Selina tomaram uma distância considerável.

    Acompanhados por Jack e Bastien, os dois defensores ignoraram a tensão dos companheiros notoriamente incomodados pela decisão dos colegas. O arauto de Hades, portanto, era o mais afetado.

    Talvez por ser o líder, Bastien assumiu que era sua obrigação dar um fim à vida de seus colegas. Todavia, sempre que utiliza a lâmina de Thanatos, o valor da vida mergulha em reflexões na cabeça dele. 

    Ele finda por questionar-se sobre o próprio valor, seus motivos e o direito que ele tem sobre a vida dos outros. Após ceifar o direito de Zethíer, não contente apenas em matá-lo, Bastien novamente se calou.

    Embora Zethíer fosse um dos que mereciam perder o direito do descanso — para Bastien — o peso de ceifar alguém ainda caiu sobre suas costas. 

    Era como uma aprovação do deus da morte, Thanatos, para testar a mente do arauto de Hades e que funcionava majoritariamente. Recusar o uso da lâmina era uma tentação, entretanto, uma necessidade sempre que teve sua habilidade utilizada.

    Bastien ponderou usar a lâmina em seus defensores, contudo, isso iria interferir na vontade deles: ir para o Valhalla após a morte. 

    Se fosse pela lâmina, Bastien assumiria a conduta de matá-los. Porém, em uma luta de verdade onde os três iriam se atacar com tudo enquanto dois estavam prontos para serem executados de fato, o arauto de Hades não iria conseguir matar os próprios companheiros.

    Como líder, ele sentiu que falhou.

    — Isso é justo? — murmurou Jess, com lábios trêmulos e olhares desconfortáveis.

    — Claro que é — retrucou Islan. — Na verdade, depende do seu senso de justiça.

    — Obviamente é justo — Sara afirmou ao encarar as costas de Theo, que tomava uma distância sucessiva. — Tanto eu quanto aquele filho do duque Lawrence somos gênios. Para os casuais, gênios não possuem sentimentos, são lógicos e estão acima do senso ético. Nós trabalhamos pela lógica, e a lógica nos responde.

    — Isso é um desabafo? — indagou Jack, com sarcasmo.

    Sara riu junto.

    — Não, é a realidade. Arrisco dizer que o Jovem Mestre vai usar isso como escada para evoluir, tanto mental quanto fisicamente. Ele obviamente vai sentir a morte de vocês dois após acabar, mas, muito provavelmente, em uma ou duas horas ele vai ignorar que vocês morreram pelas mãos dele. Gênios descartam o que não nos convém, e nos preocupamos apenas com o que nos faz evoluir…

    — Bela especulação, mas o Theo não é assim. — Aidna, que estava escutando tudo um pouco distante do grupo, respondeu à Sara com um tom de reprovação.

    — Ele pode não agir conforme, mas a mente dele, lá no fundo do abismo, adota essa ideologia complicada. Todos os gênios, sem exceção, funcionam deste modo.

    — Então, os gênios humanos são psicopatas? — indagou Aidna — Não sentem empatia de fato, apenas um sentimento momentâneo? É isso que está afirmando?

    — Sim.

    — E nós que somos monstros?

    Islan e Rod despencaram os ombros, suspirando em desgosto.

    — Sinceramente? Não nos importamos com isso. Ele não nos conhece direito, então é melhor que não sinta nada referente a nossa morte. Pelo menos assim não iremos virar espíritos vagantes — afirmou Rod.

    — Ainda mais se ele concluir com o que prometeu, e nos der uma última dança digna… — comentou Islan, mas o outro defensor completou.

    — Mesmo se não concluir, queremos que ele tenha uma vida plena. Já assumiu muita responsabilidade para uma criança, somos gratos de todas as maneiras.

    Embora tivessem opiniões contrárias, toda a Trupe de Ataque decidiu se satisfazer com a mentalidade dos defensores, guardando os pensamentos vagos para si e adotando um silêncio entre o grupo.

    — Se prenda ao menos à primeira configuração — pediu Selina. — Desenvolva cada uma gradualmente, busque ter proficiência em uma antes de configurar outra.

    — Por que tanta preocupação? 

    — Porque uma engrenagem enferrujada prejudica uma máquina. A ignição é uma forma de memorizar padrões no nosso corpo e dar ordens para executar. Quando pensamos em uma configuração, pode parecer baboseira ter que gritar o nome do feitiço ou até conjurar mentalmente, mas isso faz com que nosso corpo atenda ao comando. Os padrões memorizados, movimentos combinados, mudras necessários…

    — Disso eu sei.

    — Sim, é óbvio. Mas, Theo… Seu corpo não está atribuído a um elemento tão específico quanto a luz. Você pode ter os quatro elementos, desde sempre é notório, porém, juntar o que você não tem controle e absorver é algo arriscado.

    — E se eu não arriscar? Qual fim teria? Existe uma aposta que devemos realizar a cada instante; a certeza do passado e a incerteza do futuro. Eu já arrisquei, né? Mas vou adotar o seu cuidado materno.

    — Faça como quiser — concordou Selina, tendo em mente que não mudaria a cabeça de Theo. Ela desistiu de tentar educar, e guiaria invés disso.

    Parando para sentir o ambiente, Theo tentou encher os pulmões com o ar puro e natural, entretanto, seu sistema respiratório foi atacado brutalmente. 

    O ar que ele ingeriu estava longe de ser puro; era pesado e carregado de destruição; um sentimento amargo cuja sensação era descrita por caos

    Os Pilares do Renascimento escondiam aquele caos, a fonte do terror psicológico e físico, outrora campo de uma luta entre os mais fortes. 

    Theo e Selina pararam frente aos pilares, sendo engolidos por uma sensação de morte iminente. Pelas partículas saturadas na atmosfera, demonstrava-se a força dos lutadores que causaram aquela destruição, sufocando-os no processo.

    — Você vai lutar nesse campo?… — murmurou Selina.

    — Mal consigo respirar aqui fora, imagina ali dentro… É muito hostil.

    Theo coçou a garganta e esfregou o nariz, tentando aliviar a tensão, mas não foi o suficiente. Um mal-estar lhe agarrou somente ao entrar em contato com a pressão simultânea, mas, reinvestindo o próprio corpo com éter ele conseguiu amenizar os efeitos.

    — Que frágil princesa.

    — Você também está sentindo a pressão!

    — Mas, não passando mal. Tá precisando se fortalecer.

    — Cala a boca.

    De cócoras no chão e prestes a vomitar, Theo olhou ofegante para os Pilares; estruturas de terra e minerais derivados, ao qual se estendiam para alturas colossais e bloqueiam o sol. 

    Graças à energia poluída do ambiente, o campo de visão tornou-se turvado e de difícil visualização, onde, posicionados simetricamente, bloqueavam a linha do horizonte e impossibilitavam o vislumbre do fim.

    Theo sentiu o restante do grupo se acomodar por perto, principalmente quando viu as sombras de Islan, Rod e Bastien se projetarem ao seu lado. Entretanto, o Jovem Mestre Lawrence optou por continuar encarando os Pilares.

    — Esse será o nosso palco. — Islan afirmou, tomando o mesmo rumo que os olhos de Theo.

    Para a agonia dos defensores, o fungo de Zethíer estava se demonstrando pior a cada segundo; os vasos sanguíneos dos agentes estavam, de maneira gradual, aderindo uma composição sólida, dando um aspecto similar ao de uma mangueira firme e grossa, a medida que transparecia por suas peles. 

    Marcas de cor verde nasciam das escleras e escorriam pelas bochechas de ambos, dando uma profundidade aos olhos e um aspecto tanto quanto moribundo. As unhas de Islan estavam ressecadas e adotando uma textura similar ao tronco de uma árvore, rachando-se assimetricamente.

    — Se vocês quiserem, podemos esperar até o meio-dia… — sugeriu Rod.

    — Não. Quanto mais tempo esperarmos, mais vocês sofrerão — retrucou Theo, convincentemente. Levantando-se e ajustando a postura, Theo conjurou sua [Intempérie do Firmamento] novamente. — Vamos resolver isso agora.

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