Capítulo 121 — Erguendo-se da luz (6)
— Primeiro, configuração variada; Desmoronar — conjurou Theo balançando a [Intempérie do Firmamento] em direção aos defensores.
A Torre do Tormento, originalmente, é um ataque imóvel isto é, ataca apenas a região onde foi conjurada. Entretanto, a configuração variada serve como um tornado de cortes incessantes, cancelado apenas quando Theo desejar.
Graças ao estado de lucidez que atingiu ao firmar um pacto com o núcleo, Theo foi capaz de adquirir um controle mental quase perfeito sob sua ignição.
Ele manteve em mente a observação atenciosa de Sara: ao sair do estado de lucidez, ele terá dificuldades para replicar os mesmos feitos. Então, a ideia de Theo foi se atentar a cada movimento criado e utilizar quantas vezes fosse necessária para o corpo dele se acostumar.
Afinal, é disso que uma ignição se trata: configurar o corpo para executar movimentos pré-determinados somente ao pensar.
Theo manteve isso em mente para que não tivesse empecilhos quando saísse do estado de lucidez.
Observando os cortes de energia que se aglomeraram contra os defensores, Theo arrancou contra os oponentes. Diminuindo a distância drasticamente, ele cancelou sua ignição e atacou pessoalmente desferindo um corte limpo. Rod desviou da zweihänder e conjurou uma barreira, ao qual jogou Theo para o lado.
Islan, aproveitando o momento de devaneio, entrou num combate corpo-a-corpo com Theo, forçando o rapaz a soltar sua espada.
O rapaz desviou de um soco direto do defensor apenas criando uma turbulência no vento, abrindo uma brecha na postura de Islan.
Girando com a perna esquerda, Theo arqueou o pé direito pelo ar e o cravou no trapézio de Islan, arremessando o defensor contra o chão.
No mesmo instante, Rod contra-atacou usando um escudo de energia para empurrar Theo. Sendo afastado para trás, o Jovem Mestre Lawrence criou um simples redemoinho para confundir os adversários.
Controlando a criação, Theo rasgou o vento em direção aos defensores e liberou um corte de energia contra o rapaz. Rod, no entanto, segurou o ataque apenas com a mão — imbuída, claramente, com um escudo de força.
O contato breve das energias resultou em uma pequena explosão de poeira que serviu para os defensores se reajustarem.
— Ele tá pressionando muito… — comentou Islan.
— Estou surpreso com essa atitude… Antes ele atacava recuado demais.
Repentinamente, quatro espadas de vento materializadas caíram contra os agentes. Desviando cautelosamente, Islan não previu um avanço sorrateiro de Theo; apoiando-se na lâmina de uma espada maior, o rapaz planou pelo ar e quase cortou a testa do defensor, deixando apenas alguns dos fios de cabelos ressecados no ar.
Despejando a espada em partículas pelo ar, Theo deslizou no chão se virando para os defensores.
— Liberação inerente… — Theo conjurou esticando os braços e mantendo a palma aberta, como quem segurasse uma esfera. — Jior!
Imbuído em fogo, o éter de Theo se manifestou como uma serpente e rastejou pelas partículas do ar em direção aos agentes. 1
Cinzas era tudo que restava por seu rastejo, a chama da morte caminhara a par.
Assim como no versículo citado, o feitiço queimou a atmosfera e cercou as presas, assim como Jior costumava fazer com bestas mais fortes.
Não era um feitiço único de Theo, mas que ele tinha vontade de fazer desde criança graças a afinidade com o fogo. Entretanto, por nunca conseguir, realizou naquela hora por estar em estado de nitidez.
O ambiente padeceu num raio de dez metros, ao qual circulavam Rod e Islan. Querendo manter sua postura de ataque, Theo saltou para o céu, passando acima dos defensores e então, sem muito hesitar, fazendo os gestos necessários, conjurou:
— Ártemis: Sagitta Lunae divinae Cervi!
Após a flecha de Ártemis ser atirada sem hesitação, o atributo vento da flecha reagiu com o atributo fogo do feitiço de Jior, causando uma grande ressonância elemental e incinerando um raio de cem metros.
A poeira levantou-se do chão numa nuvem densa.
Fortaleza de Jeanne Mospeliart
6:56 AM
Uma hora depois da Trupe de Ataque partir, Jeanne agrupou seus tenentes e generais para a última reunião antes da viagem. Ela estava tensa quando todos chegaram, sendo notável graças a palidez no rosto da garota e o suor que escorria.
— O que houve? — indagou Nihaya, sendo o primeiro a se preocupar verbalmente.
Ela se ausentou de palavras por um segundo, mas decidiu contar.
— Malcolm, ordeno que você corra em direção a Trupe de Ataque — ordenou a princesa, vendo que seu general não iria contestar sua decisão. — Você é rápido, vai conseguir alcançá-los antes que cheguem aos Pilares do Renascimento, talvez.
— O que lhe preocupa? — reforçou Nihaya.
— Estou com um mau pressentimento sobre os Pilares… Tive alguns sonhos esta noite, onde os Pilares do Renascimento estavam afogados pelas mãos de gigantes…
— E foi tão real assim? — perguntou Carl, sem querer desrespeitar a visão de sua princesa.
— Foi. Com certeza foi um pequeno vislumbre…
— Então, por que não manda o Nietsz? — sugeriu Carl, interrompendo abruptamente a deusa. — Ele é muito mais rápido que todos nós, poderia chegar lá mais rápido que um raio para atingir o chão. Além disso, é o mais forte por aqui. Poderia facilmente cuidar de tudo lá…
— Justamente por isso — disse Malcolm. — Nietsz é o mais forte general, devendo estar com a princesa. Caso eu e Zemynder chegássemos a falhar, Nietsz estaria com a senhorita Jane para atacar o inimigo enfraquecido. Além disso, estou doido para ver uma luta de outro mundo…
— Tapado! Quer só ver o Jovem Mestre lutar!
— Claro!
— É ele quem mais me preocupa… — comentou Jane. — Se ele extrapolar um pouco o limite, vai atingir um nível que com certeza chamará atenção.
— É isso que vai pôr todos em perigo?
— Sim…
— Nesse caso, relaxe — disse Nihaya. — Ensinei ao Theo como controlar a própria aura.
— Não é só da aura que me refiro.
Jeanne sentou-se numa cadeira de madeira, respirando intensamente enquanto repousava a mão sobre o busto.
— Malcolm, por favor… Mantenha-o vivo — pediu com um brilho tomando seus olhos, à medida que os lábios tremiam e uma expressão melancólica jazia em seu belo rosto.
Um feixe de energia rasgou a floresta ao meio, como um raio rasgando o céu. Malcolm movia-se rapidamente pela estrada de barro enquanto reforçava seu corpo com energia para durar mais tempo.
“Depois daquela expressão, não posso desapontar a Lady Jane…” pensou Malcolm enquanto aumentava sua velocidade exponencialmente. “Esteja vivo, Lawrence.”
Pilares do Renascimento
9:32
A nuvem de poeira demorou setenta e dois segundos para dissipar.
Enquanto isso, os defensores reabasteceram um pouco da energia gasta na criação de um campo de força; tal campo foi capaz de anular os danos da combinação de feitiços do Jovem Mestre Lawrence.
Irritado, Islan saiu da nuvem.
— Cadê tu, Theo?! — exclamou para cima.
Desde que lançou a flecha de Ártemis, Theo desapareceu do campo de batalha.
Grudado em um dos Pilares do Renascimento, Theo se apoiou em sua zweihänder — recuperada na nuvem de poeira — enquanto ponderava as futuras ações.
Enquanto sua espada estava cravada na estrutura, Theo a utilizava de prancha para se manter a uma distância razoável dos defensores.
“Essa estratégia foi uma faca de dois gumes… Iniciar com toda a força foi uma boa decisão, mas, como não sou forte o suficiente para matá-los de início, gastei muita energia no processo. Se eu fosse um pouquinho mais eficaz…”
Theo recuou dos pensamentos por um segundo.
“Não. Se é uma desculpa. Eu tenho que ser mais eficaz! Tenho que estabelecer o controle de energia a cem por cento e aproveitar esse estado de nitidez. Afinal, ficar sem saber quanto tempo vai durar me deixa agoniado… Devo aproveitar enquanto estou lutando com tudo que posso.”
Ao longe, Theo escutou os berros de Islan o xingando.
“Também, não posso demorar muito. Eles estão fingindo que não, mas estão sofrendo internamente. Lutando contra algo incurável que somente o fio da minha espada poderá expurgar…”
Refletindo durante uns segundos, Theo notou um defeito que todo mundo fazia questão de lhe pontuar: — Você pensa muito, Lawrence!
De fato, ele pensa muito antes de executar. Mas, na realidade, onde está o defeito? Apenas no tempo que ele demorava para agir.
Pensar demais sempre fez parte da identidade dele enquanto fosse Theo De Lawrence, e, sinceramente, ele não queria largar sua própria característica. Afinal, o que faz um gênio, de fato, ser um gênio?
Theo concluiu que deveria pensar e agir na mesma proporção; não permitir que o corpo controlasse o cérebro ou o contrário, mas uma harmonia de vontades.
“Preciso aproveitar esse estado e garantir, quanto antes, a passagem desses dois para Valhalla…” ponderou Theo.
Arrancando a zweihänder do pilar, Theo saltou em direção aos desviantes decidido que iria encerrar aquele combate sessenta segundos nos próximos.
- A serpente Jior — pronunciando-se Jör — foi uma besta mitológica que, supostamente, existiu há seiscentos anos. Tratava-se de uma entidade cujo corpo era constituído por escamas de Leviatã — uma característica para seres com pele indestrutível — onde as brechas queimavam a partir de um fogo limpo. Era poderosa pois, não à toa, foi nomeada de “Filha da Fênix”.[↩]
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