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    — Dr. Fulmenbour, lemos o seu artigo sobre controle de energia. — Um grupo de pesquisadores se reuniram onde, atualmente, é a casa real em Fulmenbour.

    Brend Halfmer Fulmenbour, o diretor da escola técnica da alquimia — que mais tarde seria promovida a uma das quatro grandes ordens — recolheu os papeis sobre seu próprio artigo que estavam jogados numa mesa de vidro.

    — Certo — disse animado.

    Brend era um jovem teórico, tendo uma barba falhada, porém grande e castanho-claro, tal qual era a cor de seus cabelos. Os olhos azuis do pai da alquimia estavam rodeados por um óculos retangular.

    — Nós queremos saber: como propõe que essa quantidade de energia seja possível? — indagou Hamlert, um dos maiores pesquisadores da época.

    Brend coçou a garganta.

    — Creio que vocês ainda não tenham entendido completamente… Vamos simplificar desta forma: núcleos iniciais possuem energia para energizar um bairro; núcleos intermediários energizam uma cidade; já os avançados um país. Agora, imaginem que vários desviantes com um núcleo avançado pudessem interagir entre si, liberando suas energias de uma só vez e sendo capazes de energizar o mundo…

    — Isso nós entendemos.

    — Calma. Agora, pensem num único homem tendo essa capacidade. Gosto de chamá-lo de ouroboros. Um homem que pudesse liberar a energia pelo ambiente e, ao mesmo tempo, puxar a energia do ambiente para si. Seria um ciclo infinito. Então, imaginem um ouroboros, agora tendo 100% do controle da energia: invés de usar atributos como os quatro elementos mundiais, partindo para a própria eletricidade.

    Hamlert pediu tempo à Brend.

    — Está dizendo que esse tal de ouroboros seria capaz de controlar a eletricidade? Algo que nem nós temos controle com máquinas?

    — Justamente! Claro, pode aparecer um falso ouroboros, que controla a eletricidade, porém, ele não chegará nem perto do verdadeiro. Ainda assim, eletricidade é uma forma de energia. Calculei recentemente que 1.5×10²² joules seriam equivalentes ao que chamo de “A liberação máxima que um núcleo comum pode atingir”. No entanto, vagando na minha mente, cheguei a uma suposição.

    — E qual seria?

    Fulmenbour apontou para seu artigo, onde uma ilustração distorcida apresentava-se.

    — 2.2×10³³ de joules… A liberação de energia capaz de dizimar o nosso planeta desse universo. Agora, pense da seguinte forma: essa descarga, se liberada no planeta, seria suficiente para dizimar ele. Porém, e se apontarmos para um único ser?

    Uma mulher ao lado riu; Marv Elietsh, a secretária de Hamlert.

    — Ele seria apagado da existência.

    — Dessa existência — interrompeu Brend.

    Hamlert tapou a boca, incrédulo com a interpretação que Brend havia o feito chegar. O pesquisador puxou os lábios e distorceu a própria face em nome da ciência.

    — Eureca… Essa quantidade de energia poderia… — comentou Hamlert.

    — Exatamente. Destruir, mas não o mundo, a própria realidade, abrindo uma ruptura no espaço-tempo e conectando os mundos por meio de uma fenda.

    — Um portal.

    — Tecnicamente falando, seria capaz de abrir um portal interdimensional.

    Fulmenbour havia previsto, no entanto, não chegou a crer que esse feito seria realizado em menos de mil anos. Malcolm também não acreditava, mas queria acreditar que sua descarga redirecionada fosse capaz de realizar tal feito; somente assim Theo poderia estar vivo.

    — Espero que… Em alguma dimensão, você esteja vivo…

    Os fragmentos de espelho vagaram por um espaço sem fim. Assim como ondas, o universo vagou pelo próprio distúrbio, quebrando sua razão e coerência; rompendo sua exclusiva realidade.

    O espaço infinito comportou-se como um mar agitado, vagarosamente perturbado e, com um simples deslize, agitado. Mil sois estavam para todos os lados, refletindo a luz no espaço que, por sua vez, se comportava como espelhos. Quebrados, danificados… Longe da realidade convencional.

    Cada local representava um momento do tempo, uma visão, um futuro e um presente. O som não vagava pelo vácuo que era sua atmosfera, era um silêncio tão puro ao nível de ser aterrorizante.

    Theo flutuou sem rumo sobre este espaço, puxado para um único destino: o nada. Embora de olhos fechados, a luz dos sóis atravessa as pálpebras. O devaneio irritante o incomodou, mas, não incomodou tanto quanto a presença de Nik’Hael que transparecia por todos os espelhos.

    Eles ainda sentiam a dor da descarga elétrica de Malcolm; a eletricidade querendo rasgar os músculos; a sobrecarga de energia afetando o cérebro e aumentando a adrenalina. Em dado instante, Theo desistiu de resistir à luz e abriu os olhos.

    As dimensões daquele espaço eram imensas, sua mente não conseguia processar; afinal, aquele era o tempo. A quarta dimensão diante dos olhos de um humano.

    Não que ele pudesse processar, mas entendia. Theo conseguia identificar cada objeto naquela dimensão, podia compreender a localização mesmo com o tempo em movimento.

    O sentimento frio de que algo, além da sua perspectiva de “vida”, o tocava casualmente, deu-lhe um caos metódico.

    Ele logo pensou que estava preso no plano espiritual de Hael, mas descartou a ideia quando notou que até o pequeno anjo, ao qual vagava sem rumo ao lado do Jovem Mestre, estava tão preso naquele mundo quanto Theo.

    Os olhos de Nik’Hael refletiam perfeitamente aquele espaço.

    Theo pôde entender como funcionava exatamente o poder de Hael. Na realidade, ele começou a suspeitar que aquela dimensão se materializava para eles como espelhos justamente devido a Nik.

    Devido à imagem de que o tempo se revelou através dos poderes de Nik’Hael, ele havia interpretado o tempo daquela forma. O tempo, portanto, era um espelho que refletia ele mesmo: o homem que sempre foi seu próprio destino.

    Ao menos, era assim que ele achava.

    Como alguém que não tinha “poder para ver o futuro”, Theo podia ver apenas seu presente; o reflexo dele vagando pelo espaço vazio passando de espelho para espelho.

    Após tanto endeusar-se a própria existência refletida, Theo olhou para o futuro.

    À anos-luz, o universo, o tempo, despencava sobre uma única e perfeita singularidade da qual formava uma cratera no tecido da realidade.

    — É lindo, não é? — Olhando para a singularidade, em um ponto absolutamente distante da existência, Nik’Hael deixava o fluxo do tempo lhe puxar enquanto o próprio estava sentado de pernas cruzadas.

    De alguma forma, que intrigou Theo, o pequeno anjo conseguiu se mover no vácuo.

    — O espaço.

    — É perfeito. O universo… Essa é sua forma?

    — Dizem que é. Meu pai disse que o Criador reside em um local divino, agora entendo o que ele quis falar. Segundo ele, Deus é uma singularidade que não há medidas para contar. Provavelmente, aquilo que vemos na distorção, não se equipara nem por uma fração do Criador.

    Theo ficou admirado com a singularidade no centro de tudo, enquanto Nik’Hael, no entanto, analisou a situação.

    — Estranho. Estamos num espaço sem atmosfera, mas não está se comportando adequadamente…

    — Estamos no vácuo. De fato, não deveria ser dessa forma. Deveríamos estar mortos; não estamos. Não deveríamos conseguir falar; mas falamos… O tempo poderia rasgar nossos seres; não o fez. Por acaso, você está me protegendo com seu poder temporal?

    — Jamais. Estou com dificuldades até para me manter, quem dirá a nós. Acho que aquilo é um anjo — disse trocando de assunto repentinamente.

    — Certeza?

    — Absoluta. Cara, que sensação horrível.

    — Sim, tô sentindo a radiação querer rasgar minha pele e a força distorcer meu corpo inteiro. Acha que aquele é o Arconte?

    — Sério? Não tô sentindo essa radiação. E sim, acho que aquele seja o criador desse domínio; o Arconte da Harmonia, Arcduth, O Único.

    — Primeiro, surgiu a necessidade da vida; após, veio a morte para finalizar o início. Portanto, nasceu a necessidade de um vínculo, o destino, para que a vida pudesse se ligar a morte; Eternally, então, nomeou o fim de Morte, e o destino de Araav, aquele que nasceu do Criador e da Lua. 

    Intrigado e de olhos cerrado, Theo continuou:

    — Mas, apareceu aquele que vincularia os três, para existirem no mesmo universo: Arcduth, O Único a unificar uma perfeita harmonia entre o ciclo da vida, e aquele capaz de trazer vida através da morte…

    Theo contou como se soubesse cada momento, como se houvesse vivido cada instante desde a criação.

    — Tá sabendo muito… — comentou Nik’Hael; nem o próprio sabia daqueles detalhes.

    — Nem eu sei de onde vieram tantas informações. Nunca tinha ouvido falar em Arcduth.

    — Estamos sendo expostos ao tempo, faz sentido estar recebendo informações além do necessário. Sua mente deve estar, inconscientemente, filtrando as informações para te manter vivo.

    — E como cê acha que uma mente humana resistiria ao tempo?

    Nik’Hael arqueou a sobrancelha. Seus olhos ficaram incrédulos com o que Theo havia falado.

    — Humano? Ainda se considera isso? Você está imune ao tempo… — O próprio Hael se interrompeu, vagando entre os pensamentos intrusivos. — Tempo. Entendi. Você tem um poder sobre o tempo também, né? Mas quando?

    Theo ficou confuso.

    — Talvez, após entrar em contato com o meu poder? Uma ressonância, quem sabe? 

    — Se for pra não explicar, deixa pra ti.

    — Irei deixar mesmo. Se você descobrir, pode me matar facilmente.

    Theo estalou a língua e resmungou:

    — Imundo.

    Nik’Hael, todavia, sorriu. As asas do pequeno anjo voltaram a cobrir os olhos; a coroa angelical desapareceu gradualmente.

    Os dois rapazes, sem poder reagir ao tempo, deixaram-se ao fluxo eterno. Por tanto tempo que o próprio tempo se perdeu.

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