Capítulo 155 — Grim Reaper
Subúrbio de Kiescrone, Sub-zona Sul
Kiescrone é dividida em quatro zonas e oito sub-zonas. A zona sul é a região mais distante do centro, onde estão a par da fronteira com o reino de Mentier — para a Trupe de Ataque, seria o Estado de Hardian.
O relógio da capela local já estava tocando para às 22 horas, o horário do toque de recolher naquela região.
Naquele horário, qualquer cidadão poderia ser confundido com um membro de outra facção. Não que durante a luz do dia fosse diferente, mas à noite eles usavam essa desculpa para cometer os piores crimes sem serem cobrados.
Entretanto, Metcroy decidiu trabalhar neste cenário.
Na realidade, ele queria testar o poder de Amira Nerai.
Para isso, o Emissário da Força prendeu cerca de quinze traficantes em três minutos, colocando-os em cativeiro enquanto Amira preparava seus rituais.
Eles estavam num comodo fechado e cheio de mofo, o vento entrava pela janela de vidro quebrada no telhado.
— Meus poderes são simples… — Amira disse cortando palha. — Se eu for, espiritualmente, mais forte que meu inimigo, posso matá-lo subitamente com um único encantamento. A palha absorve os encantamentos de forma quase súbita, não entendo o porque, mas há uma certa afinidade com a mana.
Ela caminhou em direção à Metcroy carregando uma faca e uma palha.
— Não preciso necessariamente criar um boneco de palha para matar meus oponentes através do ritual de ressonância espiritual.
— Essa é a sua especialidade? — perguntou Metcroy.
Embora não fosse nada extraordinário, era interessante e, a depender da afinidade espiritual, invencível.
— Sim. Ter uma afinidade espiritual é algo básico para qualquer ser vivo. Existem os anjos, os deuses, demônios… Mas poucos podem de fato usufruir disso. O espirito cujo tenho afinidade é conhecido como Grim Reaper, o Ceifador.
“Um dos subordinados da morte…” ponderou Metcroy, ficando levemente interessado.
— Ao encantar a palha com minha afinidade ao Grim Reaper, sou capaz de invocá-lo ao mundo físico e cada ação refletida na palha se torna um fato quando vinculado a um individuo.
— Você pode vincular a palha a alguém e fazê-lo morrer somente ao… quebrar esse galho?
— Sim — afirmou. — No entanto, caso o oponente seja mais poderoso, assim entrará a maldição de Prometeu.
— Um pacto de troca equivalente. Você dá sua vida para matar alguém mais poderoso, mas volta a vida assim que o sol ilumina seu corpo…
— Correto.
Metcroy caminhou até uma porta de madeira quebrada no fundo do galpão e puxou um dos traficantes, o jogando aos pés de Amira.
— Mostre-me! — O olhar sádico de Metcroy fez Amira obedecer sem ao menos questionar.
Um traço de energia translúcida, emanada do tufo de palha, interagiu com a cabeça do traficante. A luz refletida nos olhos do homem desapareceu.
— Pronto, agora está sob o meu controle.
— Uma ligação espiritual… — murmurou Croy. — Eu poderia realizar essa ligação e você executar o feitiço?
— Sim. Meu pai usava dessa forma antigamente, quando matou o chefe do clã Kov’s.
“Ah… Então foi assim.” Metcroy sorriu.
O líder do clã Nerai era uma farsa; ele não havia lutado com o antigo líder do clã Kov’s, ele usou a própria filha para realizar o ato.
— Execute — ordenou Croy.
Arrancando um único fio de palha, a atmosfera foi cortada onde o traficante estava. Como uma foice de vento cortando o ar, a perna do traficante voo pelo ambiente junto de seu sangue.
O homem agonizou de dor.
Um berro quase estrondante tomou o galpão, esquecendo até mesmo do frio.
“Entendi. Ela realiza uma ação, e conforme seus pensamentos, o Grim Reaper reage à ordem praticando-a no mundo físico. Como não tenho afinidade, não fui capaz de vê-lo. Mas posso sentir sua presença cortando a atmosfera…”
Era como se Metcroy tivesse ciência que a morte estava na frente dele.
— Me ensine como fazer a ligação.
Pelo restante da noite, Metcroy treinou Amira para confiar nele.
Palácio dos Sete Condes
Num saguão apelidado como “O QG da Quinta Legião”, todos os legionários estavam sentados na Grande Mesa. Apelidados por Jeanne como “Retentores”, cujo codinomes espalharam-se rapidamente pelas demais Legiões de Alsu, reuniram-se naquela mesma noite em que uma tragédia acontecia no outro lado do reino.
Theo estava sentado na ponta da mesa, com Serach à sua direita e Bastien à sua esquerda. Para completar o lado direito, estavam Aidna, Sara, Zemynder, Moris e Zypher respectivamente. Ao lado esquerdo, Jack, Jess, Kris, Nihaya e Kale ocupavam os assentos restantes, tendo Javier na outra ponta.
Todos estavam trajados com os novos uniformes das Legiões de Alsuhindr que Jeanne criou: resumidamente, roupas militares pretas com um cinto branco, tendo alguns detalhes que fizessem jus ao codinome de cada legionário.
Eles estavam descontraídos e interagindo entre si, principalmente com os dois subordinados dos Titãs. Javier estava tão distante quanto o outro lado do mundo, enquanto Moris participava da algazarra.
Jack e Selina explicaram tudo sobre as lutas contra o Guardião e o Emissário do Mundo, enquanto Moris detalhou sua luta com o dragão de plasma. Eles não esconderam um detalhe sequer sobre o domínio, pois agora era vital.
Theo detalhou quem era Metcroy, tendo em vista sua experiência com o próprio e o que Nik’Hael contou enquanto “matavam o tempo”. Selina, portanto, descreveu Metzerai para todos os membros.
Eles continuaram debatendo suas experiências até o sino tocar às 27 horas — como de costume nos dois mundos, o sino de todas as Catedrais tocavam a cada 3 horas.
Theo suspirou naquele instante e se ajeitou na cadeira.
— Retentores — disse Theo, chamando todos.
Naquele instante, Theo deixou de agir como o Jovem Mestre Lawrence. Ainda com a ética e empatia de um adolescente, ele adotou a mentalidade e postura do maior general egoriano, tal qual já foi um dia: O número 00 de Egon, O Destroyer, Liam Mason.
— Entramos no nosso último dia no paraíso. Em trinta e três horas iniciaremos nossa jornada pelo inferno, e sairemos somente quando matarmos o rei.
— E nós vamos o matar — respondeu Javier.
Todos permaneceram em silêncio.
— Somente assim voltaremos para casa. Apenas assim veremos nossos anjos. Portanto, não importa a dor que vocês sofram em diante, engulam o choro. Sejam fortes, poderosos… Retenham a si. Quando destruirmos uma estrela que pensa brilhar, poderemos chorar por tudo o que acontecer.
— Mais alguma coisa? — indagou Zemynder, sorrindo pela postura fria do general.
— Descansem o dia inteiro. Farei questão de destruir todos vocês no treinamento — decretou Moris.
Alguns engoliram o medo em seco, mas logo se ajustaram.
O brilho da lua caiu nas costas de Theo, que fechou os olhos e juntou as mãos.
Enquanto a lua tocava suas costas, o sangue banhava as mãos de Nik’Hael numa montanha de gelo. O pequeno anjo havia arrastado corpos no Gume da Esperança, que seria perto da cidade do Xamã Borthrit.
Corpos empalados e o sangue afundando na neve… Foi o suficiente para despertar Hael que, subjugado pela lua, decretou com o próprio medo:
— Eu te caçarei, Theo.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.