Capítulo 156 — Provação do Troll (1)
Theo, Jeanne e Nora caminhavam no leito de um riacho nas planícies de Kiescrone. Ao longe, no leste, estava a barreira natural formada pelas árvores da floresta das ninfas. O nevoeiro era evidente, mesmo naquela distância e ainda eram 5:57 da manhã — o sol estava começando a nascer.
Nora pulava entre as pedras musguentas do riacho, enquanto Jeanne e Theo caminhavam lado a lado no leito.
Desde que saíram do Palácio dos Sete Condes, poucas foram as interações entre eles. Casualmente, apenas Nora e Jeanne conversavam enquanto Theo admirava a paisagem.
Aquele campo era conhecido no mundo inteiro graças a um único homem: Ethan Caesar, o pai de Theo, que realizou seu primeiro grande feito nos territórios de Nethuns: matar o grande leão rei, uma besta que, em mais de meio milênio, ninguém foi capaz de derrotar.
Mas Ethan conseguiu sozinho, e graças a isso se tornou o maior candidato a reivindicar o território de Lawrence.
Theo era apaixonado por essa história que o próprio Duque Lawrence contava, e sonhava em poder visitar aqueles campos um dia. Agora, embora fosse noutro mundo, ele pôde ver o lugar em que seu pai realizou uma de suas maiores lutas.
— Esse lugar é lindo, não é? — disse Jeanne, tentando iniciar uma conversa.
— Sim. Eu facilmente moraria aqui. — Theo respondeu.
Era uma conclusão antiga da deusa, mas que agora foi de fato provada. Theo almejava uma vida simples, embora criado na realeza e sempre buscando reconhecimento. Uma parte dele queria descansar.
Aquele desejo era de Liam e Theo o herdou desde o nascimento. Após uma vida de guerras, já que não obteve o descanso eterno, quis uma vida descansada.
Jeanne abriu a boca para comentar, mas desabou em um sorriso alegre e genuíno.
Posteriormente, a princesa agarrou o braço de Theo e caminhou com ele.
De longe, vendo aquele gesto, Nora comentou em voz alta: — Meu casal.
Eles sorriram.
Portão Ancestral
06:50
Quase uma hora depois eles chegaram ao local que Jeanne queria: uma enorme cratera que dava acesso a uma ruína ancestral, conhecida nos dois mundos por ser uma antiga sociedade desviante, os primeiros a manipular os quatro elementos.
Naquele momento, restavam apenas os esqueletos das construções, erguidas por pedras brancas, e as ruas inundadas por água.
A ruína estava em um enorme buraco no chão, tal qual serviu para deixá-los escondidos por muitos milênios. Quando foram descobertos, a cratera que Theo estava foi aberta devido ao uso avassalador da ciência elemental.
Após o conflito, a maioria das regras que limitam o uso do poder desviante em cidades foram estabelecidas e aceitas mundialmente.
Todavia, aquele lugar tinha um mistério maior para Jeanne.
— Theo, um fato curioso sobre os trolls: eles adoram carvão — disse a deusa Vanir.
— Hum?
Jeanne retirou uma pedra de carvão da bolsa e o jogou na cratera.
— Curiosamente, os povos ancestrais que viviam por aqui tinham ligação com os trolls. Por isso a grande afinidade elemental.
— Nos primórdios, o fogo era chamado de sol — explicou Nora. — A água? De mar. A terra, de natureza. E o vento, de céu. A lua simbolizava a harmonia entre todos os elementos. Então, para cada um, existia uma tribo de Trolls…
Nora passeou para a cratera, confiante que não cairia no buraco. Theo se preparou para ajudá-la caso necessário, mas, de repente, a general começou a flutuar.
— Existe harmonia dentre às estrelas, mas preferiram viver sob o luar. Pois o frio que na pele toca, a pele jamais queimará. A vossa força que aqui evoca, capacidade ao qual emana, mostre-nos o seu dever como o guardião antigo; seus dentes devem ranger e seus punhos esmagar.
Conforme recitava o poema, Nora bailava no ar e os fragmentos da pedra de carvão voavam para cima.
— Se lembra da espada que te prometi? Acho que nada será mais justo do que isso.
Um abalo sísmico estremeceu, trazendo um desconforto iminente. Theo desequilibrou-se por um instante, mas Jeanne o abraçou.
Beijando Theo sem nenhuma hesitação, ela sussurrou: — Agora é sua vez.
Nora saiu da cratera e puxou Theo pelo braço, o jogando bruscamente no buraco. Porém, Theo caiu em uma barreira invisível.
Paredes de ar condensada ergueram-se e impediram que Theo pudesse fugir.
— Não vá abençoá-lo desta vez — disse Nora.
Jeanne sorriu; até parecia que seu braço direito estava com ciumes.
Theo rapidamente se recuperou e analisou o ambiente. Estava se tornando escuro, mesmo com o sol dominando o céu.
A resposta surgiu de maneira gradativa: pilares de pedra se estruturam no limite da cratera, se ligando por arcos ornamentais e um telhado semelhante a uma cúpula.
Partículas de energia se aglomeraram diante de Theo e, antes do próprio corpo se materializar, uma voz emanou daquele espaço:
— Bem-vindo, desafiante de Arcádia.
A voz se espalhou por cada direção.
Em poucos segundos, um cristal arcano formou-se no centro da cratera com linhas de energia formando uma única e densa cortina de mana e o ligando ao chão invisível.
Logo após, essa cortina deu vida à principal criatura daquele cristal.
Ultrapassando os dois metros, estupidamente gigante e robusto. Sua pele parecia um amontoado de pedras e musgos, cheio de rugas e deformações físicas. Resquícios de terra dominavam seus cabelos faciais, com sua própria pele sendo uma armadura.
Theo se arrepiou apenas com o olhar inexpressivo da criatura.
— Um troll… — Ele murmurou.
Com seu espirito competitivo, Nora saltou nas costas de Jeanne e exclamou:
— Hey, príncipe! Mate essa criatura em cinco minutos e eu aceito que a princesa Jane seja tua.
Ainda boquiaberto com o monstro, Theo sorriu escancaradamente e retrucou: — Tá falando do quê? Ela já é minha.
— Ala, todo desaforado. Só por que te beijou uma vez?
— A primeira vez foi melhor — disse Jeanne, sem um pingo de vergonha.
— É…
A ficha da general caiu.
— Teve outro beijo?!
A descontração de Nora fez o medo de Theo desaparecer.
Ele se recompôs e estalou os dedos da mão.
— Mostre que tem força para entrar em Arcádia.
Aquela voz era do próprio cristal arcano.
“Uma consciência superior materializada num cristal? Isso é novo. Mas, criaturas do arcano já se comunicaram comigo antes.”
O troll bateu no peito e berrou para Theo, com um rugido demoníaco.
— Quer começar assim?
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