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    — O homem mais justo, forte, genial e complexo que conheci. A última vez que o vi, foi há dez anos… Quando ele abdicou completamente da patente de Titã e se tornou um Duque. Foi na reunião após o Cataclismo Negro.

    Theo se manteve sereno.

    — Eu ainda estava me consagrando como um agente de grau sete, era um adolescente. Talvez um pouco mais velho que você.

    “Grau sete na adolescência?” Theo ficou assombrado e admirado ao mesmo tempo.

    Os Titãs realmente se tratavam de gênios incomparáveis.

    — Lembro que, mesmo sendo muito forte, o Lorde Javier suava frio apenas com o pensamento de ter o Lorde Ethan por perto. Os únicos que conseguiam tratá-lo como igual eram o Sir Lincoln e seu tio, Elijah.

    — Mas… O tio Elijah não é dessa força…

    — Não. Ele só tinha uma personalidade forte, e o Ethan respeitava por se tratar de seu irmão mais velho.

    Theo olhou para o vento.

    Aquilo não fazia sentido!

    Em todas as reuniões que ele se lembrava, Ethan tratava seu irmão mais velho como alguém repugnante; algo que o próprio Leon, o avô paterno de Theo, reforçava ao tratar seu filho mais velho da mesma forma.

    Mas Elijah sempre foi cínico. Fazia sentido, para Theo, que Ethan o respeitasse, mas também o desprezasse.

    — Ele era foda… Se lembra do dia em que vocês foram para a capital? Há uns seis anos.

    — Hum…

    Moris cruzou os braços em sua nuca e olhou para o céu tempestuoso. As gotas de chuva estavam começando a cair, perdendo a direção antes de tocar no chão — graças ao vento forte — e caindo diagonalmente.

    O Titã prestou atenção nas casas; os rebocos das paredes estavam caindo e expondo os tijolos.

    — Quando você desapareceu, ele ficou tão puto… — Theo arregalou os olhos. — Só os olhos dele estavam intensos como uma estrela, expressão tão turbulenta quanto uma fogueira…

    — Quando eu desapareci? — Theo reforçou.

    Ele ficou tentando se lembrar, mas não conseguiu.

    — Sim. Enquanto o Lorde Ethan estava numa reunião, você fugiu da sua criada e das mãos do seu tio Edward. Eles enlouqueceram procurando você…

    — Onde eu estava? — perguntou curioso.

    Theo navegou por suas memórias, mas não conseguiu lembrar.

    — Você havia saído do condomínio… Estava na floresta, ajudando o filho de um deputado de Zethian que havia se perdido na mata. O próprio Lorde Ethan lhe encontrou, ajudando o garoto a sair de uma gruta.

    O Jovem Mestre ficou incrédulo. Mesmo com as descrições de Moris, aquela memória não se mostrava existente.

    — Acho que eu não deveria contar, mas agora você está crescendo e desejando a força… Então, o Lorde Ethan que se vire depois.

    Moris riu.

    — Ele começou a omitir informações para você, sobre o sistema de poder.

    Theo arregalou os olhos. Suas pupilas dançaram e tornaram-se distantes.

    — O Lorde Ethan temeu que você se tornasse um verdadeiro agente de Vagus, e que se intrometesse nas expedições à Floresta das Ninfas, já que demonstrou interesse quando menor. Por isso ele não lhe informou qual seu núcleo e tipo de energia, pois queria lhe forçar a passar as séries iniciais, intermediárias e avançadas na academia.

    “Ele queria que eu ficasse o máximo de tempo na escola…” ponderou Theo.

    — Por quê?

    — Tá brincando? — O Titã se arrependeu de perguntar.

    Theo estava obviamente nervoso e triste, afinal, Ethan sempre demonstrou confiar nele. Mas, aquela ligação de pai e filho foi… Uma farsa?

    O mundo do rapaz estava aos poucos desmoronando. Seu pai não acreditou no potencial dele? Ele o subestimou?…

    Não.

    — Bom… — Ziziel riu de forma sarcástica, tentando tirar Theo daqueles pensamentos. — Nós sabemos que, se ele não fizesse você passar por todas as provações de Wispells, se eles soubessem que você tem éter e núcleo verde, tu passarias facilmente de ano nos seis primeiros meses. No sétimo mês, seria feito de tutor estagiário em alguma academia menor e enviado para a linha de frente em um ano.

    — Hã?…

    — Foi o que aconteceu com seu pai, com seus mentores e até comigo. É natural nesse sistema.

    Theo sacudiu a cabeça. Suas dúvidas com seu pai estavam ainda maiores, mas, agora ele tinha outra dúvida importante.

    — Como você sabe de mim?!

    A dúvida surgiu quando o Titã citou o núcleo e tipo de energia do rapaz, sendo que ele nunca havia mencionado isso.

    Moris coçou a nuca; ele estava incrédulo com a ignorância de Theo sobre o próprio nome.

    — Filho de Ethan Caesar, membro da classe especial de Wispells, afilhado de Luanne Darkmoon, o herdeiro dos Campbell… Acha que seu nome, entre os Titãs, não é mais rodado que bolsa de garotas de programa? Sabemos de tudo sobre o que você representa, menos de quem você é.

    Theo ficou incrédulo, mas logo cabisbaixo.

    “Eles não se importam com quem somos, apenas com o nosso nome, fama e poder…” Ele pensou em palavras que Edward havia o dito há muito tempo.

    Não importa onde, a humanidade será humanidade.

    — Mas, agora eu sei — disse Moris.

    — Sabe? — Theo levantou suavemente uma sobrancelha enquanto olhava para o chão, voltando a uma expressão melancólica e sombria.

    — Sei. Você não é um menino ou um rapaz… É mais homem do que muitos homens por aí.

    — Tem certeza? — perguntou desabando em um suspiro.

    — Bom, você chora. Isso já é mais do que o suficiente para ser um homem.

    Theo riu, ainda abalado.

    — Eh? Não deveria ser o oposto?…

    — Não. Um homem de verdade não deixa sua humanidade por… algo másculo.

    Tanto o sorriso quanto a expressão caída de Theo desapareceram. Aquela frase mexeu diretamente com sua mentalidade e coração.

    Moris parecia um homem que facilmente seria usado como modelo e inspiração para os jovens que querem se tornar “um alfa”. Ouvir aquela frase saindo de sua boca foi…

    Incrível.

    Mas, quando processou aquilo tudo, ele ficou incomodado por não se lembrar daquela ocasião que Moris comentou, e por seu pai nunca ter confiado de fato nele.

    Ele só parou de refletir sobre, pois percebeu que aquele incômodo estava criando uma tempestade em sua mente. Estava ficando de cabeça cheia, e isso estragaria o restante do dia. Portanto, ele precisava de algo para sair daquela situação.

    Mal sabia Theo, que ele havia amadurecido o suficiente para superar isso em poucos minutos.

    E a culpa foi de uma criança.

    Enquanto jogava futebol na rua, uma criança chutou a bola descuidadamente e acertou as costas do general.

    Theo e Moris se viraram e, ao se mexerem, viram a criança se apavorar por dois motivos: havia chutado um estranho, e por ver que eram duas figuras militares. 

    Com os boatos de que um general iria visitar a região naquele dia, todos estavam com medo de cruzar o caminho do “Novo General Mason”.

    O pai da criança, que estava sentado na calçada, rapidamente se levantou e pôs a mão na cintura, onde guardava notoriamente uma arma de fogo.

    O lado natural de Liam Mason acordou naquele momento.

    “Ele é idiota o suficiente para achar que uma arma de fogo pode matar dois desviantes de nível general?…” Theo refletiu olhando para o pai da criança.

    Um instante depois, ele arregalou os olhos e os fechou junto de um sorriso.

    — Claro que sim… — murmurou sorrindo.

    — Quê? — perguntou Moris.

    Theo recuperou a bola com o pé e olhou para o garoto, que assumia o papel de goleiro. A criança nem podia se mexer, enquanto todos seus amigos já estavam nas portas de casa.

    — Afinal…

    O General da quinta Legião tomou uma certa distância da bola e a chutou, fazendo-a girar num efeito quase sobrenatural em direção ao gol marcado por sandálias.

    Os instintos do garoto despertaram enquanto a bola vinha em sua direção. Ele pensou em pular, pois a trajetória da bola era para fora de seu alcance. Mas, surpreendentemente, o efeito da bola fez com que ela viesse em sua direção.

    O garoto se moveu alguns centímetros para o lado e pegou a bola com as duas mãos. Seu corpo se moveu levemente para trás graças a força do chute.

    Theo fingiu surpresa, apenas para alegrar a criança.

    O garoto estava incrédulo, então explodiu em comemoração.

    Ele havia defendido um chute de um general!

    Moris sorriu ao notar que Theo desviou a bola com o vento, fazendo assim, com que ela caísse nas mãos do garoto.

    — Os pais devem trazer a proteção. — Theo afirmou com um brilho nos olhos.

    Theo coçou a nuca e disse ao garoto: — Poxa… Você é bom, hein?! Defendeu meu chute.

    O pai do garoto sentou-se novamente, agradecendo a Deus pela personalidade do general. Ziziel, por sua vez, olhou para o homem e perguntou: — Pode nos informar com certeza onde fica o galpão do crime de ontem à noite?

    O olhar de todos os moradores adultos rapidamente caíram em lástimas.

    O homem só fez apontar para o final da rua, onde uma sensação deserta arrepiou a espinha de Theo.

    A atmosfera estava cinza, talvez pela tempestade no céu, mas aquela presença da morte combinava com a tragédia da noite anterior.

    Inúmeros corpos foram encontrados naquele galpão, relatados pelos moradores locais. Ao todo, beiravam trinta mortes numa única noite, com cadáveres mutilados e desmembrados de todas as formas possíveis.

    Quando Theo e Moris chegaram ao local, passaram pela faixa de interditado e entraram no galpão para se encontrarem com Aidna.

    O cheiro de sangue e carne, já podre, estava no ar.

    Selina, agachada no chão e com um traje de perícia, olhou para Theo que chegou ao seu lado. Sem dizer uma palavra, Serach ergueu um pano branco que cobria três corpos.

    Theo se assustou com aquele estado.

    Os cadáveres…

    Embora tivessem falecido na noite passada, já não havia nenhum traço de qualquer tipo de energia.

    A pele havia secado e a carne podre se mostrava com bastante destaque nas veias pálidas.

    Mas, aquela sensação… Theo sabia descrever com detalhes o dono da presença que tocou em cada cadáver. Todavia, rangendo os dentes e cerrando os punhos, ele só disse um único nome:

    — Metcroy!

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