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    Theo brisou por um momento. Ele se perdeu olhando para sua protetora, boquiaberto e de olhos estupefatos.

    Jamais, em nenhuma vida, ele pensaria ver Selina questionando sua deusa.

    Abrindo a boca lentamente e suspirando, ele respondeu sem pensar no respeito à Celestial da Lua:

    — Porra nenhuma.

    Selina arregalou os olhos e olhou para seu General. No entanto, este olhava para o nada, ficando de lado à sua tenente.

    — Ela nunca se importou comigo, apenas me disse algumas palavras vazias, intenções secundárias, missões com muitas responsabilidades e expectativas. Mas, sinceramente?…

    Theo acumulou a maior quantidade de ar nos pulmões e segurou por uns segundos antes de soltar bruscamente.

    — Alunne nunca se importou conosco, nenhum deus se importa… Essa afirmação veio das três bocas, nas três faces, de Arcduth… O Arconte da Harmonia disse que, o mundo não se importa conosco, o universo tão pouco com suas estrelas.

    Ele desviou o olhar para o gramado.

    — Portanto, cabe a nós, unicamente a nós, proteger nossos iguais. Para ter o bem, existe tua ausência…

    — E para o mal harmonizar, deve haver o bem… — completou Selina.

    — Para que a paz exista, para que o amor prospere, inicialmente, o ódio deve fazer sua provação; a guerra deve iniciar, permear e ser finalizada. Entretanto… — Theo caminhou em direção a Selina.

    Ela afogou seus olhos com lágrimas, evitando chorar, mas já tinha o feito.

    — A guerra não está no mundo…

    Levantando seu braço, o general tocou a testa de Serach com o indicador direito.

    — E sim em nossa mente. Na verdade, posso parecer hipócrita… Mas, olhando de agora, me lembro da única coisa verdadeira que Alunne me deixou…

    Theo abraçou Selina, pondo a cabeça da tenente em seu peitoral e a consolando.

    — Ninguém neste mundo é tão forte quanto nós; não existem adversários, pois estes teriam que ser equivalentes. Nossos únicos inimigos, entretanto, somos nós.

    Serach cerrou os dentes, forçando-se a não chorar. Ela tentou, refletiu sobre as palavras de Theo e, antes de ficar com raiva por desrespeitar Alunne, sentiu-se aliviada.

    — Eu sou adotada, mas tenho duas irmãs… — Ela disse, retribuindo o abraço de Theo. — Uma é adolescente, mais nova que eu, alguns anos. E tenho outra com oito anos. Eu sempre as protegi, independentemente da ocasião ou de quem fosse. Por isso fui reconhecida pela Lady Luanne e entregue às Sacerdotisas de Alunne…

    Ela não aguentou e, finalmente, desabou nos braços da criança que deveria proteger.

    — Uma das garotas tinha a idade de Nora, a do meio. Eu a interroguei quando acordou, e seus relatos… — Soluçou e fungou, tomando ar, contando sobre os relatos de uma das sobreviventes na noite passada. — Ela disse que a mantiveram acordada enquanto fazia todas as barbaridades, tanto nos outros quanto nela.

    Desta vez, foi Theo quem ficou desesperado e com remorso. Ele já havia presenciado uma cena pior na principal missão da carreira de Liam Mason, a queda da gangue Bluztes.

    — Ela descreveu para mim, cada movimento deles, cada ato e cada corte… O tal do Metcroy que você encontrou, gargalhava despido enquanto ordenava que violassem-os.

    Revisitando as memórias da antiga vida, viu o primeiro amor de Liam num estado deplorável. Coberta pelo próprio sangue, desfigurada e violada de inúmeras formas pelos membros da gangue. 

    Isso, claro, antes de Liam ser o autor da maior carnificina da capital de Egon e ascender como um dos principais soldados de seu esquadrão.

    Porém, foi naquele dia que ele aprendeu: a vingança através da morte, não revive ninguém. Ele tinha aquilo em mente. Matar os Emissários não iria trazer suas vítimas de volta à vida.

    Isso os matava; tanto ele quanto a Selina e todos os outros. Eles poderiam querer derrotar Bvoyna por qualquer motivo, mas, vingança seria o único sem sentido.

    Selina estava indignada por que não conseguia proteger, embora não fosse sua responsabilidade lidar com os eventos em Kiescrone.

    Theo, por outro lado, queria apenas achar um motivo para matar Nik’Hael e Bvoyna, assim como os outros Emissários, mas… Ele não tinha.

    Ele buscou um objetivo, até mentiu para si dizendo que queria voltar para sua família.

    Contudo, ele ainda é Liam Mason. E, assim como o antigo general egoriano em seu auge no campo de batalha contra o Kisshin…

    Theo Augustus De Lawrence desejava, somente e, por um único motivo egoísta e perpétuo, destruir os Emissários.

    — De qualquer forma… Que se foda também — disse em tom frio. — Infelizmente, o que aconteceu já aconteceu, e se for para dar mais errado no futuro, dará. Mas, você não é uma guardiã do mundo, Selie. Você é uma protetora da lua, guardiã de quem ama, não de quem sofre. Não mate tua mente pensando em quem está além de seus braços, apenas proteja quem pode e quer ser protegido.

    Selina soltou-se lentamente do abraço de Theo e o encarou no fundo dos olhos.

    Suas expressões não falharam uma vez sequer: era tudo do mais puro e genuíno pensamento de Theo.

    — Belê?

    Ela assentiu, enxugando as lágrimas e sorrindo.

    — Então, vamos. A semana de treinamento do Lorde Moris vai começar.

    O General voltou a caminhar pelo gramado em direção ao QG da Quinta Legião. Desta vez, abraçando o próprio dorso enquanto caminhava — estava um pouco frio e úmido graças à tempestade que tomou o dia anterior.

    Selina, olhando para o céu, viu a lua no celeste matinal, quase desaparecendo, mas ainda marcando sua presença aos olhos mortais.

    Ela chorou novamente, mas, dessa vez, aliviada.

    — Obrigada, minha deusa. — Ela agradeceu. — E perdão por duvidar, mesmo que momentaneamente, de vossa Divindade Celestial.

    Serach também caminhou rumo ao QG da Quinta Legião.

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