Capítulo 175 — O Portador versus Um Espírito do vento (1)

‘Deuses são cultuados como manifestações da natureza ou Senhores de algo, geralmente definido por profecias antes do nascimento daquele ser.

O vento, no entanto, diverge dos demais elementos; sempre há apenas um deus para representar sua natureza e espíritos que o seguem. Mas o vento abomina qualquer direção.

Sul; quente e majestoso. Leste; tempestuoso e calamitoso. Oeste; suave e reconfortante.

Porém, entre todos eles, há um líder que a brisa gélida envolve o centro do mundo. O mais velho e instável entre os ventos; o Norte.

Este é quem a liberdade tanto segue.

Nolan, ou Boreas, o Senhor do vento norte.

Em uma de suas lendas desconhecidas, Nolan tinha uma ilha flutuante ao norte do mundo, denominada de Zéphir, cuja habitava os espíritos que, quando mortais, pelo vento pereceram.

Entre esses espíritos havia uma besta intimidadora, guardião dos espíritos menores e o primeiro membro da Guarnição dos Portões Principais; Khun, as Presas Celestes.’

Enquanto a pixie narrava o conto de Khun, a Presa Celeste fazia Theo arrepender-se de ter entrado no Horológio de Boreas.

O tigre do vendaval girou agressivamente contra Theo, impedindo o General de esquivar adequadamente pelo vento agitado.

Com a pressão gerada, a visão de Theo desvaneceu momentaneamente conforme era arrastado pela arena escura.

“Droga!” pensou recuperando a consciência.

Forçando os vetores para o lado oposto, o General foi capaz de contrariar e dissipar o vendaval da besta.

Khun avançou rastejando, camuflando-se pelo caminho do vento e confundindo os sentidos da ressonância anemo.

Como um chicote de aço e moldável, a besta balançou a cauda e envolveu o oponente como uma corda, balançando, consecutivamente, Theo por toda extensão do local.

Casualmente, se divertindo com a dor, Khun chocava o General contra o piso e as paredes do local.

Quase desmaiando pela força dos impactos recorrentes, Theo agiu instintivamente através da ressonância.

Inflando o ar entre seu corpo e a cauda de Khun, conjurou uma pequena explosão de vento que afastou a besta.

O tigre guardião relaxou e analisou seu oponente.

— Uau… — Theo murmurou descrente.

A forma como Khun utilizava as pausas no combate surpreendeu o General.

Naturalmente, Theo tomava distância para encontrar aberturas e recompor o fôlego, deixando sua energia recuperar-se sozinha.

Porém, enquanto analisava a postura de combate do General, a Presa Celeste aumentava sua energia praticando técnicas de elevação à medida que multiplicava suas reservas de energia.

“Por que eu nunca pensei nessa alternativa? Mas, primeiramente… Como ele está multiplicando a energia no corpo dele?”  analisou tentando replicar a técnica de elevação de energia.

Entretanto, Khun interveio antes que Theo recuperasse as forças.

Com uma investida de cabeça, a besta lançou o General contra a parede.

Cruzando os punhos para evitar receber o dano completo, Theo usou as pernas para se apoiar na parede enquanto bloqueava a investida de Khun.

Empurrando o corpo contra o guardião de Boreas, ele achou espaço para utilizar um Túnel Vetorial e fugir da pressão bestial.

Conjurando uma espada de pura energia para se equilibrar no ar, Theo usou o conhecimento de Shaytan Al-Riyah para comprimir o ar em inúmeras lâminas indivisíveis que rasgaram o ambiente como se fosse papel.

Recuando novamente, Theo massageou os antebraços e refletiu.

“Meu Túnel Vetorial está bastante completo e diferente de quando enfrentei Islan e Rod…” 

Quando começou a desenvolver a nova técnica, Theo ainda tinha que percorrer a distância entre ele e o alvo, porém, dando pequenos saltos pelo espaço.

Isso tornava a técnica previsível, afinal ele só podia saltar alguns metros e teria que utilizar o túnel novamente. É como se não conseguisse manter um túnel por mais de dois metros; por isso, assim que um dos túneis se fechava, ele tinha que abrir outro.

Este é o motivo pelo qual o Túnel Vetorial esgotou tanto as reservas de Theo; era desgastante ativar uma única técnica tantas vezes.

Mas, graças a essa falha, ele foi gradualmente aprimorando a técnica enquanto lutava contra Metgeray. E, após perseguir os Elohistas, o General aprimorou ainda mais sua técnica para que pudesse percorrer longas distâncias e sacrificar pouco éter.

Embora o aprimoramento tenha sido o bastante para sair de saltos pequenos para saltos a longa distância, ainda existia uma falha que o General seria incapaz de superar com facilidade.

“Vetores…” pensou, usando mais um túnel vetorial para atacar Khun. “São uma linha reta!”

E…

Ataques em linha reta são absurdamente previsíveis.

Ainda que atacasse o tigre do vendaval por cima, Theo foi facilmente neutralizado pela besta.

“Odeio repetir feitiços, mas…”

Puxando uma linha de energia da ressonância em seu braço, Theo tomou distância e respirou fundo.

— Ártemis…

Chamas cobriram o atributo vento.

— Sagitta Lunae divinae, Ember.

O calor tomou posse da umidade na arena.

Qualquer movimento brusco que Khun criasse no ar foi ligeiramente sobrescrito pela ausência de movimento; a aplicação do elemento fogo fora tão absurda que queimou a própria atmosfera.

— Divergente das oito lâminas… — conjurou logo após a flecha de Ártemis. — Gênio imortal; Incinerate!

Oito espadas de ar condensadas surgiram acima de Khun e, num segundo, foram tomadas por fogo.

No mesmo instante que a flecha de Ártemis chocou-se com o guardião do vento, as lâminas despencaram sedentas por sangue.

O vento se aglomerou em um tornado para abafar o encontro dos feitiços.

Porém…

A colisão resultou em enormes explosões por toda extensão do andar.

Theo recuou o pé direito para trás e manteve-se atento a qualquer movimento.

[A emissão é uma classificação básica de conjuração para feitiços de ataque. Resume-se a manipular vértices e arestas para criar figuras geométricas de energia no ar: arestas são responsáveis por ligar e partilhar a energia de um vértice — ponto massivo de energia — ao outro. Assim, quando unidos e formados uma figura, a depender do nível de conjuração e quantidade de vértices invocados, o potencial de ataque pode ser multiplicado por ele mesmo.]

Uma das anotações de Javier invadiu a mente de Theo.

— Emissão, número quatro…

Enquanto preparava o feitiço, Theo foi surpreendentemente interrompido por Khun; a besta surgiu ao lado das explosões, ignorando os danos causados e desaparecendo com o vento.

— Emitir!

Quatro feixes de energia foram disparados dos vértices conjurados por Theo.

Todavia, Khun desviou facilmente da emissão de energia.

E, com uma mordida…

O guardião cravou suas presas na carne portador do vento.