Capítulo 176 — O Portador versus Um Espírito do vento (2)
Lentamente, os dentes do tigre guardião afundaram na carne do General, ignorando absolutamente a pele reforçada por éter.
Os nervos e artérias do braço de Theo foram naturalmente rompidos; os tendões do bíceps, assim como ambas as cabeças do músculo, foram brutalmente rasgados.
Um grito excruciante rasgou a garganta do jovem general.
Suas veias quiseram saltar pela garganta, mas foram travadas pelo sufoco agoniante do desespero.
Khun continuou dilacerando o braço de Theo com as presas, enquanto o general rebatia a criatura pelo chão e paredes tentando fazê-lo soltar.
Lágrimas submersas de dor desceram pelo rosto sujo e delicado do Jovem Mestre Lawrence.
O sangue se concentrou na cicatriz do cutelo de Metgeray.
Quando as veias de chakra foram atingidas, ele perdeu o movimento completo da parte superior direita do corpo.
Theo caiu sentado, escorado na parede da torre, enquanto Khun continuava mastigando o braço direito suspenso nos tijolos.
Ele ficou conscientemente desfalecido.
O sangue jorrou pelo rosto e cabelos loiros.
Mas, mesmo diante daquela dor extrema…
O brilho de seus olhos não se apagaram.
Na realidade, nem diante da morte aqueles olhos cor de âmbar ousariam apagar.
Khun bramiu ferozmente.
Soltando temporariamente o braço do general, a besta deixou o corpo do rapaz despencar contra o chão somente para atacar o antebraço de Theo e segurá-lo na parede novamente.
— Retentor da inexistência…
A voz de Bastien afundou a mente do General.
O vazio do espaço, portanto, alagou o cenário diante os olhos de Theo.
As estrelas brilharam no espaço, o lugar onde o vento não existe.
Com nenhuma força gravitacional para limitar os movimentos mortais, Theo vagou ao lado de Arcduth.
O Arconte da harmonia tinha um halo, perfeitamente circular, levitando nas costas; correntes despencaram e levitam pelo vácuo.
Em uma das correntes, a cabeça robótica, a terceira face de Arcduth, analisava o caos: semelhante a um elmo fino e delicado, gradiente entre o vermelho, violeta e preto de olhos brancos.
O corpo do Arconte era composto por uma armadura única e divina, coberto por um metal de tom azul e roxo que se mesclavam perfeitamente.
Na mão direita ele carregava sua segunda face a partir de uma liga de aço, uma estrutura de aço formada por anéis perfeitos, retentores de duas singularidades no centro, aos quais representavam a face cuja acompanha o bem e mal.
Por fim, jazia a face da harmonia.
O equilíbrio do universo.
A gnose de Arcduth; a fonte de todo o conhecimento e força dos mais próximos do Criador, iluminava os olhos vazios, no elmo dourado de três fases, do Arconte da Harmonia.
‘Estas estrelas, tanto valem para o universo, mas são ignoradas pelos mortais…’ disse Arcduth, flutuando por uma base invisível de energia.
O Arconte olhou para rumos jamais concebidos aos homens.
‘Você é, de alguma forma, semelhante a estas estrelas. Todos os seres vivos nasceram da mesma essência que o Criador utilizou para trazer a vida como conhecemos.’
Theo olhou diretamente para as estrelas, admirado com o éter que elas esbanjavam naturalmente.
Ele sabia o que Arcduth estava falando.
As estrelas tinham vida; afinal, foram elas os primeiros seres celestiais. As primeiras formas de deuses e anjos: a luz que trouxe o fim do vazio e do Caos.
‘O homem ao qual você tenta seguir o legado também foi dessa forma. Lumen, o Senhor da Luz e da Esperança, tinha um brilho invejável nos olhos; sua alma, portanto, era a estrela mais intensa.’
O vazio se apossou do universo.
Não havia um ponto de luz na infinita imensidão.
‘Entretanto… Assim como as estrelas um dia há de se apagarem, o brilho de Lumen também cessou.’
Antes que as pálpebras de Theo se encontrassem, um disco de acreção tomou seus pés.
A luz distorcia diante seus olhos.
Porém, assim que se mesclava com o breu absoluto à frente, tudo o que existe no universo deixava de existir.
— O quê… É isso?
Era belo; assim como assustador, infinito e perfeito.
O verdadeiro monstro mais poderoso do universo.
‘Em alguns séculos no futuro, Araav disse que os humanos de Midgard o chamarão de Buraco Negro.’
A singularidade distorce o espaço-tempo, corroendo totalmente a percepção temporal do general.
‘Este foi o primeiro do universo… Nasceu após a morte de uma estrela; a primeira a morrer. Assim como você, que ganhou outra vida, as estrelas perdem o brilho e se transformam nisso. A criação mais absoluta do universo.’
Theo sentiu-se sendo puxado pelo buraco negro, mas, por pura vontade, Arcduth impedia que acontecesse.
‘Assim como essa estrela ancestral, Lumen encontrou a morte e o fim do brilho de sua alma. Ao contrário de você, no entanto. Antes, teve uma vida miserável consumida pelo desejo da destruição e que, agora, tem uma vida de brilho.’
Uma aura única e benevolente envolveu Theo.
Ele engoliu em seco por consequência das palavras do Arconte.
‘Essa é a sua mais pura harmonia.’
A camada dourada e harmônica da aura de Arcduth cobriu o horizonte, tomando o vazio pela presença celestial e primordial do anjo.
‘Lumen gostava de dizer uma certa frase para os anjos em treinamento no exército… Principalmente para os mortais.’
Khun, o guardião do vento, continuava tentando arrancar o braço direito do General Mason.
O braço de Theo estava completamente ensanguentado, enquanto o tigre tentava quebrar os ossos do jovem.
— Não desistam! — exclamou Lumen, frente ao exército celestial no antigo Ragnarok.
Em pé acima de uma pedra, os cabelos loiros voaram com o vento para o norte. Seus olhos claros e dourados, com as pupilas totalmente brancas, observaram seus soldados: o sol observando a lua… Que refletia seu brilho.
— Essa é a única forma de vencer. Enquanto o coração de vocês baterem, continuem avançando! Não importa se estão apanhando, sofrendo dores insuportáveis, sendo torturados ou cansados após dias de perseguição. Se desejas viver, vencer… Vocês devem se mover! São mais fracos que o inimigo? Tão pouco importa. A determinação de querer viver é o único caminho da vitória. Afinal…
Força significa sobrevivência.
Lumen tinha certeza que se tratava disso.
Criança de ouro…
Assim foi chamado Theo Augustus de Lawrence.
Portador do vento.
Mas o que tanto ele fez para o vento aceitá-lo como seu mestre?
Avance…
Ele desejava, mas não tinha força.
Avance.
Theo desejava apenas isso.
Além da evolução, o General buscava a força para sobreviver.
Afinal…
Ser forte significa sobreviver.
Theo escorou a mão esquerda na parede e, pouco a pouco, apoiou o corpo inteiro e se arrastou pelos tijolos escuros.
Khun desejava somente arrancar o osso de Theo pois, os esqueletos da família Caesar, num mundo espiritual, possui um poder sobrenatural.
Por outro lado… Eles eram inquebráveis, a menos que fosse um espírito guardião que beirasse o absurdo.
— É duro, não é? Besta!
A voz de Theo ecoou rasgando de dor.
Avance.
Theo se virou abruptamente e agarrou o crânio de Khun, pressionando a criatura contra a parede.
Ele já não sentia o braço direito, além de uma dor no ombro proveniente do desconforto da posição, mas, sua sede por derrotar Khun ignorava as dores.
Resista.
O General agarrou brutalmente a nuca do guardião e aplicou força contra a parede.
Concentrando toda energia na ressonância elementar, conjurou massa nas propriedades elementares.
Avance.
Rasgando a garganta com um berro ensurdecedor, a energia de Theo foi gradualmente e, inconscientemente, para a testa.
Os choques de vento e energia expandiram por toda a arena.
Brilhando intensamente com o próprio éter, os olhos cor de âmbar do General distorceram-se pelo poder emanado.
Theo tinha acesso aos oito canais principais de chakra, isso era um fato. Porém, mesmo as pessoas que tinham esse benefício inato, precisavam liberar de alguma forma.
Uma tensão e estresse constante, aplicados pela energia, é a chave para abrir os oito núcleos…
Avance.
Retentor da inexistência…
A energia concentrada na testa de Theo implodiu.
Traços de éter, banhados por uma cor dourada exclusiva do General, moldaram-se como um círculo de chamas douradas.
O chakra coronário havia sido aberto.
E com ele veio a verdadeira essência espiritual de Theo.
Uma coroa de éter, moldável pelo vento e instável como o fogo, trouxe-lhe o triunfo.
Avance…
Procure a vitória…
— Emissão; número sessenta e quatro!
Um disparo de energia dezesseis vezes mais forte que o potencial padrão de Theo foi emitido e atravessou a cabeça da Presa Celestial.
A parede do Horológio de Boreas foi aberta pelo ataque.
Os tijolos voaram pela ala norte da torre.
Graças ao peso, Khun caiu sem vida pela estrutura conforme Theo, desfalecido pelo surto de dores, acompanhava o rumo gravitacional.
Caindo de costas para o chão, o corpo do General acompanhou o vento balançar seus cabelos.
A coroa de éter foi desfeita em partículas menores, deixando um único e alinhado rastro dourado pelo céu.
Por fim, Theo caiu do quinto andar da torre; com seu braço completamente dilacerado, despencou deitado no campo de trigo que abordava o horizonte.
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