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    Região Sul de Gran-Empire, Reino Nearhart.

    O subúrbio do mundo. A região onde toda criminalidade do continente está concentrada; o ponto final para os desavisados.

    Um local tomado pela anarquia e, simultaneamente, hierárquico.

    Onde o cenário é tomado por barro e a sensação de poeira é presente na maioria do tempo.

    Era comum dizer que o sangue voava com grande constância.

    E, diferente das outras regiões, onde é proibido o uso da magia, feixes de energia comumente se estrondam nas grandes vielas.

    Casas de tijolos de barro são um mundo de papel para desviantes acima da média.

    Assim como a maior rota de tráfico humano, principalmente a nobreza, também é a região onde as sedes de todas as máfias do mundo estão escondidas.

    Pela infância, aos oito anos, Sara foi submetida a essa maldade sobrenatural.

    Por ser filha de uma linhagem nobre apagada, seu tratamento não foi diferente de um plebeu aos olhos da realeza. A casa da família Bonecrown, família nobre do norte de Gran-Empire, foi incendiada por uma gangue do reino Nearhart e teve suas herdeiras sequestradas pelos bandidos.

    Sara forçou-se a se acostumar com os berros de suas irmãs mais velhas que eram violentadas todas as noites de viagem até a região sul.

    A memória apagada de uma criança com oito anos só possui pequenos flashes daquelas noites.

    Principalmente da noite em que sua irmã mais velha, Radna, tirou a própria vida após ser usada por mais de quinze homens.

    — Radna! — gritou com as forças, rasgando a garganta.

    Tamires, irmã gêmea de Radna, chacoalhava o corpo da falecida irmã.

    Sara estava paralisada ao longe, vendo o pescoço da irmã auto mutilado.

    A viela, na entrada de uma taberna, estava escura e tomada pela poeira dos tijolos. Alguns cidadães estavam desesperados com o suicídio repentino da garota e corriam por ajuda.

    A visão da garota embaçava gradualmente.

    — Desgraçados!

    — Hm… Elas perderam o valor agora — disse um bandido de braços cruzados atrás de Sara — A mais velha era a melhor para passar tempo. Essa criança seria nojento, e a outra gêmea… Mal tem corpo.

    “Como assim?” Sara não entendia as segundas intenções dos homens.

    Só entendia que sua irmã estava morta.

    — Filhos da puta! — Tamires berrava aos prantos, segurando sua irmã.

    Um dos bandidos esbarrou em Sara e andou rumo a Tamires.

    — Seguinte; se tu não gosta de osso, deixe para os cães, chefe.

    Mais quatro homens o seguiu.

    “Por que ninguém ajuda?”

    As pessoas buscavam ajudar, mas ninguém ajudava diretamente.

    — Tamires… — murmurou Sara.

    A mão pesada do chefe caiu sob sua cabeça.

    — Vamos sair, garota? Compro um sorvete para você.

    O peso daquela mão… A energia que emanava…

    A sensação do toque…

    Aquele homem foi o primeiro demônio que Sara encontrou.

    Um verdeiro demônio, um fugitivo do inferno apossado de um corpo humano.

    Ela viu os cinco homens caminharem para Tamires.

    — Tamires…

    — Smalgör? O que está fazendo longe da capital de Nearhart?

    Atrás de Tamires, uma mulher gótica surgiu deixando a cintura jogada para o lado.

    — Duquesa Vandestr? — respondeu o chefe; Smalgör.

    O motivo pelo qual a região sul é tão perigosa é que…

    Cada principado, província e reino daquela região…

    Foi dominada por demônios.

    — Esperem — ordenou Smalgör. — Pensei que estaria na capital, esperando a ascensão.

    — Pensei o mesmo. O que está fazendo aqui? Ficou enganchado com essas escravas?

    — Uma delas se matou depois de vinte e seis noites, a outra está fazendo escândalo.

    — Lamento… — disse Vandestr, olhando para o cadáver de Radna. — Ela era bela… Essa outra é similar. Hey, Smal…

    — Hum? O que tu quer?

    Vandestr levantou um frasco contendo um líquido vermelho, quase negro. Havia um sigilo na tampa.

    — Não quer me vender essas duas e dar-me a criança como brinde? Preciso de receptáculos para meus filhos.

    Smalgör franziu a sobrancelha.

    — Vai reanimar? Só deixo se for a sua mais velha…

    — Não fode. Ela não vai transar com você, seu porco seboso — retrucou a duquesa de Ladbhart.

    O demônio líder dos bandidos despencou em desdém.

    — Irmã… — resmungou Sara.

    — Hey, hey… Os ossos dela estão… — notou Vandestr.

    Os ossos de Sara e Tamires emitiram runas por dentro da pele, rabiscando o motivo do nome de sua linhagem.

    A testa de Tamires rasgou-se por duas pontas do próprio crânio; brevemente, dois chifres de ossos rodearam a cabeça da garota formando uma coroa óssea encantada por runas douradas.

    — Bonecrown… — Vandestr agiu emocionadamente, buscando agarrar a coroa de Tamires antes que estive completa.

    Entretanto, sua mão foi brutalmente arrancada com um corte limpo.

    “Uma técnica demoníaca envolvida por energia humana?” pensou sentindo o sangue ser bloqueado no local do corte.

    Criando uma lâmina de energia, Vandestr amputou o próprio braço até o cotovelo.

    Uma subordinada da duquesa demônio estancou o sangue imediatamente.

    — É… O sangue demoníaco flui nesses corpos imundos. Autodefesa? Nada mal…

    — Que furdunço. O cheiro dos porcos demoníacos está impregnado no ar — disse Grekoriye, um homem que havia acabado de sair da taberna.

    Suas vestimentas negras carregavam uma única cruz azul no centro, junto de um emblema em forma de V no ombro.

    Grekoriye ajustou uma luva em suas mãos.

    — Jess, Tremond? Encontramos alguns ratos.

    Tomando a frente de Sara, Smalgör perguntou: — Quem é este?

    Vandestr forçou o estancamento.

    — Grekoriye Van Baz, um exorcista servente da Ordem de Vagus. Ele está matando muitos fiéis de nós, estou aqui por você.

    — Jess, a criança — ordenou Grekoriye — A linhagem Bonecrown vale mais para nós humanos do que para vocês, disso eu tenho certeza.

    Uma mão de energia carmesim surgiu ao lado de Smalgör, empunhando uma espada de mana e cortando o demônio consecutivamente.

    Uma garota ruiva surgiu ao lado de Sara, empunhando uma rapieira comum.

    Jess posicionou-se cobrindo Sara.

    Sorrateiramente, surgindo pelas costas de Jess, o agente de Vagus, Tremond Byuten, carregou uma caçadeira de mão em cada punho, e disparou diretamente na cabeça dos guardas de Smalgör.

    Ao todo, ele aniquilou sete demônios com 100% de aproveitamento nos disparos.

    Smalgör, todavia, recuperou-se dos cortes de Jess e avançou contra as duas garotas. Mas, antes de poder alcançá-las, Tremond disparou e explodiu a mão do hospedeiro.

    O último disparo trouxe Sara de volta para a realidade.

    Ela estava completamente exausta após concluir o treinamento do fundamento de controle.

    Aquela memória não atordoava a garota há anos, mas de repente voltou após uma lição de moral que Moris a deu.

    Olha, sei que você é um gênio — disse o Titã, seguindo Sara pelo corredor até a câmara de treinamento do segundo fundamento. — Mas, veja o Jovem Mestre; ele é um gênio nato, mas nunca deixou isso ser o suficiente.

    Sara ficou cabisbaixa.

    — Nunca está satisfeito, sempre avança… Ele se esforça, se machuca, coloca a genialidade inata, seus dons, em provação. Enquanto isso… O que você está fazendo com seus dons, Sara?

    O orgulho da garota foi alfinetado.

    Ela se lembrou do que aconteceu após aquele disparo, ao mesmo instante que pensava nas palavras de Moris.

    Vandestr, desesperado após perceber que morreria para Grekoriye, agarrou a coroa de ossos de Tamires. Despejando o líquido do frasco no cadáver da irmã mais velha, a duquesa de Labhart beijou Tamires na boca.

    Uma aura negra transferiu-se para Tamires conforme uma névoa densa tomava a viela.

    — Jess, leve a garota! — ordenou Grekoriye.

    A névoa fora expelida rapidamente por um movimento de Vandestr, que agora possuiu o corpo de Tamires.

    O vento forte bateu e fez o vestido velho e bege da garota voar, junto de seus cabelos loiros se entrelaçando à coroa de ossos.

    — Irmã… — murmurou Sara, sendo arrastada por Jess.

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