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    ‘Você precisa sobreviver apenas a mais uma dessas ondas’ anunciou Shaytan, assistindo Theo de longe: este, portanto, estava completamente exausto.

    — Porra… Quinze vezes. Estou lutando com ele há uma semana, sem parar! Duas vezes por dia!

    ‘Essa é a terceira de hoje. Mas será a última. Apenas coloque tudo o que treinou e aprendeu comigo em prática.’

    “Como se eu já não estivesse fazendo, djinn filho da…”

    Theo cessou seus pensamentos conturbados para recuperar o fôlego. Elevando gradualmente a energia no núcleo, uma aura incolor consumiu seu corpo.

    [Dynamis: Aurora da Consagração]

    Uma fina linha de éter surgiu no centro da testa de Theo, criando um brilho como o de uma estrela distante no céu noturno. Gradualmente, divergiu em rastros de energia até formar uma coroa de éter maleável, se comportando como chamas douradas.

    Seus olhos cansados vibraram com uma cor dourada etérea; os cabelos de Theo se arrepiaram.

    Ele suspirou, o ar ardente escapando pelo nariz.

    Posteriormente, a aura translúcida cessou rapidamente, revigorando o cansaço de Theo. Estalando o pescoço, forçou o éter a se concentrar na mão esquerda, onde a Ressonância Elemental brilhou no verde mais intenso.

    — Vamos lá, Ark. Me favoreça nessa partida… — comentou Theo, com uma névoa consumindo sua mão direita; quase como uma nuvem.

    Rapidamente, a névoa atribuiu-se uma forma rígida, tomando uma presença à parte do próprio usuário; uma lâmina curva, de cabo verde-esmeralda e lâmina branca, tendo listras escuras com as de um tigre.

    A runa que deveria cobrir o polegar esquerdo de Theo se apagou.

    Um rugido explodiu no nono andar. Poeira levantou, contorcendo a forma desregular da Aurora da Consagração.

    Antes que a poeira abaixasse, Theo se moveu ligeiramente para a esquerda. Usando um Túnel Vetorial para cima, ele enxergou o andar inteiro com facilidade.

    Com um sacudir brusco, a poeira foi reduzida a uma brisa turva. Num brilho azul espalhado pelo ambiente, um enorme urso de pele branca surgiu; suas garras rasgaram o vento junto do rugido incomum, alterando os sentidos de Theo por um instante.

    Mas, o próprio general tinha noção disso.

    Girando em torno do próprio torso, criou cortes específicos no ar que despencaram como uma chuva de lâminas visíveis.

    Juntando os braços, Ark-han travou os cortes com suas garras e os quebrou como vidro. Enquanto entretido com os cortes de energia, o Urso do Portão Norte não conseguiu contar o passo abrupto do general.

    Usando um Túnel Vetorial, saiu do topo para alcançar a firmeza do chão; deixando um rastro de névoa como uma pequena torre.

    A lâmina já não existia mais; Theo carregava somente o cabo na mão deixando uma nuvem desregular pelo caminho.

    Aproximando-se do urso, passou o cabo próximo ao braço de Ark-han, traçando a nuvem pelo percurso; porém, a criatura desviou.

    Atraindo a nevoa para o cabo, instantaneamente a lâmina voltou ao formato curvado.

    “Droga!” pensando que poderia se livrar facilmente das garras de Ark-han daquela forma.

    Notando o general Mason abaixo de si, o urso guardião retaliou as garras e entrelaçou os dedos, formando um punho com as duas mãos.

    Aquela força era o suficiente para esmagar Theo com facilidade; todavia, o tempo não permitiria…

    A Aurora da Consagração, embora aprimorasse os sentidos e atributos de conjuração de Theo, não se limitava apenas a isso… Ela era a personificação do que os homens não conseguem respeitar.

    Se, para um anjo que vê o futuro, o tempo se manifesta de uma forma tão atemporal, para Theo, um jovem que vê o mundo de uma forma literal, o tempo esbanja de tua maior lei…

    A relatividade.

    Theo notou, quando estava com Arcudth, que aquele imenso buraco negro não consumia apenas o espaço, a luz, a matéria… Ele fazia o tempo ser apenas uma pequena fração do que o universo representava; todas as leis, verdades, incertezas…

    Toda a física estava sendo quebrada diante os olhos daquele que a tratava como absoluta.

    A temporalidade de Theo era ver o mundo com os próprios olhos.

    Uma visão relativa, que não depende de alguém externo para funcionar. Portanto, pelo menos para os olhos de Theo, o tempo parava; e ele era o único a se mover naquele período.

    No entanto, como alguém que não conseguia entender a simplicidade do próprio poder, Theo não podia se mover completamente naquele estado. Poderia apenas visualizar todos os detalhes e se mexer poucas vezes até perder a concentração.

    Focando apenas na cabeça de Ark-han, Theo utilizou um Túnel Vetorial enquanto o tempo ainda estava parado para si. Do alto, ele projetou uma série de ataques que poderiam funcionar.

    O tempo retornou.

    Projetando diversos túneis vetoriais ao redor do corpo de Ark-han, Theo espalhou novamente sua nuvem irregular pelo corpo do adversário. Surpreendendo a criatura, o General Mason atribuiu novamente a forma rígida à nuvem, criando um chicote afiado que agarrou Ark-han.

    Puxando o cabo com bravura, Theo acorrentou a criatura; no instante de contato, a Presa Celestial de Khun espremeu o corpo de Ark-han como uma corrente. Aplicando força e pressão…

    Até que, num movimento ainda mais bruto…

    O corpo da criatura explodiu numa mistura de névoa e mana.

    Theo puxou o chicote de nuvem para si, fazendo a névoa contornar sua pernas e envolver lentamente seu corpo.

    Flutuando pouco atrás do general, um cristal de energia levitou até quase cair no chão; foi quando Theo o puxou com o vento até a palma da mão. Sem analisar demasiadamente o cristal quase perfeito, ele o quebrou e consumiu a energia que transbordou.

    Finalmente, a série de quinze confrontos com Ark-han havia acabado — e aquela luta foi a terceira que Theo não se machucou.

    ‘Parabéns! Era isso que queria ouvir?’ indagou al-Riyah Shaytan, batendo palmas de uma forma irônica.

    A energia anemia de Ark-han envolvia Theo enquanto seu corpo era consumido pela névoa; gradualmente, se concentrando no cabo e formando novamente a lâmina curva.

    — Finalmente acabou…

    ‘É. Pode dissolver a Aurora e a Presa. Não irá lutar no próximo andar’ afirmou o djinn, deixando Theo confuso.

    Até o momento, Theo havia lutado em todos os andares, ficando um tempo exaustivo no nono andar — já que o cristal arcano que invocava Ark-han só juntava energia o bastante, para criar um receptáculo ao espírito do urso, duas vezes por dia.

    ‘Bom… Você verá. Veja bem, aquele pixie não está mais por aqui.’

    Theo tinha notado isso há alguns dias, mas o Pixie não estava o acompanhando tão regularmente como antes.

    Quando Theo absorveu totalmente a energia, o sinal de que Ark-han havia sido definitivamente derrotado foi enviado para o Horologio de Boreas. A estrutura, então, estremeceu com a conjuração de uma escada exótica; não surgia do nono andar, mas de uma porta que ligava à área externa da torre.

    Juntando-se ao cenário e acompanhando a mudança, Theo chegou até a tal porta, aonde viu uma escadaria branca contornar a torre por fora e acessar o primeiro andar.

    “Já estou bem alto…” pensou, olhando para o campo de trigo logo abaixo.

    A brisa fria bateu em sua pele.

    ‘Ainda assim, é apenas dez por cento de todas as suas aprovações…’

    Shaytan al-Riyah flutuou para fora da torre, olhando para as nuvens de braços cruzados. Ele estava com uma dúvida incessante na cabeça, mas, antes de esbanjar o pensamento inquietante, o djinn foi surpreendido.

    Uma pedra caiu do décimo andar, trazendo um pequeno rastro de poeira e pedras minúsculas.

    De repente, outro tremor balançou o Horologio de Boreas. Theo apoiou-se num corrimão transparente, quase caindo da escada.

    A parede se rachou, mais pedras caíram. Poeira desceu como uma cachoeira, cobrindo Theo, olhando para baixo evitando cair nos olhos.

    Trovões rasgaram o céu; o vento, todavia, estava mais forte.

    Uma tempestade tomou as nuvens do paraíso imperfeito, fazendo grãos de trigo voarem para longe.

    ‘Suba…’ ordenou al-Riyah, fascinado com o topo.

    Ainda com os tremores, o general se apoiou no corrimão e subiu os degraus com cautela, tomando cuidado para não cair.

    Mantendo a calma e pisando degrau após degrau vagarosamente, ele criou coragem para olhar para cima…

    Pedras flutuavam; correntes de ar mantinham-nas suspensas, envolvidas por grãos de pedregulhos.

    Chegando ao décima andar, Theo entendeu todo aquele transtorno.

    O décimo andar quase não possuía paredes; pois elas haviam caído ou flutuavam pelas correntes de ar. O décimo primeiro andar era sustentado por quatro pilares, posicionados perfeitamente nas pontas de uma rosa-dos-ventos desenhada no chão.

    Aquela atmosfera mudou a visão de Theo sobre a torre. Esperava um desafio maior que Khun, mas, aparentemente Ark-han já tinha tomado esse lugar.

    De fato, não havia nenhum espírito do vento naquele enorme andar vazio.

    Theo caminhou pela rosa-dos-ventos, absorvendo a transformação, mas tenso e em alerta.

    Ao pisar no centro da rosa-dos-ventos, seu passo ecoou pelo céu, quase como um rugido alado. Virou-se para o pilar do norte.

    Traços de eletricidade evocaram o chão como uma corrente elétrica. Mantendo-se atento, mas admirado, escolheu assistir ao show de raios e ventos que rapidamente tomaram o céu.

    As nuvens carregadas foram rasgadas por clarões…

    Cada trovão era como um grito de continência que rasgava o mundo espiritual do general.

    Então, um raio caiu frente ao pilar do norte.

    Theo fechou os olhos, graças ao clarão emanado. Voltando a visão para aquela direção, lidou com algo fantasioso demais — até para si.

    — Um… Vetmirion… — murmurou estupefato.

    De pé, quase tão alto quanto a distância do chão e o teto, uma enorme armadura prateada, com poucos tons de verde, se mostrou observadora. Os olhos claros, quase vazios, tomados por uma anomalia atmosférica admiraram Theo.

    A armadura consciente, protetor das fadas e da sala de Boreas na antiga Zéphir, deu passos em direção a Theo, ajoelhando-se pouco antes de alcançar o general.

    Pôs a mão esquerda no joelho e olhou para seu desafiante — que, naquela altura, já havia se provado o bastante.

    Os raios rasgaram o céu novamente.

    Theo teve medo, mas aproximou a palma esquerda ao elmo da armadura. Havia um símbolo, uma runa, como uma lança surgindo da coluna e parando logo no centro do crânio.

    Subitamente, uma onda de energia altamente carregada com atributo do elemento vento correu pelas brechas da armadura. Os olhos de Theo arderam em resposta ao vento.

    Relâmpagos iluminaram as nuvens carregadas, ficando lentamente limpas.

    Quando Theo se sentiu confortável… Sua ressonância o atacou; consumindo a runa no elmo daquela armadura, a ressonância elemental deu um leve furo na palma esquerda.

    Ainda assim, a sensação era de estar sendo eletrocutado — então, não poderia se mover.

    Theo rangeu os dentes, sem poder se defender.

    Era como uma algema de energia o prendendo naquela situação.

    Segundos depois, quando manteve o controle da mente e se acalmou, Theo foi surpreendido por uma dor agressiva — ainda mais forte de quando absorveu a runa de Khun.

    Foi quando uma lança de vento rasgou sua mão, seu sangue voando para o chão. Surpreso, mas calmo, encarou a dor de olhos arregalados tentando processar a ação brusca.

    O djinn deu uma volta ao redor deles com a mão no queixo.

    A lança de vento se desfez em energia limpa, encaixando perfeita na ressonância elementar, cravando uma nova assinatura; criando uma espécie de cabo no antebraço, acabando antes do cotovelo.

    Retirando a mão bruscamente, Theo olhou para a palma onde o ferimento que lhe causou dor, quando a lança deveria ter perfurado, estava curada.

    Ele olhou confuso para aquela armadura viva.

    ‘És um prazer conhecê-lo, Mestre dos Ventos.’

    A voz da armadura ecoou pelo norte, um assobio agudo, mas grave. Era imponente, conforme prepotente.

    ‘Mestre dos Ventos, né? Eles já te reconheceram…’ comentou o djinn, flutuando de cabeça para baixo.

    — Isso não seria tipo… Um patamar abaixo de Xamã? — Theo perguntou massageando sua mão.

    ‘Corretamente. Pelas suas memórias, vejo que o Xamã do vento norte em seu mundo é… Borthrit?’

    O general assentiu positivamente.

    Enquanto conversavam, a armadura se ergueu, revelando sua verdadeira forma: um verdadeiro golias. Ainda um pouco magro, mas sua presença lhe dava uma força descomunal, com uma altura beirando os dois metros.

    ‘Portador do vento, o desafiante do oeste… Consagrado seja vós, Mestre dos Ventos… Me chamo Erald, o Golias de Zéphir, protetor da liberdade e portador da esperança.’ 

    Erald se apresentou com a mão esquerda no peito, enquanto as pernas estavam levemente cruzadas. Nas costas, dois discos de metal surgiram: segundos depois, formaram um par de asas quase transparentes, se não fosse por uma linha de energia que moldava o semblante.

    O golias flutuou alguns centímetros para o céu.

    ‘Quando o raio cair… Eu estarei para proteger meu novo Mestre.’

    — Quando o raio cair?

    Theo piscou com uma dúvida coçando atrás da orelha. No entanto, ao abrir os olhos, se deparou com uma surpresa.

    Invés do ambiente catastrófico de antes, com Herald e Shaytan al’Riyah diante seus olhos, a câmara de âmbar se mostrou firme e escura, tendo apenas uma brecha de luz fraca entrando pelo portão entreaberto.

    Ele piscou os olhos rapidamente, coçando e se revirando, buscando processar.

    — Quê?! — exclamou surpreso.

    — Viu só? É assim que se acorda uma pessoa que está no plano espiritual — disse Nihaya, disfarçado de Nietsz.

    — Nihaya? Zypher, o que houve? — perguntou tentando se adaptar à mudança repentina.

    A mente do general balançou sem ritmo.

    Zypher estendeu as mãos para Theo, que aceitou o gesto expressando estranheza. Ao se levantar, notou algo realmente estranho em si: seus braços estavam maiores, os dedos, a envergadura do corpo como um todo.

    Até mesmo a massa muscular estava diferente de antes, com um corpo ainda definido, porém, mais forte.

    Ainda assim, a sensação de sujeira estava cobrindo Theo.

    — Eu… Estou mais alto?

    — Está. A câmara de âmbar reflete sua energia, lembra? Além disso, você se apossou um pouco da minha mana e o seu colar transformou mana em éter… Seu corpo consumiu uma abundância, deve ser por isso que está… assim… — explicou Zypher, olhando para o rosto de Theo com a cabeça inclinada.

    — Assim? — indagou Theo, tocando no rosto e tendo uma surpresa…

    Aquilo era…

    Indícios de uma barba?!

    — Vem — disse Nihaya, sem esperar Theo processar.

    O djinn se virou para o portão, caminhando com as mãos cruzadas nas costas. Arrastando a água rasa que alagava a câmara de âmbar, chamou, em tom de quem não aceitaria objeção:

    — Vamos tomar um sol.

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