Capítulo 189 — Primeira Pintura: O Traidor (1)
— Ah… Então foi isso, é? — Theo perguntou, acompanhando Nihaya por uma praça. — Você conseguiu trazer todo o exército de Alsu para nos auxiliar, isso é bom. O que Bastien encontrou pegando o diário de Ceptos?
Nihaya deu de ombros, cruzando os braços logo em seguida.
— Ainda não me encontrei com ele para falarmos sobre isso. Mas, apenas de estarmos todos em Kiescrone, inclusive a imperatriz, já é o bastante.
Olhando para o general, o djinn não pôde segurar sua encarada julgadora. Embora soubesse o que Nihaya queria dizer, Theo quis levar para outro lado…
— Que foi, sogrão? Tá me avaliando? Tô apresentável para ver a minha sogra?
Uma veia pulsou na testa do imperador de Alsu.
Voltando a ser o loiro de olhos cor de âmbar, porém, com um cabelo mais longo que antes, Theo se gabou. Pegou uma liga que carregava no pulso, como uma pulseira, puxou os cabelos da nuca e amarrou num pequeno rabo de cavalo — ainda deixando sua franja tomar um pouco do rosto.
Ficando em silêncio, ambos esperaram um elevador chegar na base da montanha. Por estarem um pouco longe da escadaria do Castelo de Zal, optaram por utilizar um dos elevadores principais.
— Pode afirmar que todos os Emissários já estão entre nós? — Theo perguntou coçando o ombros, por debaixo de uma blusa branca e fina.
— Sim. A ilha que encontramos era uma fusão distópica de todos os sub-domínios. Cada cenário que poderiam encontrar estava lá…
— Como isso é possível? — Theo questionou para si. — Quer dizer, se eles entraram nos túneis em Kiescrone, como seria possível chegarem no outro lado do mundo em apenas dois meses? Ainda mais caminhando num labirinto…
— Argedon.
Aquela palavra, fosse um nome ou apenas um conceito, arrepiou Theo apenas pela sonoridade.
— Me lembrou a palavra Armagedom… O que isso deveria significar?
— Um Emissário. O quinto filho legitimo de Cepheus… Argedon, o Emissário da Catástrofe.
— O que esse peste poder fazer? — perguntou Theo, caminhando para dentro do elevador.
Nihaya logo o acompanhou, virado de frente para a porta enquanto Theo se escorava na parede direita.
— Um Espacial. Você, Bvoyna e Nik’Hael são Temporais: portadores de uma temporalidade, uma forma de representar o tempo e conjurá-lo. Espaciais, no entanto, são seres que portam espacialidades. Potencialmente mais perigosos que os Temporais…
Coçando o queixo, Theo olhou fixamente para o canto da parede.
— Por distorcer um pouco da realidade, creio eu.
— Exatamente. Ele, com toda certeza, é o responsável por essa assimilação de domínios. Afinal, foi ele quem trouxe vocês até aqui.
A mente de Theo deu uma leve chacoalhada — ele entendeu o que Nihaya quis passar.
— O portal na fortaleza, as mudanças de cenários… Foi esse tal de Argedon? — perguntou, estranhamente assustado.
— Sim. Argedon é o responsável por trazer todos os desafiantes de Bvoyna. Não sabia que o poder dele chegava a esta escala… Mas, bem… se ele estiver aliado a Belial, pode ser que…
Vagando perdidamente nos próprios pensamentos, Nihaya permitiu que seus sussurros inundassem o elevador.
Ficando levemente desconectado do assunto, Theo suspirou e revirou os olhos.
— Belial? O que ele pode fazer? — indagou franzindo as sobrancelhas.
O djinn coçou a garganta.
— Neste domínio, não temos o verdadeiro Belial, apenas um avatar… Este avatar é dividido em sete sigilos: o orgulho, a ira, a gula, luxúria, a inveja, a ganância e a preguiça. Esses sigilos são procurados por Bvoyna desde que o próprio foi aprisionado aqui dentro.
— E onde estão todos?
— Cinco deles? Nas mãos de Bvoyna — disse em tom leve, anemo. Quase tão inocente quanto uma criança.
Isso irritou Theo.
— Caralho! Ele tem cinco de sete, e você não está alarmado?!
— Não — respondeu com calma. — O sigilo da ira está com o clã Nerai, em um lugar que o Patriarca irá levar para o túmulo. E o da gula está com Marelia, nas tumbas de Kiescrone, escondido em algum lugar que apenas um membro da família Zal pode saber.
— Estão teoricamente seguros… Teoricamente!
— E na prática também.
Olhando para o general, Nihaya mostrou uma expressão que Theo não sabia que ele conseguia fazer: esperança.
Desde que se conheceram, Theo viu Nihaya semear o caos, ou, apenas tratar tudo como uma realidade perdida: como se o mundo fosse tomado por cinzas.
A confiança que Nihaya trouxe naquele olhar acalmou Theo — que ainda ficou em alerta quanto aos sigilos.
— E o que acontecerá caso Bvoyna coloque as mãos nos sete sigilos? — Theo questionou se virando para a porta do elevador.
— Talvez, a ruína. Você já sabe que existem dez reinos na Yggdrasil, mas, para cada galho de uma árvore, há um novo reino comandando por algum espirito… A realidade, é que esses espíritos não se resumem a deuses.
Escorando os braços, retornando ao seu olhar quase fechado, o imperador de Alsuhindr disse:
— Existem demônios, espíritos malignos, seres das trevas… Seres superiores que se mantém no equilíbrio entre o bem e o mal. Desde que me entendo por um djinn, o plano de Belial é unir os sete pecados capitais, os sete príncipes do inferno, para criar a Colisão.
— Colisão? Vocês, superiores, escolhem uns nomes simples… Mas que causam calafrios.
— A Colisão é uma visão de universo que jamais deverá ser executado. Caso contrário, todos esses infinitos planos, esses mundos dominados por demônios e pelo mal, irão rachar a realidade…
— Como… — Theo estreitou os olhos, mantendo a boca estreita e, levemente, abaixando a guarda enquanto sentia um calafrio acertar sua espinha.
— Portais interdimensionais trazendo criaturas que humanos não conseguirão subjugar. Mas, não se preocupe. Isso não é algo que possa acontecer, graças a Arcduth.
— A harmonia aprisionou o caos… Clichê.
— A vida é um clichê generalizado.
O elevador, enfim, apitou a chegada.
A distância era algo que Theo esperava, afinal, estavam subindo do pé da montanha até onde o Castelo de Zal se encontrava — consideravelmente próximo do gume.
— O que eu preciso fazer? — perguntou Theo, vendo o sol do entardecer tomar o pátio.
— Se precisa de uma missão… — disse Nihaya, olhando de canto. — Mate o avatar de Belial e garanta a segurança dos dez reinos.
Estalando o pescoço com um sorriso convencido, Theo olhou para a frente.
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[Sobre]
Nome: Theo Caesar [Liam Mason] Potencial: 843
Magia: Vetorial, Multi-elementar
Legião: Quinta Ocupação: General
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— Talvez eu deva me alongar para conseguir fazer isso…
Olhando para a mesma direção que o general, Nihaya sacudiu seu corpo com uma risada.
— Temos que atualizar esse sistema. Creio que com sua dynamis, esse número deve aumentar em dez vezes?
— Minha meta é atingir cem vezes… Espera, você enxerga minhas informações?! — Theo recolheu sua tela de informações, ficando estupefato.
— Claro. Eu leio mentes, idiota.
Fazendo uma cara de tacho, Theo decidiu ignorar, por um momento, aquela informação. Revirando os olhos, decidiram caminhar pelo enorme pátio antes de encarar a escadaria.
Theo ficou devidamente intrigado. Se havia um elevador, por que ele não chegaria logo na entrada do castelo?
Na realidade, a pergunta foi respondida na mesma velocidade que surgiu. A escadaria antes do portão servia como um método de identificação: os dez guardas podiam confirmar quem eram os convidados enquanto subiam os últimos degraus — embora um elevador até a entrada realmente não fosse uma má ideia.
O pátio branco brilhou com a luz do sol, chegando no fim daquele dia. Ficando com os olhos encandeados, mas, não se importando, o general viu uma luz carmesim que não via há meses.
Era intrigante como, mesmo com meses sem conversar com aquela pessoa, seu coração ainda incendiava tão ardentemente.
— Bem-vindo novamente, general da Quinta Legião.
Seus olhos castanhos brilharam como um sol ardente talvez como a justiça, ou como o amor, de forma aconchegante.
— É sempre um prazer revê-la, princesa de Alsu.
Fingindo uma formalidade, para esconder sua emocionalidade, Theo curvou o corpo levemente.
— Olá, Nietsz.
— Princesa. — Nihaya curvou a cabeça, alfinetando Theo com um olhar julgador.
“Serão loiros, ou castanhos como o fogo?” Theo debochou mentalmente, notando a encarada de Nihaya.
Naquele momento, o imperador de Alsuhindr desejava atear fogo na própria esperança. Mas, não podia expressar os ciúmes com sua filha — pois não podia estragar o disfarce.
Jeanne se aproximou de Theo, avaliando-o de perto. Os cabelos do general chamaram atenção, mas, nada mais chamativo que os olhos que jamais deixarão de brilhar.
Ela sorriu gentilmente, segurando a mão direita de Theo.
— Vamos? — Convidou para o castelo. — Creio que o Sir Nietsz já tenha lhe informado o necessário sobre o exército de Alsu estar conosco…
— Eu? Eu não informei nada.
Uma voz surgiu do alto da escadaria.
— Huh? — Jeanne suspirou.
Aquela voz não tinha vindo de Nihaya, que estava logo atrás deles.
Verdadeiramente, Nihaya estava paralisado.
Theo também se sentiu oprimido: a voz, tão idêntica a de Nihaya enquanto transformado em Nietsz, mas em tom grave, o assustou.
Os olhares dos três correram para a escada.
Degrau por degrau ficando para trás em menos de um segundo.
O nervosismo tomou a visão de Nihaya.
“O que você está fazendo aqui, seu idiota?!” pensou o imperador de Alsuhindr, vendo a figura descer a escada.

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