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    — Theo! — exclamou Ellen, correndo pela residência Lawrence.

    A jovem criada, de cabelos castanhos e óculos redondos, agarrou seu vestido branco com detalhes verdes para correr pela casa.

    — Theo!

    Ellen esticou-se por uma janela de vidro que dava a imagem do jardim frontal da residência, pensando que o Jovem Mestre poderia estar ajudando Lady Camille com as plantas.

    Mas, a duquesa estava sozinha.

    Aproveitando que sua criada estava distraída e de costas, o Jovem Mestre Lawrence se esgueirou por debaixo de um móvel de madeira e engatinhou para os corredores externos.

    Ao chegar no terraço, Theo correu desajeitadamente pelo claustro enquanto olhava para o gramado à direita.

    Seus belos olhos cor de âmbar brilharam com a divindade que emanava em sua frente.

    Sentado de pernas cruzadas no gramado, relaxando completamente seu corpo e mente, Ethan Augustus Caesar, ou, Ethan Augustus De Lawrence, meditava com uma vibração etérea.

    O terceiro filho coronel Leon Caesar, o segundo irmão do Imperador de Romerian, tinha uma presença sem igual.

    O auto deserdado sucessor da família Caesar, agora dono do título de Duque Lawrence, esbanjava uma aura de energia flamejante que afetava o próprio clima.

    Asas de fogo se formavam pelo chão ao mesmo tempo que sua consciência encontrava maneiras de deixar marcas de queimaduras nas paredes da casa.

    Os cabelos brancos de Ethan levitavam com a pressão atmosférica.

    Parado entre os pilares e admirando seu pai de longe, o Jovem Mestre Theo ficou boquiaberto e sem conseguir piscar.

    Sem conseguir processar àquela situação, Theo achou belo…

    Mas a realidade era outra.

    Era uma sensação de pura opressão. Ninguém deveria se aproximar de Ethan naquele estado graças a Imponência do Duque, assim como a propriedade de chamas do núcleo.

    Qualquer um que chegasse próximo de mais teria a chance de ser cremado vivo, ou sair com algumas queimaduras graves.

    A ala de treinamento da residência Lawrence é trancafiada por todos os lados, e quando o Duque decide meditar, todas as janelas e portas da casa são trancadas para evitar um incêndio.

    Mas o mordomo chefe havia cometido um erro naquele dia.

    Uma única porta ficou aberta, e o Jovem Theo, com somente dois anos e dez meses, encontrou a passagem.

    No segundo andar, sentado ao pé da vidraça e observando seu irmão meditar, Edward De Lawrence estava boquiaberto e sem palavras.

    — É lindo… — murmurou Edward.

    O mordomo chefe, Etrian, arrumava uma mesa de escritório enquanto acompanhava Edward.

    — Um ano fora, mas é impossível esquecer essa sensação… Mesmo protegido com essas paredes.

    — O senhor não esteve com Elijah e Leon Caesar nos últimos meses? — indagou Etrian.

    — Aham…

    — E nenhum deles te fizeram sentir algo do tipo?

    Edward negou com a cabeça.

    — Tá brincando? Elijah nem chega a esse nível. O papai pode ser um coronel… Mas é mancada comparar ele ao Ethan. Acho que ninguém, que eu conheço, chega aos seus pés…

    Etrian franziu o cenho.

    — Eu não sei muito sobre níveis de poder e o sistema de energias e chakras, então não poderei opinar. Mas, de fato… A sensação que o Lorde Ethan emana é pura e divina.

    Os fios de cabelos brancos de Edward tomaram seus olhos castanhos escuros junto do vento que entrou pela porta do escritório de Ethan.

    — A ave Fênix é facilmente ofuscada com o brilho do seu irmão… Nem parece que ela é sua fonte de poder.

    Edward riu de canto.

    — A Fênix é apenas um método para canalizar o poder do Ethan…

    Ele ficou um pouco em silêncio, caindo ainda mais em admiração pelo irmão.

    Até que, em instantes, sua mente estalou com um lembrete.

    — Ah! Pegue uma carta que tem na minha bolsa, por favor… É do Sir Amiah para o Ethan.

    — Sir Amiah? A Serpente Caótica?

    — Sim. Ele não pode vir no nascimento do Te, então me deu uma carta para entregar ao Ethan quando o visse…

    Etrian rapidamente entendeu do que se tratava.

    Vasculhando uma mochila de costas que Edward trouxe, ele procurou pela carta.

    — Theo! — Ellen berrou pela residência novamente.

    Aquele berro foi alto o suficiente para alcançar o segundo andar.

    Edward foi surpreendido pelo grito e escutou com atenção.

    — Jovem Mestre! Onde você está?!

    Sua tensão foi quebrada e ele rapidamente caiu em gargalhadas.

    — O Te está dando muito trabalho? — perguntou para Etrian.

    — Crianças… Estão sempre aprontando. Ellen não quer o reprimir, diferente da Marta… Então está sempre mimando ele.

    — Que erro…

    — Pois é.

    Os dois riram um pouco até notarem os gritos frequentes de Ellen. Ela parecia mais desesperado do que o normal…

    Edward chegou a se perguntar se estava tudo bem, mas não tirava os olhos de seu irmão mais velho. Sentando-se no lado esquerdo na base da janela, ele observou seu irmão… Porém tenso e preocupado com o silêncio repentino da criada.

    Até que, por sentar naquele ângulo, conseguiu ver Theo no claustro, entre os pilares e no limite com o gramado.

    Ele subitamente saltou para trás.

    — Tê! — exclamou de nervosismo.

    Por instinto, Edward abriu a janela e gritou por Theo novamente.

    Devido à agressividade repentina, a aura de Ethan escorreu e escalou pelas paredes da casa até chegar no segundo andar, onde a possível ameaça estava.

    Reflexivamente, Edward deu um soco no ar e, antes que as chamas o atacassem, a pressão do golpe recuou a aura do duque.

    Um soco forte demais para um humano de doze anos.

    — Ethan! — gritou Edward.

    Despertando do estado de meditação, os olhos azuis do Duque Lawrence se encontraram diretamente com os de seu filho mais novo; paralisado, mas não pelo medo, e sim por admiração à beldade.

    Com um movimento extremo e veloz, Ethan virou apenas um vulto aos olhos de Edward e Etrian.

    Como um flash de luz, Ethan surgiu abraçando seu pequeno filho e o protegendo das chamas incontroláveis; a aura de Ethan sempre o protegia do que considerava uma ameaça.

    Enquanto Ethan estava meditando e, praticamente, inconsciente do mundo físico, tudo o que se movesse era uma ameaça ao Duque.

    Usando o corpo de escudo, o Duque Lawrence protegeu seu filho enquanto rebateu as chamas com o braço direito.

    Ele deslocou a própria aura de sua consciência por um instante.

    Desesperado, Ethan pegou Theo pela cabeça e balançou os cabelos loiros de seu filho para trás, tentando ver seus olhos…

    Mas a criança estava simplesmente pasma de alegria.

    — Te… — murmurou Ethan, mas foi cortado pelo próprio filho.

    — Que legal! — ele disse, falhando demasiadamente.

    Ethan arregalou os olhos.

    Seu filho estava emanando a mesma sensação que um desviante: uma camada de pura energia estava o abraçando.

    “Um núcleo… Ele despertou um núcleo sem contras, e ainda nessa idade?”

    Ethan raciocinou rapidamente o que havia acontecido.

    “A Fênix sincronizou com você…”

    — Jovem Mestre! — Ellen gritou ofegante, saindo depressa pela porta. — Como ele veio parar aqui…

    — Filho! — Camille veio logo atrás de Ellen, segurando seu vestido sujo pelo adubo das plantas. 

    Mesmo sendo uma Duquesa que pode contratar mil jardineiros, Camille adorava cuidar das próprias plantas. Ela cuidava do jardim quando encontrou Ellen correndo atrás de Theo, então resolveu ajudar.

    Ela ficou satisfeita, embora preocupada, quando viu Theo com Ethan. Sabendo o que seu marido estava fazendo naquela hora, sua preocupação de queimaduras na criança era notório.

    — Te…

    Ethan pegou Theo nos braços.

    — Lorde Ethan… Perdão pelo meu vacilo… — disse Ellen, segurando as lágrimas.

    — Não. Eu que deixei uma porta aberta passar despercebida… — Etrian surgiu acompanhado de Edward, que desceram as escadas correndo.

    Os dois buscaram motivos para assumirem a culpa, mas o Duque Lawrence não aceitou.

    — Relaxem. Tá tudo bem agora — disse Ethan, fazendo Theo deitar por seu ombro — Ellen, se eu estiver certo… Theo terá seu primeiro dia de aula hoje, certo?

    Ellen arrumou a postura para responder ao Duque.

    — Sim! — disse gaguejando. — Foi por isso que estava correndo desesperada atrás dele… Ele iria se atrasar…

    — Ele continua dando trabalho para tomar banho? — Ethan perguntou enquanto caminhava para dentro da residência.

    — Aham. Sem querer ofender, mas esse pequeno é um porco!

    Theo, deitado no ombro do pai, olhou para Ellen, que estava o seguindo. Cerrando os olhos para a criada, Theo mostrou a língua para sua babá.

    Camille saltou os ombros para trás quando viu.

    — Ei, ei! Com quem você aprendeu isso?! — Sua mãe corrigiu.

    — Isso o quê? — Ethan perguntou sem conseguir ver.

    Theo se fez de desentendido, olhando para cima e revirando os olhos… Mas Camille tinha a resposta guardada.

    — Edward, não é?! — Camille reclamou com seu cunhado.

    Por sua vez, Edward apontou para o próprio coração e reclamou.

    — Eu?! Eu voltei hoje e nem o vi… Como que eu iria ensinar algo assim para ele?!

    — Quem garante que você não o viu?!

    — E como você pode afirmar essas palavras, sendo que nem você me viu chegar?! Hein?!

    — Você…

    Camille bufou e suspirou forte, curvando as costas para encarar Edward de perto, reduzindo a diferença de altura entre eles — Camille era considerada uma mulher muito alta, mesmo para os padrões da nobreza.

    Os dois cerraram os olhos e se encararam no fundo das almas.

    — Podem parar com isso? Vamos, Camille. O Te vai se atrasar…

    Edward não conseguiu segurar a risada ao encarar sua cunhada e despencou. Enquanto ainda se encaravam, ele mostrou a língua para a duquesa.

    — Eu sabia!

    O irmão mais novo de Ethan correu para o lado do Duque, ficando ao lado de Theo.

    — Ah, Ethan… O Sir Amiah lhe enviou essa carta — disse Edward, entregando a carta a seu irmão.

    — Sério? O Mestre Amiah? Você o viu?

    — Aham. Tava acabado depois que voltou da fronteira com o sul…

    Após entregar a carta, Edward olhou para seu sobrinho e o fez um cafuné.

    Com o sobrinho e tio se encarando, eles sorriram reciprocamente.

    De longe, Etrian assistiu a eles entrarem na residência Lawrence.

    “Eles não possuem o mínimo de modos…” comentou para si, vendo o comportamento de uma das famílias nobres mais influentes do Império. “Bom, assim é uma família de verdade. O respeito não morre, mesmo nesses momentos.”

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