Capítulo 14 - Desafiante número 911

Anos haviam se passado desde que Theo iniciou seu treinamento com Ethan. Após anos treinando o condicionamento e ensinando técnicas de luta para seu possível sucessor, chegou finalmente a época de fazer os testes.

Theo já tinha quinze anos e era alguém completamente ciente de todos os seus objetivos.

Capital da Ordem, Gran-Empire, Coliseu Maior.

Sentado no corredor de espera, ele ansiava que seu nome fosse chamado. Vestindo um típico traje de proteção dos testes, uma armadura de placa fraca e leve, sua ansiedade ainda era notória. Os olhos cor de âmbar eram a única parte exposta na viseira do elmo.

“Aqui dentro, posso utilizar meus elementos, atribuição e conjuração…” ponderou Theo, lembrando as regras que foram explicadas.

Sendo um teste, os participantes tinham total liberdade para demonstrar suas técnicas e potenciais por completo sem se preocupar com o examinador, por ser um agente de grau superior.

“Porém, só posso utilizar um dos elementos, já que eles não garantem o bem-estar do participante em caso de descontrole… Faz sentido, já que manipular e controlar dois elementos requer muita experiência. Vou precisar escolher.”

Parcialmente, ele já tinha feito aquela escolha. Theo desenvolveu sua proficiência em dois elementos, o primeiro deles sendo o fogo. Todavia, ele desconsiderou no mesmo instante.

O controle excessivo para manter uma pequena chama requer uma auto-consciência perfeita da própria energia. Por ter partes do conhecimento monopolizado nas Grandes Ordens, Theo ainda não conhece qual seu tipo de energia, nem a cor do seu núcleo.

Entretanto, durante os dez anos com Ethan, ele desenvolveu a capacidade de controlar o atributo elemental (quantum). Graças a isso, ele conseguiu controlar dois atributos elementares distintos.

“A batalha está acabando…” pensou Theo “É melhor eu converter uma parte da minha energia em atributo elementar, para não passar sufoco…”

Assim como qualquer desviante, Theo possuí mais de um núcleo. Claro, existe o núcleo principal determinado pela cor e tipo de energia, porém, existe um sistema interno chamado de chakras.

Um desviante comum, sem treino algum, porta sete desses chakras; ao enviar a energia do núcleo principal para os núcleos secundários através dos canais de chakra, a energia é convertida em atributo elementar automaticamente.

Esvaziando uma parte do núcleo, Theo adquiriu o suficiente para uma batalha duradoura.

“Espero que eu aprenda a como aumentar minhas reservas rápido dentro da academia. E espero mais ainda que não seja uma energia externa…”

Para Theo, energias como éter e mana seriam problemáticas, já que dependeriam de algum artefato ou geração alheia para aumentar suas reservas.

Meditando por cinco minutos, ele conseguiu converter os valores e gerar atributo elementar o suficiente e, além disso, condensou a energia para que não acabasse com facilidade.

— Theo Caesar — chamou Etrbak, um homem com uma prancheta no final do corredor, na entrada para o coliseu. — Por favor, prepara-se.

Caminhando até Etrbak e olhando para a arena do coliseu, Theo viu o outro participante ser levado para um dos portões.

Ele temeu a gravidade daquele confronto…

— Notas ótimas nas provas escritas, hein… Desviante híbrido, dois atributos elementares… Certo. Chask, chame o Jackl — pediu para outro examinador, vestido de terno e gravata assim como Etrbak.

Para cada classificação de um desviante, havia um examinado específico: conjurador, atribuidor e híbrido. Jackl era o examinador híbrido…

Theo tinha ciência de que iria enfrentar um desviante de alta patente.

— Certo… As regras são simples, desafiante número 911. Esses velcros na sua armadura determinam se você está participando, ou se já foi derrotado.

Outro examinado colou velcros na armadura de Theo; pequenos círculos variando de cores como azul (para regiões seguras) e vermelho (para regiões críticas).

— Caso o examinador atinja um velcro vermelho ou cinco azuis, você está fora. No entanto, caso você atinja todos os velcros do examinador, você está classificado com 100% do aproveitamento e poderá receber uma promoção de classe. Além disso, ele não utilizará poderes elementais, à menos que você coloque sua vida em risco. Alguma dúvida?

— Posso utilizar meus dois atributos? — perguntou Theo.

— Sim, pode. Porém, se não tiver controle sobre um em específico, recomendamos que não arrisque. Como já deve saber, ele poderá intervir, mas sua saúde nuclear não está sob nossa responsabilidade.

“Entender o próprio limite é a primeira lição de Vagus… E eles estão cobrando desde aqui…” Theo analisou olhando para o coliseu.

— Estando ciente disso, pode ir para a arena — disse Etrbak.

Um portão de grades de aço ergueu-sem, abrindo passagem para Theo. Suspirando fundo e preparando a mente, ele deu o primeiro passo.

Suas notas na prova teórica foram perfeitas, então, ele já estava garantido em alguma academia mediana. Contudo, ele queria mirar nos grandes nomes… Se possível, no maior nome.

— Por aqui — chamou Chask, apontando para um suporte de armas ao lado do portão.

Ao chegar em frente ao suporte, o homem entrou para os corredores antes do portão fechar.

Espadas, arcos, lanças, machados… Todos os tipos de armas de madeira estavam no suporte. Sem hesitar, Theo empunhou uma espada longa de madeira.

— Prontos? — Etrbak indagou no alto-falante.

Ambos assentiram que sim.

— Comecem!

Theo esperou cinco segundos para o movimento do adversário. No entanto, não houveram nenhum indicio de ataque ou hostilidade. Portanto, Theo decidiu agir.

Carregando um vórtice de vento nas mãos, ele o lançou em direção à Jackl, fazendo o feitiço colidir com o chão e levantar a areia.

“É… Fogo e vento. Mas, imaginei que você iria utilizar o atributo vento” ponderou Jackl, parado e analisando os movimentos de Theo.

Ele esperou para ver por onde Theo surgiria. Porém, surgindo mais rápido do que Jackl previu, Theo apareceu à sua esquerda empunhando a espada de madeira e preparado para atacá-lo horizontalmente.

Jackl pôs os braço a frente do corpo, aumentando sua guarda e demonstrando uma postura defensiva. Theo não conseguiu encontrar brechas…

“Você só tem uma saída!” pensou, prevendo que Theo iria continuar e acertar seu ante-braço.

Mas Theo era maior do que aquele pensamento.

Recuando sua espada, Theo usou o calcanhar direito para rotacionar o eixo e mudar a direção do próprio corpo. Girando pelas costas do examinador, ele agarrou o cabo da espada com as duas mãos e preparou outro golpe, porém, no lado em que a postura de Jackl estava aberta.

O examinador agiu rapidamente, saltando para trás antes que a espada colidisse com si. Mas, foi um movimento ainda mais vantajoso…

Passando de raspão pelo peitoral, a lâmina simulou o barulho do vácuo.

Atribuindo o vento à espada e aos pés, Theo criou um impulso de vento e investiu contra o velcro vermelho no coração de Jackl. Analisando a velocidade e intensidade do ataque de Theo, o examinador não teve outra escolha senão jogar-se para o lado.

Theo deslizou alguns centímetros para além de Jackl e, voltando a olhar para o examinar, ele retornou com um corte inclinado. Levando a coluna um pouco para trás, Jackl desviou facilmente.

Continuando com a série de ataques, Theo não permitiu descanso ao examinador.

— Não vai me deixar respirar? — Jackl brincou, vendo que Theo não o deixaria contra-atacar com facilidade.

A resposta do desafiante foi o silêncio, e mais ataques.

Porém, em sua perspectiva, Theo estava completamente nervoso… Ele estava pensando nos próximos passos à medida que atacava, e isso era um erro… A qualquer momento, um conflito entre pensar e agir iria determinar sua derrota.

Ainda assim, seu estilo de luta pressionando o inimigo estava vindo a calhar.

— Pressionar o inimigo com ataques limpos e objetivos… — comentou Mosper, o olheiro da quinta maior academia de Vagus; Viet. — É uma boa mentalidade para um aspirante.

— Ainda pode ser melhor — disse Holper, olheira da sétima maior academia de Vagus; Honskner.

— Não tá querendo exigir muito de um desafiante, mesmo que de família nobre?

— Nada. As expectativas deveriam ser maiores ainda. Não é, Rikard?

O olheiro da academia de Wispells, a maior de Vagus, manteve-se calado enquanto assistia ao teste prático.

Dando uma rasteira no examinador, Theo criou uma pequena implosão de vento e atraiu Jackl para si.

“Oh… Ele tá me puxando com a força do vento?” Jackl analisou, tentando resistir. Um sorriso fora esboçado em sua face. “Pena que você tem um controle inferior…”

Apenas colocando a perna no chão, Jackl conseguiu resistir à força do vento. Fechando a mão esquerda, que estava criando aquela ventania, Theo atacou o examinador novamente.

Porém, antes de cada golpe, cada corte e movimento direto, Jackl desviou gabando-se de sua velocidade. Ele conseguia ver os movimentos de Theo quase como se o garoto não estivesse se movendo.

Sem o atributo vento, Theo era lento para o nível daquele desviante.

Percebendo que atacar tantas vezes era o mesmo que jogar energia no lixo, Theo tomou distância e adotou uma postura defensiva, protegendo a mão esquerda conforme conjurava uma pequena bola de fogo.

“A energia é o combustível, o vento seria a reação…” pensou enquanto se preparava.

“Ele vai mesmo tentar?” pensou Jackl “Se ele demonstrou tanta afinidade com o vento, significa que não treinou o fogo com exatidão. Nesse ritmo…”

A pequena esfera de fogo criou uma névoa flamejante ao redor de Theo, reagindo casualmente com o atributo vento que o garoto estava usando.

“Dois atributos ao mesmo tempo?!” Rikard, entre todos os olheiros, foi o único a perceber o que Theo estava fazendo. “Droga… Ele está perdendo o controle…”

Faíscas de energia tomaram o arredor da palma de Theo. Descontrolavelmente, toda esfera de energia entrou em colapso. Uma explosão de luz tomou contra do centro da arena.