Índice de Capítulo

    Outra manhã de outono deixou suas folhas secas caírem no chão. Entretanto, Theo tinha cinco anos naquela época.

    Recentemente, Midiã foi declarado pelo próprio Duque Ethan como um Distrito da capital de Loureto, e a principal fazenda da região. Com o avanço tecnológico cada vez mais intenso no continente, a troca da mão de obra humana pelas máquinas tornou-se a maior realidade no Ducado Lawrence.

    Ethan investiu com todos os recursos no uso de máquinas para aumentar a eficiência da produção, principalmente na agricultura.

    Sofrendo para controlar uma máquina de colheita, Michel tentou manter a linha reta.

    Um cristal de mana, abaixo da plataforma de ferro que estava a cabine de Michel, sustentava toda a máquina, fazendo o papel do motor em um veículo.

    A barra de corte era a única parte da máquina tendo um breve contato com o chão: a parte traseira, onde estava o cristal e a cabine, estava levitando graças as ondas sonoras e de energia emitidas pelo cristal de mana.

    — Ele ainda está se adaptando, né? — De braços cruzados, o Duque Ethan comentou ao rindo ao lado de Anton.

    — Sim. Mal consegue manter a máquina em linha reta.

    Ethan não conseguiu se manter sério.

    — Ele vem tipo: essa máquina vagabunda… seria melhor colher na mão.

    Anton gargalhou junto ao Duque.

    — Com certeza — disse Anton, limpando uma lágrima das risadas.

    Olhando para o lado, Ethan teve sua atenção chamada para um armazém no início da plantação.

    — Diz ao Michel que já volto… — Ethan comunicou virando-se.

    — Vai aonde, senhor Lawrence?

    — Ao armazém.

    ☽✪☾

    Num riacho dentro do bosque, Theo, ao lado de Agnes e Magnum, estava sentado e conversando no leito. Pendurado numa macieira, Theo procurou o melhor furto enquanto debatia com seus amigos.

    — Theo, cê sabe que aquela preda de barro que me tacou, doeu né?

    Agnes deu um tapa na própria testa.

    — É pedra. E o correto seria dizer você.

    — Aaah, Senhorita do Blá, Blá, Blá. Po que não vira prefessora?

    Uma maçã foi lançada do topo da árvore e caiu na nuca de Magnum. Posteriormente, Theo se jogou ao chão com mais algumas frutas.

    — Deveria mesmo, Agnes. E você, Magnum, deveria se unir ao treinamento da minha mãe para deixar de ser analfabeto.

    Magnum rangiu os dentes.

    — É de graça, tudo o que vai custar são aquelas horas em que você fica prejudicando o trabalho dos agricultores. Então, talvez devesse tentar…

    Explodindo numa crise de raiva, Magnum lançou a maçã de volta para Theo. Entretanto, o Jovem Mestre acabou segurando com as próprias mãos com facilidade.

    — Vocês gênios acham que é fácil?! Como esperam que eu aprenda a ler com quatro anos, hein?!

    — Bom… Aprendendo… — disse Theo, sem conseguir uma resposta melhor naquele momento.

    Realmente, comparar Magnum a eles dois era injusto. Enquanto os dois eram considerados gênios e desviantes recém-acordados, Magnum era apenas um camponês de classe baixa e sem incentivo familiar para o estudo.

    Na realidade, toda aquela sociedade não incentivava aos camponeses aprenderem a ler e escrever, monopolizando o conhecimento nas mãos da nobreza desde sempre.

    Magnum só teve oportunidades graças a Duquesa Camille, a atual secretária da área de educação do Ducado Lawrence.

    — Vocês gênios se fazem de lerdo, né?

    — Lerdos. Se você está se referindo a pessoas, no plural, toda frase deve ser…

    — Aaaah, que se dane!

    — Ei! Vai me xingar agora?!

    Theo riu silenciosamente enquanto os dois discutiam. O Jovem Mestre limpou as maçãs na água corrente escutando seus amigos jogarem xingamentos no vento.

    Porém, uma linha irracional de mana atraiu sua atenção. Uma energia vaporizada, em tonalidades azuis, exclamava por Theo e implorava para que o garoto seguisse.

    Terão momentos em que a mana falará contigo, mas, não com palavras…

    A mensagem que Ethan passou para seus filhos retornou para a mente de Theo.

    Ela chamará tua atenção e irá te seduzir, assim como uma ninfa faria. É exatamente por este motivo que a floresta das ninfas possui tal título… A mana atrai seus invasores e os guiam para as presas das bestas. Portanto, não importa o que esteja acontecendo, se for um dia pacifico ou não…

    — Ei, onde está o Theo? — Magnum perguntou olhando para as maças jogadas no leito.

    Agnes se virou rapidamente.

    Resistam contra esse encantamento.

    “Essa névoa…” Theo pensou, completamente coberto pela solidão da zona da morte.

    Era tão densa que seria justo chamá-la de sólido, como uma cortina de vento levando o garoto para os lados a cada momento.

    Um brilho majestoso zuniu no meio da névoa, rompendo a imperfeita sensação do perigo.

    A cada passo que Theo dava para dentro da floresta, uma sensação familiar tocava sua nuca. Uma sensação de outra vida…

    Cada galho que ele pisava em falso lhe entregava a mesma sensação que Liam Mason odiava… O fato da imprecisão do futuro. Não saber o que acontecerá, sem poder ver ao menos metros a frente.

    Apenas o vento estava levando o jovem para o fim.

    Guiando até a face do desespero e da própria morte.

    Arrastado por uma rajada de vento, a névoa se abriu intensamente criando uma pequena clareira no meio do bosque.

    O relinchar de um cavalo extorquiu os tímpanos de Theo.

    Correndo os olhos pelo novo limite de visão, o garoto tentou encontrar o autor daquele barulho… Mas, além das criaturas inferiores correndo pelo ambiente e pássaros fugindo das árvores, ele não encontrou nada.

    Até que a névoa mostrou um novo limite: abrindo a passagem e a visão para um pequeno morro de pedras ser revelado.

    Um cavalo negro, coberto por uma amadura penumbrante de aço, exibiu-se acima da cabeça do Jovem Mestre. Os olhos brancos encontraram-se com o âmbar mais belo que tingia os olhos de Theo, afogando-o em medo.

    O cavaleiro montado em sua besta mais impiedosa vestia do mesmo aço negro, com uma lança metálica empunhada na mão esquerda. Entretanto, não havia uma cabeça no lugar certo.

    Uma nuvem branca, portanto, saia da cavidade do pescoço e se dissipava alguns centímetros no ar.

    O corpo de Theo já estava paralisado. Porém, quando encontrou os olhos daquele ser, sua alma ficou congelada…

    Quando o cavaleiro virou de lado, sua cabeça estava sendo segurada pela mão direita; uma face pálida e seca, tão morta quanto um cadáver em decomposição. Os olhos vazios e negros pareciam o próprio abismo.

    Seus lábios secos moveram-se para liberar sua voz rouca e imponente.

    ‘Michel Hansen, Anton, Ramires, Frans…’

    Aqueles nomes apunhalaram o peito de Theo, causando uma dor e pressão forçando o garoto a cuspir sangue.

    Seus olhos saltitam ao relembrar uma cena doutra vida: um cavaleiro montado num cavalo amarelo enfiava sua espada no peito de Liam Mason.

    O ex-general Mason cuspiu o sangue assim como o Jovem Mestre Lawrence.

    A fraqueza tomou o corpo de Theo, assim como a paralisia de seus olhos.

    O cavaleiro continuou pronunciando os nomes dos moradores de Midian, sem errar uma única palavra.

    Embora Theo fosse o único diante o cavaleiro, seu nome sequer foi cogitado. Aquilo era um alívio para ele.

    O momento de tensão entre o espirito e o garoto foram quebrados com uma explosão acompanhada pelo tremor intermitente.

    Theo retornou para a realidade e, quando sentiu o sangue descer pela boca, ele limpou os lábios e correu para trás.

    Sua visão oscilou entre o passado e o presente; após ser atacado pelo cavaleiro no cavalo amarelo, Liam Mason andou pela floresta, agarrando-se na árvores do caminho e perdendo suas forças a cada passo.

    Correndo pela floresta, Theo não tinha noção de onde exatamente iria sair, ou o que ele encontraria naquela névoa. Foi quando outra explosão surgiu…

    Liam, no entanto, tropeçou na própria fraqueza e rastejou-se pela floresta, arrastando a ferida aberta pelos galhos e folhas do caminho. Seus arrependimentos não estavam se esvaindo.

    Todavia, os arrependimentos de Theo batiam a cada passo.

    Em seu leito de morte, Liam encontrou uma pedra no meio de uma clareira e tentou se apoiar. Com as últimas forças, ele conseguiu ficar de pé uma última vez.

    As nuvens liberaram o brilho carmesim da lua de sangue para que Liam pudesse vislumbrar a natureza.

    Entretanto… Quando saiu da névoa e olhou para o céu, invés de nuvens limpas e um céu lindo, Theo encontrou nuvens de fumaça cobrindo o horizonte.

    — Theo! — gritou Agnes.

    Correndo e lutando contra a força da correnteza, Theo estendeu suas mãos para Agnes…

    Enquanto Liam, sentindo a dor em seu peito vazio, estendeu a mão para a lua de sangue que lhe banhava por uma última vez.

    — Theo… — disse Agnes, o parando pelo ombros — O que aconteceu?

    — Não importa. Vamos sair daqui…

    Theo olhou para trás com uma sensação de arrependimento. No entanto, antes que se afundasse no sentimento amargo, outra explosão chamou sua atenção.

    Posteriormente, inúmeras explosões tomaram os campos de trigo.

    As três crianças correram pela trilha, detonados por uma nuvem de fumaça que estava impregnando-se em seus narizes.

    Os tremores se tornaram mais intensos a cada passo…

    “O que está…” A luz do sol tomou os olhos de Theo, anunciando a transição entre o bosque e o local onde estavam as plantações. “Havendo…”

    Seus olhos se arregalaram e o pequeno corpo travou. Os enormes campos que pareciam um mar de chamas com a luz do sol, não passava de um local morto e dominado pelo caos.

    Torres de fumaça cortavam os céus, tomando o azul celestial pela penumbra do caos. O cheiro do desespero, tal qual Liam Mason já tinha noção, mostrou-se presente para Theo.

    O indomável destino trouxe novamente a sensação da morte…

    Na forma de um cataclismo negro.

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