Índice de Capítulo

    Uma esfera absolutamente verde pulsava, seguindo os batimentos cardíacos. Subitamente, toda massa de energia verde implode, virando uma única partícula infinitamente menor que anteriormente. Num espaço vazio, apenas cinco daquelas partículas flutuam sob um único ponto: a fonte da energia de um núcleo. Aquilo que produz energia para um núcleo de energia… A “Centelha de Fanes”, onde a energia é gerada do absoluto nada.

    Uma pequena explosão energética ecoou, sendo limitada pelo próprio núcleo de mana. Consecutivamente, todo o ciclo se completou. A energia do núcleo neutro foi comprimida para uma única partícula, em seguida, a Centelha de Fanes preencheu todo núcleo.

    Ofegante, Aryna se desconcentrou do refinamento de energia. A moça deslizou seus olhos pelo cômodo, atordoada e de visão embaçada.

    Por ser uma técnica que modifica as propriedades da energia, se for efetuada diversas vezes, causará um desgaste da Centelha de Fanes, impossibilitando a geração de energia. Porém, para Aryna, a realidade é outra.

    Num núcleo comum, a Centelha de Fanes consegue criar energia apenas cinco vezes. Após isso, se a energia esgotar, o desviante morre. Contudo, para Aryna, que possui a característica da energia infinita, a Centelha de Fanes se regenera ilimitadas vezes, possibilitando à garota regenerar a energia sempre, refinando a própria energia de uma maneira diferente.

    Porém, mesmo para algo infinito, há uma certa fraqueza. Como Aryna descobriu esse método recentemente, seu núcleo ainda não está acostumado a refinar energia e regenerar instantaneamente. Por isso, sempre que ela passa pelo processo de refinamento, os sentidos dela ficam confusos e seu núcleo entra no estado de regeneração novamente.

    Com uma pequena dor de cabeça, Aryna fechou os olhos para evitar o contato com a luz. Em instantes, um ranger de portas assaltou seus ouvidos, forçando-a abrir novamente os olhos e olhar para a porta do quarto.

    Rebecca entrava, com uma roupa casual, porém, uma gota de suor escorria em seu rosto. A garota trazia uma carta em suas mãos, e ao ver Aryna, engoliu em seco num falso sorriso.

    — O que houve, Beca? — perguntou Aryna.

    — Dor de cabeça… Sir Paul trouxe ordens.

    — Ordens do tipo…

    Suspirando, Rebecca sentou-se na cama e estendeu o envelope para Aryna.

    — Eu treinarei com o Sir Paul pelos próximos cinco meses, quanto a você, treinará com uma tal de Luanne.

    Olhando o envelope, Aryna notou um brasão de uma lua crescente selando a carta. Ao abrir o envelope, Aryna retirou uma pequena folha branca, praticamente sem conteúdo. Apenas no meio, estava um local e horário, e mais nada além disso.

    — Beca, que horas são? — perguntou Aryna, apenas aceitando o chamado de Luanne.

    — Sete e seis. Já vou ter que ir, o lugar que o Sir Paul marcou para o treinamento fica há meia hora daqui.

    — Eu também. O lugar marcado para mim fica além da cidade de Fulmenbour…

    — Até mais, então — despediu-se Beca, com uma saudação.

    Ginásio da Academia de Fulmenbour

    8:10

    Evitando contato direto com os alunos, Rebecca olhou para o chão, nervosa, apenas tentando passar por todos enquanto procurava por Paul. 

    Quando finalmente teve a oportunidade de sair daquele enorme enxame de alunos, Rebecca pôde vislumbrar alguns estudantes de Myrddin treinarem. Ela paralisou com um adolescente conjurando contra sua mentora.

    A professora estava parada enquanto o aluno disparava feixes de fogo contra ela. Porém, a calmaria da mentora se dá por um motivo que ela e Rebecca compartilham: conjuração de barreiras. No entanto, diferente de Rebecca, a professora estava conseguindo manter as barreiras por mais de três golpes.

    — Deseja chegar neste nível? — perguntou Paul, observando o mesmo treinamento que sua aluna.

    Ainda olhando o confronto, Rebecca sussurra de canto:

     — Sim.

    — Ótimo — assentiu. — Porque teremos cinco meses para te tornar naquilo.

    O olhar de Rebecca saiu de admiração para insegurança num instante. Olhando para o chão e com os lábios trêmulos, ela questionou: 

    — Tem certeza que eu posso mesmo melhorar?

    — Todos podemos. Se eu, um antigo classe especial inútil, saiu de um grau cinco para um grau oito em apenas quatro meses, quem dirá você.

    — Hã? — resmungou Rebecca.

    Suspirando, Paul cruzou os braços e retornou à assistir o treinamento.

    — Me comparar com o senhor é… péssimo.

    — Você tem potencial. Talvez, a com maior potencial dentre os cinco, ficando atrás somente daquele gênio adormecido. Mas… você é pessimista. Desviantes sem confiança não passam dos vinte anos.

    — Essa expectativa…

    — Vamos. Você irá aprender a não sofrer o dano que suas barreiras levam — disse Paul, deixando o treinamento de Myrddin a parte e caminhando rumo a uma saída do ginásio.

    Floresta de Elainópia, pântano de Dione

    9:30 A.M

    O galopar do cavalo era a única coisa que realmente fazia barulho na floresta. A trilha, quase consumida pela natureza, passou de barro seco para lama e pequenas poças d’água há alguns minutos.

    Olhando pela janela, o coração de Aryna não pôde deixar de bater rapidamente. Sua ansiedade e inquietude estavam no ápice, afinal, tem apenas uma janela a separando do pântano mais perigoso do mundo.

    Forçando um pouco os olhos, já era possível ver uma pequena parcela da floresta inundada por água parada. Uma vegetação viva, porém, rodeada por uma água verde e coberta por lodo.

    Gradativamente, a carruagem de Aryna freou. Uma pequena janela logo a frente se abriu, com o cocheiro pondo seu rosto para entregar um aviso.

    — Aqui é o limite. Me ordenaram a deixá-la neste ponto. Mais a frente terá um pequeno barco que a levará até o verdadeiro destino.

    Aryna assentiu, entendendo as palavras do cocheiro. Abrindo a porta da carruagem, seu primeiro passo foi numa poça de lama. Ao sentir o chão lamacento, ela suspirou para o céu, acumulando seu ódio por sujar suas botas brancas.

    Seguindo a trilha, a cada passo dado por Aryna, mais fundo a lama se demonstrava. Visando contornar, Aryna entrou na floresta à direita, já que ainda era comum se comparado ao pântano no lado oposto. Porém, não durou muito.

    Apenas alguns metros depois, Aryna se deparou com uma ladeira de musgo, cujo fim já era composto apenas pelo pântano.

    Não tendo outra escolha, a garota apenas aceitou e desceu sob os musgos, deslizando para baixo a cada passo dado. Chegando ao fim, ela desejou não ter descido. Tanto suas mãos quanto a roupa estavam cobertas por musgo, lodo e lama.

    Era uma sensação nojenta!

    Porém, o maior arrependimento de Aryna chegou quando ela viu que só tinha uma saída agora. Na frente dela, existiam apenas mais cinco metros de chão, ainda cobertos por musgo. Além desse pequeno pedaço de terra, em diante era apenas um pântano, com a água salobra impossível de ver ao fundo.

    Aproximando-se da água, Aryna tentou visualizar o próprio reflexo.

    — É tão suja que não reflete… — sussurrou a si, vendo apenas um raio de luz do sol refletindo na água, mesmo assim sendo ofuscado.

    Segurando no pedaço de terra, ela foi lentamente mergulhando na água, testando até onde seus pés iriam alcançar o chão. Para a sorte dela, a água chegou apenas seis centímetros acima da cintura.

    Antes de dar qualquer passo, ela suspirou, respirou profundamente, fechou os olhos e refletiu. Ela sabia que, muito provavelmente, Luanne está a vigiando, porém, o seu medo por criaturas aquáticas é superior. A qualquer momento uma serpente ou qualquer outro monstro aquático pode surgir e atacá-la.

    Aquém de cada passo, Aryna parava e respirava profundamente. Ainda com receio de avançar, a qualquer momento ela poderia afundar e a situação mudaria drasticamente. Neste ciclo ela ficou durante minutos.

    Em dado momento, a garota conseguiu se apoiar numa raiz enorme de árvore, ligada com outras inúmeras árvores. Agarrando no tronco de um carvalho, Aryna ponderou sua atual situação. 

    Fazer uma travessia naquele imenso pântano seria impossível e exaustivo para ela.

    “Se eu criar cordas d’água, seria possível saltar pelas árvores?” cogitou.

    Num ponto cego da garota, onde ela não conseguia enxergar, a água movimentou-se sozinha. Como se uma pequena pedra tivesse caído naquela região sem fazer barulho.

    O nível da água do pântano desceu um centímetro subitamente, despertando a intuição de Aryna. Gradualmente, o nível da água desceu mais ainda, chegando a um metro.

    Ao olhar para trás, Aryna se deparou com uma estranha movimentação na água. Toda aquela água estava se concentrando num lugar só, criando uma espécie de tornado invertido.

    Instantaneamente, todo o tornado invertido se desfez, retornando para o pântano e deixando apenas um disco d’água flutuando no ar. O pântano inteiro ficou agitado, criando pequenas ondas por todos os lados.

    O disco começou a girar no sentido horário e logo após foi atirado no abdômen de Aryna. Quase tão rápido quanto um piscar de olhos, o disco quase teleportou contra ela.

    Por instinto, ela desviou para o lado, fazendo o disco apenas passar rente a si. Mas, apenas alguns metros à frente, o disco explodiu em água, causando uma pressão capaz de derrubar Aryna no pântano novamente.

    Agarrando uma raiz do carvalho, Aryna tentou manter o controle da própria situação. Porém, um pé pesado caiu sobre a mão dela.

    Colocando força para segurar os dedos de Aryna, uma armadura de quase dois metros caiu ali. Uma armadura de aqualithium 1, coberta por musgos que ofuscam seu brilho azul fosco.

    Um raio azul cintilante escapou da brecha dos olhos no elmo e, posteriormente, uma explosão no formato de uma lâmina cresceu para além das árvores do pântano.

    1. Aqualithium: um minério elemental feito de cristais condensados de água. São usados, geralmente, para criar artefatos referentes aos desviantes que manipulam o elemento Aqua.[]

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