Índice de Capítulo

    — Primeiro passo: respirar — disse Selina. — Encontrar uma postura e uma forma correta para a batalha. Vamos pela ignição básica. Geralmente, os usuários de uma ignição começam por ela e criam as próprias.

    Selina firmou os pés no chão, empunhando a espada de Theo com uma força equilibrada.

    — Inicialmente, apenas a forma de respiração é importante. Inspirar por cinco segundos… Expirar por três. Manter o corpo neste ritmo antes da batalha começar é a chave de tudo. Após confirmar sua postura, apenas banhe sua espada com o atributo em seu núcleo.

    Uma energia laranja tomou a espada.

    — Apenas ataque…

    Selina cortou o ar suavemente, sem demonstrar dificuldade em manusear uma espada daquele tamanho. Um corte de energia se separou da arma, cortando uma pedra na frente da seguidora de Alunne.

    Selina executou os mesmos passos anteriores.

    — Também podemos utilizar da memória para fortalecer o poder…

    Ela fechou os olhos, mantendo uma concentração imersiva enquanto banhava sua espada com mais energia.

    — Ignição; primeira configuração… Secare.

    Um corte mais poderoso se formou podendo mudar, numa forma fraca, a sensação ambiente e causar uma brecha no chão.

    — Após aprender a ignição comum, você vai poder encantá-la com seus atributos elementares. Portanto, se preocupe apenas em aprender as configurações básicas — recomendou.

    — Certo — respondeu Theo, pulando de uma pedra ao qual estava sentado.

    Agnes acompanhou seu irmão e Selina de longe apenas com o olhar.

    “É similar ao estilo de combate que o general Li Minghua usava em minha vida passada…” Theo pegou a espada das mãos de Selina e ajustou a postura. “Estranho. É a primeira vez que penso no Liam como sendo uma extensão de mim.”

    Os olhos dele se arregalaram quando percebeu o que acabou de pensar.

    “Uma extensão de mim…”

    Sem sequer precisar ditar a configuração, Theo executou um movimento similar ao segundo golpe de Selina.

    “Acho que posso aprender algo contigo.”

    Após a leve introdução dada por Selina, Theo guardou a longa espada numa brecha entre suas costas e a mochila.

    Templo de Boreas, Torre Cardeal do Norte

    Uma leve brisa cobriu os pés de todos os três. O corpo inteiro de Agnes se arrepiou, mesmo com as camadas de roupas feitas para suportar o frio. Eles caminhavam numa pequena estrada, murada por pedras de dois metros.

    Agnes apresentava uma certa dificuldade para respirar naquela altura, visto que estavam próximos ao gume. Já que ela não possui afinidade com nenhum elemento, ou sequer possui mana, ou éter, era de se esperar dela demonstrar tais fraquezas.

    — Vem. — Theo pegou na mão de Agnes, segurando com força. Ele a conduziu pelo resto do caminho.

    Após cinco minutos caminhando pela estrada, chegaram finalmente no fim. Mas, para a infelicidade e talvez felicidade deles, a última escada estava em sua frente; no fim dos degraus, estava a entrada do templo, com dois pilares brancos sustentando um arco.

    — O templo do norte… — murmurou Agnes.

    Um cajado foi cravado no topo da escadaria, entre os dois pilares.

    — São provavelmente os guardas do vilarejo — informou Selina. — Você falará com eles.

    Ela deu um leve empurrão em Theo, rumo à escada. O rapaz andou meio desajeitado para frente.

    Uma silhueta, contornada pelos raios do sol, se apresentou. A pessoa que desceu era um homem trajado por uma túnica branca com tons esverdeados.

    Em suas mãos estavam duas facas afiadas, detalhadas por três ondas de vento que se entrelaçam. De cabelos e barbas longas e cacheadas, ele se apresentou:

    — Me chamo Frorus, o guarda dos portões de Boreas. — Apontando a faca para Theo, ordenou: — Se apresente.

    — Theo De Lawrence, estudante da academia de Wispells, em Vagus.

    — Está aqui para cultuar o lorde Boreas?

    Theo olhou de canto para Selina, perguntando com os olhos se tinha certeza daquilo. A seguidora de Alunne, por sua vez, assentiu. Dando permissão.

    Tirando sua luva esquerda, ele suspirou. Uma brisa superior rondou o ambiente e veias de energia brilharam por debaixo da pele do rapaz. 

    Aquela cena o surpreendeu, pois foi a primeira vez que a ressonância o respondeu daquela maneira.

    Uma flecha começou a tomar forma na mão de Theo, mas foi transformada numa esfera de pura energia, tendo apenas uma seta apontando para o norte em seu centro.

    Tanto Theo quanto Frorus se surpreenderam. O guarda se impressionou devido a ressonância do rapaz, enquanto Theo, se impressionou devido à forma que sua marca tomava.

    A esfera flutuou pelo ar, subindo a escadaria em direção ao cajado onde outra silhueta humana se apresentou. Aquela esfera de energia vagou para além dos portões, sumindo do campo de visão de Theo em instantes.

    — Venham — chamou, uma voz fraca e frágil no topo da escadaria. — Ou você quer perder o início de tudo?

    Theo ignorou a presença do guarda Frorus e avançou, correndo rapidamente pela escadaria.

    — Theo! — exclamou Agnes.

    Chegando no topo da escadaria, Theo viu o orbe de energia ser consumido por uma névoa densa junto ao homem com o cajado. 

    Assim que Agnes e o guarda chegaram no local, a garota parou enquanto o homem continuou correndo atrás de Theo. Selina apareceu cinco segundos depois, entrando na névoa sem medo.

    A garota começou a andar em direção à névoa, até seu campo de visão ser consumido pela nuvem densa. Perdida e sem conseguir enxergar o chão que pisava, Agnes ficou desamparada, seguindo apenas um brilho verde reluzente.

    Segundos depois, esse brilho também desapareceu. Ela correu para a frente, sem saber realmente se seguia no rumo correto. Tendo certeza apenas quando esbarrou nas costas do seu irmão, acompanhado por Selina e o guarda.

    Os três encaravam uma ponte de madeira. 

    O guarda estava apenas se assegurando de que Theo não fugiria naquele cenário.

    — Selina, cuide dela — pediu Theo, antes de correr pela ponte.

    — Depois de escalar toda essa montanha e correr mais algumas dezenas de metros, como ele tem tanta energia? — comentou Agnes.

    A névoa já não estava tão densa. Era notório que, mesmo coberto por nuvens, tinha um abismo abaixo de seus pés. Ainda assim, Theo continuou correndo atrás do orbe.

    Cinquenta metros após o início da ponte, a névoa desapareceu. Apenas vinte metros na frente de Theo, estava o homem com o cajado andando lentamente em direção ao orbe.

    Theo o alcançou em instantes, e até tentou reconhecer seu rosto, mas um capuz de couro cobriu a face do homem corcunda. Com isso, o rapaz apenas ignorou e continuou atrás da esfera que se originou de sua ressonância.

    O desespero de Theo veio devido a não sentir mais o atributo de vento no seu núcleo. Ele não conseguia mais utilizar o elemento de maneira alguma, então deduziu que seu elemento estava totalmente naquela esfera.

    A ponte se balançou com um vento poderoso, mas Theo continuou correndo, se segurando nas cordas que amarravam a ponte. Ainda faltavam aproximadamente cem metros até o outro lado.

    A fonte da brusca ventania? O homem com o cajado. Claramente, mesmo que Theo sequer pudesse deduzir seu nome, aquele homem era um ancião da civilização que estaria logo à frente.

    O monte Haemon é conhecido justamente por ser a casa de um pequeno vilarejo, tal onde todos os moradores cultuam o deus vento Boreas. Aquele senhor era alguém assim como Theo: capaz de moldar o vento como desejado.

    A cada batida do cajado nas tábuas da ponte, a ventania se tornava mais poderosa. Casualmente, Theo perdia o equilíbrio e quase era jogado para fora da ponte. Porém, após tanto ser rejeitado pelo vento, ele conseguiu atravessar a ponte.

    O sol da manhã iluminou uma rua de azulejos brancos. Pilares de marfim estavam assimetricamente nas duas direções laterais, apresentando o lugar como uma entrada de palácio. 

    Entretanto, não era. Era apenas a entrada do pequeno vilarejo dos adoradores de Boreas, apenas isso.

    Theo correu pela calçada branca, ainda seguindo seu orbe de vento. Algum tempo depois do garoto alcançar o local, o homem com o cajado também atravessou a ponte.

    Ele correu até suas pernas finalmente fraquejarem. O cansaço já estava afetando sua visão, tornando-a turva e desbotada.

    Após tanto correr, o orbe por fim pairou no ar, em frente à uma estátua, que estava de costas para Theo. A esfera de energia flutuou para quase dez metros de altura, impossibilitando ele de a pegar.

    O som de um bastão abraçou o ambiente. Theo piscou os olhos e então, estava em um imenso pátio circular. O chão era detalhado por runas de vento, como nuvens soprando em direção à estátua.

    Ele chacoalhou a cabeça para despertar novamente, mas não era uma ilusão. Olhar para o lado, o rapaz viu um homem corcunda coberto por um manto caminhar na direção oposta à ele.

    Um claustro rodeava a estátua, seus pilares eram feitos de mármore e sustentavam um telhado de cerâmica. O homem caminhou para o lado direito do claustro e então questionou à Theo:

    — Todo este desespero representa seu medo de perder o poder?

    Sua voz rouca e imponente arrepiou a espinha de Theo. A única reação do corpo do rapaz foi dar um leve salto para trás.

    Correndo os olhos pelo ambiente e vendo o homem caminhar lentamente pelo claustro, Theo decidiu seguir o caminho oposto, indo pelo lado esquerdo da estrutura.

    — O que quer dizer? — perguntou Theo, caminhando de punhos cerrados.

    — A névoa de entrada deve ter afetado os sentidos dos visitantes, já que vocês passaram minutos perdidos no meio da nuvem…

    “Minutos? Foram apenas segundos…” pensou Theo, ao interpretar corretamente as palavras do homem, ele entendeu. “Feitiço de ilusão…”

    — Mas, você correu cinco quilômetros atrás daquela pequena esfera de energia.

    O rapaz soou frio.

    — Uma quantidade tão pura e colossal de poder nas mãos de um adolescente ganancioso… Bom, não o julgo. Todos os desviantes são gananciosos por poder. Afinal, é isto que nos mantém vivos. Mas valeria a pena morrer por esse poder?

    — Obviamente. Como você disse, esta porção de poder é o que nos torna vivos. O ser humano, seja desviante ou não, sempre correrá pela necessidade de sobreviver — respondeu Theo, acompanhando cada passo do homem misterioso.

    — Mas qual o objetivo de querer poder? Se impor aqueles que não possuem tal grandeza? Demonstração? Aprovação de alguém? O que almeja alcançar até o final do túnel que é a vida?

    O orbe gerado pela ressonância de Theo girou pela estátua, liberando um rastro de atributo elementar pelo ar. Partículas verdes de energia deixaram o ambiente mais vivo.

    — Não sei. Peças no tabuleiro não tem permissão para pensar no próprio futuro. 

    — Então você admite que és uma peça no tabuleiro do poder?

    — Claro.

    — Então porque almejas tanto aquilo que te controla? Porque permite ao poder lhe controlar, quando você quem deveria estar no topo?

    Theo soltou um murmúrio.

    — Almejar ser o jogador quando ainda se é uma peça do tabuleiro… É o que torna a humanidade tão fraca e ultrapassada.

    — Você se autoproclamou fraco agora. Deve ser por isso que fala tanto de poder? Por ser algo que lhe falta? — retrucou Theo.

    O homem riu com sua audácia.

    — Sim, eu sou fraco. Perante aos humanos que veneram como deuses, os ditos Titãs, eu sou fraco. Mesmo assim, tenho mais poder que você.

    — Isso deveria afetar o meu orgulho?

    Ambos concluíram a volta no claustro, ficando cara a cara. Enquanto o homem caminhava devagar em sua direção, Theo decidiu vislumbrar a estátua e ver sua esfera de energia.

    Ele finalmente entendeu do que se tratava.

    Uma réplica da Torre dos Quatro Ventos ergueu-se, formando a base de uma nuvem artisticamente esculpida. Essa nuvem, embelezada com detalhes requintados, simbolizava a morada celestial de Boreas, o deus do vento norte. 

    No alto dessa estrutura, um trono suportava a figura de um homem com feições nobres, com cabelos longos e cacheados fluindo ao vento. Com um gesto solene, ele estava com a mão estendida ao norte, empunhando uma esfera vazia.

    — Se não lhe afeta, então o poder não te faz falta — completou o homem.

    Os dois pararam um na frente do outro. Theo encarou o homem seriamente, enquanto o outro continuou escondendo seu rosto por debaixo do capuz.

    — Sem o poder, o que é você?

    — Eu não sou nada. — Theo respondeu de punhos cerrados.

    — Então você não é nada agora. Nada além de uma peça morta.

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