Índice de Capítulo

    O homem encarou todos de cima, com uma atmosfera superior. Flutuando no ar, acima de todos, a energia azul-cobalto escapava por suas vestes, tocando o chão e os banhando com um mar de pavor. Selina agarrou o braço de seu protegido, forte o suficiente para marcar a pele. 

    — Theo… — cochichou. — Consegue ativar sua ressonância?

    O rapaz engoliu em seco.

    — Sim… — respondeu, num tom de voz baixo.

    — Ótimo. Vamos precisar do seu máximo…

    ‘Eu ordenei que se ajoelhem.’ Sua voz rouca e sem direção apavorou os mais fracos.

    Theo manteve a sanidade, sustentando apenas por sua mentalidade, mesmo que fragilizada, conseguia se manter vivo perante ao desespero. Infelizmente, outros agentes não tiveram a mesma sorte.

    — Não é humano…

    ‘Não.’ respondeu para Selina. ‘Não sou.’

    Por debaixo de um manto cor de lodo, um dos conjuradores a comando de Isak preparava um feitiço silencioso.

    — Então o que você é? — inquiriu Theo, deixando os outros agentes confusos. Eles não ouviram o que Selina tinha murmurado.

    ‘Algo que vocês…’

    Esticando bruscamente o braço para frente, o conjurador revelou uma espada lilás ainda se materializando em forma de energia. Mas, o movimento foi parado na mesma velocidade que executado. O homem apareceu ao lado do conjurador, trazendo um rastro azul materializado em lâminas.

    O braço do agente, tal que segurava a espada, foi amputado sem cerimônias. Quando notaram, já era tarde. O homem estava no meio de todos os agentes, agora, olhando para o chão.

    ‘Que apressado.’

    Bastien desembainhou a espada, ativando o brilho vermelho na lâmina. Sem deixar o homem piscar, encostou o fio da espada na garganta do alvo. 

    ‘Eu não senti você se mover.’

    — O que é você? — inquiriu Bastien.

    O homem suspirou, mesmo com a lâmina em sua garganta.

    ‘Vocês devem me chamar de djinn.’

    “Djinn?” Theo achou aquilo um absurdo.

    Djinn é um título dado aos desviantes que atingem o ápice do controle de energia. Desviantes que, de alguma forma, alcançaram a posição de “todo-poderoso”. No entanto, eles sumiram há milênios. O último foi reconhecido há três mil anos, depois dele, não há relatos de mais nenhum. Aquele homem, autoproclamado um djinn, estava praticamente falando que era um conto de fadas.

    — Deixa de baboseira.

    Bastien ameaçou decapitá-lo. Jack moldou o gelo em uma lâmina que apontava perfeitamente em seu núcleo, pressionando contra as vestes largas do djinn. 

    Aidna estava deitada no chão, se revirando pelo frio e contorcendo devido ao tumulto. A druida se levantou, coçando os olhos e bocejando, lutando contra a preguiça

    — Estranho. Eu já me sinto recuperada — comentou Aidna.

    Vinhas subiram pelas pernas do djinn, agarrando seu corpo por dentro adotando o papel de algemas. 

    — Você tá falando algumas baboseiras que ultrapassam o limite. 

    ‘É?’ resmungou virando o rosto de perfil, buscando Aidna.

    — É. Idiota. Os Djinns foram expulsos na guerra contra os druidas. Eu sei disso pois… A minha espécie quem fez isso com todos eles. E após isso, nenhum djinn nasceu.

    ‘Ah… Eu jurava que o garoto das escamas 1 era um djinn. Me falaram que os desviantes ficariam mais poderosos a cada geração. Que da minha época, em duzentos anos no futuro, seriam imensuráveis… Mas, vejo que estavam errados. Se nenhum djinn nasceu, é porque vocês são inúteis então.’

    Com um simples movimento, o djinn quebrou as vinhas. Aidna sentiu o movimento e ficou alerta, já que as vinhas eram uma extensão de sua própria energia. Ligeiramente, o djinn jogou o corpo de Bastien contra chão, impossibilitando reações.

    Theo e Selina recuaram para a borda da plataforma maior, a melhor escolha. Tal escolha também foi adotada por Jack, Bastien, Isak e Aidna. Alguns agentes já estavam longes o suficiente do djinn, o que poderiam considerar uma zona segura. Infelizmente, três agentes não tiveram essa sorte.

    Ao mesmo tempo que os agentes recuaram, o djinn espalhou uma onda de energia, envolvendo o próprio corpo com um véu azul. Este véu rapidamente se materializou em lâminas de energia, fatais para qualquer agente no local.

    O conjurador que tivera seu braço arrancado pelo djinn não escapou das mãos daquele “semi-deus”. As lâminas de energia entraram no piso, procurando uma forma de ocultar a presença de seu feitiço. A primeira lâmina, no entanto, foi a única a se ocultar realmente. 

    O feitiço surgiu abaixo do conjurador, que estava caído no chão e agonizando de dor. O piso abaixo de si tinha abandonado o branco convencional e adotado a cor de seu próprio sangue. Quando viu aquela forma maciça e quase milimétrica de energia rasgar o chão feito manteiga, fechou os olhos em desistência.

    No entanto, Theo ainda não tinha desistido deles. Três agentes estavam imobilizados no centro dos ataques; o conjurador com seu braço arrancado; o senhor Drogmose que não conseguia se mover como antes e outra conjuradora, paralisada em pânico.

    Theo era um papel entre todos os agentes, isso está claro. Mas, pelo fato da inexperiência em combate como os outros agentes, e também por ser alguém disciplinado a socorrer, Theo sempre manteve em mente que deveria ajudar mesmo quando seus superiores desistissem de tal virtude.

    Mesmo distante, Theo controlou o vento por toda a plataforma, visando alterar o percurso dos feitiços. O que parecia apenas impossível, se mostrou realmente como tal. Os vetores do vento sendo alterados para todas as direções não resultou em nada além de uma alteração insignificante dos feitiços.

    O vento não alterava a mana, não a ponto de salvar os três. Essa incapacidade resultou em outras três tragédias. O feitiço atirado contra o conjurador rasgou o chão, como uma faca partindo uma barra de manteiga, e partiu a cabeça do agente no meio, literalmente no centro dos olhos. A lâmina voou para o céu antes de se desintegrar em partículas de energia.

    Outro projétil de energia correu por baixo do chão, rasgando o cenário em segundos. Desta vez, não apenas rasgou, mas quebrou o piso a ponto de desmoronar uma pequena parte do local. Os dois restantes; a conjuradora e o Sir Drogmose foram partidos ao meio e tiveram seus restos lançados em um abismo revelado pela destruição do lugar.

    — Que merda… — Theo rangeu os dentes, sentado no chão e imponente vendo o djinn sequer se mover para aquilo.

    ‘Você é uma aberração natural, para um humano.’ disse o Djinn, surgindo em frente a Theo. O antigo desviante não olhava apenas para os olhos do garoto, mas tocava na própria alma de Liam. ‘Você sim é um djinn. É uma ameaça grande demais para o meu rei…’

    Bastien apareceu de repente, investindo contra o djinn com sua espada. Embora o djinn tenha desviado habilmente do golpe inicial, Jack surpreendeu-o em seguida. Utilizando uma espada elemental, o agente de gelo conseguiu perfurar o manto do djinn, mas seus golpes foram interrompidos pelas lâminas de energia. 

    Os dois agentes pararam ao lado de Selina e Theo.

    — E quem seria o seu rei? — perguntou Bastien, tentando roubar tempo.

    ‘Um ser superior que nenhum de vocês teriam a capacidade de presenciar a grandeza em sua existência…’

    — Quanta baboseira…

    Bastien novamente arrancou contra o djinn, iluminando sua espada com um brilho três vezes mais forte.

    “Essa espada…” ponderou o djinn. “Pertence ao submundo.” concluiu, segurando a lâmina de Bastien com uma almofada de energia.

    ‘Com este brilho, se a espada me tocar… eu morrerei, certo?’

    — Chegou a essa conclusão apenas ao entrar em contato com a energia emanada? Incrível.

    Embora estivesse demonstrando confiança por fora, Bastien estava sendo oprimido e esmagado por dentro.

    ‘O quê? Vocês não evoluíram essa habilidade?’ disse em tom de desdém. ‘Vocês…!’

    O djinn foi interrompido pelas vinhas de Aidna, voltando a segurar o corpo do desviante ancestral. No entanto, aquele era um ataque combinado com Theo. 

    Mesmo que não se conhecessem muito bem, durante a vinda até a fortaleza, Aidna e Theo discutiram suas técnicas de combate. Um de seus ataques combinados, embora seja realizado individualmente por Aidna, faz Theo servir como um amplificador.

    — Vinhas da morte! — exclamou Aidna, não em forma de conjuração, mas de sinal. Estava alertando a Theo.

    “Certo!” balançou a cabeça para a druida.

    Discretamente, Theo movimentou os dedos em formato de espiral. Os vetores do vento foram jogados para o norte, trazendo uma breve ventania que apenas jogou as roupas para o ar. Entretanto, assim que Theo conseguiu encontrar seu alvo, a ventania foi alterada bruscamente.

    Agarrando os pés do alvo, Theo rotacionou o vento por toda a extensão do corpo do djinn, quebrando os galhos e flores das vinhas. Buscando surpreender o djinn quanto antes, Theo criou uma ventania agressiva, mexendo as flores e folhas em alta velocidade ao redor do inimigo. Aidna, no entanto, alterou as propriedades de seu feitiço; fazendo com que as flores adotassem um aspecto de lâminas, endurecendo-as enquanto permaneciam leves.

    Sem ter para onde correr, o djinn ficou parado enquanto uma ventania de pétalas o cortava incansavelmente.

    “Eu não sinto energia saindo do garoto. Ele é igual aos bruxos. Talvez isso já seja normal atualmente…”

    Em um movimento calmo, o djinn contrariou toda aquela tempestade combinada de Theo e Aidna. Ambos ficaram em choque. 

    ‘Tenho que matar você primeiro.’ O djinn, deixando que sua energia vazasse como aura, disse surgindo em frente a Theo.

    Parecia uma sombra infernal, algo vindo do mais fundo que o abismo pode entregar. Algo que Liam temeria, e, que em certas ocasiões representou: a morte. Theo apenas se lembrou do Dullahan, já que ambos transmitem a mesma presença.

    As lâminas de energia logo se chocaram com a espada de Bastien, novamente. Isak agarrou o djinn por trás, enquanto lâminas de gelo materializadas por Jack flutuavam apontadas para a cabeça do “monstro”.

    — Por que sua obsessão pelo jovem mestre? — inquiriu Bastien, cerrando os dentes. Seus cabelos pretos cobriam seus olhos do ângulo que o djinn tinha acesso, porém, era notório seu ódio por trás dos olhos.

    ‘Por que… a consciência do garoto se estende para o mundo. Não posso permitir que a mente genial dele desperte.’

    Theo hesitou.

    Os agentes não se importaram com o argumento. Quaisquer dúvidas que eles tivessem e que esperavam obter uma resposta do próprio Theo, deixaram para mais tarde.

    Todos que ainda podiam lutar atacaram no mesmo instante.

    Selina fez o impensável para Theo: arrancou a zweihänder das costas do rapaz e imbuiu toda sua mana na lâmina, atacando o djinn debaixo para cima.

    Bastien lidou com as lâminas de energia, dissolvendo-as com a ajuda das armas de Jack, tais que voaram contra o djinn posteriormente; algo similar a telecinese.

    Isak, por sua vez, segurou o djinn com mais força para não escapar. Todos os conjuradores e suportes lançaram projéteis, mesmo que o líder do segundo grupo estivesse na linha de fogo.

    No final? Além de um show de luzes, não serviu de nada.

    O djinn se livrou dos ataques de mana apenas liberando uma onda eletromagnética com a própria energia nuclear. Quanto aos ataques físicos, ele usou a lógica da atração e repulsão. Utilizando valores de energias iguais às de Bastien e Selina, o djinn conseguiu expulsar os dois agentes para longe.

    ‘Está vendo? Esse é o mínimo que você pode fazer.’ disse para Theo, este engoliu em seco e temeu. ‘Você, não. Talvez o outro você… Por que aceitou toda essa confusão?’

    Olhando todos caídos no chão, até mesmo os mais poderosos tendo dificuldade para se erguerem, Theo desistiu. Abrindo mão da mente e do controle do próprio corpo… São os requisitos.

    Quando Theo desistiu de lutar contra a harpia seu corpo, subconscientemente, agiu usando a ressonância pela primeira vez e atirando um feitiço que nunca ouviu falar. Ou, quando Theo se irritou por ser golpeado de surpresa por Selina. Quando se sentiu ameaçado por Ivan e usou um feitiço de magnitude tempestade… Até mesmo quando Alunne foi negada. 

    Em todos esses momentos, Theo não agiu. 

    O seu “verdadeiro eu” fora quem agiu. O autor de todos esses momentos foi o genocida que Theo tanto negou a existência.

    ‘Criei um campo eletromagnético para que não nos escutem. Agora, te contarei um segredinho…!’

    — Que saco. Adolescência é uma merda, né?

    Uma voz mais madura saiu de Theo, mesmo que ainda fosse a voz do rapaz.

    — Talvez seja eu o problema. Não consegui ver esse lado da adolescência na vida passada. São muito emocionados. Um trauma faz isso tudo com um humano? Acho que não sofri tanto.

    ‘O que aconteceu? Agora está falando na minha frente sem medo…’

    — Bla, bla, bla, bla. Seu atributo de medo não se aplica mais a mim. “Talvez o outro você”, foi o que disse. Eu sou o verdadeiro, o único. O garoto é uma personalidade mais humana que deixei tomar controle, mas, no fim… Existe apenas eu. Dupla personalidade, sabe como é?

    O djinn balançou a cabeça em negação.

    — Saquei. Eu sou Liam Mason. Você queria me contar seu segredinho? Bom… eles vão se levantar logo.

    Quase que instantaneamente, Liam surgiu acima do djinn, pegando sua nuca como se fosse apenas uma bola de futebol e jogando-a contra o chão. O piso branco se quebrou com o impacto, sendo restringido a uma certa região.

    Ambos caíram no abismo desconhecido.

    1. se referiu a armadura de Bastien[]

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