Índice de Capítulo

    — Você os perdeu? — repetiu Javier.

    — Eu os perdi.

    — Como?! — exaltou-se um pouco.

    Moris pigarreou.

    — A fortaleza mudou de estrutura. Uma parede nos dividiu em dois grupos, mas, quando quebrei a parede para me encontrar com os outros agentes, viemos parar em um lugar aleatório…

    Javier ofegou, tentando manter controle de sua respiração. 

    — Com o que você estava lutando para usar a ressonância? — O titã dos mares tentou mudar a direção do assunto. 

    Se Moris não havia os encontrado durante todo esse tempo, gritos e raiva não iria mudar em nada.

    — Um dragão de plasma — disse cabisbaixo, lembrando de Rice.

    — Hum… Pensei que já estava morto… — murmurou Javier.

    — Agora está. — Carregou um tom sombrio em sua voz. Moris passou para o lado de Javier, dando uma olhada no cadáver. — Quem é ele?

    — Não faço a menor ideia.

    Javier se virou para o lado de Moris. Os dois titãs respiraram juntos por um momento. Ziziel pegou um caderno que furtou no quarto de Cepheus, o rei. Um diário real, para ser mais específico. 

    Folheando as páginas, Ziziel da ira chegou a algumas anotações que ele viu apenas de relance outrora. Um trono de pedra.

    — Um trono… — resmungou Moris. Flashes dos símbolos na parede tomaram sua mente. — Um trono!

    — O que foi?

    — Zypher! — chamou. — Venha aqui.

    O primeiro assistente de Moris entrou no cômodo e, somente um momento dentro, reclamou do mau cheiro. Zypher correu os olhos pelo ambiente e notou todos os detalhes minimamente. O alquimista em seu grupo iria gostar daquela mesa.

    — Como era o nome daquele rei? O da fortaleza. — Moris parecia ansioso e apressado.

    Zypher pigarreou.

    — Cepheus — retrucou.

    — E quais as figuras na parede?

    Refletiu um pouco.

    — Um trono, um rei, um exército, um cubo e… algum tipo de estrela com quatro pontas — disse pausadamente, tentando se recordar por completo. Não havia mais nada para acrescentar.

    — Um trono.

    Moris apontou para o caderno, tal que possuía uma ilustração perfeita do trono que aquele cadáver estava.

    — Um rei… — gesticulou a mão.

    — Cepheus — completou Zypher.

    — Que figuras na parede? — perguntou Javier.

    — Nós paramos para vê-las, então, a parede surgiu.

    Javier encostou seu tridente na parede e cruzou os braços.

    — Então… acha que essas figuras têm alguma relação com esse lugar ao todo?

    ‘Posso dizer que tem.’ afirmou Nihaya, com sua voz profunda e imponente.

    O djinn surgiu atrás de Zypher, flutuando quase no teto. A porta enferrujada se fechou rapidamente.

    Javier agilmente empunhou seu tridente, enquanto Zypher saltou para o lado dos titãs e banhou seus punhos com chamas.

    — Quem é você? — perguntou Moris, com uma postura totalmente fechada.

    ‘Sou Nihaya, um djinn Marid.’ Nihaya tocou calmamente o chão. ‘Não se preocupem com o outro grupo de vocês. Estive com eles há pouco, alguns estão vivos.’

    — Alguns? — Javier ameaçou com o tridente.

    ‘Alguns. Cerca de quatro morreram. Mas, se cooperarem, posso me assegurar que ficarão vivos.’

    Os três agentes hesitaram, trocaram olhares e então decidiram ouvir.

    ‘Ótimo. O cadáver pertence a um feiticeiro alquimista chamado Ceptos, um conselheiro do rei Cepheus. Há alguns séculos, quando o rei Cepheus declarou guerra contra praticamente todo o império de Romerian, Ceptos trabalhou pelas costas de seu próprio rei ao lado do imperador.’

    Nihaya cruzou as mãos nas costas e andou até a mesa.

    ‘Ele criava uma droga para matar o rei, um desviante sem igual.’

    — E porque nunca ouvi falar nele? — Moris interrompeu, Javier o encarou incrédulo.

    — Você nunca ouviu falar de Cepheus?

    — Não.

    Nihaya sorriu levemente.

    ‘Cepheus travou uma guerra que… Só não ultrapassou a guerra contra Nalleth Zala. Cepheus era tão forte que foi capaz de subjugar a mim e mais dois seres espirituais.’

    — Então você é a cachorrinha dele? — Javier buscava formas de desestabilizar o djinn, tentando forçar um erro. Mas não foi possível.

    ‘Por lealdade? Não. Ele sabe disso. Como vocês devem saber, Cepheus foi morto por Lincoln Di Ham…’

    Moris estalou o dedo.

    — Ah! — suspirou. — Cepheus é o rei da guerra?

    — Sim — respondeu Zypher. — Não o conhecia por Cepheus?

    O titã da ira sacudiu a cabeça. Sua guarda estava baixa.

    ‘Cepheus morreu. Mas, foi negado pelo céu, inferno e terra.’

    — É um fodido mesmo — comentou Javier, descuidadamente. O titã sequer pensou em suas palavras, pois não tinha medo de Nihaya ou qualquer outro ser que os acompanhasse.

    Nihaya coçou a garganta.

    ‘Ele se tornou um Mephys. Uma raça espiritual nova até para mim, por isso fui capturado.’

    — O que são os Mephys? — indagou Zypher, ousou.

    ‘Seres moribundos, presos em domínios únicos. Dimensões inferiores ao universo, mas que tem suas entradas no mundo humano. Estou preso aqui há duzentos anos, e agora, vocês também.’

    Moris engoliu em seco.

    ‘Os Mephys possuem poderes míticos, são seres sobrenaturais. Sequer eu, que passei duzentos anos ao lado dele, sei a força desse monstro.’

    — Está aqui para nos ajudar? — questionou Javier.

    ‘Sim. Quero que matem-no.’

    — Ele não é o seu rei?

    ‘Em nenhuma das dimensões. Eu sou algum tipo de escravo. Geralmente, ele consegue me localizar e escutar não importa aonde eu vá. Mas, graças a vocês, consigo esconder minha presença.’

    Nihaya deslizou os dedos pela mesa enquanto olhava as antigas poções de Ceptos.

    ‘Estarei me movendo entre vocês dois e o outro grupo. Guiarei vocês até o castelo do rei, sorrateiramente, enquanto os preparo para o combate iminente.’

    — Por que deveríamos confiar num djinn? E por que fala como se houvesse acontecido mais de uma vez?

    ‘Justamente por eu ser um djinn que vocês devem confiar em mim. Sou um ser que não pode mentir, não sou leal a um senhor e muito menos aos homens. Busco apenas uma forma de sair deste domínio.’

    — Por que não o mata?

    ‘Falhei quando ele me capturou.’ retrucou. ‘Acha que eu já não teria o matado se pudesse?’

    — Não confiamos em você — afirmou Moris.

    ‘Não espero isso. Por isso que guiarei aos outros.’

    Os três ficaram sem entender.

    ‘Somente o arauto de Hades, o homem de gelo e aquela druida podem representar ameaça ao exército. Porém, alguns ainda são frutos para amadurecer.’

    — Você irá…

    ‘Sim. Irei ensiná-los a ser djinns. É um bom ponto de confiança para você?’

    — Não — retrucou Javier. — Como saberemos que estão vivos?

    Nihaya olhou para os titãs e o assistente da ira. Estendendo a mão de palma aberta, o djinn conjurou uma esfera de energia azul. Algo como “um bola de cristal”. Alguns momentos depois, a cúpula onde Theo e Bastien descansavam fora transmitida.

    “Como ele… Transmissão? Sério? Isso é apenas teoria.” Zypher se surpreendeu.

    — Jovem Mestre Lawrence… — resmungou Javier.

    ‘Ele está desmaiado. Usou muito do próprio corpo e núcleo, deve ficar apagado por um tempo.’

    Nihaya fechou o punho, desfazendo a esfera em partículas de energias. Posteriormente, criou mais bolas de cristais pelo ambiente mostrando cada agente do grupo de Theo.

    ‘Estou observando todo mundo. E respondendo sua segunda pergunta… Vocês não são os primeiros a entrar aqui e, se não matarem Cepheus, não serão os últimos.’

    — Então… — disse Moris. — Um trono para Ceptos. Um rei… Cepheus. Seu exército, um cubo?

    — Você disse que este é o domínio de Cepheus? — perguntou Javier. — E, além disso, falou que domínios são dimensões abaixo do universo. Nosso universo é composto por quatro dimensões, se está abaixo disso então deveria ser três?

    ‘Exatamente. Esta dimensão é composta apenas por espaço. O tempo está fora da equação.’

    — Então, como sabe que se passaram duzentos anos?

    Nihaya apontou para Zypher.

    ‘Estou os olhando desde que entraram aqui. O rapaz comentou sobre Cepheus ser um rei de duzentos anos atrás.’

    — Você não segue exatamente ao Cepheus, né?

    Assentiu negativamente.

    Eles queriam induzir o djinn a cometer um erro, afinal, se ele trocasse suas respostas, significaria que Nihaya está mentindo. No entanto, não estava.

    ‘Estou me escondendo dele durante os últimos anos. Mesmo assim, não consigo ir contra as ordens do dono deste domínio.’

    — Que ordens?

    ‘Matar a maioria de vocês. Ele quer manter apenas dezesseis.’

    — Por quê?

    ‘O mesmo joguinho de sempre. Uma guerra final. Os dezesseis generais de Cepheus contra dezesseis homens do exterior. Nós sempre vencemos. Porém, agora vocês mataram dois.’

    — Dois? O dragão, senhor Moris? — indagou Zypher.

    ‘Correto. E o outro era o lorde reptiliano.’

    — O quê? — Javier disse descontente. — Tipo um dinossauro vivo? Aquela porra era forte?

    — Você lidou com ele? 

    — Lidei? Eu o matei com uma facilidade tão absurda que o tratei como um monstro de esquina — retrucou o titã.

    “Ele não entendeu a força do lorde?” ponderou Nihaya. “Olhando bem, este humano é certamente o mais poderoso dentre todos que já pisaram nesse domínio.”

    Uma camada densa e refinada de energia cobria Javier, como água poluída. Uma aura naquela tonalidade não representava bom caráter.

    ‘Essa sensação…’

    — O que foi?

    ‘Cepheus enviou seu general principal atrás de mim, novamente. Irei despistá-lo. Procurem um lugar com essa runa.’

    Nihaya estendeu e conjurou uma runa de energia. Um círculo plano era rodeado por linhas fluidas que irradiam para fora, representando uma espécie de escudo minimalista.

    ‘É um símbolo de proteção djinn. São pontos cegos que espalhei no domínio. Estarão seguros lá.’

    Nihaya desapareceu subitamente do ambiente, deixando sequer uma turbulência no ar.

    — Vamos confiar nele? — perguntou Zypher, hesitante.

    Javier estreitou os olhos enquanto encarava a runa de Nihaya.

    — Iremos. Qualquer coisa, matamos — afirmou Javier.

    Moris hesitou recuando o corpo levemente para trás. As atitudes de Javier não o agradavam, mas, naquele momento da missão, isso sequer importava.

    Tempos de paz era o que o titã da ira mais desejava, mesmo que fosse uma grande ironia tendo em vista seu título. O titã da ira não conseguia mais negar o fato de que deixar aquele rio poluído o guiar pelo fluxo do domínio era a melhor escolha.

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