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    Segundos após Theo se jogar do morro, Selina, Aidna e a conjuradora o seguiram. Somente por encostarem no chão, o guardião ergueu sua cabeça na direção dos invasores. Aquele era o limite do território; se eles ousassem passar, seriam atacados pelo guardião.

    — Tem certeza de que não está intimidado? — perguntou a conjuradora, trêmula a cada palavra.

    — Obviamente não — afirmou Theo. — Eu estaria mentindo se falasse que não estou com medo…

    — Ótimo — disse Selina, retirando uma flecha de sua aljava e apontando seu arco para o guardião. — Estejam prontos.

    A máscara e o manto lunar cobriram Serach subitamente, como um véu negro.

    Theo engoliu seu medo e se banhou com coragem. Empunhando sua zweihänder com as duas mãos, ele caminhou contra o guardião. Quando atravessou os limites do território, a armadura viva buscou diminuir a distância contra o jovem.

    Arrastando a espada de lâmina esmeralda pelo chão, o guardião sequer respeitou os cadáveres dos agentes mortos; ele caminhou por cima dos corpos sem vida como se fizessem parte do chão.

    Os dois continuaram caminhando lentamente um contra o outro, como se não estivesse prestes a travar uma luta sanguinária.

    Essa calmaria em seus passos levou Theo a refletir sobre seu medo. Do que exatamente ele sentia medo? Da morte? Ele mesmo ignorava esse fato.

    Ele já batalhou contra inimigos mais fortes que si; a harpia, Selina, o ancião Hron, os tubarões, Nihaya, os espectros… Se contar a vida passada, demônios colossais. Então, o que gerava tanto medo contra este guardião?

    Esse medo não fazia sentido para Theo, não mais.

    Eles caminharam até chegar há vinte metros um do outro. Foi quando, então, o guardião ergueu sua lâmina esmeralda contra o rapaz.

    Uma pressão aterrorizante se originou daquela espada, mas Theo buscou ficar sã. Os dois esbanjaram suas auras de energia pelo ambiente; Theo largando uma pintura dourada de éter, enquanto o guardião largava uma vinha de energia por seu corpo.

    Em um segundo vultos rasgaram o céu, deixando apenas rastros de energia para trás. O grupo de ataque ao Emissário decidiu se mover naquele exato momento, o que causou uma distração momentânea no guardião. A armadura, por sua vez, ponderou em desistir de Theo para atacar o grupo de Bastien, mas o jovem não permitiu que isso ocorresse.

    Num instante, Theo usou o vento como impulso para saltar até o campo de visão do guardião, servindo como um grande sinalizador. Noutro instante, ele usou a atmosfera para se mover até as costas do guardião do bosque, empunhando sua zweihänder banhada por éter. 

    Sua ação repentina foi bloqueada com facilidade, apenas em um simples movimento.

    O guardião rapidamente moveu sua espada de mão, apenas para bloquear a investida de Theo. O rapaz se sentiu pressionado por um momento, pois não conseguiu processar a velocidade de reação da armadura natural.

    Porém, para Theo não ser pego de guarda baixa enquanto analisava seu oponente, os pixies atacaram o guardião. Voando contra o elmo em pequenos feixes de luz, as fadas microscópicas atacaram o guardião como disparos de energia, aplicando uma força e pressão imensurável a cada golpe.

    Poucos golpes das fadas foram suficientes para afastar o guardião.

    Tendo espaço para agir, Theo saltou para cima do monstro. Acumulando energia Anemo em seus pés, Theo chutou o ar em direção ao guardião três vezes, onde a cada chute uma explosão de vento era criada contra o monstro. 

    Na queda, Theo banhou sua espada com fogo e caiu contra o monstro. Este ainda tentou reagir, pondo seu braço na frente para servir como escudo, porém, o rapaz reagiu previamente.

    Criando uma ilusão com sua própria aura, Theo jogou sua presença para a frente do guardião enquanto moveu seu corpo para suas costas. Fazendo um complexo jogo astral com seu oponente.

    Isto foi suficiente para confundir o guardião e deixá-lo na posição que Selina almejava: uma linha reta contra sua flecha. Sem pensar duas vezes, Serach atirou uma flecha que, habilmente, atingiu o elmo do guardião. Com a flecha cravada diretamente na armadura, uma fina camada de mana se expandiu por seu rosto.

    A conjuradora, enquanto buscava o momento perfeito, se moveu para dentro da floresta sorrateiramente. Enquanto o guardião rejeitava a mana de Selina, a conjuradora buscou o melhor local para esconder um círculo de energia no chão. Ela e Theo trocaram olhares e, numa simples encarada, criaram um plano improvisado.

    A mana de Serach se espalhou por todo o elmo do guardião, onde em poucos segundos explodiu bruscamente.

    Querendo aproveitar o desequilíbrio da armadura, Theo a chutou na costela, criando uma explosão de vento para jogar o guardião no chão.

    No momento do impacto, Theo calculou perfeitamente a distância e força necessária para o guardião cair exatamente onde estava o círculo da conjuradora. Seus cálculos não foram em vão, visto que o guardião caiu exatamente onde ele queria.

    O chão, na região do círculo de energia, se abriu em um buraco profundo. Posteriormente, o mesmo buraco aberto pela conjuradora se fechou sozinho, enterrando o guardião vivo.

    Diversos abalos sísmicos assinaram a floresta. Inicialmente, Theo ignorou, pois pensou ser resultante do solo caindo sobre o guardião, buscando preencher o buraco vazio. No entanto, ele se desesperou ao notar a realidade.

    A conjuradora saiu das árvores onde se escondia e correu para Theo, visando se reagrupar. Em nenhum momento eles pensaram que já havia acabado, porém, a recuperação do guardião foi infinitamente mais rápida do que qualquer um havia ponderado.

    Entre Theo e a conjuradora, a própria terra foi forçada a se abrir. Assim como portas de um castelo se abrindo para seu mais fiel soldado, uma explosão de terra subiu ao vento, cobrindo a visão de Theo durante aquele momento.

    Mediante toda a névoa de poeira, apenas um brilho esmeralda se destacou. Em um piscar de olhos, o guardião surgiu frente à conjuradora, empunhando sua lâmina esmeralda que brilhava intensamente.

    A pobre menina, desamparada e desesperada, caiu no chão impossibilitada de executar qualquer feitiço. Ela mal conseguia respirar tanto pela presença quanto pela aparência.

    O guardião estava com metade de seu elmo quebrado, revelando uma aparência tanto quanto única e agoniante para alguns. Seu rosto era formado de madeira, repleta de inúmeros furos capazes de atacar a tripofobia. Não só isso, como a madeira também se movia casualmente, igual a vermes se movendo sem direção. Tendo apenas o olho, verde e vazio, emitindo uma única luz verde e ofuscante no fundo do crânio.

    Por sua expressão e força aplicada na espada, era notório que estava irritado. Sem querer saber quem atirou a flecha, ele jogou sua espada pesada contra a conjuradora.

    Porém, ainda no ar, Theo bloqueou a investida do guardião com sua própria espada. Mas, a força da besta era imensuravelmente superior. Com um simples movimento de apenas alguns milímetros, as pernas de Theo foram afundadas no chão.

    “Ele não é um Silvmirion…” ponderou Theo, notando que havia um corpo abaixo da armadura.

    Toda a segurança que Theo montou para aquela luta foi quebrada por apenas cinco segundos.

    Focando suas defesas no guardião, o rapaz nem notou uma investida exterior contra si. Repentinamente, Theo foi agarrado na costela e arrastado para longe, sendo jogado contra árvores e estruturas rochosas por dentro da floresta. Sem poder processar quem o atacou, Theo foi afundado contra um amontoado de rochas.

    Um rastro de sangue escorreu por sua testa.

    — Jovem Mestre! — a conjuradora exclamou vendo um rastro de destruição pela floresta, contudo, foi interrompida subitamente por uma investida ainda mais forte do guardião.

    Este, entretanto, foi interrompido novamente, desta vez por Selina. A seguidora de Alunne, por sua vez, pisou na espada do guardião e a pressionou contra o chão, impressionando a própria besta no processo.

    Com um par de adagas esbeltas e brancas, Selina executou diversos cortes indivisíveis no ar. Tais cortes não feriram diretamente o guardião, mas serviram para o desequilibrar novamente. 

    Enquanto estava caindo de lado, a besta viu um vulto verde; Aidna correu para levar a jovem conjuradora para longe. Sem querer deixar isso passar a limpo, o guardião firmou seu pé no chão e recuperou a postura. Cravando a espada no chão, ele logo a puxou para cima novamente, criando um corte verde que se alastrou para dentro da floresta.

    Deixando apenas um rastro de destruição, uma pequena fenda se abriu no solo.  Por sorte, Aidna e a conjuradora caíram na fronteira entre as fendas. Posteriormente, Selina se juntou às duas.

    A druida analisou Serach por um instante, vislumbrando seu véu e máscara lunar. Era algo realmente belo e digno de sua beleza. No entanto, o que mais causou alarme foram suas adagas.

    — De onde vieram essas adagas? — perguntou Aidna.

    — Benção de Alunne — retrucou Serach.

    — Por que não as usou antes?

    Selina apenas respirou incomodada e resmungou, virando seu rosto para onde o guardião estava. As outras duas mulheres foram induzidas por Serach a olhar para o inimigo.

    — Quanto ao Jovem Mestre? — a conjuradora perguntou.

    — Theo ficará vivo. — Aidna afirmou, apostando todas as suas confianças nisso.

    — Como você sabe?

    — Ele não ousaria morrer antes de alcançar seu talento.

    Aidna carregava um belo e largo sorriso em seu rosto.

    O guardião começou a marchar contra as três mulheres. Ele continuava arrastando sua espada no chão, carregando o mais profundo ódio nos olhos vazios. Ele permitiu que sua mana se esbanjasse pela natureza e banhasse tudo em seu território.

    A natureza criou vida.

    Árvores se ergueram das raízes, caminhando com suas próprias forças. Uma quantidade esmagadora de animais surgiu da floresta; desde grandes répteis até monstros semelhantes a demônios. Abalos sísmicos se tornaram recorrentes, tendo em vista todas aquelas criaturas. Algumas passavam dos dez metros de altura, enquanto alguns quadrúpedes estavam próximos de um dragão sem asas.

    — É… — resmungou Selina. — Vamos ter que usar e abusar do teu atributo fogo. Temos que pegar o Theo e fugir.

    Em um piscar de olhos, todo aquele exército natural desapareceu. Todas ficaram sem entender o que aconteceu.

    E névoa de mana, deixada pelo guardião, continuou banhando o local. Ela se expandiu gradualmente até finalmente chegar nas três mulheres. Sem que Selina percebesse, a névoa se aglomerou atrás dela subitamente, materializando o guardião impetuoso.

    Sorrateiramente, o chão abaixo delas desmoronou apenas pela vontade do guardião. Elas, assim como uma pequena parte da floresta, despencaram para uma estrutura no subsolo que se estendia por dezenas e centenas de metros.

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