Capítulo 99 — Guardião (1)
“A energia do Theo cessou…” pensou Selina, ofegante e totalmente destruída.
O cenário estava completamente devastado. Os destroços que caíram foram completamente obliterados conforme a luta se prolongava, abrindo uma enorme arena abaixo da floresta. A luz do sol iluminou o campo de batalha, banhando o guardião da floresta em pé no centro, o único de pé.
Serach cuspiu sangue ao tentar se levantar. Devido ao esforço prolongado contra o guardião, sua máscara gradualmente caiu. O manto estava em trapos e as adagas desgastadas. Selina só não estava diretamente ferida graças a técnica da aura, tal qual permitia que ela desviasse inconscientemente.
“Theo continua vivo, consigo senti-lo. Já o monstro que ele estava lutando sumiu por completo… Espero que esteja tudo bem. Aidna está de pé, sua energia quase não foi desgastada… A conjuradora está na defensiva, provavelmente segurando mana para um feitiço triunfal…” ponderou Selina.
Ela tentou se levantar, porém, devido ao desgaste, demorou um pouco para realizar essa ação. Embora fosse uma suporte, Selina teve que assumir um confronto corpo a corpo com o guardião enquanto Aidna e a conjuradora ajudavam de longe.
“Esse desgraçado tem algum tipo de código de honra, já que está esperando nossas forças retornarem. Pelos menos assim minha cabeça tá voltando para o lugar.”
As adagas sumiram das mãos de Selina, apenas para retornarem alguns segundos depois. Todos os desgastes foram recuperados, tal ação se repetiu com o manto e a máscara retornou.
Além de itens, graças a uma das bênçãos de Alunne, a energia e força de Selina também se recuperaram. Depois de se levantar, Serach caminhou para perto da conjuradora e de Aidna.
— Conjuradora, você consegue dar suporte aos meus atributos? — indagou Selina.
— Eu posso — sugeriu Aidna. — Você espalhou seis círculos de energia pelo ambiente, quantos faltam para seu triunfo?
— Quatro — respondeu a conjuradora.
— Vamos apostar nisso — disse Selina. — Eu vou lutar de perto, Aidna vai me dar cobertura…
— E eu vou ativar minha habilidade!
— Exato.
Selina empunhou suas adagas e ajustou a postura, o guardião lhe lançou um olhar superior, em contrapartida.
A conjuradora correu com seu cajado em mãos sem olhar para trás. Alinhado a Aidna, círculos de energia se formaram e, em questão de segundos, deram espaço para novas Pixies, ao todo eram dez.
Serach suspirou e engoliu seu orgulho. Sem hesitar, ela avançou contra o guardião se movendo para todos os lados tentando lhe surpreender de alguma forma. Acompanhada pelas Pixies, Selina conseguiu um tempo maior para pensar com clareza em seu próximo movimento.
As fadas avançaram em dez feixes de luz, atingindo o guardião com força e pressão ao mesmo tempo que poluíam sua visão com a luz. Saltando para o alto, Selina se manteve de ponta cabeça com as lâminas de suas adagas apontadas para o guardião.
Se o elemento luz é a fusão perfeita de todos os elementos-base, as sombras são o total oposto disso; a ausência da luz, a ausência de qualquer propriedade elementar no núcleo de um desviante. Selina, feliz ou infelizmente, nasceu sem nenhuma afinidade elemental, logo, sobrou apenas para ela dominar a ignição ainda quando criança.
No entanto, é graças a essa característica ainda incomum que Selina tem seu chakra do terceiro olho desbloqueado e, junto a esse fato, sua técnica ocular. Seus olhos azuis, quando em perfeita sincronia com o chakra do terceiro olho, enxerga a sombra da alma de um indivíduo e aplica uma marcação naquela existência. Embora seja uma técnica ocular bastante simples para ser adquirida, para uma jovem de apenas dezenove anos, Selina já havia dominado perfeitamente seus olhos.
É graças a isso que Serach nunca errou uma flecha ou um corte quando sua ignição está em uso.
Os olhos azuis de Selina, por debaixo da máscara branca abençoada por Alunne, rodaram no sentido anti horário, deixando apenas um rastro de luz azul pelo ambiente.
[Ignição da maré lunar…]
Para usar uma ignição avançada, o usuário precisa apenas pensar na configuração básica criada: o nome, por exemplo. Após isso, quaisquer técnicas desenvolvidas para amplificar a ignição entram em ação subitamente. Isso se torna possível, pois, a ignição é apenas uma configuração a qual o cérebro tem que obedecer. Apenas por pensar no nome, o corpo inteiro se move sozinho, distribuindo informações pelo sistema nervoso, para se movimentar conforme foi configurado para agir.
Se treinado corretamente, como Lincoln Di Ham faz, o cérebro sequer precisa pensar, o corpo apenas reage com antecedência e executa uma configuração perfeita para aquele momento. Contudo, como a diferença de Selina e Lincoln está na casa dos duzentos anos, a jovem Serach ainda depende de sua aura para se esquivar e pensamentos para executar suas configurações.
[Terceira configuração, Maré sobrejacente]
Subitamente, todo seu corpo respondeu ao comando cerebral.
Selina caiu em uma correnteza de mana, com as adagas apontadas para baixo, cortando o ar para diminuir o atrito e causar mais impacto na besta. Porém, isso não foi suficiente, pois o maior dano causado pelas adagas foi apenas um único corte no ombro da armadura. E após acertar seu alvo e concluir o objetivo de sua ignição, a primeira fraqueza de Selina entrou em ação.
Após concluir a configuração, caso não tenha acertado diretamente o alvo, o corpo de Selina paralisa por um momento para que seu sistema processe a energia gasta e os movimentos feitos, visando um aprimoramento na ignição para poder melhorar no futuro. Infelizmente isso é algo que ela ainda não conseguiu dominar por ser um pacto pré posto pela própria.
Contudo, para suprir essa dificuldade, Selina dominou uma técnica peculiar de aura que permite a ela desviar inconscientemente apenas ao entrar em contato com a energia do oponente.
Ao cortar o ombro da armadura, Selina caiu atrás da besta e entrou no momento de processamento. Vendo a jovem Serach parada, o guardião decidiu atacar com sua arma mais forte; um chicote com golpes baseados na pressão do ataque.
O guardião balançou seu chicote para laçar Selina e a jogar para longe, no entanto, graças a técnica de aura, Selina pôde desviar inconsistentemente da arma do guardião e saltar levemente para o lado. Após desviar de cinco chicotadas do guardião, Selina se recuperou do momento de processamento.
“Não posso deixar isso se repetir…” concluiu mentalmente.
Ela sabia que deveria acertá-lo precisamente já que, se o acertasse apenas de raspão, seu corpo iria entrar naquele estado novamente. No entanto, era impensável, pois o guardião hora ou outra iria saber dessa fraqueza e começaria a desviar para evitar o acerto quase garantido. A estratégia era acertar sua configuração mais poderosa no primeiro momento de fragilidade.
[Terceira configuração <invertida>, Maré subjacente]
Selina se lançou contra o guardião numa arrancada extremamente ágil e veloz. Inesperadamente para o guardião, a seguidora de Alunne cravou as adagas no peito de sua armadura.
[Segunda configuração, Luas implantadas]
Rasgando o torso da armadura para lados opostos, Selina materializou dois cortes de pura mana e os expandiu para fora, criando duas espécies de meia-lua que rasgaram consideravelmente o guardião.
Sem permitir que Selina usasse outra configuração, o guardião a chutou para longe e empunhou seu chicote novamente. Enquanto Selina ainda voava para longe, o guardião agarrou ela com o chicote de vinhas e a esmagou contra o chão.
Para tirar atenção do guardião, Aidna disparou uma tempestade de folhas cortantes que, embora não fossem fortes o bastante para quebrar a armadura, serviram para riscar e danificar superficialmente o guardião. Irritado, a besta rugiu para o céu e elevou a mana, criando um impacto de energia que cancelou o feitiço da druida.
Quebrando qualquer estratégia de Aidna, o guardião avançou contra a druida que não hesitou em atacar para matar. Pondo pressão nos punhos e afetando a própria atmosfera, esbanjando mana pelo ambiente e forçando Aidna a ficar incapaz de realizar qualquer movimento.
A druida se sentiu oprimida diante de uma silhueta que cobriu teu céu. Entretanto, aquela visão e sensação de soberania por parte do guardião durou apenas um momento.
Mesmo que Selina não tivesse apagado com a chicotada do guardião, ela precisou de um pequeno momento para se recompor. Então, visto que a conjuradora estava ocupada com seu triunfo, Aidna estava sozinha para finalizar o terceiro round.
Girando para o lado do guardião, Aidna o contornou com uma vinha grossa e forte que serviu como uma corda para prendê-lo. Puxando a vinha com força, a druida conseguiu comprimir relativamente o guardião e causar danos significativos na armadura. Sem sentir o dano, o guardião levantou o braço e o desceu ferozmente contra Aidna que, com uma única mão, segurou o membro pesado da besta. Criando mais pétalas de energia, a druida conjurou uma nova ventania de outono contra o guardião.
Porém, ao invés de apenas atacar a armadura, Aidna mirou na brecha criada por Selina no elmo: o buraco que revelava parcialmente o rosto do guardião. As pétalas perfuraram sua pele horrenda, ignorando totalmente o fato da besta ser resistente.
Um rugido bestial abraçou toda a estrutura.
Juntando as duas mãos, Aidna criou um ponto de pressão no plexo solar do guardião, sendo capaz de quebrar uma camada da armadura e arremessá-lo contra uma parede ao longe.
Sem demonstrar fraqueza, o guardião se recuperou rapidamente do impacto e retornou para a arena de combate.
— É… — resmungou Aidna.
Uma camada densa de energia fluiu pelo corpo de Aidna, não se limitando a druida, mas se estendendo para o ambiente e invocando um enorme círculo de energia no chão. Aidna começou a suplicar aos seus lordes, pedindo poder para aquele momento.
Selina correu em direção a Aidna, tendo em vista ajudar sua companheira contra o guardião. No entanto, a criatura que estava sendo invocada atingiu diretamente o núcleo de Serach.
— Essa coisa… — Uma gota de suor deslizou pelo rosto de Selina.
Juntando as bases de suas palmas, Aidna tocou os polegares aos mindinhos e abriu os demais dedos como uma flor de lótus desabrochada.
O primeiro braço se ergueu do chão.
Para as ninfas de Nimbrok existem os Elimirions; para os elfos de Nilfheim existem os Sylvmirion; enquanto às fadas possuem os Vetmirions e o povo do sol possuíam os Igmirions, os druidas acenderam e superaram todos. Para cada guardião citado, há um único núcleo predominante, tal qual cria suas armaduras elementais e lhes dá vida.
Contudo, os druidas visaram um estágio maior da criação. Por que se manter numa criatura de apenas um núcleo, se existem cinco elementos? Por que dizer “impossível” se humanos já se tornaram deuses? Não havia razões para travar a evolução de uma raça.
Uma criatura física vinculada a seres superiores, imponente com sua armadura de aço dita ser uma benção dos arcanjos. A chama de seu núcleo ignis escapa pelo peito; pelas brechas da armadura apresentou-se sua pele pálida e adornada por runas verdes cintilantes; estacas d’água formam uma cruz flutuante em suas costas; seus pés sequer tocam o chão pelo vento. Os olhos, brancos e vazios, careciam de uma expressão sentimental e emanavam uma luz pura.
Três pares de asas floresceram de suas costas, etéreas como as de um anjo mas translúcidas como a luz. Um tecido vermelho se estendia por sua cintura, balançando com o vento semelhante a uma pequena capa.
Para os druidas, o ser perfeito portador de cinco núcleos manipuras, um para cada elemento predominante. Resistente como o mundo, instável como o mar, poderoso como o sol e absoluto como o ar… O maior dos guardiões, outrora usado para decidir a guerra dos druidas, utilizado para destruir civilizações.
O anjo artificial, protetor e portador do mundo, “Nosehel”, o guardião do Éden prometido.
Ao sentir uma presença massivamente superior a si, ao qual oprimia até mesmo que lhe invocou, o guardião do bosque empunhou novamente a espada esmeralda e cortou o ar em puro desespero. Liberando mana no ataque, o corte se expandiu para além do alcance e partiu rumo ao horizonte; rasgando para o céu e dizimando tudo a sua frente, a floresta foi alvo de um feixe verde destrutivo que, apenas com sua pressão, destruiu o ecossistema.
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