Capítulo 105 - O jogo de Eyvina
O vento frio da tarde soprava suavemente pelas ruas da cidade enquanto Yoru caminhava de volta para casa. Seu olhar estava fixo no chão, sua mente presa nas palavras que Ben havia dito mais cedo.
Oito Reis. A mulher que vale por mil. A Geração das Guerras.
Aquele tempo parecia algo distante, quase uma lenda… mas a verdade era que aquelas pessoas realmente existiram. Eram monstros que moldaram a história dos delinquentes.
E a mãe do Yoru…?
Mei Akemi. Uma mulher comum, de sorriso gentil e postura delicada. Ele nunca havia pensado muito sobre seu passado. Mas agora, algo dentro dele começou a se perguntar: Como diabos minha mãe sobreviveu naquela época?
A Geração das Guerras não era um tempo para os fracos. O caos reinava, os fortes governavam, e os fracos desapareciam.
— Minha mãe era forte? — ele murmurou para si mesmo, franzindo a testa.
Yoru tentava se lembrar de qualquer pista, qualquer traço do passado dela que pudesse indicar algo… Mas nada. Sua mãe sempre foi apenas sua mãe.
Ele suspirou, olhando para o céu.
Foi então que, ao virar uma esquina, ele percebeu alguém encostado na parede.
O cheiro doce de perfume invadiu seu nariz antes mesmo de vê-la por completo.
— Finalmente chegou, Yoru.
Ele olhou para a figura feminina escorada na parede de um beco, com um olhar travesso e um sorriso malicioso.
Eyvina Alice.
Ela usava seu uniforme levemente desarrumado, o casaco da escola aberto, revelando a camisa justa por baixo. Seu cabelo longo e loiro descia em ondas até a cintura, e seus olhos azuis intensos brilhavam de maneira provocante.
— Você me seguiu? — Yoru perguntou, franzindo o cenho.
Eyvina deu uma risada baixa e deslizou a mão pelo próprio cabelo antes de responder:
— Seguir? Vamos dizer que foi coincidência.
Yoru cruzou os braços, desconfiado. Conhecia Eyvina o suficiente para saber que ela não fazia nada sem um propósito.
— Se está aqui por alguma razão, então fale logo.
Ela sorriu, inclinando levemente a cabeça para o lado.
— Sempre tão direto, Yoru. Eu gosto disso.
Yoru suspirou.
— O que você quer, Eyvina?
Ela se afastou da parede e começou a andar ao redor dele, com os braços cruzados atrás das costas.
— Eu ouvi algumas coisas bem interessantes hoje… Sobre o passado. Sobre as lendas. Sobre a Geração das Guerras.
Yoru estreitou os olhos.
— E daí?
Eyvina parou na frente dele, seu olhar brilhando de maneira enigmática.
— Você nunca se perguntou como sua mãe sobreviveu naquele tempo?
O coração de Yoru bateu mais forte.
— O que você sabe?
Ela riu de leve e aproximou o rosto do dele.
— Nada demais… Apenas algumas memórias de infância. Você provavelmente não se lembra, mas eu conheci sua mãe antes mesmo de conhecer você.
Yoru franziu o cenho.
— Do que você está falando?
Eyvina deu de ombros e encostou-se de novo na parede.
— Quando eu era pequena, minha mãe me levava a um salão de beleza. Eu sempre odiava ir, mas lá tinha uma mulher que fazia minha mãe sorrir como ninguém mais fazia.
Yoru arregalou os olhos.
— Salão de beleza…?
Sua mente começou a puxar memórias antigas.
— Sim. Um pequeno salão, aconchegante, com cheiro de lavanda e música suave tocando ao fundo.
A imagem se formou em sua cabeça. As mãos gentis penteando os cabelos de uma cliente, o som da tesoura cortando mechas, a risada suave ecoando pelo lugar.
— Aquela mulher… era a sua mãe, Yoru.
Yoru sentiu seu coração acelerar. Eyvina conhecia sua mãe desde a infância?
— Você… ia ao salão da minha mãe?
Eyvina sorriu.
— Sim. E eu me lembro muito bem do que ela falava.
Yoru deu um passo à frente, sua expressão carregada de expectativa.
— O que ela dizia?
Eyvina estreitou os olhos e sussurrou:
— Ela falava que “o mundo dos delinquentes era uma maldição”.
O silêncio tomou conta do beco. O vento soprou, fazendo os cabelos de Eyvina balançarem suavemente.
Yoru sentiu um arrepio na espinha.
— Maldição…?
Eyvina assentiu.
— Sua mãe falava como se entendesse muito bem esse mundo… Como se ela já tivesse feito parte dele.
Yoru ficou imóvel. Aquele pensamento nunca tinha passado por sua cabeça antes.
Sua mãe… fazia parte do mundo dos delinquentes?
Eyvina sorriu, vendo a expressão pensativa de Yoru.
— Acho que te dei algo para pensar, não é?
Ela se virou para ir embora, mas parou por um instante e olhou por cima do ombro.
— Ah, e Yoru… Você fica fofo quando está confuso.
E então, com uma risada divertida, ela desapareceu na escuridão da noite.
Yoru ficou parado ali, sozinho, enquanto sua mente mergulhava em pensamentos que nunca antes haviam cruzado sua cabeça.
Quem realmente era Mei Akemi?
O vento frio da noite soprava suavemente pelo beco estreito onde Yoru e Eyvina ainda estavam. O silêncio entre eles era preenchido apenas pelo som distante de carros passando pela avenida próxima. Yoru ainda tentava processar tudo o que Eyvina havia dito sobre sua mãe, mas antes que pudesse aprofundar seus pensamentos, sentiu um toque suave em seu braço.
— Você parece tenso, Yoru… — Eyvina sussurrou, deslizando os dedos delicadamente pelo antebraço dele.
Ele franziu o cenho e olhou para ela com desconfiança.
— O que você está fazendo?
Eyvina sorriu de forma provocante, aproximando-se ainda mais. Seus olhos brilhavam sob a fraca luz dos postes, refletindo uma mistura de diversão e interesse.
— Relaxa… Não pode simplesmente aceitar um carinho de uma amiga?
Antes que Yoru pudesse responder, Eyvina deslizou a ponta dos dedos pelo ombro dele, traçando um caminho até seu pescoço. Um arrepio involuntário percorreu sua espinha.
— Você tem lutado tanto ultimamente… Deve estar exausto. — Ela inclinou a cabeça, agora passando os dedos suavemente pelo rosto de Yoru.
Ele segurou o pulso dela com firmeza, tentando afastá-la.
— Chega, Eyvina. Qual é o seu jogo?
Ela riu suavemente, sem demonstrar qualquer resistência.
— Jogo? Eu só estou sendo gentil.
Yoru apertou os lábios, sentindo a paciência se esgotar. Ele sabia que Eyvina adorava provocar, mas dessa vez, parecia que ela estava se divertindo mais do que o normal.
— Você tá brincando comigo?
Ela sorriu maliciosamente e deslizou as mãos pelos ombros dele, aproximando seus rostos perigosamente.
— E se eu estiver? Vai fazer o quê?
Antes que Yoru pudesse reagir, uma voz furiosa ecoou pelo beco.
— O que diabos vocês estão fazendo?!
Yoru sentiu o estômago afundar ao reconhecer a voz. Hina.
Ele se virou imediatamente e viu Hina parada na entrada do beco, os punhos cerrados, o olhar pegando fogo. Sua expressão era de pura indignação, os olhos brilhando de raiva e — por baixo disso tudo — uma centelha de mágoa.
Eyvina, por outro lado, apenas sorriu como se aquilo fosse a coisa mais divertida do mundo.
— Oh? Parece que temos uma convidada. você veio na hora certa. Yoru estava precisando de um pouco de conforto.
— Cala a boca, garota! — Hina gritou, os olhos marejados.
Yoru deu um passo à frente, tentando explicar.
— Hina, não é o que parece! Eu—
— Não quero ouvir! — ela cortou, a voz tremendo de raiva.
Ela respirou fundo, tentando conter as lágrimas, mas seu corpo tremia.
— Eu já devia saber… Você sempre está envolvido nessas situações, né, Yoru?
O coração dele apertou.
— Não é assim, Hina! Ela que—
— Dá um tempo! — ela cuspiu as palavras, virando-se bruscamente.
Sem esperar por qualquer outra explicação, Hina se virou e saiu andando a passos largos, seu cabelo balançando conforme ela se afastava.
Yoru sentiu o sangue ferver. Ele olhou para Eyvina com raiva nos olhos.
— Você fez isso de propósito, não fez?!
Ela apenas deu de ombros, sorrindo.
— Ah, Yoru… Você realmente precisa aprender a lidar melhor com mulheres.
Yoru cerrou os punhos, contendo a vontade de explodir.
— Você é insuportável.
Eyvina soltou uma risadinha provocativa.
— E você é divertido quando está irritado.
Sem dizer mais nada, Yoru se virou e saiu dali, seguindo a mesma direção que Hina havia tomado. Ele precisava encontrá-la e consertar aquilo antes que fosse tarde demais.
Mas, no fundo, ele sabia que Eyvina tinha conseguido o que queria. Ela o tinha feito jogar o jogo dela. E, dessa vez, ele saiu perdendo.
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