Capítulo 106 - Amor incomparável
O frio da noite cortava o ar enquanto Yoru corria pelas ruas, os tênis batendo forte no asfalto molhado. Ele não conseguia ver Hina, mas sabia que ela não deveria estar muito longe. Seu coração batia forte, mas não apenas pelo esforço da corrida — era pela frustração, pela raiva que sentia de Eyvina e, principalmente, pelo medo de ter machucado Hina.
Ele virou em uma esquina, seus olhos varrendo o ambiente desesperadamente. Nada.
— Droga… Hina! — ele gritou, mas só o silêncio da cidade respondeu.
Ele parou, ofegante, passando a mão pelo rosto. Ela já devia estar em casa. O que ele poderia fazer agora? Ele sentia um nó no peito, uma irritação crescente dentro dele. Eyvina brincou com ele, e ele caiu direitinho. Mas, mais do que isso, ele odiava ver Hina assim, tão magoada por algo que ele não fez.
Abaixando a cabeça, ele soltou um longo suspiro e começou a caminhar de volta para casa.
—
No outro lado da cidade, Hina estava em seu quarto, sentada na beira da cama, ainda vestindo apenas um roupão felpudo depois do banho. O vapor quente saía lentamente do banheiro, preenchendo o ambiente com um aroma leve de lavanda.
Ela segurava o celular com força, apertando-o contra o peito, enquanto seu olhar se perdia no chão. Seus olhos ainda estavam marejados, mas ela tentava engolir o choro.
Do outro lado da linha, sua melhor amiga, Satsuki, estava falando.
— Hina, respira. Você pode estar exagerando.
Hina soltou um riso fraco e amargo.
— Exagerando? Eu vi com meus próprios olhos, Satsuki. Eles estavam no beco, e ela estava abraçando ele!
— Mas… Você perguntou a ele o que estava acontecendo?
— Não precisei! — Hina apertou os punhos. — Ele não negou! Ele nem tentou correr atrás de mim!
Satsuki suspirou do outro lado da linha.
— Hina, você gosta muito do Yoru, né?
Hina ficou em silêncio por um momento, mordendo o lábio inferior. Então, ela respondeu em um sussurro:
— É óbvio que eu gosto…
— Então por que não confia nele?
Essa pergunta atingiu Hina como um soco. Ela abriu a boca para responder, mas não saiu nada. Seu peito apertou.
Satsuki continuou:
— Sei que você ficou magoada, mas talvez ele tenha sido pego de surpresa. Você sabe como tem gente que gosta de provocar, né?
Hina ficou quieta. Ela queria acreditar nisso. Queria acreditar que Yoru não a trairia, que ele não faria algo assim com ela. Mas a imagem dele com outra garota… aquilo doía.
— Hina?
Ela respirou fundo e passou a mão pelos olhos úmidos.
— Eu só… — sua voz falhou por um segundo. — Eu só não quero ser feita de idiota, sabe? Eu não quero gostar de alguém que não sente o mesmo por mim.
Do outro lado da linha, Satsuki sorriu suavemente.
— Você nunca vai saber se não falar com ele.
Hina mordeu os lábios novamente. No fundo, ela sabia que Satsuki tinha razão. Mas ainda não estava pronta para encarar Yoru.
— Talvez amanhã… — ela sussurrou.
Ela desligou a chamada e se jogou para trás na cama, encarando o teto.
O coração dela doía.
E, naquela noite, ela dormiu abraçando o travesseiro, tentando esquecer aquela cena que não saía da sua cabeça.
Mais tarde naquela noite.
A cozinha estava quente e confortável, com o cheiro de temperos se misturando ao aroma suave do arroz recém-cozido. A luz amarela dava ao ambiente um tom acolhedor, refletindo nos azulejos brancos e nos armários de madeira bem cuidados.
Hina estava ao lado de sua mãe, cortando legumes com destreza, enquanto sua mãe mexia a panela no fogão. Ambas estavam vestindo roupas leves, já que o calor do fogão tomava conta do ambiente. O rádio pequeno no balcão tocava uma música animada em volume baixo, preenchendo o ar com uma melodia suave.
— Então, Hina… — a mãe dela começou, com um tom divertido. — Você parece pensativa. Aconteceu alguma coisa?
Hina parou por um segundo, mordendo o lábio inferior, tentando esconder um sorriso involuntário.
— N-Nada, mãe…
A mãe de Hina riu, mexendo a panela com um olhar curioso.
— Hmm… Sei. Nada? Então por que você está com esse sorrisinho bobo aí?
Hina ficou vermelha e desviou o olhar.
— Eu tô normal!
A mãe dela ergueu uma sobrancelha e soltou uma risadinha.
— Isso me lembra quando eu tinha a sua idade…
Hina se virou para ela, interessada.
— Ah é? Como assim?
A mãe dela deu uma leve risada, pegando um pouco de sal e jogando na panela.
— Bem… Quando eu tinha a sua idade, eu também tentava esconder quando gostava de alguém. Eu dizia que era só um amigo, que não era nada, mas no fundo, eu suspirava o dia inteiro pensando nele.
Hina arregalou os olhos.
— Mãe! Você já foi assim?
— Claro! Toda garota passa por isso uma vez na vida. — A mãe sorriu e olhou de canto para a filha. — Agora me diz… Qual é o nome dele?
Hina corou instantaneamente e abaixou a cabeça, cortando os legumes mais rápido para disfarçar.
— E-Eu não disse que tem alguém!
— Ah, por favor, Hina! Você tá praticamente flutuando pela cozinha!
Hina respirou fundo e, depois de um momento, soltou um pequeno suspiro.
— Tá bom, tá bom… tem alguém.
A mãe sorriu vitoriosa.
— E como ele é?
Hina parou por um segundo, seu rosto corando mais ainda. Ela mordiscou o lábio e começou a falar baixinho, quase como se estivesse sussurrando para si mesma.
— Bem… Ele é alto… magro…
A mãe dela balançou a cabeça, interessada.
— Certo… e?
— Ele tem a pele clara… e o cabelo dele é longo, tipo… como o de uma garota.
— Ohh… então ele tem cabelo comprido? Que interessante!
Hina sorriu sem perceber, seus olhos brilhando.
— Sim… e os olhos dele são tão bonitos… Tipo, muito bonitos mesmo. Quando ele olha para você, parece que ele consegue ver dentro da sua alma.
A mãe dela continuou mexendo a comida, mas sorria ao ouvir a filha tão encantada.
— E a voz dele?
Hina suspirou sonhadoramente.
— A voz dele é suave… sabe? Parece que ele nunca grita. É calma, mas ao mesmo tempo firme. E ele é tão… tão delicado às vezes. Mas também inteligente! Ele sabe falar sobre tudo.
A mãe dela riu baixo e olhou para a filha.
— Minha nossa, Hina… Você está completamente apaixonada.
Hina arregalou os olhos e quase derrubou a faca que segurava.
— O-O quê?! Eu?! Não, não, não!
A mãe dela cruzou os braços, um sorriso divertido no rosto.
— Hina, minha querida, você já ouviu a maneira como está falando dele? Você praticamente entrou em um transe só de pensar no garoto.
Hina abaixou a cabeça, sua pele fervendo de vergonha.
— Tá… talvez eu goste um pouco dele…
A mãe riu.
— “Um pouco”? Minha filha, você praticamente descreveu ele como um príncipe encantado!
Hina bufou, mas não conseguiu segurar um sorriso.
— Talvez um pouco mais do que um pouco…
A mãe dela sorriu com ternura, pegando um prato para servir a comida.
— Você sabe, Hina… O amor na sua idade é intenso, mas também pode ser confuso. Eu já estive no seu lugar. Você sente que aquela pessoa é tudo para você, mas às vezes, pode se machucar por esperar demais.
Hina ficou em silêncio, pensativa. Ela realmente gostava de Yoru. Mas aquela cena com Eyvina ainda doía.
A mãe percebeu a mudança na expressão da filha e tocou gentilmente seu ombro.
— Se ele for realmente a pessoa certa, Hina… Ele não vai te machucar de propósito. E se ele te magoou sem querer, talvez valha a pena ouvir o lado dele.
Hina olhou para a mãe e sorriu suavemente.
— Obrigada, mãe…
— Sempre que precisar, meu amor. Agora, me ajuda a colocar a mesa antes que essa comida esfrie!
Elas riram juntas e continuaram cozinhando, a cozinha preenchida por um calor não apenas do fogão, mas do amor entre mãe e filha.
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