Índice de Capítulo

    O outono havia chegado, e com ele, o clima ameno que tornava os dias na Escola 25 mais confortáveis. As folhas alaranjadas caiam suavemente das árvores no pátio, cobrindo o chão com um manto de cores quentes. A rotina escolar seguia como sempre: alunos indo e vindo pelos corredores, professores dando suas aulas monótonas, e o som da vida estudantil preenchendo os espaços.

    Yoru estava sentado em sua carteira, apoiando o rosto na mão enquanto olhava pela janela. Fazia semanas que não havia nenhuma briga, nenhuma movimentação estranha, nada de delinquentes aparecendo para desafiar a Escola 25. Parecia que, pela primeira vez em muito tempo, ele estava vivendo uma vida normal de estudante.

    Hayato, sentado ao seu lado, soltou um longo suspiro.

    — Isso está meio… estranho, não acha?

    Yoru desviou o olhar da janela e encarou seu amigo.

    — O quê?

    — A paz. Sei lá, faz tanto tempo que não acontece nada que eu estou começando a achar isso suspeito.

    Nathan, que estava sentado mais à frente, se virou com um sorriso irônico.

    — Vai me dizer que sente falta de levar porrada?

    Hayato riu.

    — Não é isso! Mas pensa bem… Nós sempre estivemos no meio do caos. Agora que estamos só estudando e levando uma vida normal, parece que algo está… faltando.

    Ryuji, que estava lendo um mangá ao lado deles, bufou.

    — Vocês estão reclamando de barriga cheia. Eu estou adorando essa calmaria. É bom não precisar ficar preocupado com quem vai aparecer para nos desafiar no dia seguinte.

    Yoru cruzou os braços, concordando em silêncio. De fato, a tranquilidade era estranha para alguém acostumado ao caos, mas ele não podia negar que era uma sensação agradável.

    No entanto, havia algo que ainda o incomodava.

    Ele e Hina não tinham se falado nas últimas semanas.

    Sempre que ele tentava se aproximar, ela simplesmente o evitava. E, aos poucos, ele percebeu que talvez ela não estivesse mais tão brava… Mas sim magoada.

    Ele suspirou, frustrado.

    — Pensando na Hina de novo? — Hayato
    perguntou, o observando com um olhar de quem já sabia a resposta.

    — Ela ainda não falou com você? — Hayato completou.

    Yoru balançou a cabeça.

    — Nem uma palavra.

    Os amigos trocaram olhares entre si, sabendo que aquilo estava incomodando mais do que Yoru queria admitir.

    Enquanto isso, em outro lugar da escola…

    Sophie e Ben estavam sentados no banco do pátio, com uma garrafa de suco compartilhada entre eles. A amizade dos dois havia crescido bastante nas últimas semanas.

    — Você ainda sente dor nas costas? — Sophie perguntou, apontando para onde Ben costumava ter ferimentos depois das lutas.

    Ele riu.

    — Já tá bem melhor. Mas se quiser me dar uma massagem, eu não vou reclamar.

    Sophie revirou os olhos e riu.

    — Sonha, Ben.

    O silêncio entre os dois não era desconfortável. Na verdade, era algo novo para Ben. Ele nunca teve uma amizade assim, onde podia simplesmente relaxar sem precisar se preocupar com nada.

    Sophie olhou para ele e sorriu.

    — Você já percebeu como tudo está diferente agora? Tipo… Há algumas semanas, a gente vivia como se estivesse no meio de uma guerra. Agora, estamos aqui, só conversando.

    Ben suspirou.

    — É estranho, né? Mas eu acho que precisava disso. Depois de tudo o que aconteceu, acho que finalmente posso respirar um pouco.

    Sophie concordou.

    — Eu também. É bom poder sair com alguém sem se preocupar se vai ter que lutar no meio do caminho.

    Ben olhou para ela e sorriu.

    — Então você gosta de sair comigo?

    Sophie corou levemente e desviou o olhar.

    — T-Talvez…

    Ele riu.

    — Bom saber.

    Ela deu um leve soco no ombro dele, e os dois riram juntos, aproveitando a calma que a vida estava lhes proporcionando.

    De volta à sala de aula…

    A aula de literatura começou, e Yoru tentou se concentrar, mas seus pensamentos ainda estavam em Hina. Ele queria falar com ela, queria resolver tudo, mas não sabia como.

    Talvez, quando o momento certo chegasse, ele finalmente encontraria uma maneira.

    Por enquanto, ele aproveitaria essa fase de calmaria. Afinal, ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, algo grande iria acontecer.

    O céu alaranjado se estendia sobre a cidade, marcando o fim de mais um dia. O vento fresco de outono soprava suavemente pelas ruas, levantando folhas secas e espalhando o aroma nostálgico de um tempo que se despedia. Yoru caminhava sozinho, como de costume, os fones de ouvido pendurados no pescoço, as mãos nos bolsos da jaqueta e a mente vagando em pensamentos soltos.

    O dia tinha sido pacífico, mas sua cabeça ainda estava presa a questões não resolvidas—principalmente sobre Hina e o distanciamento dos dois. Ele não gostava de admitir, mas aquilo o incomodava mais do que deveria.

    Foi quando uma voz conhecida interrompeu seus devaneios.

    — Ora, ora… se não é o senhor Yoru Akemi, perdido em pensamentos outra vez.

    Ele parou e virou o rosto. Encostada no muro de uma casa qualquer, com os braços cruzados e um sorriso malicioso nos lábios, estava Eyvina Alice.

    Ela estava com seu típico uniforme desajustado: a camisa social levemente desabotoada na gola, a saia dobrada para parecer menor e o casaco amarrado na cintura. Seus cabelos caíam sobre os ombros como ouro derretido, e seus olhos azuis o encaravam com aquele brilho provocador.

    Yoru suspirou.

    — O que você quer agora? — Sua voz era indiferente, mas não hostil.

    — Nossa, que grosso. — Ela descruzou os braços e se aproximou com passos lentos. — Você ainda está com raiva de mim?

    Yoru desviou o olhar.

    — Não estou com raiva… só estou meio irritado com o que aconteceu.

    Eyvina riu, inclinando a cabeça para o lado.

    — Então você está chateado porque a sua namoradinha ficou com ciúmes?

    — Ela não é minha namorada.

    — Ainda.

    Ele suspirou de novo.

    — O que você quer, Eyvina?

    Ela deu de ombros e começou a caminhar ao lado dele.

    — Nada demais. Só achei que podíamos voltar para casa juntos. Afinal, somos amigos, não?

    Yoru hesitou por um momento, mas acabou dando de ombros e continuou andando.

    — Faça o que quiser.

    E assim, os dois seguiram juntos, caminhando lado a lado pelas ruas já um pouco mais vazias, enquanto o sol se escondia no horizonte.

    Por um tempo, o silêncio se instalou entre eles, apenas o som dos passos ecoando pelo asfalto e o farfalhar das folhas dançando com o vento.

    Eyvina, no entanto, parecia determinada a puxar assunto.

    — Você realmente não se lembra de nada, né?

    Yoru arqueou uma sobrancelha.

    — Do que você está falando?

    Ela soltou um suspiro exagerado, como se estivesse frustrada.

    — Da nossa infância. De quando a gente se conheceu, de quando brincávamos juntos.

    Ele estreitou os olhos, tentando puxar qualquer fragmento de lembrança, mas sua mente era um borrão quando se tratava do passado.

    — Eu não lembro de muita coisa daquela época…

    Eyvina cruzou os braços.

    — Sério? Então me deixa refrescar sua memória.

    Ela fez uma pausa, esperando ver se ele mostraria algum sinal de reconhecimento antes de continuar.

    — Sua mãe tinha um salão de beleza, lembra?

    Yoru franziu o cenho.

    — Sim… isso eu lembro.

    — Ótimo. Então você deve lembrar que minha mãe me levava lá para arrumar o cabelo. Eu era só uma garotinha naquela época, e sempre que ia lá, ficava brincando com você.

    Ele piscou algumas vezes, sentindo um leve formigamento na mente, como se um fio solto estivesse tentando se conectar.

    — Eu brincava com você?

    — Sim! Minha mãe e a sua mãe conversavam muito enquanto eu e você ficávamos no canto brincando. Você costumava me mostrar seus brinquedos, e eu te chamava de ‘príncipe’.

    Yoru sentiu um leve rubor subir até suas orelhas.

    — Eu duvido muito disso.

    Eyvina riu alto.

    — É verdade! Você era um cavalheirozinho naquela época. Sempre dizia que ia me proteger de qualquer coisa.

    Ele coçou a nuca, ainda tentando processar tudo aquilo.

    — Isso é meio estranho… Eu realmente não lembro disso.

    Eyvina parou de andar e olhou para ele com um semblante mais sério.

    — Sabe, Yoru… Eu tenho a sensação de que você bloqueou muita coisa do seu passado.

    Ele se virou para encará-la.

    — O que você quer dizer?

    — Você esqueceu de mim, esqueceu das brincadeiras, esqueceu de momentos que pareciam importantes. Eu sempre achei que você fez isso de propósito. Como se quisesse apagar partes da sua infância.

    Yoru sentiu um peso no peito. Ele não tinha certeza se aquilo era verdade, mas fazia sentido. Havia tantas lacunas na sua memória, tantos momentos que pareciam simplesmente não existir mais.

    — Talvez… — Ele murmurou.

    Eyvina deu um sorriso triste.

    — Mas, pelo menos agora, você lembra um pouquinho de mim, não é?

    Ele olhou para ela e, pela primeira vez, notou que por trás daquela fachada brincalhona e provocativa, havia um olhar sincero.

    Ele assentiu.

    — Sim… acho que sim.

    Ela sorriu de verdade dessa vez.

    — Ótimo. Isso já é um começo.

    E então, sem precisar de mais palavras, os dois seguiram caminhando lado a lado, enquanto as luzes dos postes começavam a iluminar as ruas da cidade.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota