Capítulo 129 - A mudança de Hayato
O sol nascia lentamente, iluminando o quarto bagunçado de Hayato. Roupas espalhadas, cadernos esquecidos e um par de luvas de boxe jogado no chão. Era o típico cenário de alguém que não tinha uma rotina organizada — até agora.
O despertador tocou às 6h, um som agudo e irritante que ecoou por todo o quarto. Hayato acordou sobressaltado, os olhos ainda pesados de sono. Ele rolou para fora da cama com o corpo dolorido — efeito dos treinos do dia anterior — e caminhou até o espelho.
Ele levantou a camisa e analisou seu reflexo.
“Eu estou horrível.”
Seus braços estavam mais grossos, mas não pela musculatura — era gordura. A barriga tinha dobrinhas evidentes, e seu rosto estava levemente inchado. Não era nada exagerado, mas para alguém que queria se tornar mais forte, era frustrante.
— Não dá mais pra ser assim… — ele murmurou para si mesmo.
A imagem de Yuna veio à sua mente — a expressão assustada dela quando ele prometeu proteger o irmão dela “Eu vou derrotar seu irmão…” Ele havia jurado isso, mas como poderia proteger alguém se nem ao menos conseguia controlar seu próprio corpo?
Com essa determinação, ele desceu para a cozinha.
— Mãe… posso falar com você?
A mãe de Hayato, uma mulher de feições gentis e olhar carinhoso, o observou com curiosidade enquanto lavava a louça.
— Claro, querido. O que foi?
— Eu… eu queria que você me ajudasse — Hayato começou, nervoso. — A fazer uma dieta… e a entrar numa rotina pesada de treino.
— Uma dieta? — Ela riu baixinho. — Mas você sempre foi meu “filho comilão”, não é?
— Eu sei… mas preciso disso. Preciso perder uns cinco ou seis quilos em dois meses.
O sorriso dela sumiu ao perceber a seriedade nos olhos do filho.
— Por que essa mudança tão repentina?
Hayato hesitou por um momento, mas decidiu ser sincero.
— Porque eu preciso ser mais forte… e… preciso proteger alguém.
A mãe de Hayato se manteve em silêncio por alguns instantes, mas logo sorriu.
— Se é isso que você quer… vamos fazer do jeito certo.
A rotina de Hayato começou com um café da manhã controlado:
Uma omelete com pouco óleo.
Uma fatia de pão integral.
Um copo de suco de laranja sem açúcar.
“Isso é… sem graça”, ele pensou, engolindo com esforço.
Logo após comer, ele começou o treino. Sua mãe havia montado um plano rígido: corrida de manhã, exercícios funcionais ao meio-dia e boxe à tarde.
A primeira corrida foi um desastre. Ele começou confiante, movendo as pernas com firmeza, mas após poucos minutos, seu peito começou a queimar e suas pernas pesaram como chumbo.
— Por que isso tá tão difícil? — murmurou, parando no meio do caminho.
Seu suor escorria pelo rosto, os pulmões lutando para puxar ar. Ele sentiu raiva de si mesmo.
“Eu não posso ser assim… não posso ser um fraco…”
Forçando as pernas a se moverem, ele retomou a corrida. Cada passo parecia uma tortura, mas ele se recusava a desistir.
Nos dias seguintes, as dificuldades aumentaram.
Ele acordava com o corpo travado, os músculos gritando de dor.
As refeições controladas eram um tormento — porções pequenas e nada de fast food ou doces.
Durante os treinos, ele muitas vezes sentia tontura, falta de ar e enjoo.
Mas ele não parou.
Toda vez que pensava em desistir, ele se lembrava do olhar assustado de Yuna e da promessa que havia feito.
“Eu vou protegê-la…”
Em uma noite particularmente difícil, ele sentou-se na cama com as mãos tremendo. Seu estômago roncava, seu corpo pulsava de dor, e a mente gritava para ele parar.
— Eu não consigo… — murmurou.
Mas então ele se lembrou de algo: a promessa que Yoru havia feito para Hina.
“Eu vou ficar mais forte.”
Essas palavras ecoaram na mente de Hayato como um lembrete de que ele não estava sozinho nessa batalha.
— Eu também vou… — murmurou para si mesmo.
Após duas semanas de sofrimento, algo mudou.
Na corrida matinal, Hayato percebeu que seu corpo respondia melhor. Ele não parava mais após apenas cinco minutos. Suas pernas, embora ainda doloridas, pareciam mais firmes.
Nos treinos de boxe, seus golpes estavam mais precisos. Ele se sentia mais leve, mais rápido.
— Você tá melhorando — comentou seu treinador.
Essa pequena vitória acendeu algo dentro dele. Pela primeira vez em meses, ele se sentiu orgulhoso de si mesmo.
“Eu tô conseguindo…”
Nos dias seguintes, Hayato se adaptou à rotina:
Manhã: Corrida de 5 km.
Tarde: Treino funcional com abdominais, flexões e exercícios com corda.
Noite: Sparring com seu treinador no boxe.
A alimentação agora incluía:
Proteínas magras como frango grelhado e peixe.
Arroz integral e legumes para fornecer energia.
Pouco sal, pouca gordura, nada de refrigerantes ou doces.
Apesar da dificuldade, Hayato começou a sentir orgulho do processo. Cada gota de suor, cada dor muscular, cada prato sem sabor… tudo fazia parte de seu caminho para ficar mais forte.
Mas, mesmo com o progresso, Hayato ainda tinha momentos de dúvida.
Em uma noite, após o jantar, ele ficou parado diante do espelho. Estava mais magro, mais firme… mas será que isso bastava?
“E se eu não conseguir? E se eu falhar?”
O rosto de Danilo surgiu em sua mente. Ele se lembrou do poder destrutivo daquele garoto e sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
Mas então… a imagem mudou. Ele viu Yuna, sorrindo para ele como fazia quando eram crianças.
— Eu vou conseguir… — disse para si mesmo.
Naquela noite, Hayato dormiu com o coração firme e a mente determinada.
“Eu não vou perder…”
…
O relógio marcava 5h30 da manhã quando Hayato acordou. Ainda deitado, ele se perguntava se deveria mesmo sair da cama. Seu corpo inteiro pesava como se fosse feito de chumbo, e cada articulação parecia enferrujada.
“Só mais cinco minutos…”
Essa ideia ecoou na mente dele como uma tentação irresistível, mas então… ele se lembrou de Yuna.
Ele havia jurado que a protegeria — não havia tempo para mais cinco minutos.
Com um suspiro profundo, Hayato saiu da cama.
O primeiro treino começou com uma corrida.
Hayato vestiu uma camisa velha, um short folgado e calçou os tênis que usava no colégio. Não havia nada sofisticado — apenas ele e a rua.
Ele começou num ritmo acelerado, respirando fundo para manter o controle. As primeiras quadras foram tranquilas, mas logo seu peito começou a queimar, a garganta secou e as pernas ficaram pesadas.
— Droga… — ele murmurou, parando para se apoiar numa cerca.
Seus pulmões pareciam prestes a explodir. O ar entrava e saía como se estivesse tentando respirar com a cabeça dentro d’água.
“Não acredito que já estou assim…”
O suor escorria pelo rosto, encharcando seu cabelo e grudando na camisa.
“Por que tá tão difícil?”
Ele fechou os olhos e apertou os punhos. Seu corpo implorava para desistir.
“Mas eu não posso parar aqui…”
Hayato se forçou a dar mais alguns passos. Cada movimento parecia uma tortura. Suas pernas pareciam presas a correntes invisíveis que o puxavam para trás.
No fim da corrida, ele estava exausto, deitado na calçada, sentindo o coração pulsar violentamente no peito.
“Eu não sei se vou aguentar isso…”
A comida era outra batalha.
— Só isso? — murmurou Hayato, encarando seu prato.
Uma única omelete e uma fatia de pão integral. Nada de presunto, nada de queijo derretido, nada de suco doce para acompanhar — apenas um copo de água.
— Eu vou morrer de fome…
A primeira mordida na omelete foi um lembrete cruel do que ele teria que enfrentar. Sem sal, sem tempero… sem sabor. Ele engoliu com esforço, sentindo como se estivesse comendo papelão.
— Você vai se acostumar — disse sua mãe, tentando animá-lo.
“Será que vou mesmo?”
Hayato acordou com o corpo travado. Mal conseguiu se levantar. Seus músculos estavam duros como pedra, cada movimento gerava uma pontada aguda de dor.
Levantar os braços para vestir a camisa foi uma tarefa agonizante. Ele sentia como se agulhas estivessem perfurando cada fibra muscular.
Durante a corrida, suas pernas pareciam feitas de concreto. Cada passo era uma luta desesperada contra a vontade de desistir.
— Anda, seu fracote! — ele gritou para si mesmo.
Na metade do percurso, ele caiu de joelhos na calçada. Sua visão ficou turva e o suor escorria como se ele estivesse debaixo de uma tempestade.
“Por que eu tô me torturando assim?”
Mas, mesmo com as pernas tremendo e o corpo pedindo para desistir, Hayato se levantou.
“Eu preciso proteger ela…”
Com esse pensamento, ele continuou correndo, ignorando a dor e o gosto metálico na boca.
Os dias seguintes foram ainda piores.
Ele acordava todos os dias com o corpo em agonia. Músculos rígidos, costas doloridas, joelhos inchados. Havia momentos em que mal conseguia descer as escadas de casa.
Nos treinos de boxe, seus punhos tremiam tanto que ele mal conseguia manter a guarda. Cada soco parecia sugar todas as forças que ele tinha.
— Você não vai durar desse jeito — disse seu treinador, preocupado.
Mas Hayato apenas apertou os dentes.
“Eu não posso parar.”
Sua dieta era brutal. Enquanto seus amigos saíam para comer hambúrgueres e batatas fritas, ele se limitava a pratos insossos: frango grelhado sem tempero, arroz integral e água.
O pior era de noite. Quando se deitava na cama, o estômago roncava furioso e a fome o consumia como uma labareda.
Muitas vezes, ele se pegou encarando a geladeira aberta, lutando contra a tentação de devorar qualquer coisa que visse pela frente.
“Se eu comer isso, vou perder tudo que conquistei…”
Essa batalha mental foi uma das mais difíceis.
Na quarta semana, Hayato teve seu pior colapso.
Durante uma corrida, ele simplesmente caiu. As pernas cederam e ele desabou no asfalto, o rosto pressionado contra o chão quente.
— Eu não consigo mais… — murmurou, as lágrimas escorrendo.
Por minutos, ele ficou parado ali, sentindo o mundo girar ao seu redor. A respiração pesada, o coração batendo descompassado… Ele se sentiu patético.
Mas então… ele lembrou de Yuna.
“Se você cair… quem vai protegê-la?”
Essa única pergunta acendeu algo dentro dele.
— Não… não vou desistir…
Ele se levantou, mesmo com o corpo implorando para parar, e continuou correndo.
Naquela noite, ele chorou no banho, mas sentiu algo diferente: orgulho. Pela primeira vez, ele sabia que estava mudando.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.