Índice de Capítulo

    A fumaça negra se espalhava pelo céu nublado da cidade, obscurecendo a luz cinzenta que tentava penetrar as nuvens densas. Sirenes ecoavam à distância, prenunciando o caos que se desenrolava no epicentro do conflito entre os delinquentes da Nova Geração e a organização Black G.

    Yoru permanecia firme em meio à destruição, seus punhos ainda vibrando com a energia do último golpe que derrubara dois adversários simultaneamente. Jake, com escoriações visíveis, se erguia também. Os dois se entreolharam, o cenário ao redor preenchido por explosões, gritos e corpos caídos.

    — Você demorou para aparecer, Yoru — disse Jake, cuspindo sangue. — Mas chegou na hora certa.

    Yoru apertou os punhos, seus olhos dourados analisando o campo de batalha.

    — A guerra está se espalhando. A Black G se infiltrou mais do que esperávamos. Charles sabia… e escondeu tudo. Agora o estrago está feito.

    Jake respirou fundo, observando o horizonte fumegante.

    — Isso não é mais só sobre a Hunides. Essa luta virou pessoal.

    Yoru assentiu.

    — Concordo. E vamos limpar isso, começando agora.

    Enquanto isso, em outros pontos da cidade, o combate se intensificava.

    Nathan, o Kickboxer de movimentos precisos, esquivava-se entre os socos pesados de um inimigo da Black G. Um cruzado certeiro atingiu o queixo do adversário, seguido por um gancho brutal que o arremessou contra um contêiner de metal.

    — Você devia ter treinado mais…

    Sophie deslizava entre escombros como uma felina. Com adagas em mãos e olhos afiados, cortava a carne e o orgulho dos inimigos. Um deles tentou golpeá-la com uma barra de ferro, mas ela bloqueou com uma adaga e o empurrou contra uma parede, cravando a lâmina no ombro.

    — Nunca subestime uma mulher com raiva… e sede de justiça.

    Yuna enfrentava três oponentes simultaneamente. Utilizando seu estilo de kendo, acabava com os delinquentes um por um, usando sua força avassaladora

    — Um, dois, três…
    .

    Juan, explosivo como sempre, não poupava energia. Cada soco seu causava pequenas crateras no chão. Ele rugia com fúria, derrubando um grupo inteiro com um único salto e impacto.

    Matabi, em meio ao caos, liberava sua aura intensa. Seu poder não era apenas físico; era quase espiritual. Quando um dos capangas da Black G tentou enfrentá-lo, foi esmagado por um soco que reverberou como um tambor de guerra.

    Em outro canto da cidade, Charles Choi observava pelas câmeras de segurança, a boca seca, os olhos semicerrados. Alcançou seu telefone e digitou uma sequência rápida.

    — Aqui é Choi. A guerra começou. A unidade especial deve ir para a zona de conflito agora. Você tem minha permissão.

    Do outro lado da linha, uma voz respondeu:

    — Ordem confirmada. A unidade polícial está a caminho.

    Choi se recostou, mas algo em sua expressão revelava preocupação. Ele sabia que estava soltando uma fera que talvez nem ele pudesse controlar.

    No alto do prédio da Hunides, o vento uivava como um espírito do passado. Jake, ainda com as mãos sujas de sangue dos combates anteriores, encarava Dagon, um velho companheiro de guerra.

    — Nunca imaginei que te veria aqui em cima…

    Dagon, alto, musculoso, com o rosto marcado por cicatrizes antigas, deu um leve sorriso.

    — E eu nunca pensei que você fosse esquecer de onde veio.

    Jake abaixou a cabeça brevemente.

    — Eu não esqueci. Eu só não consegui carregar todo mundo comigo.

    Dagon avançou.

    — Nós não queríamos que você nos carregasse. Queríamos apenas estar ao seu lado.

    Jake não respondeu. O silêncio foi quebrado pelo primeiro soco. Dagon veio com brutalidade, acertando o rosto de Jake, que recuou cambaleando. Outro golpe, um chute lateral, jogou Jake contra a parede do terraço.

    Jake cuspiu sangue, limpou com as costas da mão e sorriu.

    — Ainda bate forte…

    Ele avançou. Um direto. Um gancho. Um chute no estômago. Os dois trocavam golpes como feras em um coliseu, sangue salpicando o concreto, ossos estalando a cada impacto. Jake desviava, contra-atacava e, por fim, acertou um soco ascendente no queixo de Dagon, seguido por um chute rotativo na cabeça.

    Dagon caiu de joelhos, exausto, sorrindo amargamente.

    — Você ficou forte demais, Jake… Mas ainda não entendeu.

    Jake se aproximou, com o rosto coberto de sangue e suor.

    — Entender o quê?

    Dagon tirou uma pequena máscara do bolso e jogou aos pés de Jake.

    — O plano de Charles… Tudo isso é uma distração. Ele quer algo maior. Algo que vai destruir todos nós.

    Jake olhou para a máscara, confuso. Mas antes que pudesse perguntar mais, Dagon deu um passo para trás, até a beirada do prédio.

    — Talvez… ainda dê tempo para você mudar isso.

    E então, sem hesitar, Dagon se jogou.

    Jake correu, gritando o nome do amigo, mas tudo que restou foi o som surdo de um corpo atingindo o solo.

    Em outro ponto, Yumi abria a gaveta de seu antigo quarto. Entre cadernos e papéis velhos, ela encontrou uma foto.

    Era uma imagem antiga. Uma imagem de uma mulher de cabelos rosas, segurando um bebê que parecia o Yoru nos braços, e ao seu lado, uma menina pequena, de cabelos pretos.

    — … Vou ter que dizer…

    De repente, seu celular tocou.

    Era Choi.

    — Yumi, a polícia está a caminho do epicentro. Se você quiser fazer algo… é agora.

    Yumi pegou a foto, guardou no bolso interno da jaqueta e caminhou para fora.

    — Entendido.

    Ao sair, a luz do entardecer pintava o céu de vermelho-sangue. O mundo queimava, e Yumi marchava rumo ao inferno, com olhos de quem não pretendia voltar até que tudo estivesse resolvido.

    O fim daquele dia seria marcado por memórias, lágrimas e pelas cinzas do que um dia foi irmandade. Mas também pelo nascimento de uma nova era. A batalha final não era apenas por território.

    Era pelo futuro inteiro.

    A noite permanecia úmida, mas quente. O sangue e a fumaça se misturavam no ar como um perfume de guerra, saturando cada canto daquele campo de batalha. Um lugar sem regras, sem lei, sem ordem. Apenas o caos dominava, e os corpos caídos no chão formavam um mosaico grotesco de brutalidade juvenil. Havia choro, havia silêncio, havia risos insanos. Wallace, com os punhos cerrados, estava parado no centro do campo, ofegante. Seu rosto sujo de sangue — não só o próprio — denunciava a intensidade do combate. Ao seu lado, os últimos membros ainda de pé da gangue Black G aguardavam, tensos, com olhares semicrédulos.

    Foi então que o inesperado aconteceu. Do nada, as nuvens se fecharam sobre o céu e uma fina, porém crescente, chuva começou a cair. As gotas tocavam o chão como se fossem agulhas divinas tentando limpar a terra imunda. Todos pararam. O som da chuva ocupou os ouvidos de todos, substituindo os gritos e os gemidos. Algo havia mudado. Algo maior estava prestes a acontecer.

    Um carro preto e luxuoso, de vidros escurecidos, se aproximou lentamente pela estrada lamacenta. Era como um intruso silencioso invadindo um território que já pertencia aos mortos. O carro parou. O motor desligou. E então a porta traseira se abriu com a suavidade de um pesadelo prestes a se revelar.

    De dentro, saiu uma figura vestida em um terno preto perfeitamente alinhado, com um guarda-chuva preto que se abria em um estalo elegante. Ela pisou na lama com a firmeza de quem sabe que não será sujada. Um cigarro descansava, ainda apagado, no bolso esquerdo do paletó. Seus saltos ecoavam com um som que cortava o silêncio, como se a própria Terra tivesse se curvado para não interromper sua marcha.

    Era Yumi Blaker. A demônia. A sombra da geração um.

    Cada passo dela era uma sentença. Cada olhar, um julgamento. Os delinquentes, antes em fúria, agora estavam estáticos. A guerra havia parado não por rendição, mas por respeito. Ou melhor, por medo.

    Wallace engoliu seco. Seus músculos se contraíram instintivamente, ansiosos, mas sua mente o impedia de agir. Ele queria — mais do que tudo — enfrentá-la. Mas sabia que morreria. Sabia que seu nome terminaria ali, se ousasse dar um passo. Seus olhos a seguiram, famintos de adrenalina, mas sua alma gritava para ficar imóvel.

    Yumi passou por ele como se ele não existisse. Como se nenhum deles existisse. Ela não estava ali por eles.

    Do alto de um prédio, Jake chorava. O corpo de Dagon estava imóvel no chão abaixo do alto do prédio. Os olhos abertos, mas sem vida. Jake, mesmo de longe, sentiu a mudança de ar. Sentiu aquele magnetismo aterrador e olhou para baixo. Lá estava ela. A mulher que todos temiam, mas poucos conheciam. Yumi.

    Yoru, ainda com os olhos dilatados após o confronto, estava parado, encostado em uma mureta, respirando com dificuldade. Quando ela o viu, desviou o caminho. Seu andar era lento, firme, como se cada segundo fosse parte de uma encenação meticulosamente ensaiada.

    Ela parou diante dele. O guarda-chuva o cobria da chuva agora.

    — Faz uns dias que não te vejo, em Yoru — sua voz era grave, melódica, como uma canção de ninar prestes a se transformar em grito de guerra.

    Yoru a olhou, confuso, sem conseguir esconder sua exaustão.

    — Yumi… Oque faz aqui? Veio tentar nos derrotar?

    Yumi retirou um pequeno envelope plastificado de dentro do terno e entregou a ele.

    — Olha, Isso talvez te ajude a entender. — ela disse, enquanto retirava os óculos escuros lentamente.

    Seus olhos eram estranhos. Pupilas negras como carvão, mas com íris brancas como neve. Um contraste que arrepiava até os ossos. Ela fitava Yoru como se o conhecesse há séculos. Como se o esperasse.

    Ele abriu o envelope. Lá dentro, uma única fotografia.

    Uma imagem antiga, de má qualidade. Um bebê sorrindo nos braços de uma criança de sete ou oito anos, de cabelos longos e escuros. Era ele. Era ela.

    — Isso… não faz sentido…

    Yumi deu um meio sorriso.

    — Eu sou sua meia-irmã, Yoru. Por parte de pai. — sua voz era firme, impenetrável.

    O nome pai e irmã soou como uma bomba dentro da mente de Yoru. A chuva parecia pesar mais agora.

    — Mas… por quê? Por que só agora?

    — Porque agora você está pronto. E porque eles estão prontos também. — ela disse, virando o rosto e olhando em direção aos sobreviventes da Black G.

    Yumi respirou fundo, guardou os óculos no bolso e retirou o cigarro. Acendeu-o com um isqueiro de prata e deu uma tragada lenta.

    — Ouçam bem, desgraçados. — sua voz agora ecoava como trovão, e até a chuva pareceu se calar por um segundo. — Quem tiver coragem, fique. Quem quiser viver, fuja.

    Wallace deu um passo à frente, suando frio. Os outros delinquentes se entreolharam. Alguns deram passos para trás. Outros travaram.

    — Eu… quero lutar. — disse Wallace, sua voz tremendo, mas firme.

    Yumi sorriu, largando o guarda-chuva. A chuva caiu sobre ela como um batismo sombrio.

    — Ótimo. — respondeu. — Eu também quero brincar um pouco…

    E então ela avançou. A guerra havia recomeçado — não entre gangues, mas entre a humanidade e algo muito, muito além dela.

    E Yoru, com a fotografia ainda nas mãos, viu o inferno se abrir diante de seus olhos. Sabia que algo havia mudado. Sabia que sua história, até aquele momento brutal, estava apenas começando.

    E o nome dessa nova era era Yumi

    O demônio de terno preto.

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