Índice de Capítulo

    As luzes tremeluziam como velas prestes a se apagar. Um tom amarelado e morto tomava conta do piso de madeira escura e das paredes forradas de painéis luxuosos, embora manchados pelo tempo. Aquele andar, diferente dos outros, era mais silencioso, quase fantasmagórico.

    Yoru caminhava lentamente pelos corredores largos e frios. Cada passo seu soava como um trovão abafado naquele ambiente estéril. Ele trajava roupas simples, suadas, rasgadas por batalhas anteriores, mas seu olhar — esse era afiado como navalha.

    — Esse lugar fede a mentira… — murmurou.

    Logo adiante, ele virou um corredor e entrou em uma área maior, um salão oval com várias portas de metal e caixas empilhadas nas extremidades. No centro, um grupo de dez guardas, uniformizados com preto e azul, o esperava.

    — Pare onde está! — gritou o chefe deles. — Identifique-se agora mesmo!

    Yoru apenas os observou. Seus olhos escuros analisavam cada um deles, os padrões de postura, o equipamento… e principalmente, o medo disfarçado em arrogância.

    — Não precisam se apresentar. Eu já sei o que são: os cães de Charles.

    Um deles correu em sua direção com uma tonfa elétrica. Yoru desviou levemente para o lado e, com um movimento seco, golpeou o pescoço do homem com a palma da mão aberta. O som do impacto foi seco. O guarda caiu desacordado.

    — PEGUEM ELE! — gritaram.

    Todos avançaram.

    Yoru se moveu como uma sombra. Os socos vinham de todos os lados, mas ele fluía entre os golpes, torcendo braços, quebrando clavículas, pisando em joelhos. Com um chute giratório, mandou dois contra a parede. Pegou o bastão de um deles no ar e o usou para desferir um golpe nas costas de outro, fazendo-o cuspir sangue.

    Um dos guardas tentou sacar uma arma.

    Yoru jogou o bastão com precisão milimétrica, acertando a mão do homem e derrubando a pistola.

    — Vocês não são dignos de empunhar isso — disse ele, caminhando por entre os corpos desacordados, alguns gemendo, outros já apagados.

    Quando o último tentou fugir, Yoru o segurou pela gola.

    — Me diga… onde o Charles guarda seus arquivos mais sigilosos?

    — E-eu não sei! Eu juro! Só sei que… tem uma sala escura… sem janelas… atrás da parede falsa, no fim do corredor com os quadros de ouro!

    Yoru soltou o homem, que caiu ao chão com medo e alívio.

    Caminhando com calma, o jovem guerreiro seguiu pelas instruções até encontrar o tal corredor. As pinturas luxuosas, emolduradas em ouro, retratavam empresários e generais… e no final, havia uma parede de mármore branco. Ele tocou em uma fissura lateral e, com força, empurrou. A parede deslizou lentamente, revelando uma abertura escura.

    [Sala Oculta]

    A sala era pequena, com cheiro de mofo e papel velho. Estantes altas de ferro enferrujado guardavam documentos antigos, pastas confidenciais e gavetas com etiquetas em mandarim e inglês.

    Yoru acendeu uma lanterna portátil de seu bolso e começou a vasculhar.

    — O que o Charles está escondendo aqui…?

    Em cima de uma mesa metálica, encontrou um maço de documentos carimbados em vermelho. Não entendia completamente o conteúdo, mas frases como:

    > “Transferência de crianças – Projeto Íris-9 Beta – Autorizado pelo conselho internacional…”

    > “Pagamentos enviados ao laboratório STYX – sujeitos humanos tipo II – 2012-2020”

    > “Consentimento forjado – DNA adulterado – ocultar paternidade verdadeira”

    Seus olhos se arregalaram.

    — Isso aqui… não deveria existir.

    Sem tempo para decifrar tudo, dobrou os documentos com cuidado e guardou no bolso interno de sua jaqueta. Iria analisar com Viviane depois. Ou talvez com Enzo. Ou sozinho.

    Um pressentimento pesado caiu sobre ele. Como se algo estivesse prestes a dar errado em outro lugar.

    E ele estava certo.

    ….

    Viviane estava sentada no chão, com os joelhos encolhidos e os olhos atentos. O quarto era úmido, forrado por um carpete velho. Havia apenas uma janela lacrada e uma lâmpada fraca no teto, que piscava de tempos em tempos. O cheiro de mofo era forte, mas ela não reclamava. Estava treinada para suportar.

    Ela confiava em Wallace. Mas algo errado aconteceu.

    A maçaneta da porta girou.

    — Wallace? — ela chamou em voz baixa.

    Mas não era Wallace.

    Era Samuel.

    O amigo de Eli Jang entrou sorrindo. Seu cabelo estava bagunçado, os olhos vermelhos de cansaço e perversidade. Ele segurava um bastão de alumínio em uma das mãos.

    — Achei você, princesinha de luxo.

    Viviane tentou correr, mas Samuel foi mais rápido. Com brutalidade, agarrou-a pelos cabelos e a puxou com força. Ela gritou, tentando se soltar, mas ele a arrastou pelo corredor.

    — PÁRA! SEU DESGRAÇADO! — ela berrava, chutando e tentando resistir.

    — Você devia agradecer. Eli quer te ver. Ele tem uma proposta… e não é do tipo que se recusa.

    [Garagem – Parte Inferior do Prédio]

    Ali, em meio aos carros de luxo, entre colunas de concreto e trilhas de óleo, Eli Jang esperava com um charuto aceso. Ao seu lado, Ben e mais dois membros de sua gangue observavam com sorrisos zombeteiros.

    Samuel jogou Viviane no chão diante de Eli.

    — Aqui está. A herdeira do império Hanamura. Que honra, hein?

    Eli soprou a fumaça para cima, olhando para ela com desprezo e desejo de dominação.

    — Que mundo engraçado, não é? A filha do maior magnata chinês… agora nas mãos de um bando de delinquentes.

    Viviane se levantou, com o rosto marcado pelo chão, mas os olhos queimando de ódio.

    — Você vai pagar por isso, Eli. Meu pai… meu pai vai fazer você implorar por perdão.

    — Ah, querida… — ele se aproximou, agachando-se diante dela — …o seu pai vai fazer de tudo menos isso. Porque quando eu contar pra ele o que encontrei nesses documentos, ele vai perceber que… você não é só filha dele.

    Viviane empalideceu.

    — O… que?

    Eli sorriu com malícia.

    — Segredos são veneno, princesa. E você… é o frasco mais valioso de todos.

    ..

    Wallace respirava com dificuldade. O suor misturado ao sangue escorria por seu rosto. O corredor onde ele estava era estreito, com azulejos rachados e marcas recentes de luta: pedaços de parede caídos, portas destruídas e sangue em manchas irregulares pelo chão.
    Ele havia acabado de derrotar Hayato. Mas não teve tempo para descansar. Um estrondo soou mais adiante.

    — Eles chegaram… os outros também… — murmurou Wallace, engolindo seco. — Se eu cair aqui, tudo vai desandar…

    Seus pés avançaram mesmo que suas pernas pesassem como chumbo. O som de passos ecoou pela escadaria de emergência. Wallace virou para ver Ben, o brutamontes de camisa regata, tatuagens pelo pescoço, e olhos animalescos, correndo em sua direção.

    — AÍ, LIXO DO CHARLES! — gritou Ben — TE PEGUEI!

    Wallace ergueu a guarda no instante em que o primeiro soco direto quase lhe quebrou a costela. O impacto foi como o de um carro batendo — Wallace recuou dois passos, arfando.

    Ben sorriu, mostrando os dentes.

    — Tá cansado, hein? Isso vai ser rápido.

    Wallace então girou sobre o calcanhar, usou a parede como apoio e chutou com a perna direita no rosto de Ben, fazendo-o cambalear. Em seguida, aplicou um chute lateral no joelho do oponente, quebrando sua base.

    Ben gritou e desferiu um soco no ar, mas Wallace se abaixou e encaixou um cruzado de esquerda no queixo, fazendo o gigante cair de costas no chão, desmaiado.

    — Não tenho tempo pra você… — sussurrou Wallace, mas antes que pudesse respirar fundo, a próxima chegou.

    Sophie.

    Ela veio correndo com um taco de beisebol envolto em fios elétricos. Tinha um sorriso irônico, cabelo preso num coque alto, e olhos cintilando com crueldade.

    — Tava com saudade, Wallace — disse ela. — Hora de dançar de novo.

    Wallace mal ergueu os olhos antes de ver o taco descendo com fúria. Ele saltou para trás, mas a ponta ainda raspou seu ombro, soltando uma faísca.

    — AGH! — grunhiu, recuando.

    Sophie avançou com agilidade. Seus golpes com o taco vinham em sequências imprevisíveis — horizontais, verticais, diagonais — como se estivesse coreografando sua própria música de destruição.

    Wallace passou a misturar sua capoeira com esquivas de taekwondo, rodando em giros baixos e chutando com as solas dos pés. Em um momento, se abaixou por baixo de um golpe e girou com as duas pernas, derrubando Sophie.

    — SAI DE CIMA, SEU MALDITO! — ela gritou, se levantando com fúria.

    Wallace pulou sobre a parede e, com precisão, desceu um chute aéreo sobre o braço dela, fazendo o taco cair no chão. Com um soco direto no peito, lançou Sophie contra uma porta, que se quebrou.

    Ela caiu desacordada.

    [Segundo Andar – Corredor Principal]

    Wallace cambaleava. O ombro queimava, os músculos doíam, mas ele continuava. A luta o deixava mais alerta, mais consciente de si. Porém, o destino não havia acabado de testar sua força.

    Três membros da gangue de Gondon vieram ao mesmo tempo: dois com barras de ferro e um com um bastão telescópico.

    — Esse cara derrotou o Hayato e a Sophie? Bora quebrar ele agora! — gritou um deles.

    Wallace não respondeu. Só se posicionou.
    O primeiro golpe veio de cima. Wallace agarrou a barra de ferro e a puxou, quebrando o braço do oponente com uma chave rápida. Usou o bastão roubado para girar e acertar o segundo no estômago.

    O terceiro tentou recuar, mas Wallace se aproximou como um raio e aplicou uma sequência de chutes rápidos — joelho, chute na costela, chute no queixo.

    Todos caíram.

    — Chega… chega disso. — Wallace sussurrou, arfando. Sua respiração parecia rasgar os pulmões.

    Mas então… ele ouviu um som grave.

    — Wallace… — ecoou uma voz.

    Ele se virou e lá estava Ash, lutador de elite da gangue, conhecido por sua frieza e poder monstruoso.

    Ash caminhava lentamente, o corpo coberto por um casaco escuro, e os olhos vermelhos como brasa.

    — Você não devia estar aqui. Vai morrer.

    Wallace não respondeu. Apenas correu para cima dele.

    A luta foi brutal. Ash tinha o estilo de luta híbrido: karatê e muay thai. Seus golpes eram secos, poderosos, e visavam partes vitais do corpo. Ele acertou Wallace com uma cotovelada na mandíbula, seguida de um soco giratório na têmpora, fazendo o guerreiro cambalear.

    Wallace cuspiu sangue. Mas sorriu.

    — Não vou cair… por vocês. Não antes de encontrar ela. — murmurou.

    Ele girou em um movimento de capoeira, surpreendendo Ash com um chute lateral de duas etapas. Depois aplicou um golpe com o joelho no estômago, saltou e chutou o peito de Ash com os dois pés, o lançando contra a parede.

    Ash tentou se levantar, mas Wallace já estava sobre ele, chutando-o com fúria incontrolável, quebrando-lhe as costelas.

    Ash desmaiou.

    Silêncio.

    Wallace caiu de joelhos. Estava ensanguentado, exausto, os braços e pernas tremendo.

    — Viviane… preciso ver você… agora.

    [Terceiro Andar – Quarto Escuro]

    Wallace entrou.

    O quarto estava vazio.

    Seu coração parou. Ele olhou para os lados, vasculhou atrás dos móveis, abriu armários. Nada.

    — VIVIANE? VIVIANE!? — sua voz ecoou, desesperada.

    Ele encontrou um pedaço do brinco dela no chão. Estava quebrado.

    Algo dentro dele explodiu.

    O ar pareceu se incendiar em volta de Wallace. Seus olhos se encheram de raiva, desespero e ódio. Ele socou a parede com tanta força que abriu um buraco.

    — Seja lá quem pegou a Viviane…— sua voz agora era como a de um monstro — VOCÊS ESTÃO MORTOS!

    Wallace desceu as escadas com os olhos ardendo de fúria, os punhos cerrados, o corpo ainda ferido, mas seu espírito… mais vivo do que nunca.

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