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    Renjiro estáva muito, mas muito bravo por ter perdido para membros da segunda geração, não em força, mas sim em estratégia, aquilo mexeu com seu psicológico quase que inabalável

    “Ainda não estou acreditando que perdi para essa nova geração, eu! Considerado um rei da primeira geração, perdi para uns moleques intrometidos!” o Renjiro deu um soco na mesa que a partiu em dois

    O silêncio após a explosão da mesa ecoava pelas paredes de pedra fria da fortaleza de Renjiro. Estilhaços de madeira espalhavam-se pelo chão como ossos secos de uma fera derrotada. Ele ofegava, os punhos cerrados, os olhos ardendo em um tom vermelho sombrio, e a aura pulsante ao redor de seu corpo fazia as tochas dançarem freneticamente.

    — Ainda não estou acreditando… — sua voz saiu trêmula, não de medo, mas de frustração. — Eu! Um dos Reis da Primeira Geração! Derrotado… por moleques da Segunda Geração? Eles não me superaram em força, não! Foi… estratégia. Ardilosa. Fria. Calculada…

    Seus olhos se voltaram para o teto como se buscassem respostas nas rachaduras da rocha. O suor descia em sua têmpora mesmo com o clima gélido das montanhas de Honshu.

    O som de passos ecoando pelo longo corredor interrompeu seu colapso silencioso. Passos firmes. Elegantes. Quase imperiais.

    — Vai embora, seja lá quem for. — rosnou Renjiro, sem virar o rosto. — Não estou no clima para bajulações ou conselhos…

    — Que bom. Porque eu não vim bajular. Vim abrir seus olhos, Renjiro Hoshizaki.

    A voz feminina cortou o ar como uma lâmina de prata. Era firme, serena, mas carregava uma autoridade que não podia ser negada. A porta foi empurrada com firmeza e revelou a figura de Emi Suzuki, a temida Rainha de Sapporo, envolta em um sobretudo escarlate e botas negras que ecoavam por cada passo como sinos de guerra.

    Ela entrou sem cerimônia, os cabelos brancos presos em um coque e o olhar de quem carregava o peso de uma cidade inteira nos ombros.

    — Emi? — Renjiro franziu o cenho. — Você saiu da sua fortaleza no norte só pra ver minha desgraça?

    — Vim ver se o rei de Honshu havia morrido por dentro, ou se ainda havia alguma centelha de razão em seus olhos. — ela o encarou de cima a baixo. — E para minha tristeza, estou vendo um homem tomado pelo ego. Um rei afundado na própria sombra.

    Renjiro se levantou bruscamente, e por um instante, o ar pareceu tremer.

    — Não ouse me desrespeitar aqui, Suzuki. Ainda sou um dos pilares do velho mundo!

    Ela não recuou. Pelo contrário, deu mais um passo à frente.

    — E é exatamente por isso que estou aqui. Porque esse velho mundo está morrendo. Você sabe disso tanto quanto eu.

    Ele não respondeu de imediato. A tensão entre ambos era quase palpável.

    Emi virou-se e olhou pela janela, observando as cordilheiras distantes cobertas de neve. A luz azulada da noite refletia em seu rosto, que agora se suavizava com uma tristeza genuína.

    — Charles dominou tudo… há anos. Feudos, territórios, comunicação, até mesmo os tratados secretos entre os clãs menores. Está tudo nas mãos dele. Vivemos num teatro. Um mundo de reis sem reinos… de tronos decorativos.

    — E você acha que esses pirralhos… — Renjiro cuspiu a palavra — …essa Segunda Geração, vai mudar isso?

    — Eles já estão mudando. Não percebe? Eles são imprevisíveis, ousados… livres. Algo que você e eu não somos mais. A prisão de Charles não é física. É estrutural. É mental. E eles estão fora disso.

    Ela o fitou nos olhos.

    — Talvez sejam mesmo intrometidos. Mas talvez… sejam a única chave de libertação que ainda temos.

    Renjiro ficou em silêncio, olhando para o chão destruído sob seus pés. Sua sombra projetava-se quebrada nas tábuas rachadas. Pela primeira vez em décadas, sentiu-se pequeno.

    A cena era de caos controlado. Caixas, equipamentos, mapas holográficos. Todos estavam reunidos em um antigo centro comunitário reformado como base provisória.

    Hayato, com os braços cruzados, fitava o quadro à frente com diversas marcações do complexo onde Yoru estava detido. Seu semblante era sombrio. Ao lado dele, Ben, com o capuz abaixado, mantinha os olhos semicerrados. Sophie digitava algo num tablet, e Hiroshi passava a mão pelo cabelo, inquieto. Nathan afiava suas lâminas silenciosamente, enquanto Leonard, o mais quieto do grupo, olhava para o chão, visivelmente abalado. Bunkjae mexia em sua bengala de combate. Mia, de olhos marejados, segurava a mão de Yuna, que tentava parecer forte.

    — A missão é impossível nesse momento. — disse Hayato, por fim. — Olhem pra nós. Estamos desunidos. Enferrujados. Sentimentais. Se tentarmos agora… todos morreremos.

    — Mas Yoru pode morrer! — gritou Mia. — Cada segundo conta!

    — E cada segundo nos torna mais inúteis, se não treinarmos. — respondeu Hayato, virando-se. — Vocês não percebem? Não é só sobre invadir um prédio. É sobre lutar contra o sistema inteiro. Um sistema moldado pelos mais fortes da Primeira Geração e mantido pelas garras de Charles.

    Sophie se levantou:

    — Então o que você sugere, Hayato?

    — Treinamento total. — respondeu. — Não por dias. Semanas. Um treinamento suicida, implacável, até que estejamos à altura dos demônios que governam esse mundo.

    Ryuji, até então calado, respirou fundo e concordou:

    — Yoru… nos protegeria. Agora é a nossa vez de proteger ele. Mas só poderemos fazer isso se formos capazes de enfrentar monstros… sendo monstros piores ainda.

    Yuna completou, com um olhar determinado:

    — Então vamos começar agora.

    De um lado, Renjiro olhava para o horizonte, refletindo sobre as palavras de Emi. A raiva cedia espaço à dúvida. E a dúvida era a primeira rachadura no castelo de orgulho que ele ergueu por décadas.

    Do outro, os jovens da Segunda Geração, sentindo o peso da responsabilidade nos ombros, juravam silenciosamente que iriam treinar até seus corpos e almas quebrarem — tudo por um objetivo: salvar Yoru.

    A guerra estava só começando. E agora, as linhas do destino cruzavam duas gerações com sangue, suor e esperança.

    Silêncio.

    Um silêncio tão profundo que parecia se infiltrar na alma, esmagando qualquer pensamento com sua densidade. Aos poucos, o mundo começou a se reconstruir em fragmentos tortuosos para Yoru. Uma luz branca, dolorosamente intensa, queimava por trás de suas pálpebras fechadas. Havia um zumbido no ar — um som agudo, quase eletrônico, que pulsava em uma frequência irritante, como se alguém quisesse mantê-lo entre o sono e a vigília.

    Quando tentou mover os braços, percebeu. Estava preso. Algemas frias e apertadas envolviam seus pulsos. Suas pernas também estavam presas, os tornozelos forçados contra uma superfície metálica. Seu corpo doía — das articulações até a espinha. Mas o que mais o chocou foi quando sua cabeça balançou involuntariamente para o lado e…

    — …meu cabelo…?

    A pele de seu couro cabeludo parecia queimada em pontos. Raspada à força. Sensível, latejante. Um calafrio percorreu sua espinha.

    — Acordou… — uma voz grave e cansada soou da escuridão ao lado.

    Yoru virou lentamente os olhos.

    Ali, na maca ao lado, amarrado de forma semelhante, estava Wallace. Seus olhos estavam fundos, sua pele pálida, suando frio. Havia hematomas visíveis em seu pescoço e braços. Um tubo transparente, preso ao seu braço por fita cirúrgica suja, ainda gotejava um líquido esverdeado.

    — Wallace…? — Yoru sussurrou, a garganta seca como papel.

    — É… nós dois estamos aqui. Presos. Cobaias. — a voz dele falhava. — Aquele maldito… aquele “doutor”… está fazendo experimentos com a gente, Yoru. Injetando coisas. Testando reações. Cortando. Costurando. Rindo.

    Yoru tentou engolir em seco, mas sua boca estava como areia. Ele puxou os pulsos com força, mas as algemas de aço nem se moveram.

    — Onde… onde a gente tá?

    — Subsolo de algum laboratório do Charles. Isso é uma ala secreta, com isolamento total. Eu ouvi alguns deles falando enquanto fingia estar desmaiado. Esse lugar nem existe nos registros. Eles chamam de Câmara Inversa.

    O nome ecoou nos pensamentos de Yoru com um peso quase místico. Câmara Inversa.

    — O que… ele fez com você?

    Wallace suspirou. Seus olhos vacilaram, como se hesitassem em falar.

    — Drogas… tortura sensorial… me fez ouvir vozes por horas. Me forçou a usar minha energia até o ponto de colapso. Depois drenou o que sobrou pra ver como meu corpo reagiria sem Ínferos por 48 horas. Depois reinjetou uma versão alterada, só pra ver se eu “mutaria”.

    Yoru arregalou os olhos.

    — Mutação…?

    — É. Ele quer transformar a gente. Adaptar nossos corpos pra criar um tipo de soldado perfeito. Uma fusão entre o que ele chama de potencial humano puro e caos controlado.

    — E o que isso significa?

    — Que estamos sendo quebrados… pra ver se sobram os cacos certos.

    O silêncio pairou entre eles. Um silêncio espesso. Até que…

    Click.

    A porta metálica se abriu. Um rangido longo, quase cerimonial. E por ela entrou uma figura alta, magra, coberta por um avental branco manchado de sangue seco. Seus olhos eram ocultos por óculos redondos e opacos. Um sorriso se abria em seu rosto magro, como o de uma máscara de teatro trágico.

    — Bom dia, meus pacientes adoráveis… — a voz era aguda, arrastada, quase sensual em seu sadismo. — Dormiram bem? Espero que sim. Hoje teremos… novos testes!

    Yoru tentou se erguer, mas os cintos metálicos apertaram com mais força. Wallace apenas cerrou os olhos.

    — Você é doente… — rosnou Wallace. — Isso tudo é insanidade.

    — Insanidade? Não, meu caro Wallace. — o médico se aproximou, acariciando as veias de Yoru com um instrumento cirúrgico que parecia mais uma garra do que um bisturi. — Isso aqui é ciência de ponta. Aqui, estamos transcendentemente redefinindo os limites da carne, da mente e da energia.

    Ele parou ao lado de Yoru.

    — Você… é especial. Sabe disso, não sabe? Seu histórico é fascinante. A energia em seu núcleo vibra de forma… instável. Como uma bomba prestes a explodir. É por isso que Charles quer tanto você.

    — Charles… — Yoru sussurrou, quase cuspindo o nome. — Ele vai pagar por isso. Todos vocês vão.

    O médico riu. Um som distorcido, repugnante.

    — Típico discurso de mártir. Adoro. Vamos ver o quanto você aguenta antes de começar a dizer o contrário, sim?

    As próximas horas foram um borrão de dor e humilhação.

    Eles foram separados. Yoru foi levado para uma sala mais fria, onde máquinas antigas chiavam como relíquias esquecidas. Seus olhos foram forçados a ficar abertos, gotas caíam constantemente para impedir que secassem. Imagens, luzes, memórias — tudo era manipulado. Vozes de seus amigos, distorcidas, o chamando. Hayato gritando. Viviane chorando. Sophie sangrando.

    Era uma guerra psicológica.

    Sondas de energia eram aplicadas direto em seu peito, provocando choques, convulsões e impulsos involuntários. Cada célula de seu corpo parecia vibrar em frequência errada. As sensações eram amplificadas, e a dor se tornava uma orquestra desesperadora dentro de sua cabeça.

    Enquanto isso, Wallace era mantido em uma câmara isolada, submerso em um líquido leitoso, forçado a prender a respiração por minutos enquanto sensores monitoravam suas reações. Tubos eram enfiados em suas costas, tentando acessar pontos onde o Ínferos se concentrava.

    Horas depois, Yoru foi jogado de volta à maca, como um animal abatido. Estava tremendo, o corpo coberto de hematomas, a pele manchada por perfurações e marcas.

    — Yoru… — Wallace ainda estava ali, exausto, mas consciente. — Aguenta. Ainda… somos nós.

    — Ele… — Yoru mal conseguia falar. — Ele quer… destruir nossa mente antes do corpo…

    — E a gente não vai deixar. — Wallace forçou um sorriso fraco. — Somos da Segunda Geração, lembra? Se sobrevivemos a tudo… isso aqui vai ser só mais uma cicatriz.

    — A gente… vai sair daqui, né?

    — Vamos. Mas primeiro, precisamos manter uma única coisa intacta.

    Yoru o olhou.

    — O quê?

    — A esperança.

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