Capítulo 233 - A tristeza de Yuna
A noite estava abafada quando Yuna, ainda com os olhos vermelhos do choro, chegou à casa de Hina. O portão rangeu ao ser empurrado, denunciando sua presença. Hina abriu a porta quase de imediato, surpresa ao ver a amiga com o rosto marcado pela tristeza.
— Yuna? O que houve? — perguntou, dando um passo à frente e segurando-a pelos ombros.
— Ele… — Yuna começou, mas a voz se quebrou. As lágrimas voltaram antes mesmo que pudesse completar a frase.
Hina não disse mais nada; apenas puxou a amiga para dentro e a abraçou forte, sentindo o tremor do corpo dela.
— Senta aqui… — disse, guiando Yuna até o sofá. — Fala comigo.
Yuna respirou fundo, tentando organizar os pensamentos, mas a voz saiu carregada de dor:
— O Hayato… ele vai embora. Disse que vai treinar por meses, talvez mais… disse que precisa ficar mais forte pra me proteger. Mas… isso é só um jeito bonito de dizer que tá me abandonando.
Hina a olhou em silêncio, absorvendo cada palavra. Sentia o peso do que Yuna dizia, pois aquilo tocava em uma ferida própria.
— Eu… entendo mais do que você imagina. — disse por fim, desviando o olhar. — O Yoru também… de certa forma… me deixou. Desde que ele foi sequestrado, eu tenho ficado sozinha ultimamente, e não sei oque fazer, e ninguém sabe onde ele se meteu
O ar parecia denso entre as duas. O som distante da televisão desligada na sala ecoava em um silêncio desconfortável.
— Eu odeio isso, Hina… — Yuna apertou as mãos, os dedos trêmulos. — Eles sempre dizem que é por nós… mas e a gente? Fica esperando, sentindo o vazio… com medo de que nunca voltem.
Hina se aproximou e pegou as mãos de Yuna.
— Olha, eu não vou mentir… dói. Dói muito. Mas você tem que acreditar que ele vai voltar. O Hayato não é o tipo de cara que te esqueceria.
— Não sei… — Yuna balançou a cabeça, enxugando as lágrimas. — É como se ele tivesse mais amor pela ideia de ser forte do que por mim. Acho isso injusto Hina… Isso é injusto demais… Eu não quero ser abandonada de novo
Hina suspirou, sentindo o peso da própria dor junto com a da amiga. Mesmo machucada, tentou manter a voz firme:
— Então… enquanto ele tá fora, cuida de você. Se mantém de pé. Assim, quando ele voltar, você não vai ser só alguém esperando, vai ser alguém que cresceu também.
Yuna não respondeu, apenas se jogou no abraço de Hina, deixando o choro silenciar qualquer resposta. Ela se sentia incapaz de qualquer coisa, e sentia que não podia parar a vontade do Hayato nem por um segundo
Três dias depois…
A manhã na estação de trem era um mosaico de sons: anúncios nos alto-falantes, rodinhas das malas deslizando no piso, e o sopro grave de um trem chegando na plataforma. Hayato estava com uma mochila pesada nas costas e um olhar firme, apesar do vazio que sentia no peito.
Sua mãe, Kaori, estava ao lado, segurando os braços cruzados, tentando esconder a preocupação atrás de uma postura rígida. O irmão mais novo, inquieto, ficava indo de um lado para o outro.
— Então é isso… — Kaori disse, a voz baixa, quase engolida pelo ruído ao redor. — Você realmente vai.
— Eu volto… mais forte. — respondeu Hayato, tentando soar confiante.
— Eu só espero que essa força não te custe mais do que você tá imaginando. — disse ela, apertando o braço dele antes de soltá-lo.
Ele sorriu de leve, sem saber como responder. O apito do trem cortou o ar, chamando-o. Ele deu um último aceno, entrou e sumiu pela porta automática.
O trem deslizou pela linha, deixando para trás o cenário familiar e abrindo caminho para uma paisagem que se transformava pouco a pouco: prédios deram lugar a campos, que se tornaram florestas e montanhas.
Okinawa – Uruma
O ar ali era diferente. Salgado pelo mar próximo, quente e denso, carregando o som distante das ondas e o farfalhar das árvores. Hayato não perdeu tempo: seguiu as indicações que havia conseguido e encontrou a trilha para o templo.
A estrada de terra logo se estreitou em um caminho de pedras coberto por raízes. A cada passo, o som dos insetos e o canto de pássaros exóticos o envolviam. O cheiro da mata era forte, úmido, e o calor aumentava conforme ele avançava.
Depois de quase uma hora, a vegetação se abriu para revelar o início da escadaria. Era uma visão quase intimidadora: degraus de pedra que subiam colina acima, desaparecendo entre as nuvens.
Uma pequena placa de madeira, envelhecida pelo tempo, estava fincada no chão:
“19.248 degraus até o topo – Perseverança é o primeiro teste.”
Hayato engoliu seco. O suor já escorria pela testa só de olhar para aquilo. Mas começou a subir.
Cada degrau era um teste físico e mental. A cada mil degraus, as pernas ardiam e o fôlego queimava no peito. O som de seus passos e respiração era o único companheiro. A subida parecia não ter fim, mas o céu foi clareando à medida que se aproximava do topo.
Quando finalmente alcançou o último degrau, o corpo estava encharcado de suor, e as mãos tremiam levemente.
O templo se erguia à sua frente: simples, de madeira escura, com telhado curvo coberto de musgo. Lanternas de papel balançavam ao vento, e o aroma de incenso escapava pela porta semiaberta.
Foi então que ele a viu.
Encostada em um pilar, uma mulher alta — altíssima — com impressionantes 1,89 de altura. Os cabelos negros estavam presos em um coque frouxo, e na mão havia uma garrafa de saquê, da qual ela bebia com tranquilidade. Seus olhos, afiados como lâminas, se fixaram em Hayato com um misto de curiosidade e indiferença.
— Você é?… — perguntou, a voz grave, carregada de autoridade.
Hayato respirou fundo, avançou até ela e se agachou, quase como em reverência.
— Eu sou Hayato Yamei. Quero que a senhora me treine.
Ela ergueu uma sobrancelha, tomando mais um gole da bebida.
— Treinar você? — Um sorriso breve e irônico surgiu no canto dos lábios. — Eu não treino ninguém. Não quero discípulos.
— Por favor… — insistiu ele, mantendo a cabeça baixa. — Eu preciso ficar mais forte. Não por vaidade… mas para proteger as pessoas que amo.
Aiko Yamamoto, o Rei de Okinawa e criadora do estilo Thunder Boxing, girou a garrafa nas mãos, observando o reflexo da luz no líquido, e então respondeu, seca:
— Esse é o problema. Todo mundo acha que ficar mais forte é a solução… e quase sempre é a ruína.
Ela se virou, caminhando em direção ao interior do templo, o som firme de suas sandálias ecoando no pátio.
— Volte para casa, garoto. Aqui não há nada para você.
— Por favor… Eu faço de tudo para aprender com você, eu limpo seu templo, faço a comida, tudo que você quiser eu faço, só me treine, Rei de Okinawa…
— Como você sabe que eu sou o Rei de Okinawa? — ela disse tomando seu saque
— Eu andei pesquisando sobre a primeira geração e se tinha algum rei parecido comigo… E acabei que encontrei você por acaso e fiquei sabendo que tinha um templo que cuidava na cidade que é chamada de Rei.
A Aiko deu um sorriso e se levantou.
O vento soprou mais forte naquele instante, carregando o som distante das ondas e o peso do silêncio que se seguiu. Hayato permaneceu ajoelhado, o coração acelerado, sentindo que aquela rejeição era apenas o primeiro obstáculo real de sua jornada.
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