Capítulo 238 - Longos dias
A sala de reuniões da Escola 25 estava diferente naquela manhã. As longas cortinas escuras estavam fechadas, impedindo que a luz invadisse o ambiente. O ar era pesado, carregado de tensão e expectativa. Uma única lâmpada pendurada sobre a mesa oval central lançava um feixe amarelo, iluminando rostos cansados e determinados. Ao redor, o som distante dos passos dos estudantes ecoava pelos corredores, mas ali dentro… o mundo parecia suspenso.
Sophie estava de pé, na ponta da mesa. Usava um casaco preto, fechado até o pescoço, e segurava uma pasta de couro cheia de papéis e anotações rabiscadas à mão. Ao seu lado, Hiroshi permanecia calado, braços cruzados, com os olhos semicerrados e expressão carregada.
Ben, Nathan, Bunkjae, Kaito, Mia, Lee, Beak, Leonard, Susan, Yuna, Mac-Donny, Sora, Phantom, Ryuji, Hajuki, Juan, Matabi Huai… todos ocupavam os assentos, alguns recostados, outros inclinados para frente, ansiosos para ouvir o que viria.
— Durante os últimos dias… eu e o Hiroshi trabalhamos sem parar — começou Sophie, sua voz firme ecoando pelo espaço. — “Nós sabíamos que o tempo estava contra nós. E… encontramos uma forma.”
Kaito ergueu a mão, interrompendo sem cerimônia:
— Encontraram uma forma? Como? A gente nem sabe onde o Yoru tá! Pode ser que ele já nem… — Ele hesitou, não completando a frase.
Sophie o encarou com um olhar cortante.
— Não ouse terminar essa frase. Ele está vivo. Eu sei.
Um silêncio desconfortável caiu sobre a mesa. Mia abaixou o olhar, mordendo os lábios. Ryuji tamborilava os dedos na mesa, impaciente.
Foi então que a porta se abriu, rangendo, e Ash entrou. Vestia seu habitual sobretudo surrado e um chapéu puxado para a frente, escondendo parte do rosto. A sua presença fez todos se endireitarem nas cadeiras.
Ele não perdeu tempo com cumprimentos:
— Eu sei onde ele está.
O impacto foi imediato. Susan e Yuna se entreolharam, surpresas. Ben se inclinou para frente, apoiando os cotovelos na mesa.
— Fala — exigiu Leonard, a voz baixa mas carregada de urgência.
Ash respirou fundo, retirou o chapéu e colocou sobre a mesa.
— Hospital Central de Tokyo. Ala Secreta, subsolo.
Os murmúrios explodiram imediatamente.
— Hospital Central?! — exclamou Mac-Donny, batendo a mão na mesa. — Aquele lugar é fachada pra lavagem de dinheiro!
— E é famoso por atender a elite podre da cidade — completou Sora, balançando a cabeça. — Se o Charles tá usando o lugar… é porque ele confia na segurança lá.
Ash continuou:
— A ala não é acessível por nenhum dos elevadores comuns. É subterrânea, e a entrada fica atrás da ala de resíduos hospitalares. O cheiro é infernal, mas a segurança… é muito pior. Guardas armados, lutadores experientes, e… algo que eu não consegui identificar.
Antes que pudessem reagir, a porta se abriu novamente. Eli Jang entrou, com um cigarro apagado preso entre os lábios, mãos nos bolsos e aquele olhar calculista de sempre.
— E não adianta pensar que isso é só entrar e sair — disse, parando no centro da sala. — Lá dentro existem pessoas que vocês nunca viram. Alguns… que já derrotaram gente do nível mais alto das gangues de Tokyo.
Phantom estreitou os olhos.
— E você sugere o quê? Esperar?
Eli soltou uma risada breve.
— Sugiro ir preparados. Porque, se vocês entrarem sem estratégia, não vão trazer o Yoru e o Wallace de volta. Vão morrer junto com eles.
Hiroshi, que até então estava calado, se levantou lentamente.
— Amanhã.
Todos se viraram para ele.
— Amanhã a gente junta forças. Todo mundo. A Escola 25 não vai mais esperar. Ou a gente salva eles, ou a gente desaparece da história.
O clima mudou. Aquela frase acendeu algo nos olhares cansados.
Sophie apoiou as duas mãos sobre a mesa.
— Este é o momento. Todo ou nada.
— Todo ou nada — repetiu Nathan, em voz baixa, mas firme.
Yuna respirou fundo, tentando controlar o nervosismo. Matabi Huai girou o anel no dedo, um hábito quando estava ansioso. Juan esticou os braços e disse com um meio sorriso:
— Então é amanhã que a gente vai fazer história
— Ou virar história — murmurou Beak, recebendo um olhar mortal de Mia.
Eli olhou para todos, avaliando cada rosto.
— Se vocês vão fazer isso… se preparem para perder. Não estou dizendo que não vale a pena, mas o Charles… ele vai lutar como se estivesse defendendo o próprio coração.
Hajuki bateu a mão fechada na mesa:
— “E nós vamos lutar como se estivéssemos defendendo nossa família.”
Sophie fechou a pasta e deu um passo para trás, respirando fundo.
— Reúnam suas forças. Amanhã… ninguém mais vai dormir tranquilo em Tokyo.
O som das cadeiras arrastando pelo chão ecoou como um prenúncio. Cada um deixou a sala em silêncio, mas no fundo… todos sabiam que aquela noite seria longa, e que o dia seguinte poderia mudar tudo.
…
A sala de reuniões da Escola 25 ainda estava impregnada com o peso da última conversa. O plano para resgatar Yoru e Wallace não era mais apenas uma ideia — estava definido. A tensão no ar era palpável, como o momento exato em que o céu fica pesado antes de um temporal.
Sophie estava de pé diante da grande mesa retangular, suas mãos apoiadas sobre o tampo de madeira marcada por anos de uso. O olhar firme, mas não sem preocupação, varria cada rosto presente. Ela respirou fundo, sentindo a responsabilidade pesar sobre seus ombros.
— Hiroshi… — sua voz soou calma, mas carregada de autoridade. — Você vai precisar manter a calma e agir devagar. Não importa a pressão que esteja sentindo, você será os olhos e a mente desse ataque. O líder no campo.
Hiroshi, sentado na ponta oposta, estava com os punhos cerrados, o maxilar tenso. Ele assentiu, mas seus olhos denunciavam a ansiedade.
— Eu sei… Mas estamos falando de entrar no território deles. Não vai ser só uma luta, vai ser uma guerra.
— Por isso mesmo, — respondeu Sophie, se inclinando levemente para a frente. — A linha de frente não vai ser sua. O Ben vai liderar o avanço inicial.
Todos olharam para Ben, que estava recostado na cadeira, braços cruzados, expressão de quem já esperava essa responsabilidade. Ele apenas deu um leve sorriso.
— Se o Yoru confiou em mim a esse ponto… eu vou abrir o caminho, custe o que custar.
Nathan pigarreou, quebrando o clima pesado.
— E o resto de nós?
Sophie começou a distribuir ordens rápidas, como um comandante traçando seu tabuleiro de guerra.
— Nathan, você e o Kaito vão cuidar do flanco esquerdo. Não deixem ninguém sair ou entrar pela ala de suprimentos do hospital.
— Phantom, Ryuji, Hajuki e Matabi vão pelo telhado. Precisamos que vocês impeçam reforços externos.
— Susan e Yuna, vocês cuidam de evacuar qualquer civil que estiver no caminho.
Cada nome que era chamado recebia um aceno de confirmação. Ninguém ali parecia hesitar… mas todos sentiam o peso da missão.
…
Enquanto a Escola 25 montava seu esquema, do outro lado da cidade, Charles já estava sentado em sua poltrona de couro preto, girando lentamente um copo de whisky na mão. O líquido âmbar refletia a luz baixa da sala, enquanto ele ouvia atentamente o relato de um homem parado diante dele.
— Então… eles realmente vão atacar amanhã.
O homem, vestido de forma discreta, manteve a cabeça baixa.
— Sim. Eles sabem que Yoru e Wallace estão no hospital central…
Charles deu um sorriso frio, quase divertido.
— Interessante. Parece que nosso amigo infiltrado fez o trabalho direitinho.
Atrás dele, dois capangas musculosos permaneciam imóveis, como estátuas prontas para esmagar qualquer um que se aproximasse sem permissão. Charles se levantou, caminhando até a janela que dava vista para as luzes de Tokyo.
— Quero tudo preparado. Quando eles chegarem… vai ser o último passo deles como “segunda geração”.
Ele virou o rosto levemente, um brilho de sadismo no olhar.
— Quero que sintam que nunca deveriam ter mexido comigo.
…
De volta à Escola 25, o clima era de concentração máxima. No pátio interno, os grupos treinavam golpes rápidos, revisavam equipamentos improvisados, ajustavam luvas, bastões e facas escondidas. O som das botas no cimento ecoava como um tambor de guerra.
Hiroshi estava encostado numa parede, olhando para o céu escurecendo. Sophie se aproximou lentamente.
— Nervoso? — perguntou ela, a voz baixa para não chamar atenção.
— Não é nervosismo… é um pressentimento ruim. — Ele olhou para ela de lado. — Algo me diz que eles já sabem que vamos.
Sophie franziu o cenho, mas colocou a mão no ombro dele.
— Mesmo que saibam, não podem parar o que está prestes a acontecer. Amanhã é o nosso dia.
Ben passou pelos dois, ajustando as ataduras em seus punhos.
— Se tiver alguém esperando por nós lá… melhor ainda. Vai ser mais divertido.
[ Hospital Central de Tokyo]
Na mesma noite, Charles estava no último andar do hospital, na ala secreta. A luz era fraca, e o cheiro de desinfetante misturado com sangue seco criava um ambiente sufocante.
Em uma das salas, Yoru estava inconsciente, com a cabeça raspada, preso a fios e tubos, como um experimento vivo. Wallace, no leito ao lado, respirava com dificuldade, mas estava acordado, olhando fixamente para o teto.
Charles entrou na sala com um leve sorriso.
— Espero que estejam confortáveis… amanhã teremos visitas.
Ele deu dois passos para frente, inclinando-se sobre Yoru
— Mal posso esperar para ver o desespero nos olhos dos seus amiguinhos.
O relógio marcava 23h59.
Tokyo dormia, mas nos corações daqueles dois lados… a guerra já havia começado.
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