Capítulo 239 - Uma figura surgiu
O corredor estreito do Hospital Central de Tóquio parecia respirar ódio. O ar era pesado, saturado pelo cheiro de desinfetante misturado ao ferro do sangue seco que manchava as paredes em pontos quase imperceptíveis. Luzes fluorescentes piscavam, lançando sombras irregulares nos azulejos brancos e rachados. Ao fundo, um som monótono de goteiras ecoava, como se cada pingo fosse a contagem regressiva para algo inevitável.
Dentro de uma sala isolada, longe dos ruídos da batalha que começava a se aproximar, o Dr. Muriell estava sentado, a cabeça pendida para frente, os dedos enroscados nos próprios cabelos negros, já salpicados por fios grisalhos. Sua respiração era irregular, e seus olhos, vermelhos, denunciavam noites mal dormidas — ou talvez semanas.
Sobre sua mesa, havia um velho maço de cigarros amassado, um estetoscópio e uma fotografia amarelada, com cantos gastos, mostrando um grupo de jovens de olhar feroz e postura desafiadora: o lendário Punho Negro da Geração Zero. No centro, Caprio, o delinquente mais forte da época, e, ao seu lado, Muriell, mais jovem, com um sorriso cínico, o olhar carregado de confiança.
— Caprio… — murmurou Muriell, apertando a foto contra a testa. — Onde foi que eu… perdi o caminho?
A resposta, silenciosa, vinha apenas de sua própria mente fragmentada. Ele lembrava das lutas, das ruas tomadas pela brutalidade, da glória insana de um tempo em que a sobrevivência era medida pelo número de corpos que você deixava para trás. Mas também lembrava da noite em que tudo acabou… e como sua cabeça nunca mais foi a mesma.
O Charles sabia disso. Ele usou a fraqueza de Muriell como um fio puxado de uma trama antiga, enredando-o em promessas distorcidas e ordens camufladas de “missões necessárias”. Muriell não era mais apenas um médico — era um carrasco, e seus pacientes, como Yoru e Wallace, sentiam isso na carne.
…
Do lado de fora da sala, no saguão principal, Ben e Mia abriam caminho como se fossem dois furacões opostos, mas igualmente devastadores.
Ben avançava com o seu você, aquele estilo único de combate misturando brutalidade e leitura de movimento. Seus socos curtos, certeiros, atravessavam guardas armados como se fossem bonecos de treino. Um deles tentou agarrar sua perna, mas Ben girou o corpo e cravou um chute lateral que o lançou contra a parede, rachando o azulejo.
— Não temos tempo pra brincadeira! — rugiu Ben, limpando o sangue que espirrou em seu rosto.
Mia, ao seu lado, era pura técnica. O karatê tradicional fluía de seus movimentos como uma correnteza controlada, cada golpe carregando anos de disciplina. Ela desviou de um bastão, agarrou o braço do oponente e, num movimento seco, o lançou sobre o ombro, quebrando-lhe a clavícula.
— Foco, Ben. Ainda não chegamos nem na metade. — disse ela, sem perder o ritmo.
Em poucos minutos, os dois transformaram aquele corredor em um mosaico de guardas desacordados, gemendo no chão.
…
Em outra ala do hospital, Lee avançava sozinha. Seu bastão de metal brilhava sob a luz fraca, cada golpe deixando um rastro de dor nos que ousavam se aproximar. Ela era metódica, atacando pontos vitais e nunca perdendo a postura.
Foi então que uma figura idosa surgiu no final do corredor, caminhando calmamente, como se a guerra ao redor não lhe dissesse respeito. Ele usava um sobretudo cinza, e sua presença carregava uma densidade quase palpável.
— Quem diabos é você? — perguntou Lee, apontando o bastão para o estranho.
— Hishin, ex-membro do Punho Negro, — respondeu ele com voz firme, mas carregada de um cansaço profundo. — Membro da Unidade Águia Prata de Enzo.
Lee franziu o cenho. Ela não conhecia aquele nome. Mas se tratava de um veterano. Um sobrevivente da geração zero.
— Se veio pra atrapalhar, já adianto que vai se arrepender.
Hishin soltou um breve riso, sem humor.
— Não vim lutar contra você, garota. Estou aqui pelo Wallace. Ele é da Unidade Águia Prata. E se você pretende resgatar Yoru e ele… temos o mesmo objetivo.
Lee o observou por um momento, tentando decifrar se era verdade. Mas, no fundo, algo nela não confiava completamente em ninguém que tivesse laços com a Geração Zero.
— Então prove que está do nosso lado. — disse ela, girando o bastão e apontando para o final do corredor. — Os guardas não vão se derrubar sozinhos.
Hishin suspirou.
— Sabe… na minha geração, poucas garotas sobreviveram por muito tempo nesse tipo de guerra. — falou, sem rodeios.
— Problema delas. — respondeu Lee friamente. — Eu não sou “poucas garotas”. Eu sou Lee. E se você não for útil… é melhor sair do meu caminho.
O silêncio que se seguiu foi quebrado pelo som de passos rápidos ecoando no corredor. Mais guardas estavam vindo. Hishin soltou um leve sorriso, tirando um par de luvas pretas do bolso.
— Então vamos ver se você tem o que é preciso.
…
De volta à sala de Muriell, o médico se levantou lentamente. Sua mão tremeu ao tocar a maçaneta. Lá dentro, amarrados e feridos, Yoru e Wallace mal conseguiam erguer a cabeça. A luz fraca da lâmpada pendurada os deixava ainda mais pálidos.
— Vocês não entendem… — murmurou Muriell, mais para si mesmo do que para eles. — Tudo isso… é para manter o equilíbrio. Mesmo que custe a vida de vocês.
Yoru ergueu o olhar, um sorriso torto em meio ao rosto machucado.
— Equilíbrio? — sua voz saiu rouca, mas carregada de desprezo. — Você só está escondendo o fato de que é um covarde que vendeu sua alma pro Charles.
Muriell fechou os olhos por um instante. As palavras de Yoru soavam como o eco distante de algo que Caprio teria dito no passado. Aquilo o atingiu de forma desconfortável.
— Você não sabe do que está falando, garoto.
Wallace, mesmo debilitado, riu baixinho.
— Ele sabe sim. E eu também sei. No fundo, você odeia estar aqui.
Muriell sentiu um nó na garganta. Mas antes que pudesse responder, um estrondo ecoou pelo hospital. As portas começaram a ceder. Os delinquentes da Escola 25 estavam chegando.
A tensão no hospital central de Tokyo havia se transformado em algo quase palpável, como se o ar carregasse eletricidade estática prestes a explodir.
Em uma ala isolada, Lee e Hishin se encaravam no meio de um corredor estreito, iluminado por lâmpadas fluorescentes que piscavam irregularmente, projetando sombras irregulares nas paredes descascadas.
O chão, sujo e marcado por rachaduras, estava silencioso… até o momento em que um passo ecoou.
Lee franziu as sobrancelhas.
— Então… — Sua voz era fria, quase desafiadora. — O velhote que todo mundo diz ter sobrevivido à tempestade da Geração Zero.
Hishin sorriu de canto, um sorriso quase paternal, mas carregado de desprezo.
— Velhote? Menina, eu já vi mais batalhas do que você terá tempo de sonhar. Na minha época, ou você aprendia rápido… ou morria rápido.
Lee estalou o pescoço.
— Interessante. Mas hoje, você vai aprender que não é só sua geração que sabe lutar.
E então, o primeiro movimento.
Hishin avançou com um passo preciso, postura baixa, ombros relaxados — a clássica guarda do karatê shoukan. Seus punhos vinham como lâminas, diretos e secos, cada golpe buscando não apenas acertar, mas quebrar ossos. Lee desviou do primeiro soco, girando o corpo e usando o braço de Hishin como apoio para lançar uma sequência de chutes rápidos no torso dele — uma fusão de capoeira com o equilíbrio do muay thai.
O impacto ecoou, fazendo Hishin deslizar para trás, mas o homem apenas ajustou a respiração e sorriu.
— Bom… você tem técnica. Mas a técnica… sem experiência… é só um truque bonito.
Nome: Hishin altura:1,62
Segunda geração Peso:68
Força: SX-
Velocidade:CX-
Potencial:S [???] |Impossível medir|
Inteligência:B
Resistência:BX-
Nome: Lee Yui altura:1,65
Segunda geração Peso:47
Força:MR
Velocidade: MR+
Potencial:AA [Ascenção]
Inteligência:C
Resistência:LR+
“Eu aumentei um pouquinho minha força durante esse último tempo, deve dar tudo certo” pensou Lee demonstrando confiança
Ele avançou de novo, dessa vez variando o ritmo. Um golpe de punho rápido, seguido por uma joelhada frontal. Lee bloqueou o primeiro, mas o segundo acertou de raspão na lateral de suas costelas, arrancando-lhe o ar por um instante.
— Tch… — Lee recuou, apertando os dentes, e então mudou de guarda, copiando o gancho bazuca de Uiji. Ela avançou de forma explosiva, torcendo todo o tronco e liberando o golpe com brutalidade.
Hishin interceptou, usando a base firme do shoukan para absorver o impacto, mas o corredor tremeu e uma rachadura subiu pela parede.
— Esse golpe… Ele não é seu… — ele murmurou, impressionado — Você é uma copiadora.
Lee sorriu de canto.
— Eu não apenas copio. Eu dou o meu toque especial. — E então lançou a tempestade de punhos de Yoru, cada golpe vindo como uma onda, veloz, pesada e contínua.
Hishin recuou com passos calculados, desviando e bloqueando, mas alguns golpes o atingiram, marcando sua pele. Ainda assim, sua postura não vacilava.
— Se eu fosse da sua geração… talvez me sentiria ameaçado. Mas… — ele girou o quadril e acertou um contra-ataque no queixo dela, usando a força mínima necessária para projetá-la contra a parede. — …Eu sou da Geração Zero.
O impacto foi seco, e poeira caiu do teto. Lee limpou o sangue no canto da boca e se ergueu com um sorriso irritado.
— Então me mostra por que sua geração sobreviveu.
Eles se lançaram um contra o outro mais uma vez — e a luta continuou, paredes rachando, piso afundando sob os pés, como se cada golpe fosse uma explosão controlada. O duelo não havia terminado.
Enquanto isso, em outra ala…
Hiroshi se movia rápido pelos corredores, acompanhado por dois membros de confiança. As paredes por aqui estavam manchadas, e o som distante de combates ecoava como trovões abafados. Quando dobrou a esquina, viu Ash e seu grupo.
Ash deu um sorriso rápido.
— Achei que você estava atrasado.
Hiroshi respirou fundo, mas manteve a postura firme.
— Não tenho tempo pra enrolar. Temos pouco tempo antes que eles reforcem a segurança. — Ele se aproximou e entregou um pequeno mapa rabiscado, mostrando rotas internas e pontos cegos. — Aqui estão as entradas menos vigiadas e a localização provável da ala onde o Yoru está.
Ash assentiu.
— Bom. Mas isso não muda o fato de que vamos ter que passar pelo inferno pra chegar lá.
Hiroshi apertou os punhos.
— Inferno… é exatamente onde Charles vai parar depois de hoje.
Em outro ponto do hospital…
Leonard estava cambaleando no corredor. Seu corpo estava coberto de suor, respiração pesada e músculos ardendo. A cada passo, o som de botas ecoava — guardas avançando em sua direção.
— Merda… não sei se consigo continuar… — murmurou, quase sem voz.
Três guardas correram na direção dele, e Leonard ergueu os punhos por instinto, mas antes que pudesse reagir, um estrondo ecoou.
Os guardas voaram como bonecos, colidindo contra as paredes e caindo desacordados no chão. A poeira se ergueu no corredor, e uma silhueta caminhou lentamente.
— Leonard… ainda tá vivo, hein? — disse uma voz grave e carregada de confiança.
Leonard arregalou os olhos.
— Não… não pode ser…
A figura surgiu da poeira: um homem alto, corpo musculoso, tatuagens visíveis no pescoço e braços, cabelo negro e olhar frio
— Faz tempo… — Ele sorriu de forma intimidadora.
Leonard mal conseguiu segurar o sorriso cansado.
— Danilo… você escolheu um ótimo momento pra aparecer.
Danilo estalou os dedos, olhando para o corredor cheio de guardas que ainda se aproximavam.
— Ótimo momento? Não, Leonard… esse é o único momento. — Ele caminhou à frente, abrindo espaço. — Agora… vamos fazer esse hospital virar um campo de guerra.
E então, o corredor tremeu com o som de passos determinados.
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