Índice de Capítulo

    O corredor do hospital central de Tokyo tremia. As lâmpadas do teto, já fracas, piscavam como se estivessem prestes a se apagar, e o som de passos pesados ecoava, misturando-se ao estrondo seco de impactos de luta.

    No centro daquele caos, Lee e Hishin se encaravam, corpos tensos, músculos prontos para explodir em movimento.

    O velho de cabelos grisalhos, pele marcada pelo tempo, carregava um olhar calmo e mortal. Ele não parecia apressado, respirava de forma controlada, como se todo o ambiente fosse apenas mais um treino para ele.

    — Você imita bem… garota. — Hishin quebrou o silêncio, sua voz carregada de autoridade e certo desprezo. — Mas imitar… não é dominar.

    Lee girou o pescoço, estalando-o, e sorriu de canto.

    — Então eu só preciso mostrar que a cópia… pode superar o original.

    Sem mais palavras, ela avançou. Os pés tocavam o chão como martelos, e seu corpo fluía entre golpes: o gancho bazuca de Uiji, seguido pela tempestade de punhos do Yoru. Seus braços se moviam como borrões, cada golpe um chicote cortando o ar.

    Hishin bloqueou com as costas das mãos, desviando cada soco com micro-movimentos, sua postura sólida como rocha. Ele avançou um passo, e no instante seguinte, Lee foi atingida por um shuto — um golpe de faca de mão — direto no ombro, que a fez recuar, cambaleando.

    — Karate Shoukan… — Lee sussurrou, massageando o local. — Velho, você não perdeu nada da sua geração, não é?

    Hishin ajeitou o sua faixa na cabeça e disse:

    — Você não entende, criança. Na minha geração, nós não treinávamos para “impressionar”. Treinávamos para sobreviver… e vencer.

    Ele girou o quadril e lançou um mawashi geri perfeito — um chute circular alto. Lee bloqueou com o antebraço, mas sentiu a pressão esmagando seu bloqueio e a força atravessando seu corpo.

    Antes que ela pudesse respirar, ele continuou:

    — E existe algo que vocês jovens ainda não compreendem… o Limite.

    Lee estreitou os olhos.

    — Limite?

    Hishin se moveu rápido demais para sua idade, deslizando o pé no chão e entrando no espaço dela com um gyaku tsuki — soco reverso — que quase a acertou no queixo. Ela desviou por pouco.

    — O Limite… — ele prosseguiu, golpeando com velocidade cada vez maior — …é o momento em que seu corpo, sua mente e sua técnica atingem o ápice. Força, velocidade, resistência ou técnica… todos têm um teto.

    Ele parou por um segundo, apenas para olhar nos olhos dela e falar com clareza:

    — Quando você quebra esse teto, você abre a porta para o Domínio.

    Lee recuou, ofegante.

    — Domínio…

    Hishin assentiu.

    — Mas cuidado… uma pessoa normal só consegue quebrar UM limite na vida. Tentar quebrar outro… é pedir para morrer. O corpo não aguenta.

    A conversa foi cortada quando ele se lançou novamente, agora com kombinações mistas — alternando socos curtos, joelhadas rápidas e cotoveladas como lâminas. Lee tentou responder, copiando até mesmo o ritmo dele, mas sua defesa começou a falhar.

    Um golpe certeiro no abdômen a fez cuspir ar. Outro, um ura mawashi geri — chute invertido na cabeça — a fez cair de joelhos.

    — Você luta bem, garota… mas ainda não viu nada. — Hishin disse, girando o pescoço, preparando-se para finalizar.

    Ala Leste do Hospital

    O cheiro de sangue e desinfetante se misturava no ar. Hiroshi corria pelos corredores estreitos, saltando sobre macas tombadas e empurrando portas arrombadas. Ao virar à direita, encontrou um grupo.

    — Ash! — ele gritou, aproximando-se.

    Ash, com seu corte de cabelo característico e expressão séria, apenas levantou o punho num cumprimento. Atrás dele, dois de seus companheiros mantinham posição.

    — Você conseguiu chegar rápido. — Ash comentou.

    Hiroshi respirou fundo.
    — Não temos tempo. O Charles sabe que estamos aqui. Precisamos agir em sincronia ou vai dar merda.

    Eles trocaram informações rápidas — rotas, número estimado de inimigos, posição da ala de tortura — e então se separaram para cobrir mais terreno.

    Ala Oeste

    Leonard estava em pé, mas apenas por instinto. Seu corpo estava um caos. A respiração era áspera, e cada passo parecia sugar o resto de sua força. Em volta dele, uma dezena de guardas do Charles o cercava.

    — Droga… — ele pensou, quase tropeçando. — Não vou aguentar…

    Um dos guardas correu, erguendo um cassetete. Leonard tentou levantar os braços, mas no instante seguinte… o guarda voou para trás como se tivesse sido atropelado por um caminhão.

    Outro tentou avançar — mesmo destino. E mais outro. Todos foram lançados como bonecos contra as paredes.

    Leonard piscou, confuso, até sentir uma presença ao seu lado.

    — Faz tempo, Leonard. — disse uma voz grave.

    Ele virou e viu uma figura alta, de postura confiante. Um homem de cabelo preto curto, jaqueta escolar antiga e cicatriz discreta no queixo.

    — Danilo… — Leonard murmurou, surpreso. — O ex-número dois… da Escola 35.

    Danilo girou os ombros, estalando-os, enquanto observava os guardas se levantarem novamente, hesitantes.
    — Parece que você tá com problemas. Acho que vou resolver isso rapidinho.

    E, com um sorriso leve, ele avançou, o som de seus passos ecoando antes do impacto seco de mais um guarda sendo lançado contra a parede.

    O som de botas ecoava pelo corredor estreito do hospital central de Tokyo, misturando-se ao zumbido frio das luzes fluorescentes. Sophie avançava como um vendaval silencioso. Cada passo era calculado, cada respiração controlada. Seus olhos analisavam tudo ao redor, e, mesmo sem pressa, a sensação era de que nada poderia detê-la.

    O primeiro grupo de guardas surgiu do final do corredor — cinco homens armados com tonfas e bastões retráteis. Não houve troca de palavras. Sophie girou o corpo, desviando de um golpe lateral com a fluidez de quem já fez isso mil vezes. O som seco do impacto veio quando seu cotovelo atingiu o queixo de um deles, arremessando-o contra a parede.

    — Próximo… — murmurou ela, sem expressão.

    Dois tentaram atacá-la juntos, mas Sophie se abaixou, puxando um dos corpos para usar como escudo contra o golpe do outro. Uma joelhada certeira na costela, um gancho de direita no queixo e ambos já estavam no chão. O último tentou recuar, mas ela avançou, segurando-o pelo colarinho e aplicando um chute giratório que o jogou contra a parede com força suficiente para derrubar o suporte de soro.

    Enquanto recuperava a postura, uma voz conhecida ecoou do final do corredor:

    — Sophie… sempre na frente, como esperado.

    Ela ergueu o olhar e viu Eli Jang caminhando com o mesmo ar relaxado de sempre, as mãos no bolso, como se não estivesse no meio de uma invasão.

    — Eli. — ela respondeu, mantendo o tom profissional. — O que está fazendo aqui?

    — Ah, nada demais. — ele deu um leve sorriso. — Ouvi dizer que ia rolar um caos por aqui e pensei… por que não dar uma olhada? — Ele olhou para os corpos caídos ao redor. — E vejo que você já começou a festa.

    Antes que Sophie pudesse responder, um barulho pesado veio do corredor lateral, como passos de alguém carregando toneladas de confiança.

    Do canto, surgiu um homem alto, musculoso, com um casaco preto aberto e o símbolo dourado de um dragão no ombro. Seus olhos eram afiados e sua presença carregava um peso quase palpável.

    — Eu já ouvi falar de você… — Sophie murmurou, reconhecendo-o de relatos anteriores.

    — Então vocês são os que estão causando todo esse alvoroço. — disse Hudson, cruzando os braços. — Meu mestre, o Rei de Kiyokabe, me mandou a Tokyo para resolver certos assuntos. Vi vocês entrando e… bom, não resisti a dar uma olhada.

    Eli arqueou uma sobrancelha. — Mestre?

    Hudson sorriu de lado. — Sim. E já enfrentei Yoru. Em Kiyokabe. Foi uma luta curta, mas… interessante. Meu mestre o reconheceu. Agora, de certa forma, somos conhecidos.

    Sophie estreitou os olhos. — E por que está aqui?

    — Porque gosto de medir forças. — respondeu Hudson, enquanto sua expressão ficava mais séria. — E porque talvez vocês precisem de ajuda.

    Antes que a conversa pudesse seguir, um som metálico de passos ecoou pelo corredor. Uma figura surgiu, encurvada levemente, mas com um olhar que cortava como lâmina. Um homem de cabelos totalmente brancos, presos num coque baixo, vestindo um uniforme preto impecável.

    — Hudson… — a voz do velho era grave. — Nunca pensei que veria um discípulo de Kiyokabe aqui.

    Hudson sorriu, quase com respeito. — Quem é você, velhote? Conhece meu mestre?

    O clima ficou pesado de repente. Sophie e Eli podiam sentir que ali estava prestes a acontecer algo grande. Hudson respirou fundo e deu um passo à frente.

    — Vocês sigam em frente. — disse ele, sem olhar para trás. — Este aqui é meu.

    Sophie hesitou por um segundo. — Tem certeza?

    Hudson não respondeu com palavras. Apenas girou o pescoço, fazendo estalar as articulações, e abriu um sorriso confiante.

    — Vai ser divertido.

    Amon deu um passo, e o chão pareceu tremer. Sua postura não era a de um velho frágil — era de um guerreiro que já viu batalhas demais para se intimidar. Hudson assumiu uma base baixa, mãos prontas, enquanto seus olhos se fixavam no oponente.

    — Sophie, vamos. — disse Eli, tocando levemente no ombro dela. — Ele vai se virar.

    Mesmo relutante, Sophie deu um último olhar para Hudson e assentiu. — Não morra.

    Hudson riu. — Nem se eu quisesse.

    E assim, Sophie e Eli avançaram pelos corredores, enquanto atrás deles, o som seco de dois corpos colidindo ecoou, anunciando o início de um combate entre monstros de gerações diferentes. O hospital tremeu levemente com o impacto, e, por um instante, até o ar pareceu prender a respiração.

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