Capítulo 248 - Algo grande está por vir
Quando a Yue perguntou aquilo, o Muriell ficou calado por alguns segundos, o clima ficou mais pesado, e ele se perguntava o por que ela queria saber sobre Ōtsu
— Vamos… Fala algo, ou o gato comeu sua língua? — ela disse de uma forma ameaçadora, o Muriell baixou a cabeça e deu um leve sorriso de canto
— Olha pirralha, eu não vou falar nada sobre Ōtsu, por que eu sei que você estava lá também naquela noite, e até acho que talvez seja uma das responsáveis pelo acontecido — o Muriell disse seriamente
— Haha! Não viaja velhinho, eu só fui algumas horas depois, buscar o sobrinho do Charles por ordens da Yummi, e não tinha a mínima ciência do ocorrido de lá — a Yue gargalhou e deu um tapinha no ombro do Muriell
— Bem engraçado… Olha, não vou contar nada, por que pra falar a verdade, não sei de muita coisa, e quem sabe, está morto ou escondido em algum lugar por aí, agora me deixa em paz e vai embora.
Ela segurou no queixo do Muriell deu um sorriso e disse;
— Ok fofinho, querendo ou não, vou descobrir por que o Rei de Ōtsu morreu e oque fez o Charles matar seu próprio irmão — a Yue saiu dali, deixando o Muriell sozinho, os mesmo se sentou no chão e botou as duas mãos na cabeça, soltando um suspiro profundo
Ele estava cansado daquela vida, e talvez na no fundo de sua alma, possivelmente ele guardava algum arrependimento.
…
Uma semana depois, após todo aquele acontecimento no Hospital, o mesmo foi fechado temporariamente para ser reconstruído e também por causa da mídia japonesa que estava encima do grupo GHV querendo respostas sobre o ataque e demais coisas que vinha acontecendo
Enquanto Isso tudo acontecia, Yoru e seus amigos tiveram uma semana até que normal, nada de mais surpresas nem nada do tipo, aulas normais, e as reuniões quase nunca aconteciam mais, por que não tinha mais nada acontecendo durante esses últimos dias.
Na sala de reuniões, Nathan, Bunkjae, Sora e Kaito estavam jogando truco, enquanto o Hiroshi estava fumando um cigarro olhando para os prédios além da janela, foi quando a Mia chegou e perguntou;
— Gente, vocês por acaso viu o Yoru e a Yuna? A Sophie queria falar com os dois mas não acha eles em lugar nenhum, e nem respondem o celular.
— Eles passaram aqui a uns 30 minutos atrás, mas rapidinho foram embora, não estavam bem arrumados, mas acho que foram a algum lugar, talvez pro parque central ou talvez a casa de um dos dois… Não sei. — disse o Hiroshi
— Que casalzinho mais complicado… Bem, vou contar pra vocês, é um negócio muito importante, olhem todos pra cá — todos eles olharam para a Mia, e logo ela continuou — Sabe aqueles dois novatos que chegaram recentemente na escola? O Vini e a Neom
— Sim! Sei, aquele cara descolado e a loira gata, oque tem eles? — disse o Hiroshi
— É… É esses dois aí mesmo, bem, eles não apareceram a uns três dias na escola, mas não é sobre isso que quero falar, e sobre oque eles falaram para a Sophie, segundo eles, tá pra começar uma guerra gigante, e o Yoru é a “chave” para essa guerra ou alguma coisa do tipo, enfim, temos que contar isso pra ele, por que ele deve saber de algo. E também pra deixar ele informado
— Chave para que? Bem, porque ninguém contou isso antes a ele? Depois do resgate no Hospital? — perguntou o Kaito em dúvida
— Faz sentido, era melhor ter contato naquele dia — disse o Nathan
— Tá gente, mas a Sophie só lembrou ontem a noite, temos que achar ele agora e contar tudo isso a ele — alguém bateu duas vezes na porta, quando eles viraram, era a Neom
— Não precisa, o Vini já foi atrás dele comunicar — ela disse com um tom confiante, a Neom foi andando na direção deles e parou, e logo em seguida disse;
— Vocês não parecem ser tão fortes como nos boatos — ela disse reparando em cada um naquela sala
— Olha, primeiro, como foi que passou pelos vigilantes? E qual é o motivo da sua vinda até aqui? — o Hiroshi disse tomando a frente
— Uau… Se acalma. Vou responder suas respostas, primeiro, seus vigilantes são um lixo, eu melhoraria. E o motivo de o por qual eu estou aqui é que vim contar a vocês sobre o Yoru
— E oque você sabe sobre ele? — perguntou o Hiroshi
A sala de reuniões mergulhou em um silêncio instável. O ar parecia ganhar peso com a presença da Neom, que permanecia de braços cruzados, observando cada rosto ali como se classificasse peças de um tabuleiro. O som distante do vento batendo contra as janelas altas preenchia a ausência de palavras.
Hiroshi respirou fundo, tragou o cigarro até o filtro e o esmagou no cinzeiro improvisado no parapeito da janela. Seus olhos se estreitaram enquanto ele encarava a loira à sua frente.
— Então? — ele repetiu, firme. — O que você sabe sobre o Yoru?
Neom sorriu de um jeito que não transmitia simpatia, mas superioridade. Ela deu dois passos para a frente, aproximando-se da mesa onde os quatro rapazes haviam abandonado o jogo de truco. O baralho ficou esquecido, ainda aberto no meio da disputa interrompida.
— Já que querem tanto saber… — ela disse, pousando a mão na mesa e inclinando o corpo para frente. — Vou ser direta.
Sora engoliu seco. Nathan cruzou os braços, e Bunkjae se ajeitou na, como se prepare-se para ouvir algo que mudaria tudo.
— Vocês ouviram dizer que o Yoru é a chave da guerra — Neom continuou. — E é verdade… mas não no sentido que a maior parte das pessoas imagina.
O grupo trocou olhares confusos.
— Como assim “não no sentido literal”? — questionou Kaito.
Neom inspirou fundo, endireitando a postura. Sua expressão assumiu uma seriedade quase sombria, como alguém que carregava conhecimento demais, e há tempo demais.
— Meu mestre — ela começou — o antigo Rei de Ōtsu… ele já havia falado desse garoto muito antes de qualquer um aqui sequer saber dizer o nome dele. Anos atrás, em conversas que eu considerava enigmáticas demais para minha idade, ele mencionava a existência de um jovem que surgiria quando o equilíbrio do país começasse a se fragmentar. Um jovem que não seria apenas forte… mas necessário.
Bunkjae franziu o cenho.
— Necessário… como um símbolo?
— Como um limitador. Um fator de contenção. — ela corrigiu. — Ele não é a chave que abre a guerra… ele é a chave que impede que ela comece.
Nathan arregalou os olhos.
— Isso não faz sentido. O Yoru mal sabe lidar com as próprias emoções, quem dirá impedir uma guerra nacional de gangues…
Neom respondeu com um olhar firme, quase cruel.
— É justamente esse o ponto. Vocês olham para ele como um garoto comum, alguém problemático, alguém que se mete em encrenca. Mas isso é a superfície. Isso é o que vocês conseguem ver. O que vocês não enxergam… é o que ele carrega dentro.
A sala ficou mais silenciosa que antes.
— O mestre de Ōtsu — ela retomou — me disse que o Yoru possui algo que nem mesmo ele conseguia compreender totalmente. Algo latente. Algo que não deveria existir em um humano comum. E isso tem relação direta com a mãe dele… e com o Charles.
O nome causou impacto imediato.
Hiroshi deu um passo à frente.
— O Charles?! — ele rosnou. — O que esse desgraçado tem a ver com o Yoru?
Neom ergueu um dedo, pedindo calma.
— Vocês não devem saber, mas o Charles sempre foi obcecado pela ideia de criar algo perfeito. Um humano perfeito, um líder perfeito, um guerreiro perfeito. E sabem que ele tinha acesso a técnicas, tecnologias, arquivos… e ao tipo de informação que ninguém deveria ter acesso. Ele precisava de duas coisas para isso: um padrão genético extremamente raro… e um “motivo”.
Ela pausou para observar a reação deles.
— O padrão genético veio de dois humanos específicos — ela disse. — Dois indivíduos excepcionais: a Mei… e o homem que veio a ser o pai do Yoru
Sora arregalou os olhos.
— Você está dizendo que… ele foi um experimento?
A expressão de Neom ficou mais sombria.
— Estou dizendo que existe uma possibilidade real, confirmada por meu mestre, de que o Yoru não tenha sido apenas “concebido”… mas projetado. Charles queria criar um humano que tivesse capacidades físicas, cognitivas e instintivas muito superiores às normais. Para isso, ele precisou interferir no que seria o desenvolvimento natural daquele bebê. Ajustes genéticos. Modificações. Pequenos refinamentos.
Nathan ficou branco como papel.
— Isso é… monstruoso.
— Não para Charles — Neom disse com frieza. — Para ele, isso era apenas um cálculo. O mundo estava caminhando para o caos, segundo ele. As gangues, os reis, as filiações… tudo estava colapsando. Ele queria criar alguém capaz de ficar acima disso. Alguém com força, inteligência, capacidade adaptativa e resiliência emocional fora dos padrões. Um líder obrigatório para a era de turbulência.
Ela suspirou.
— E por isso, sim… o Yoru pode muito bem ser o produto final de um plano antigo. Um plano que envolveu não apenas genética, mas manipulação de eventos, mortes… inclusive a morte do irmão do Charles.
Os olhos de Kaito tremularam.
— Então a morte do Rei de Ōtsu…
Neom concordou lentamente.
— Aquele assassinato não foi acidental. Não foi uma fatalidade. Foi uma peça que precisava sair do jogo. E meu mestre sabia disso. Ele sabia que seria um alvo muito antes de acontecer. E deixou instruções. Instruções sobre o Yoru.
Ela olhou pela janela, como se revisse lembranças distantes.
— “Quando o garoto crescer… ele será o início e o fim.” — ela citou. — “Se ele tombar, o país arderá em guerra. Se ele permanecer de pé, haverá uma chance.”
Sora tocou a testa, atônito.
— Isso é loucura…
— Talvez — Neom respondeu. — Mas é a verdade.
Hiroshi respirou fundo e ficou imóvel por alguns segundos.
— E o que exatamente o Yoru tem… de diferente? — ele perguntou.
Neom hesitou pela primeira vez.
Era como se até ela tivesse medo da resposta.
— Eu não sei. — admitiu. — Nem meu mestre sabia exatamente. Ele dizia que era “algo que pulsa no fundo”. Algo que cresce cada vez que ele enfrenta a dor. Algo que não deveria existir… mas existe. Talvez seja um reflexo das modificações. Talvez seja algo espiritual. Talvez seja algo ainda pior.
O grupo inteiro ficou paralisado.
— E por isso — ela retomou — ele é a chave. Não porque controla a guerra… mas porque carrega o poder necessário para impedi-la. Se ele cair nas mãos erradas, se morrer no momento errado, se fizer a escolha incorreta… tudo vai ruir.
Ela ergueu o queixo.
— E é por isso que vocês precisam dele vivo.
Nathan, ainda visivelmente abalado, murmurou:
— E o Vini? Por que ele foi atrás do Yoru?
Neom sorriu de lado, dessa vez com um toque de respeito.
— Porque meu parceiro não é só “um cara descolado”. Ele é o único discípulo direto do meu mestre além de mim. Ele sabe lutar. Sabe rastrear. Sabe interpretar sinais. Ele vai encontrar o Yoru… e vai explicar isso tudo. Vocês, enquanto isso… precisam se preparar. Há coisas vindo para este país que vocês não fazem ideia.
Kaito arregalou os olhos.
— Você sabe mais do que está dizendo.
— Sei. — ela respondeu simplesmente. — Mas não vou dizer.
Hiroshi deu um passo, irritado.
— Por quê?
O sorriso da Neom voltou, frio como gelo.
— Porque vocês não estão prontos. E porque se eu falar… vocês vão correr para a morte. E, sinceramente, vocês são úteis demais para desperdiçarem assim.
Bunkjae engole seco.
Sora desvia o olhar.
Nathan fecha os punhos.
A tensão na sala se torna sufocante.
Neom então inclinou levemente a cabeça, como se encerrasse aquele encontro.
— Vocês queriam saber sobre o Yoru? Aí está. Ele não é só um garoto qualquer. Não é só um aluno problemático. Ele é… inevitável.
Ela dá meia-volta.
— E se quiserem sobreviver aos próximos meses — acrescentou, andando até a porta — comecem a tratá-lo como tal.
Antes de sair, ela olha para eles por cima do ombro.
— E mais uma coisa… o que está vindo… já começou. E vocês nem perceberam.
A porta fechou-se lentamente atrás dela.
A sala ficou mergulhada em silêncio absoluto.
Por longos segundos, ninguém moveu um músculo. O som distante de carros, o vento contra as vidraças, o tique-taque de um relógio barato — tudo parecia amplificado.
Nathan finalmente rompeu o silêncio.
— Se isso tudo for verdade… estamos ferrados. Muito ferrados.
Hiroshi esfrega o rosto, cansado.
— Não estamos apenas ferrados… — ele murmurou. — Estamos no centro de algo grande demais. Algo que não temos como ver.
Sora se afunda na cadeira.
— A guerra…
— E o Yoru no meio de tudo. — completa Kaito.
Bunkjae ajeita os óculos, tentando processar.
— Precisamos achá-lo. Agora.
Hiroshi apenas acena.
— Vamos.
Mas no fundo, cada um sabia:
Nada seria igual depois daquele dia.

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