Capítulo 249 - Tudo está sendo descoberto de pouco em pouco
O campus estava silencioso demais para uma tarde de sexta-feira.
O vento frio percorreu os corredores externos, balançando as árvores alinhadas e fazendo as folhas secas riscarem o chão. O sol já começava a se esconder atrás dos prédios altos, tingindo o céu com tons alaranjados que pareciam anunciar algo ruim. Algo inevitável.
Nathan foi o primeiro a sair da sala de reuniões, quase tropeçando pela pressa. Atrás dele vinham Hiroshi, Sora, Bunkjae e Kaito, todos com expressões tensas, como se uma mão invisível apertasse seus peitos.
— O Yoru não atende o telefone — reclamou Nathan, apertando o celular na mão. — Cara, por que diabos ele nunca atende?
— Ele e a Yuna estavam juntos — disse Sora, correndo ao lado deles. — Talvez ela saiba.
— Ela também não atende — completou Bunkjae, limpando o suor da testa. — Isso não é normal… de forma nenhuma.
Hiroshi, que andava mais rápido que todos, rosnou:
— Ele com certeza se meteu em algum problema. Ou está prestes a se meter. E depois do que a Neom disse… a gente não pode arriscar.
Kaito, sempre mais calado, respirou fundo várias vezes, tentando manter a mente clara.
— A gente precisa pensar. O Yoru não some assim do nada. Provavelmente foi pra algum lugar onde se sente confortável. Ou algum lugar onde ninguém enche o saco dele.
— Tipo? — perguntou Sora.
Kaito pensou por um instante.
— O parque central.
Nathan arregalou os olhos.
— Verdade! Ele e a Yuna sempre vão pra lá quando querem conversar ou sumir um pouco. Bora, rápido!
Eles correram.
Descendo escadas, cruzando corredores vazios, saindo pelos portões principais. O vento forte batia contra os uniformes e jaquetas, quase dificultando a caminhada acelerada, mas nenhum deles parou para respirar. O coração apertava, o medo crescia.
Se tudo o que Neom disse é verdade…
Se Yoru realmente é essa “chave”…
Se algo grande está vindo…
Ninguém admitia em voz alta, mas todos estavam apavorados.
[PARQUE CENTRAL]
O parque estava mais silencioso que o normal. As árvores balançavam lentamente, e o chafariz central refletia a luz fraca do entardecer.
Foi Nathan quem avistou primeiro.
— Ali! — ele gritou, apontando.
Sentado no banco de madeira perto do lago, Yoru estava inclinado para frente, cotovelos apoiados nos joelhos, expressão séria e perdida. Ao seu lado, de pé, estava Vini Jin — a postura firme de quem está sempre pronto para a briga — enquanto Yuna permanecia sentada ao lado do Yoru, segurando sua mão.
A expressão dela já dizia tudo: medo, confusão… e a sensação de que algo terrível estava prestes a acontecer.
Hiroshi correu até eles, ofegante.
— Yoru! Você tá bem? A gente tava te procurando faz tempo!
Yoru levantou os olhos devagar, como se estivesse emergindo de um transe.
— Ah… vocês chegaram.
A voz dele estava estranhamente calma. Tensa, mas calma.
Sora reparou no semblante do Vini Jin.
— Você… já contou pra ele, né?
Vini cruzou os braços. O vento bagunçou seus cabelos escuros, mas ele nem piscou.
— Contei tudo. Absolutamente tudo.
Kaito deu um passo à frente.
— O que ele disse?
Vini inclinou a cabeça, olhando para Yoru.
— Melhor ele falar.
Todos os olhos se voltaram para Yoru, que respirou fundo, endireitou a postura, e passou a mão no rosto suado.
O coração dele batia acelerado — e ele sentia como se estivesse prestes a vomitar tudo que tinha dentro.
— Então… — ele começou, a voz fraca. — Eu sou… algum tipo de experimento? Desde o nascimento?
Ninguém respondeu. O silêncio dizia tudo.
Yoru riu, mas o som saiu quebrado, desesperado.
— Fala sério… Eu? Experimento? Acharam isso onde? No lixo? — ele bateu a mão no peito, frustrado. — Eu sou só um cara que se mete em briga porque… é tudo que eu sei fazer. Não tem nada de “especial” em mim.
Vini se aproximou, sério.
— Isso é o que você acha. Mas não é o que é real. E você sabe que não é. Você já sentiu isso. No fundo. Em cada briga que quase perdeu… mas não perdeu. Em cada vez que devia ter desmaiado, mas ficou de pé. Em cada vez em que… você mudou.
Yoru ficou em silêncio.
Os olhos dele tremiam.
O ar ao redor parecia pesar.
— Você sente isso, né? — Vini insistiu. — Algo crescendo. Algo que dor nenhuma consegue parar. Algo que está… aí dentro.
Yoru apertou o braço esquerdo, lembrando-se de todas as dores, desmaios, momentos de “transbordo”.
— Eu… senti sim — admitiu. — Desde criança, eu sabia que tinha algo errado comigo. Minha mãe sempre dizia que era coisa da idade… mas… sempre fui diferente. Só que… eu nunca quis acreditar.
Bunkjae, com a voz baixa, perguntou:
— E agora? Como você está lidando com isso?
Yoru levantou o olhar.
E pela primeira vez, todos viram algo novo nos olhos dele.
Não era medo.
Não era raiva.
Não era confusão.
Era… aceitação.
— Agora… eu sei que não posso mais fugir disso — ele disse. — Eu só… preciso saber uma coisa.
Hiroshi franziu o cenho.
— O que é?
Yoru respirou fundo.
— Esse “negócio” dentro de mim… é bom ou é ruim?
Vini encarou ele com seriedade.
— Isso, meu amigo… é algo que nem meu mestre conseguiu definir. Pode ser sua força. Pode ser sua ruína. Depende do que você escolher ser daqui pra frente.
Yoru olhou para as mãos, cerrando os punhos.
Depois, sorriu de canto — um sorriso cansado, mas sincero.
— Então… acho que vou ter que ficar forte. Forte de verdade.
O vento soprou mais forte naquele momento, como se o parque inteiro tivesse ouvido a decisão dele.
Neom surgia caminhando lentamente entre as árvores, com o olhar firme como sempre.
— Uma boa escolha, garoto.
Todos viraram ao vê-la.
— Vocês dois… — Hiroshi apontou para Vini e Neom. — Vão mesmo entrar para o nosso grupo?
Neom fez um pequeno sorriso confiante.
— Já estamos dentro. Querendo ou não.
Vini colocou a mão no ombro do Yoru.
— A partir de hoje, eu e a Neom vamos ajudar vocês. Porque o que está por vir… não vai ser só briga de gangue, só disputa de território, nem só guerra entre líderes. Vai ser algo maior. Muito maior.
Sora engoliu seco.
— Maior… como o quê?
Neom olhou para o horizonte, onde o sol sumia atrás dos prédios.
— Como a queda de tudo que vocês conhecem.
— Como o começo de um novo poder surgindo.
— Como o fim de quem vocês acham que manda.
Yoru fechou os olhos.
E, pela primeira vez, ele sentiu.
Um pressentimento.
Um peso antigo.
Algo que pulsava lá no fundo, uma presença silenciosa e crescente.
A guerra… estava realmente começando.
[GHV STUDIOS]
Enquanto o grupo reunido no parque parecia dar seus primeiros passos rumo ao inevitável,
em outro ponto da cidade, dentro do enorme edifício espelhado da GHV,
Charles Choi caminhava lentamente por seu escritório no último andar.
O ambiente era amplo, moderno e silencioso.
A vista panorâmica mostrava toda a cidade — prédios, luzes e ruas longínquas. Charles segurava um copo de whisky enquanto seu celular tocava pela terceira vez. Ele atendeu somente agora, com a voz baixa e calculada.
— …Então. Achou eles? — ele perguntou, olhando pela janela como se observasse suas próprias peças em um tabuleiro gigante.
Uma voz distorcida, por algum distorcedor de sinal, respondeu:
— Sim. Vini Jin está novamente se aproximando do Yoru. E… a garota também.
Charles apertou o copo, rachando o gelo.
— Isso é um problema. Um grande problema. Ele não deveria ter voltado para o garoto. Nem ela.
— Eu sei — disse a voz. — Quer que eu intervenha?
Charles caminhou até sua mesa, onde vários documentos estavam organizados em pastas pretas. No centro delas, havia uma pasta específica… marcada com um selo vermelho.
Ele encarou aquilo com desprezo.
— Se aqueles dois souberem disso… meu império acaba — ele rosnou.
A voz respondeu calmamente:
— Eles já sabem, Charles.
O silêncio dele durou longos segundos.
— Então não temos escolha. — disse Charles finalmente, a voz ressoando com um ódio frio e calculado.
— Elimine-os.
— O Vini Jin.
— E a Neom.
A voz aquiesceu.
— Entendido.
Charles levou o copo aos lábios, mas não bebeu.
— Não posso permitir que isso vá adiante. Se aquele documento cair nas mãos erradas… tudo o que construí por décadas… cai junto.
O interlocutor perguntou:
— E Yoru?
Charles fechou os olhos lentamente.
— Ele ainda precisa viver por enquanto. Ainda não está pronto. Ainda não despertou totalmente…
Ele abriu os olhos.
Dessa vez, havia medo dentro deles.
— Mas quando despertar… ninguém poderá controlar.
A ligação foi encerrada.
Charles colocou o celular sobre a mesa e, pela primeira vez em muitos anos, percebeu que suas mãos tremiam.
— Vini Jin… Neom… — ele murmurou. — Vocês nunca deviam ter voltado.
Do lado de fora do prédio, nuvens escuras começavam a se formar sobre a cidade.
A tempestade — literal e figurativa — estava chegando.
E todos sabiam:
Nada seria igual depois disso.

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