Capítulo 72 – O passado de Yuna
Após a luta, Yuna estava na retaguarda, sentada em um canto da escola 24, enquanto tentava recuperar o fôlego. Seu corpo doía, não apenas pela luta, mas pela humilhação. Ela havia sido salva por um homem mascarado, algo que pesava em seu orgulho como uma das melhores lutadoras da escola.
Ela pegou seu celular, digitando uma mensagem para Hilary, a líder da escola 24.
“Eu perdi para o Sora e um homem mascarado me ajudou. Ele apareceu do nada e… Preciso de instruções.”
Poucos minutos depois, a resposta de Hilary chegou, fria como sempre:
“Você é uma piada, Yuna. Uma mulher que se diz forte, derrotada por um homem qualquer? Você deveria estar fora do meu time.”
Yuna leu a mensagem e apertou os punhos, seu corpo tremendo. Não era apenas dor física que ela sentia, mas também uma vergonha profunda que a fazia se sentir como uma criança novamente, encarando o olhar de desprezo de seu pai.
Yuna olhou para a mensagem de Hilary novamente, as palavras cravando-se em sua mente como lâminas afiadas. Ela apertou o celular contra o peito, tentando segurar as lágrimas que ameaçavam cair. A sensação de ser descartada, de não ser suficiente, trouxe à tona memórias que ela tinha lutado tanto para enterrar.
Ela levantou-se lentamente, as pernas ainda trêmulas pela batalha, e caminhou sem direção, achando um beco, e sozinha, ela sussurrou para si mesma, como se as palavras precisassem sair para que ela pudesse continuar.
— Você sempre foi um lixo, Yuna. — Sua voz imitou o tom ácido de Hilary. — É o que ele sempre dizia, não é? Que você não era nada…
Yuna tinha apenas 12 anos quando começou a entender o que era viver com medo. Seu pai, um homem consumido pelo álcool e pela raiva, transformava cada noite em um campo de guerra.
— O que foi agora? — Ele rugia, jogando a garrafa de vidro contra a parede. — Vocês duas não fazem nada direito!
Yuna escondia-se atrás da mãe, tremendo enquanto o homem se aproximava com passos pesados. Sua mãe, uma mulher pequena e frágil, erguia as mãos em defesa, como se isso pudesse detê-lo.
— Por favor… não na frente da Yuna…
— Na frente dela? — Ele gritou, puxando a mãe de Yuna pelo braço. — Essa garota precisa aprender que o mundo não tem piedade!
E Yuna aprendeu. Ela aprendeu a engolir o choro, a esconder os hematomas na escola, a fingir que tudo estava bem. Mas o que mais doía era o olhar vazio da mãe, que parecia ter desistido de lutar.
Uma noite, Yuna chegou em casa depois da escola e encontrou a mãe encolhida no chão da cozinha, o rosto inchado e marcado. O pai estava na sala, roncando no sofá, a garrafa vazia ao lado.
Yuna ajoelhou-se ao lado da mãe, segurando seu rosto com cuidado. — Mãe… por que a gente não vai embora? Por que você ainda aguenta isso?
A mãe de Yuna segurou sua mão, os olhos cheios de lágrimas. — Porque eu não sou forte como você, Yuna. Você é minha única esperança.
Essas palavras cravaram-se fundo. Naquela noite, Yuna decidiu que não seria mais uma vítima.
Ela se matriculou em uma academia de kendo no dia seguinte, usando o dinheiro que havia economizado ao longo dos anos. Cada golpe desferido com a espada de bambu era um grito de liberdade, cada movimento uma promessa de que ela protegeria a mãe, custasse o que custasse.
O dia chegou quando o pai tentou bater na mãe novamente. Yuna estava na porta, segurando sua espada de treino.
— Chega. — Ela disse, a voz firme como nunca antes. — Você não vai mais tocar nela.
O pai riu, cambaleando para frente. — E o que você vai fazer, pirralha? Vai me bater com esse brinquedo?
Yuna não respondeu. Ela avançou, desferindo um golpe com precisão no ombro dele, fazendo-o cair de joelhos. Ela o encarou, os olhos ardendo de determinação.
— Você vai sair dessa casa agora. E se voltar, eu não vou hesitar em te derrubar de novo. — Sua voz era baixa, mas carregava um peso que fez o homem recuar.
Ele foi embora, e Yuna e sua mãe finalmente respiraram aliviadas.
…
Yuna olhou para o reflexo no vidro da janela da escola 24. Ela não era mais a garota assustada que se escondia atrás da mãe. Não era mais a vítima. Mas as palavras de Hilary haviam reaberto feridas antigas, questionando se toda a sua força era suficiente.
Ela respirou fundo, fechando os olhos.
— Eu não sou perfeita, mas não vou deixar ninguém me dizer que sou um lixo. Não de novo.
Ela pegou o celular e escreveu para Hilary, as mãos firmes.
“Você pode me descartar, Hilary. Pode me chamar do que quiser. Mas eu sei quem eu sou. E sei o que eu já enfrentei. Vou continuar lutando, porque é isso que eu faço. É isso que sempre fiz.”
Yuna apagou a mensagem e abriu um novo documento no celular, digitando algo para si mesma:
“Eu sou Yuna. Eu luto por aqueles que amo. Eu me tornei forte, não por escolha, mas por necessidade. E isso é algo que ninguém pode tirar de mim.”
Ela ergueu-se, mais determinada do que nunca. Não era o fim da luta, mas ela sabia que, enquanto continuasse em pé, poderia enfrentar qualquer coisa.
Enquanto Yuna lidava com suas emoções, no lado oposto do campo de batalha, Mia, da escola 25, caminhava ao lado de Lee, ambos atentos.
— Temos companhia. — Lee disse, apontando para um homem alto e musculoso que se aproximava.
Nathan Rayna, o número 2 da escola 24, parou a poucos metros deles, seus olhos frios avaliando os dois. Ele flexionou os punhos, seu olhar fixo em Mia.
— Vocês dois acham que têm alguma chance contra mim? — Nathan perguntou, sua voz carregada de confiança.
Mia assumiu sua postura de karatê kyokushin, os pés firmes no chão. — Não vamos recuar.
Lee sorriu, girando o corpo levemente enquanto assumia sua posição de capoeira. — Você vai ver o que podemos fazer.
Nathan foi o primeiro a atacar, avançando com um chute baixo que mirava a perna de Mia. Ela esquivou, mas o impacto no chão foi o suficiente para levantar poeira e mostrar o poder do golpe.
— Esses low kicks são perigosos. — Mia murmurou.
Lee usou a distração para girar e desferir um chute lateral em Nathan, mas o número 2 bloqueou com o antebraço, revidando com um direto que acertou o peito de Lee, jogando-o para trás.
Mia aproveitou a abertura e desferiu um chute frontal, mas Nathan girou o corpo e respondeu com um chute circular que atingiu sua coxa, quase a derrubando.
— Vocês estão muito lentas. — Nathan provocou, avançando para mais um ataque.
Mia e Lee trocaram olhares. Eles sabiam que precisavam trabalhar juntos para derrubar Nathan.
Mia avançou com uma sequência de socos rápidos, forçando Nathan a recuar enquanto Lee circulava ao redor dele, procurando uma abertura. Quando Nathan tentou contra-atacar com outro low kick, Lee girou no ar, desferindo um chute na lateral do rosto de Nathan.
O impacto fez Nathan cambalear, mas ele rapidamente se recuperou, bloqueando o próximo chute de Mia e empurrando-a para trás.
— Boa tentativa. — Ele disse, ajustando sua postura. — Mas ainda não é o suficiente.
Nathan se abaixou e girou, desferindo um chute varrendo que derrubou Lee. Antes que ele pudesse se levantar, Nathan o atingiu com um low kick direto na coxa, arrancando um grito de dor da capoeirista.
— Lee! — Mia gritou, avançando para proteger o amigo.
Ela desferiu um golpe direto no rosto de Nathan, finalmente o acertando com força. Ele cuspiu sangue, mas sorriu.
— Agora está ficando interessante.
Nathan se concentrou, seus movimentos ficando mais rápidos e precisos. Ele desferiu uma sequência de low kicks em Mia, cada golpe mais forte que o anterior. Ela tentou resistir, mas suas pernas começaram a ceder.
Lee, mesmo ferido, tentou se levantar e atacar, mas Nathan o derrubou novamente com um chute circular.
— Vocês duas são boas, mas eu sou melhor. — Nathan disse, enquanto dava o golpe final. Ele desferiu um chute baixo na perna de Mia, seguido por um direto em seu abdômen, derrubando-a.
Os dois caíram, derrotados, enquanto Nathan permanecia de pé, respirando pesadamente, mas vitorioso.
Ele olhou para os dois com um sorriso arrogante. — Isso é o que acontece quando enfrentam alguém como eu.
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